8.3.23

Afinal, o que nos dizem os números?

Rosália Amorim, opinião, in Dinheiro Vivo

Ora crescemos, ora estamos em crise. Ora registamos (quase) pleno emprego, ora o desemprego acelera. Afinal, o que nos dizem os números sobre a verdadeira realidade lusitana, que vai para além da narrativa política? Acima de tudo, evidenciam que a enorme incerteza continua a dominar a economia nacional e internacional e não vale a pena embandeirar em arco de cada vez que se altera uma pequena nuance num indicador macroeconómico.

Vamos aos factos: a taxa de desemprego subiu, em janeiro, para 7,1%, mais 0,3 pontos percentuais do que no mês anterior e 1,2 pontos percentuais acima da verificada em janeiro de 2022. São estimativas provisórias do Instituto Nacional de Estatística (INE) que destacam que este é o valor mais elevado desde novembro de 2020, em plena pandemia, quando era de 7,3%. Preocupante? É "um sinal de alerta", afirmou o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.A boa notícia? A população ativa aumentou 0,8%.

Olhando para o Produto Interno Bruto (PIB), no conjunto do ano de 2022 registou um crescimento de 6,7% em volume, o mais elevado desde 1987, após o aumento de 5,5% em 2021 que se seguiu à diminuição histórica de 8,3% em 2020, na sequência dos efeitos adversos da pandemia na atividade económica. Outra boa notícia.

O problema é que o PIB cresce, mas o desemprego aumenta. É contraditório e isso deixa os portugueses em estado de alerta. Até porque, todos os dias, percebem que à sua volta as empresas se deparam cada vez com maiores dificuldades em fazer frente aos custos e a procura começa a dar sinais de retração devido à alta da inflação e das taxas de juro.

Por outro lado, a confiança retrai-se porque a guerra na Europa continua a ensombrar até as previsões dos mais otimistas. Do lado das famílias, estas já foram forçadas a fazer um corte no volume de comida que todos os meses adquirem. Como noticiou o Dinheiro Vivo, os agregados residentes em Portugal reduziram de forma significativa (maior corte de que há registo) os alimentos comprados no ano passado. No entanto, o valor pago em comida disparou e atingiu um recorde puxado pela inflação galopante e atingiu o maior valor, segundo o INE.

Ao mesmo tempo que tudo isto sucedeu, do lado do Estado a dívida caiu para 113,8% do PIB, o que é uma boa notícia de credibilidade para o país junto dos mercados internacionais, mas não serve para comprar pão nem manteiga. E perguntam as famílias: com a folga orçamental que possa existir nas Finanças, não seria possível fazer um pouco mais para aliviar a carga que recai sobre os ombros e as carteiras dos portugueses?

Jornalista