por Lusa, publicado por Luís Manuel Cabral, in Diário de Notícias
Desconfiança e contestação em torno ao sistema bancário e financeiro estão a mobilizar formas alternativas de banca e de ativismo financeiro, com campanhas que incluem retirar dinheiro dos bancos tradicionais e uma aposta na sustentabilidade.
Especialistas ouvidos pela agência Lusa indicam que a crise levou muitos consumidores a procurarem modelos de banca que favorecem projetos socialmente mais conscientes, mais transparentes sobre as iniciativas em que investem e que são mais sustentáveis a longo prazo.
Uma tendência evidente em projetos como os bancos Triodos ou Cooperative Bank - que registam taxas elevadas de crescimento, em termos de clientes e de recursos geridos - ou em campanhas como "move your money" (move o teu dinheiro) que insta consumidores a escolherem melhor com que banco trabalhar.
Em Barcelona, à margem da conferência Doing Good Doing Well, organizada pela escola de negócios IESE, especialistas mostram-se, no entanto, divididos sobre o verdadeiro impacto do movimento que ainda é minoritário.
Reconhecem que, dada a sua importância e influência no atual sistema económico, a banca tradicional permanecerá prevalente, pelo menos a médio prazo, mas destacam a crescente preocupação de consumidores em "escolher a sua banca".
"Há formas alternativas de fazer banca. Devemos olhar para esses bancos, que são pequenos, que estão nesta crise financeira a registar crescimentos, têm rácios de solvabilidade de 12% ou 13%, tem lucros e os clientes estão a crescer. Bancos que estão a emprestar dinheiro à economia real", disse à Lusa a economista Sofia Santos, diretora de Sustentabilidade na GCI Portugal e responsável do Sustainability Knowledge Lab no ISCTE.
"Temos que saber que existem alternativas ao sistema atual. Que há bancos que cumprem todas as regras dos outros bancos, mas que, ao mesmo tempo, têm uma forma diferente, um conjunto de valores morais, associados à forma como o dinheiro flui na economia", insiste.
E há quem pense da mesma forma e esteja a ganhar dinheiro com isso.
O Triodos, um banco com origem na Holanda em 1980 e que teve na sua base uma fundação, é um dos exemplos dos modelos 'alternativos' de banca, promovendo-se como um banco sustentável - especializado em oferecer oportunidades de investimento e de empréstimos para o setor da sustentabilidade em vários países.
"Apenas emprestamos ou investimos em organizações que beneficiam as pessoas ou o ambiente", refere o lema da organização que na primeira metade do ano passado registou um aumento de 9% em empréstimos e adicionou 40 mil clientes à sua base, para 395 mil.
Os lucros da Triodos cresceram 31% (para 9,9 milhões) e os fundos geridos aumentaram 8% para 7,3 mil milhões na primeira metade de 2012.
"Vivemos numa altura de incerteza e oportunidade. Apesar de um agravamento da crise económica em algumas partes do mundo, há uma oportunidade sem precedentes para reinventar sistemas que estão a falhar e para construir um movimento de iniciativas sustentáveis", argumenta Peter Blom, presidente executivo da instituição.
Os responsáveis do Cooperative Banking Group, do Reino Unido, também pensam da mesma forma, considerando que "uma organização que atua empresarialmente de uma forma social e ambientalmente responsável também pode ser lucrativa".
Projetos a que se somam a campanha "move your money", do Reino Unido, ou a organização Bank Track, com sede na Holanda, mas ação em todo o mundo e que denuncia projetos apoiados pela grande banca que considera não serem socialmente responsáveis.
Mas há quem defenda que não se deve penalizar excessivamente a banca tradicional ou, pelo menos, se deve reconhecer que "há bancos e bancos, e várias formas de fazer banca" como disse à Lusa Olga Durich, que lidera a unidade de Responsabilidade Corporativa no catalão CaixaBank, entidade que controla mais de 40% do BPI.
"Obviamente que, como qualquer grande organização, a La Caixa pode ter errado em algumas ocasiões, mas demonstrou que a sua atuação foi bastante responsável, em termos gerais. Tanto na sua ação bancária como na forma como faz as coisas", disse.
"Cada um tem que olhar para o seu funcionamento interno. Nós também fizemos isso, mudámos processos internos e isso é o que devem fazer todos. Avaliar se houve falhanços ou erros em alguma coisa, reconhece-lo e procurar remediar a situação", disse.
E ao mesmo tempo, recorda, a dimensão do La Caixa permite manter, nos últimos cinco anos, o amplo programa de Obra Social - com um orçamento anual de 500 milhões de euros, avaliado permanentemente e agora cada vez centrado em responder aos problemas mais prementes.
"O que se tem feito é reconduzir os programas para as zonas onde há mais necessidades. Nos últimos cinco anos houve uma clara mudança de prioridades. Está a dar-se grande prioridade aos programas sociais e estamos, em cada momento, a procurar responder aos problemas mais prementes", referiu.
"Um exemplo disto é o nosso programa de procurar fornecer habitação acessível a famílias com grandes dificuldades financeiras. Temos um pacote habitacional que alugamos a famílias em maiores dificuldades por rendas mensais de entre 50 e 130 euros", recordou.