18.2.13

Vergonha. Só as ruas das cidades mostram os efeitos da nossa crise

Por Pedro Nunes, in iOnline

Evitamos mostrar as dificuldades, mas as ruas de Lisboa deixam perceber os efeitos da crise: há mais idosos, há menos comércio e menos futuro

Lisboa é cada vez mais uma capital fria, triste, a ficar parada no tempo e repleta de lojas vazias. Uma cidade de sombras e reflexos. Muitos lisboetas, de olhar parado e cabeça baixa, vagueiam pelas ruas, ora sem destino, ora apressados numa rotina diária, sem tempo para questionar e sem esperança para projectar. Há uma vergonha causada por uma crise que querem fazer crer ter sido provocada por nós e sobre a qual achamos que nada podemos fazer ou, pior, que nada vale a pena fazer.

Uma das principais diferenças entre Portugal e os outros países sob assistência financeira da troika e em grave situação económica, é a vergonha com que se vive a crise. A nossa crise é uma crise de vergonha. Uma crise dentro de portas. O português, cada vez mais velho, vive triste e manifesta-se timidamente, na expectativa de que o próximo se indigne e na esperança que os outros resolvam o problema.

O problema é uma das piores crises sociais da mais recente História de Portugal, com o desemprego a aumentar diariamente, com o comércio a fechar, os serviços a serem reduzidos, a ajuda social cada vez mais presente no quotidiano de muitas famílias, e muitas crianças a terem na escola a única refeição quente do dia. As gerações mais novas, que são também as mais qualificadas de sempre, saem do país por necessidade e sem vontade de voltar, apenas porque não acreditam ou porque não se identificam com o país onde nasceram e cresceram. O mesmo país que não lhes deu futuro e onde faltou o sonho. Onde faltou o desejo de acreditar.