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O psiquiatra espanhol Jose Luis Ayuso e o português Ricardo Gusmão consideram que os suicídios em Portugal e Espanha não estão a aumentar com a crise nem a acompanhar o crescimento do desemprego.
Em declarações à agência Lusa, Jose Luis Ayuso diz basear-se em estatísticas oficiais para afirmar que as mortes por suicídio “não tiveram um aumento nem em Espanha nem em Portugal”, segundo dados de 2010 e 2011, respetivamente.
Numa resposta escrita enviada à Lusa, o psiquiatra espanhol, que participou recentemente numa conferência em Portugal, confirma que, globalmente, existe uma relação entre desemprego e depressão.
“Desde há vários anos são muitos os estudos que têm vindo demonstrar que o desemprego se associa à presença da depressão”, disse o diretor de Psiquiatria e Saúde da Universidade Autónoma de Madrid.
Contudo, em Portugal e Espanha não se confirma o que seria de esperar: mais desemprego, logo mais suicídio.
Aliás, em Portugal, a morte por suicídio em pessoas em idade ativa, até aos 64 anos, não cresceu nem acompanhou o ritmo da subida do desemprego, segundo dados a que a Lusa teve acesso.
O psiquiatra português Ricardo Gusmão admite que a crise iniciada em 2007 não teve o impacto esperado no aumento do suicídio nos anos subsequentes.
“A crise ainda não acabou e 2012 e 2013 poderão ser anos economicamente mais gravosos do que os anteriores”, justificou, adiantando que muitos dos efeitos da crise poderão ser diferidos no tempo.
Para o especialista, será de esperar que em Portugal possam ocorrer “mais perturbações de adaptação a circunstâncias adversas”, que poderão desencadear depressões. Ou seja, é legítimo esperar que a saúde mental da população se deteriore.
Apesar de Espanha e Portugal terem em comum um não aumento de casos de suicídio, como seria expectável, os dois países registam algumas diferenças, com Portugal a ter o dobro da taxa de suicídio provável (suicídios registados e ainda mortes violentas indeterminadas).
Além disso, em Portugal as prevalências anuais de depressão e de patologia mental comum são mais elevadas, segundo Ricardo Gusmão.
Com base nestes critérios, o psiquiatra diz ser possível calcular que em Espanha ainda há “gente vulnerável, mas saudável” que continua a adoecer, enquanto em Portugal a maioria dos vulneráveis já terá adoecido.
Para Ricardo Gusmão, é necessário estudar se Portugal e Espanha têm um suporte social informal que “protege” as pessoas dos efeitos da crise.
“Provavelmente existe uma estrutura social e um suporte social informal que são protetores e que parecem compensar os efeitos da crise nos que perdem mais rendimento e status social de forma brusca”.