Henrique Cunha, in RR
Associações consideram “justa e transversal” a decisão do Governo espanhol de reduzir IVA de alguns alimentos. As duas entidades sugerem que Portugal avance com medida idêntica.
A Associação Portuguesa das Famílias Numerosas (APFN) e a Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) apelam ao primeiro-ministro, António Costa, que adote medidas idênticas às decididas em Espanha. O Governo de Madrid eliminou o IVA em alimentos considerados de primeira necessidade, como o pão, o leite, o queijo, e reduziu a taxa de azeite e massas de 10% para 5%.
A EAPN e a APFN consideram “justa e transversal” a decisão do Governo espanhol. As duas entidades sugerem que Portugal avance com medida idêntica.
A Associação das Famílias Numerosas (APFN) lembra que, "aquando da discussão do Orçamento do Estado, assinalou que a redução do IVA criaria justiça social e poderia contribuir para o desagravamento da situação das famílias".
Em declarações à Renascença, Ana Cid Gonçalves, secretária-geral da APFN, afirma que o Orçamento não tem uma única medida "voltada para as famílias com filhos" e lembra que "estas famílias estão sob particular pressão", porque "têm um volume muito superior de custos de bens essenciais".
A Associação entende que, se houver "uma vontade firme de desagravar as famílias nestes momentos difíceis", deveria ser ponderada medida idêntica no nosso país.
Ana Cid Gonçalves adianta que "há famílias que estão a ficar sem habitação e outras a sofrer uma enorme pressão" por causa "de uma tempestade perfeita no orçamento familiar".
COMBATE À INFLAÇÃO
A responsável relata casos em que “os senhorios estão a cessar os arrendamentos e elas estão a ficar sem habitação” e alude em particular “a duas em que os senhorios pretendem cessar os seus arrendamentos”.
“Como é que estas famílias vão arranjar outra casa, numa situação muito difícil com as casas muito caras e os arrendamentos a continuar a aumentar?” Ana Cid Gonçalves diz que “o crédito não é opção” para estas famílias, porque “apesar de pagarem IRS, quando chegam ao banco, o banco diz que não têm capacidade financeira para pagar crédito e não atribuem o crédito”.
A secretária-geral da APFN alude a uma outra “enorme pressão, porque “pelo facto de terem vários filhos já estavam no limite das suas capacidades e com o aumento das prestações bancárias e com o aumento dos bens essenciais estão a ter de reduzir no essencial”. “E isto é particularmente grave. Quando se reduz no essencial é particularmente grave”, sublinha.
A responsável considera que “em Portugal existe um problema enorme em relação às famílias numerosas, porque existe a perceção geral de que as famílias numerosas ou são muito ricas ou muito pobres. E se são muito ricas não precisam de apoio nenhum e se são muito pobres têm os apoios sociais”.
Ora, lembra Ana Cid Gonçalves: “o que acontece é que a grande maioria das famílias numerosas estão na classe média e, portanto, elas precisam de apoio porque têm encargos muito grandes e estão a contribuir para o futuro do país”.
“Estamos a falar de situações muito injustas e aquilo que elas pretendem não é qualquer benefício, mas é um tratamento de equidade e de justiça que é o oposto do que acontece neste momento”, reforça.
Também o padre Jardim Moreira, da Rede Europeia Anti-Pobreza, sugere ao Governo português que adote medida idêntica à de Espanha, que, na sua perspetiva, “seria justa, equitativa e transversal”.
“Penso que seria uma forma de atenuar o impacto da inflação e, certamente, não iria afetar os cofres do Estado”, afirma o padre Jardim Moreira.
O responsável da Rede Europeia Anti-Pobreza diz que “a inflação vai subir, o custo de vida vai aumentar e esta podia ser uma forma simpática de ajudar as populações mais débeis”.
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3.5.22
Não vão faltar alimentos na Europa - pelo menos por causa da guerra
Tiago Luís, opinião, in Expresso
Áreas anteriormente vedadas à prática agrícola e que têm sido importantes para a natureza e biodiversidade já receberam autorizações para a produção agrícola. Tiago Luís, técnico de Ciências do Ambiente e especialista em Alimentação na Associação Natureza Portugal/World Wild Fund, analisa a questão alimentar neste artigo de opinião
Ao longo das últimas semanas, um pouco por toda a Europa e inclusive em Portugal, algumas confederações e organizações do setor agrícola, a par com algumas personalidades, têm vindo a manifestar publicamente as suas preocupações quanto ao desafio que paira sobre a segurança alimentar da UE, defendendo medidas urgentes a curto e médio prazo. Os argumentos usados para justificar incumprimentos ambientais não são novos, apresentando os compromissos ambientais como um entrave, não ao desenvolvimento económico, mas à mitigação da crise económica e social que já enfrentamos.
Ao longo das últimas semanas, um pouco por toda a Europa e inclusive em Portugal, algumas confederações e organizações do setor agrícola, a par com algumas personalidades, têm vindo a manifestar publicamente as suas preocupações quanto ao desafio que paira sobre a segurança alimentar da UE, defendendo medidas urgentes a curto e médio prazo. Os argumentos usados para justificar incumprimentos ambientais não são novos, apresentando os compromissos ambientais como um entrave, não ao desenvolvimento económico, mas à mitigação da crise económica e social que já enfrentamos.
Acima de tudo, estas preocupações têm-se manifestado através de pressões sobre os governos europeus para diluir as respetivas metas ambientais e climáticas assumidas em vários instrumentos comunitários (como a Estratégia Do Prado Ao Prato e a Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030, resultantes do Pacto Ecológico Europeu) e nacionais (Planos Estratégicos da Política Agrícola Comum) no que diz respeito ao setor agro-alimentar - servindo os interesses de parte do setor e falhando aos consumidores e aos pequenos agricultores.
Esta narrativa começa a ter efeitos práticos: foram já concedidas a vários países, entre os quais Portugal, autorizações para utilização de áreas importantes para a natureza e biodiversidade para produção agrícola (anteriormente vedadas à prática agrícola). Simultaneamente, o apelo que tem sido feito para a não integração das metas do Pacto Ecológico Europeu (PEE) no âmbito dos Planos Estratégicos da PAC (PEPAC), se bem-sucedido, significará, por exemplo, o recuo do compromisso do setor agro-alimentar para aumentar a produção biológica de alimentos em 25% ou a redução do uso de pesticidas até 50%. O adiamento da Lei do Restauro da Natureza da UE e da Diretiva Quadro do Uso Sustentável dos Pesticidas são também já consequência das pressões que se fazem sentir.
Importa então desmistificar 4 ideias que vamos ouvir ser repetidas à exaustão, mas que não serão mais verdadeiras por isso:
1. “A guerra coloca em causa a nossa segurança alimentar”.
Ao contrário do que esta ideia parece sugerir, os cereais que importamos dos países envolvidos no conflito servem em boa parte para produção de rações animais ou biocombustíveis - ⅔ dos cereais importados têm como destino a alimentação de gado. Precisamente uma das potenciais causas de insegurança alimentar dos europeus é o excesso de consumo de alimentos de origem animal - além dos problemas de saúde e ambientais sobejamente conhecidos.
Ao longo das últimas semanas, um pouco por toda a Europa e inclusive em Portugal, algumas confederações e organizações do setor agrícola, a par com algumas personalidades, têm vindo a manifestar publicamente as suas preocupações quanto ao desafio que paira sobre a segurança alimentar da UE, defendendo medidas urgentes a curto e médio prazo. Os argumentos usados para justificar incumprimentos ambientais não são novos, apresentando os compromissos ambientais como um entrave, não ao desenvolvimento económico, mas à mitigação da crise económica e social que já enfrentamos.
Acima de tudo, estas preocupações têm-se manifestado através de pressões sobre os governos europeus para diluir as respetivas metas ambientais e climáticas assumidas em vários instrumentos comunitários (como a Estratégia Do Prado Ao Prato e a Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030, resultantes do Pacto Ecológico Europeu) e nacionais (Planos Estratégicos da Política Agrícola Comum) no que diz respeito ao setor agro-alimentar - servindo os interesses de parte do setor e falhando aos consumidores e aos pequenos agricultores.
Esta narrativa começa a ter efeitos práticos: foram já concedidas a vários países, entre os quais Portugal, autorizações para utilização de áreas importantes para a natureza e biodiversidade para produção agrícola (anteriormente vedadas à prática agrícola). Simultaneamente, o apelo que tem sido feito para a não integração das metas do Pacto Ecológico Europeu (PEE) no âmbito dos Planos Estratégicos da PAC (PEPAC), se bem-sucedido, significará, por exemplo, o recuo do compromisso do setor agro-alimentar para aumentar a produção biológica de alimentos em 25% ou a redução do uso de pesticidas até 50%. O adiamento da Lei do Restauro da Natureza da UE e da Diretiva Quadro do Uso Sustentável dos Pesticidas são também já consequência das pressões que se fazem sentir.
Importa então desmistificar 4 ideias que vamos ouvir ser repetidas à exaustão, mas que não serão mais verdadeiras por isso:
1. “A guerra coloca em causa a nossa segurança alimentar”.
Ao contrário do que esta ideia parece sugerir, os cereais que importamos dos países envolvidos no conflito servem em boa parte para produção de rações animais ou biocombustíveis - ⅔ dos cereais importados têm como destino a alimentação de gado. Precisamente uma das potenciais causas de insegurança alimentar dos europeus é o excesso de consumo de alimentos de origem animal - além dos problemas de saúde e ambientais sobejamente conhecidos.
Na verdade, uma das formas de tornar o nosso sistema alimentar mais autónomo, resiliente e sustentável, salvaguardando também a saúde dos europeus, seria através da redução do consumo de alimentos de origem animal e do incentivo a formas de produção animal menos dependentes de rações e fertilizantes.
2. “As alterações climáticas não podem ser uma prioridade.”
Os enormes desafios ambientais que enfrentamos não começaram com este conflito, e os seus efeitos não só são duradouros como não ficarão suspensos a aguardar a resolução dos desafios que, entretanto, surgem. Antes pelo contrário: quanto mais tempo demorarmos a agir para reduzir as emissões de gases de efeito de estufa, mais depressa se agravarão estes efeitos, colocando em risco as oportunidades para os resolver. O último relatório do IPCC é um alerta para o facto de os riscos serem superiores ao que estava inicialmente previsto, com alguns efeitos negativos a ocorrerem a níveis de aquecimento global mais baixos do que se previa. Uma das conclusões preocupantes do relatório é que com as alterações climáticas se torna cada vez mais difícil satisfazermos as necessidades humanas de calorias e proteínas, estando previstas perdas não só de produtividade mas também dos nutrientes presentes num vasto grupo de plantas .
Assim, é importante (e urgente) repensar o PEPAC para que este possa contribuir positivamente para a promoção da biodiversidade, a mitigação e adaptação às alterações climáticas e para o bom estado dos recursos água e solo, assim como o desenvolvimento das comunidades rurais de forma inclusiva.
3. “São necessárias medidas excepcionais, devido às circunstâncias”.
Todos os argumentos parecem ser bons para não cumprir os compromissos ambientais firmados pela Comissão Europeia. Durante o período de negociações do PEPAC, à semelhança do que aconteceu anteriormente noutras reformas da Política Agrícola Comum, muitas foram as pressões e cedências às tentativas de enfraquecimento dos objetivos e metas ambientais e climáticas deste plano. De referir que as ONGAs, a sociedade civil, e as autoridades ambientais nacionais foram completamente ignoradas no processo de construção deste PEPAC - e tememos que este registo persista no futuro. Uma parte importante do financiamento da Rede Natura 2000 provém da PAC, e se as medidas para aplicar este dinheiro forem desenhadas sem o envolvimento do ICNF (responsável pela Rede Natura 2000), dificilmente irão cumprir a sua função.
Ao longo das últimas semanas, um pouco por toda a Europa e inclusive em Portugal, algumas confederações e organizações do setor agrícola, a par com algumas personalidades, têm vindo a manifestar publicamente as suas preocupações quanto ao desafio que paira sobre a segurança alimentar da UE, defendendo medidas urgentes a curto e médio prazo. Os argumentos usados para justificar incumprimentos ambientais não são novos, apresentando os compromissos ambientais como um entrave, não ao desenvolvimento económico, mas à mitigação da crise económica e social que já enfrentamos.
Acima de tudo, estas preocupações têm-se manifestado através de pressões sobre os governos europeus para diluir as respetivas metas ambientais e climáticas assumidas em vários instrumentos comunitários (como a Estratégia Do Prado Ao Prato e a Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030, resultantes do Pacto Ecológico Europeu) e nacionais (Planos Estratégicos da Política Agrícola Comum) no que diz respeito ao setor agro-alimentar - servindo os interesses de parte do setor e falhando aos consumidores e aos pequenos agricultores.
Esta narrativa começa a ter efeitos práticos: foram já concedidas a vários países, entre os quais Portugal, autorizações para utilização de áreas importantes para a natureza e biodiversidade para produção agrícola (anteriormente vedadas à prática agrícola). Simultaneamente, o apelo que tem sido feito para a não integração das metas do Pacto Ecológico Europeu (PEE) no âmbito dos Planos Estratégicos da PAC (PEPAC), se bem-sucedido, significará, por exemplo, o recuo do compromisso do setor agro-alimentar para aumentar a produção biológica de alimentos em 25% ou a redução do uso de pesticidas até 50%. O adiamento da Lei do Restauro da Natureza da UE e da Diretiva Quadro do Uso Sustentável dos Pesticidas são também já consequência das pressões que se fazem sentir.
Importa então desmistificar 4 ideias que vamos ouvir ser repetidas à exaustão, mas que não serão mais verdadeiras por isso:
1. “A guerra coloca em causa a nossa segurança alimentar”.
Ao contrário do que esta ideia parece sugerir, os cereais que importamos dos países envolvidos no conflito servem em boa parte para produção de rações animais ou biocombustíveis - ⅔ dos cereais importados têm como destino a alimentação de gado. Precisamente uma das potenciais causas de insegurança alimentar dos europeus é o excesso de consumo de alimentos de origem animal - além dos problemas de saúde e ambientais sobejamente conhecidos.
Na verdade, uma das formas de tornar o nosso sistema alimentar mais autónomo, resiliente e sustentável, salvaguardando também a saúde dos europeus, seria através da redução do consumo de alimentos de origem animal e do incentivo a formas de produção animal menos dependentes de rações e fertilizantes.
2. “As alterações climáticas não podem ser uma prioridade.”
Os enormes desafios ambientais que enfrentamos não começaram com este conflito, e os seus efeitos não só são duradouros como não ficarão suspensos a aguardar a resolução dos desafios que, entretanto, surgem. Antes pelo contrário: quanto mais tempo demorarmos a agir para reduzir as emissões de gases de efeito de estufa, mais depressa se agravarão estes efeitos, colocando em risco as oportunidades para os resolver. O último relatório do IPCC é um alerta para o facto de os riscos serem superiores ao que estava inicialmente previsto, com alguns efeitos negativos a ocorrerem a níveis de aquecimento global mais baixos do que se previa. Uma das conclusões preocupantes do relatório é que com as alterações climáticas se torna cada vez mais difícil satisfazermos as necessidades humanas de calorias e proteínas, estando previstas perdas não só de produtividade mas também dos nutrientes presentes num vasto grupo de plantas .
Assim, é importante (e urgente) repensar o PEPAC para que este possa contribuir positivamente para a promoção da biodiversidade, a mitigação e adaptação às alterações climáticas e para o bom estado dos recursos água e solo, assim como o desenvolvimento das comunidades rurais de forma inclusiva.
3. “São necessárias medidas excepcionais, devido às circunstâncias”.
Todos os argumentos parecem ser bons para não cumprir os compromissos ambientais firmados pela Comissão Europeia. Durante o período de negociações do PEPAC, à semelhança do que aconteceu anteriormente noutras reformas da Política Agrícola Comum, muitas foram as pressões e cedências às tentativas de enfraquecimento dos objetivos e metas ambientais e climáticas deste plano. De referir que as ONGAs, a sociedade civil, e as autoridades ambientais nacionais foram completamente ignoradas no processo de construção deste PEPAC - e tememos que este registo persista no futuro. Uma parte importante do financiamento da Rede Natura 2000 provém da PAC, e se as medidas para aplicar este dinheiro forem desenhadas sem o envolvimento do ICNF (responsável pela Rede Natura 2000), dificilmente irão cumprir a sua função.
4. “O adiamento das metas do Pacto Ecológico Europeu é absolutamente necessário”.
Maria do Céu Antunes, então Ministra da Agricultura, defendeu em março no Conselho de Agricultura e Pescas o adiamento do cumprimento das metas do PEE para um futuro incerto mas decidiu, no mesmo dia, apoiar a proposta da Áustria de incentivar o potencial das proteínas vegetais em linha com os objetivos do mesmo PEE. Contudo, esta proposta não se refere explicitamente ao consumo humano destas proteínas, o que poderá significar que esta visa apenas o incentivo da utilização para produção de rações e não para contribuir para uma dieta mais saudável e sustentável dos europeus e consequentemente, contribuir para uma maior resiliência a choques futuros. O cumprimento do PEE é absolutamente necessário, nomeadamente da sua Estratégia Do Prado Ao Prato, começando pela promoção do aumento da disponibilidade de alternativas proteicas vegetais para consumo humano.
A produção agroalimentar tem contribuído para a crise ambiental que vivemos: globalmente, a forma como nos alimentamos é responsável por 80% da desflorestação, 70% do uso de água doce, cerca de 30% de emissão de Gases de Efeito Estufa, degradação de 52% das terras agrícolas e 70% da perda de biodiversidade terrestre. Negá-lo é recusar a realidade e tem um efeito pouco útil na medida em que não resolve nenhum destes problemas e não reconhece o enorme potencial que a produção agroalimentar tem para impactar positivamente a nossa saúde e a do nosso planeta desde que se opere uma transformação do sistema de produção virada para as pessoas e para o planeta. Sobre este ponto, a comunidade científica tem sido clara sobre a necessidade de assegurar alimentos suficientes para a população mundial, e simultaneamente transformar a forma como produzimos e consumimos estes alimentos - a degradação da natureza e do clima afetam diretamente a nossa capacidade de produção alimentar já que os efeitos combinados da perda de biodiversidade e do aquecimento global reduzam o rendimento das culturas e a densidade nutricional.
Assim, mais importante do que disseminar ideias nem sempre rigorosas sobre a eventual escassez de alimentos, é urgente repensarmos as nossas prioridades - será que queremos (mais uma vez) colocar em causa a resiliência dos nossos sistemas alimentares a médio-longo prazo e contribuir para a destruição da natureza? Não estaremos a ignorar o facto de, pelo menos em parte, estas perturbações do mercado serem consequência da falta dessa mesma resiliência? A construção e defesa de um sistema alimentar resiliente e que respeita os limites do nosso planeta deve ser a prioridade de todos, agora e no futuro.
Ao longo das últimas semanas, um pouco por toda a Europa e inclusive em Portugal, algumas confederações e organizações do setor agrícola, a par com algumas personalidades, têm vindo a manifestar publicamente as suas preocupações quanto ao desafio que paira sobre a segurança alimentar da UE, defendendo medidas urgentes a curto e médio prazo. Os argumentos usados para justificar incumprimentos ambientais não são novos, apresentando os compromissos ambientais como um entrave, não ao desenvolvimento económico, mas à mitigação da crise económica e social que já enfrentamos.
Ao longo das últimas semanas, um pouco por toda a Europa e inclusive em Portugal, algumas confederações e organizações do setor agrícola, a par com algumas personalidades, têm vindo a manifestar publicamente as suas preocupações quanto ao desafio que paira sobre a segurança alimentar da UE, defendendo medidas urgentes a curto e médio prazo. Os argumentos usados para justificar incumprimentos ambientais não são novos, apresentando os compromissos ambientais como um entrave, não ao desenvolvimento económico, mas à mitigação da crise económica e social que já enfrentamos.
Acima de tudo, estas preocupações têm-se manifestado através de pressões sobre os governos europeus para diluir as respetivas metas ambientais e climáticas assumidas em vários instrumentos comunitários (como a Estratégia Do Prado Ao Prato e a Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030, resultantes do Pacto Ecológico Europeu) e nacionais (Planos Estratégicos da Política Agrícola Comum) no que diz respeito ao setor agro-alimentar - servindo os interesses de parte do setor e falhando aos consumidores e aos pequenos agricultores.
Esta narrativa começa a ter efeitos práticos: foram já concedidas a vários países, entre os quais Portugal, autorizações para utilização de áreas importantes para a natureza e biodiversidade para produção agrícola (anteriormente vedadas à prática agrícola). Simultaneamente, o apelo que tem sido feito para a não integração das metas do Pacto Ecológico Europeu (PEE) no âmbito dos Planos Estratégicos da PAC (PEPAC), se bem-sucedido, significará, por exemplo, o recuo do compromisso do setor agro-alimentar para aumentar a produção biológica de alimentos em 25% ou a redução do uso de pesticidas até 50%. O adiamento da Lei do Restauro da Natureza da UE e da Diretiva Quadro do Uso Sustentável dos Pesticidas são também já consequência das pressões que se fazem sentir.
Importa então desmistificar 4 ideias que vamos ouvir ser repetidas à exaustão, mas que não serão mais verdadeiras por isso:
1. “A guerra coloca em causa a nossa segurança alimentar”.
Ao contrário do que esta ideia parece sugerir, os cereais que importamos dos países envolvidos no conflito servem em boa parte para produção de rações animais ou biocombustíveis - ⅔ dos cereais importados têm como destino a alimentação de gado. Precisamente uma das potenciais causas de insegurança alimentar dos europeus é o excesso de consumo de alimentos de origem animal - além dos problemas de saúde e ambientais sobejamente conhecidos.
Ao longo das últimas semanas, um pouco por toda a Europa e inclusive em Portugal, algumas confederações e organizações do setor agrícola, a par com algumas personalidades, têm vindo a manifestar publicamente as suas preocupações quanto ao desafio que paira sobre a segurança alimentar da UE, defendendo medidas urgentes a curto e médio prazo. Os argumentos usados para justificar incumprimentos ambientais não são novos, apresentando os compromissos ambientais como um entrave, não ao desenvolvimento económico, mas à mitigação da crise económica e social que já enfrentamos.
Acima de tudo, estas preocupações têm-se manifestado através de pressões sobre os governos europeus para diluir as respetivas metas ambientais e climáticas assumidas em vários instrumentos comunitários (como a Estratégia Do Prado Ao Prato e a Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030, resultantes do Pacto Ecológico Europeu) e nacionais (Planos Estratégicos da Política Agrícola Comum) no que diz respeito ao setor agro-alimentar - servindo os interesses de parte do setor e falhando aos consumidores e aos pequenos agricultores.
Esta narrativa começa a ter efeitos práticos: foram já concedidas a vários países, entre os quais Portugal, autorizações para utilização de áreas importantes para a natureza e biodiversidade para produção agrícola (anteriormente vedadas à prática agrícola). Simultaneamente, o apelo que tem sido feito para a não integração das metas do Pacto Ecológico Europeu (PEE) no âmbito dos Planos Estratégicos da PAC (PEPAC), se bem-sucedido, significará, por exemplo, o recuo do compromisso do setor agro-alimentar para aumentar a produção biológica de alimentos em 25% ou a redução do uso de pesticidas até 50%. O adiamento da Lei do Restauro da Natureza da UE e da Diretiva Quadro do Uso Sustentável dos Pesticidas são também já consequência das pressões que se fazem sentir.
Importa então desmistificar 4 ideias que vamos ouvir ser repetidas à exaustão, mas que não serão mais verdadeiras por isso:
1. “A guerra coloca em causa a nossa segurança alimentar”.
Ao contrário do que esta ideia parece sugerir, os cereais que importamos dos países envolvidos no conflito servem em boa parte para produção de rações animais ou biocombustíveis - ⅔ dos cereais importados têm como destino a alimentação de gado. Precisamente uma das potenciais causas de insegurança alimentar dos europeus é o excesso de consumo de alimentos de origem animal - além dos problemas de saúde e ambientais sobejamente conhecidos.
Na verdade, uma das formas de tornar o nosso sistema alimentar mais autónomo, resiliente e sustentável, salvaguardando também a saúde dos europeus, seria através da redução do consumo de alimentos de origem animal e do incentivo a formas de produção animal menos dependentes de rações e fertilizantes.
2. “As alterações climáticas não podem ser uma prioridade.”
Os enormes desafios ambientais que enfrentamos não começaram com este conflito, e os seus efeitos não só são duradouros como não ficarão suspensos a aguardar a resolução dos desafios que, entretanto, surgem. Antes pelo contrário: quanto mais tempo demorarmos a agir para reduzir as emissões de gases de efeito de estufa, mais depressa se agravarão estes efeitos, colocando em risco as oportunidades para os resolver. O último relatório do IPCC é um alerta para o facto de os riscos serem superiores ao que estava inicialmente previsto, com alguns efeitos negativos a ocorrerem a níveis de aquecimento global mais baixos do que se previa. Uma das conclusões preocupantes do relatório é que com as alterações climáticas se torna cada vez mais difícil satisfazermos as necessidades humanas de calorias e proteínas, estando previstas perdas não só de produtividade mas também dos nutrientes presentes num vasto grupo de plantas .
Assim, é importante (e urgente) repensar o PEPAC para que este possa contribuir positivamente para a promoção da biodiversidade, a mitigação e adaptação às alterações climáticas e para o bom estado dos recursos água e solo, assim como o desenvolvimento das comunidades rurais de forma inclusiva.
3. “São necessárias medidas excepcionais, devido às circunstâncias”.
Todos os argumentos parecem ser bons para não cumprir os compromissos ambientais firmados pela Comissão Europeia. Durante o período de negociações do PEPAC, à semelhança do que aconteceu anteriormente noutras reformas da Política Agrícola Comum, muitas foram as pressões e cedências às tentativas de enfraquecimento dos objetivos e metas ambientais e climáticas deste plano. De referir que as ONGAs, a sociedade civil, e as autoridades ambientais nacionais foram completamente ignoradas no processo de construção deste PEPAC - e tememos que este registo persista no futuro. Uma parte importante do financiamento da Rede Natura 2000 provém da PAC, e se as medidas para aplicar este dinheiro forem desenhadas sem o envolvimento do ICNF (responsável pela Rede Natura 2000), dificilmente irão cumprir a sua função.
Ao longo das últimas semanas, um pouco por toda a Europa e inclusive em Portugal, algumas confederações e organizações do setor agrícola, a par com algumas personalidades, têm vindo a manifestar publicamente as suas preocupações quanto ao desafio que paira sobre a segurança alimentar da UE, defendendo medidas urgentes a curto e médio prazo. Os argumentos usados para justificar incumprimentos ambientais não são novos, apresentando os compromissos ambientais como um entrave, não ao desenvolvimento económico, mas à mitigação da crise económica e social que já enfrentamos.
Acima de tudo, estas preocupações têm-se manifestado através de pressões sobre os governos europeus para diluir as respetivas metas ambientais e climáticas assumidas em vários instrumentos comunitários (como a Estratégia Do Prado Ao Prato e a Estratégia de Biodiversidade da UE para 2030, resultantes do Pacto Ecológico Europeu) e nacionais (Planos Estratégicos da Política Agrícola Comum) no que diz respeito ao setor agro-alimentar - servindo os interesses de parte do setor e falhando aos consumidores e aos pequenos agricultores.
Esta narrativa começa a ter efeitos práticos: foram já concedidas a vários países, entre os quais Portugal, autorizações para utilização de áreas importantes para a natureza e biodiversidade para produção agrícola (anteriormente vedadas à prática agrícola). Simultaneamente, o apelo que tem sido feito para a não integração das metas do Pacto Ecológico Europeu (PEE) no âmbito dos Planos Estratégicos da PAC (PEPAC), se bem-sucedido, significará, por exemplo, o recuo do compromisso do setor agro-alimentar para aumentar a produção biológica de alimentos em 25% ou a redução do uso de pesticidas até 50%. O adiamento da Lei do Restauro da Natureza da UE e da Diretiva Quadro do Uso Sustentável dos Pesticidas são também já consequência das pressões que se fazem sentir.
Importa então desmistificar 4 ideias que vamos ouvir ser repetidas à exaustão, mas que não serão mais verdadeiras por isso:
1. “A guerra coloca em causa a nossa segurança alimentar”.
Ao contrário do que esta ideia parece sugerir, os cereais que importamos dos países envolvidos no conflito servem em boa parte para produção de rações animais ou biocombustíveis - ⅔ dos cereais importados têm como destino a alimentação de gado. Precisamente uma das potenciais causas de insegurança alimentar dos europeus é o excesso de consumo de alimentos de origem animal - além dos problemas de saúde e ambientais sobejamente conhecidos.
Na verdade, uma das formas de tornar o nosso sistema alimentar mais autónomo, resiliente e sustentável, salvaguardando também a saúde dos europeus, seria através da redução do consumo de alimentos de origem animal e do incentivo a formas de produção animal menos dependentes de rações e fertilizantes.
2. “As alterações climáticas não podem ser uma prioridade.”
Os enormes desafios ambientais que enfrentamos não começaram com este conflito, e os seus efeitos não só são duradouros como não ficarão suspensos a aguardar a resolução dos desafios que, entretanto, surgem. Antes pelo contrário: quanto mais tempo demorarmos a agir para reduzir as emissões de gases de efeito de estufa, mais depressa se agravarão estes efeitos, colocando em risco as oportunidades para os resolver. O último relatório do IPCC é um alerta para o facto de os riscos serem superiores ao que estava inicialmente previsto, com alguns efeitos negativos a ocorrerem a níveis de aquecimento global mais baixos do que se previa. Uma das conclusões preocupantes do relatório é que com as alterações climáticas se torna cada vez mais difícil satisfazermos as necessidades humanas de calorias e proteínas, estando previstas perdas não só de produtividade mas também dos nutrientes presentes num vasto grupo de plantas .
Assim, é importante (e urgente) repensar o PEPAC para que este possa contribuir positivamente para a promoção da biodiversidade, a mitigação e adaptação às alterações climáticas e para o bom estado dos recursos água e solo, assim como o desenvolvimento das comunidades rurais de forma inclusiva.
3. “São necessárias medidas excepcionais, devido às circunstâncias”.
Todos os argumentos parecem ser bons para não cumprir os compromissos ambientais firmados pela Comissão Europeia. Durante o período de negociações do PEPAC, à semelhança do que aconteceu anteriormente noutras reformas da Política Agrícola Comum, muitas foram as pressões e cedências às tentativas de enfraquecimento dos objetivos e metas ambientais e climáticas deste plano. De referir que as ONGAs, a sociedade civil, e as autoridades ambientais nacionais foram completamente ignoradas no processo de construção deste PEPAC - e tememos que este registo persista no futuro. Uma parte importante do financiamento da Rede Natura 2000 provém da PAC, e se as medidas para aplicar este dinheiro forem desenhadas sem o envolvimento do ICNF (responsável pela Rede Natura 2000), dificilmente irão cumprir a sua função.
4. “O adiamento das metas do Pacto Ecológico Europeu é absolutamente necessário”.
Maria do Céu Antunes, então Ministra da Agricultura, defendeu em março no Conselho de Agricultura e Pescas o adiamento do cumprimento das metas do PEE para um futuro incerto mas decidiu, no mesmo dia, apoiar a proposta da Áustria de incentivar o potencial das proteínas vegetais em linha com os objetivos do mesmo PEE. Contudo, esta proposta não se refere explicitamente ao consumo humano destas proteínas, o que poderá significar que esta visa apenas o incentivo da utilização para produção de rações e não para contribuir para uma dieta mais saudável e sustentável dos europeus e consequentemente, contribuir para uma maior resiliência a choques futuros. O cumprimento do PEE é absolutamente necessário, nomeadamente da sua Estratégia Do Prado Ao Prato, começando pela promoção do aumento da disponibilidade de alternativas proteicas vegetais para consumo humano.
A produção agroalimentar tem contribuído para a crise ambiental que vivemos: globalmente, a forma como nos alimentamos é responsável por 80% da desflorestação, 70% do uso de água doce, cerca de 30% de emissão de Gases de Efeito Estufa, degradação de 52% das terras agrícolas e 70% da perda de biodiversidade terrestre. Negá-lo é recusar a realidade e tem um efeito pouco útil na medida em que não resolve nenhum destes problemas e não reconhece o enorme potencial que a produção agroalimentar tem para impactar positivamente a nossa saúde e a do nosso planeta desde que se opere uma transformação do sistema de produção virada para as pessoas e para o planeta. Sobre este ponto, a comunidade científica tem sido clara sobre a necessidade de assegurar alimentos suficientes para a população mundial, e simultaneamente transformar a forma como produzimos e consumimos estes alimentos - a degradação da natureza e do clima afetam diretamente a nossa capacidade de produção alimentar já que os efeitos combinados da perda de biodiversidade e do aquecimento global reduzam o rendimento das culturas e a densidade nutricional.
Assim, mais importante do que disseminar ideias nem sempre rigorosas sobre a eventual escassez de alimentos, é urgente repensarmos as nossas prioridades - será que queremos (mais uma vez) colocar em causa a resiliência dos nossos sistemas alimentares a médio-longo prazo e contribuir para a destruição da natureza? Não estaremos a ignorar o facto de, pelo menos em parte, estas perturbações do mercado serem consequência da falta dessa mesma resiliência? A construção e defesa de um sistema alimentar resiliente e que respeita os limites do nosso planeta deve ser a prioridade de todos, agora e no futuro.
11.5.20
Pobreza cresce na Itália e 700 mil menores estão com a alimentação comprometida, diz organização agrícola
in RFI
Pelo menos 700.000 menores de idade na Itália estão com a alimentação comprometida devido à crise gerada pelo novo coronavírus. O fechamento de colégios e refeitórios escolares agravou o estado de precariedade de famílias de baixa renda, que não têm dinheiro suficiente para manter em casa o mesmo padrão de alimentação que era oferecido pelas escolas, diz a Coldiretti, principal organização agrícola do país.
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"O número de pessoas com menos de 15 anos que precisam de ajuda para ter leite ou comer subiu para 700 mil", afirma a Coldiretti em um comunicado publicado neste domingo (10). "A situação crítica vinculada à pandemia se agravou em muitas famílias pelo fechamento dos colégios e dos restaurantes escolares, que eram a oportunidade para garantir aos filhos uma refeição quente", destaca o sindicato agrícola. Essa situação tende a se agravar, uma vez que os estabelecimenos de ensino ficarão fechados até setembro.
Entre os novos pobres estão "as famílias dos que perderam o emprego temporário, os pequenos comerciantes ou artesãos que foram obrigados a fechar, as pessoas que trabalham clandestinamente e não recebem subsídios especiais ou benefícios públicos e não têm economias, assim como vários trabalhadores sazonais ou que realizam atividades ocasionais". As dificuldades afetam toda a península, mas algumas regiões do sul apresentam um quadro ainda mais desolador. Um total de 20% dos pobres estão na Campania, 14% na Calábria e 11% na Sicília.
A Coldiretti constatou em abril um aumento dos preços das frutas (+8,4%), legumes (+5%) e leite (+4,1%). Além da "corrida às compras" pela quarentena, esses aumentos estão relacionados ao fechamento de bares, restaurantes e mercados locais em muitas regiões, afirma o Coldiretti.
Solidariedade não consegue substituir lacunas do Estado
A pandemia de coronavírus provocou uma onda de solidariedade na Itália, com centenas de associações prestando auxílio à população em todo o território. Apesar dessa mobilização, os coletivos civis não conseguem dar conta do volume de pessoas que necessitam de ajuda.
No último balanço oficial, o país tinha 30.395 mortos na epidemia. Desde 4 de maio, fábricas e escritórios retomaram gradualmente o trabalho. As regras de distanciamento físico permanecem em vigor, inclusive nos parques, reabertos ao público, e o uso da máscara é obrigatório no transporte coletivo.
No dia 18 de maio, a Itália entrará em uma nova fase, com a reabertura programada de todo o comércio varejista, bem como museus, locais culturais, igrejas e bibliotecas. Já autorizados a vender refeições para viagem, os bares e restaurantes reabrirão totalmente a partir de 1º de junho, assim como salões de beleza e barbeiros.
Mas a vigilância permanece, particularmente em Milão, o epicentro da epidemia na península. O prefeito da cidade ameaçou decretar nova quarentena, depois de milhares de pessoas, muitas vezes sem máscaras, tomarem as calçadas dos canais neste fim de semana para aproveitar o tempo ensolarado.
Pelo menos 700.000 menores de idade na Itália estão com a alimentação comprometida devido à crise gerada pelo novo coronavírus. O fechamento de colégios e refeitórios escolares agravou o estado de precariedade de famílias de baixa renda, que não têm dinheiro suficiente para manter em casa o mesmo padrão de alimentação que era oferecido pelas escolas, diz a Coldiretti, principal organização agrícola do país.
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"O número de pessoas com menos de 15 anos que precisam de ajuda para ter leite ou comer subiu para 700 mil", afirma a Coldiretti em um comunicado publicado neste domingo (10). "A situação crítica vinculada à pandemia se agravou em muitas famílias pelo fechamento dos colégios e dos restaurantes escolares, que eram a oportunidade para garantir aos filhos uma refeição quente", destaca o sindicato agrícola. Essa situação tende a se agravar, uma vez que os estabelecimenos de ensino ficarão fechados até setembro.
Entre os novos pobres estão "as famílias dos que perderam o emprego temporário, os pequenos comerciantes ou artesãos que foram obrigados a fechar, as pessoas que trabalham clandestinamente e não recebem subsídios especiais ou benefícios públicos e não têm economias, assim como vários trabalhadores sazonais ou que realizam atividades ocasionais". As dificuldades afetam toda a península, mas algumas regiões do sul apresentam um quadro ainda mais desolador. Um total de 20% dos pobres estão na Campania, 14% na Calábria e 11% na Sicília.
A Coldiretti constatou em abril um aumento dos preços das frutas (+8,4%), legumes (+5%) e leite (+4,1%). Além da "corrida às compras" pela quarentena, esses aumentos estão relacionados ao fechamento de bares, restaurantes e mercados locais em muitas regiões, afirma o Coldiretti.
Solidariedade não consegue substituir lacunas do Estado
A pandemia de coronavírus provocou uma onda de solidariedade na Itália, com centenas de associações prestando auxílio à população em todo o território. Apesar dessa mobilização, os coletivos civis não conseguem dar conta do volume de pessoas que necessitam de ajuda.
No último balanço oficial, o país tinha 30.395 mortos na epidemia. Desde 4 de maio, fábricas e escritórios retomaram gradualmente o trabalho. As regras de distanciamento físico permanecem em vigor, inclusive nos parques, reabertos ao público, e o uso da máscara é obrigatório no transporte coletivo.
No dia 18 de maio, a Itália entrará em uma nova fase, com a reabertura programada de todo o comércio varejista, bem como museus, locais culturais, igrejas e bibliotecas. Já autorizados a vender refeições para viagem, os bares e restaurantes reabrirão totalmente a partir de 1º de junho, assim como salões de beleza e barbeiros.
Mas a vigilância permanece, particularmente em Milão, o epicentro da epidemia na península. O prefeito da cidade ameaçou decretar nova quarentena, depois de milhares de pessoas, muitas vezes sem máscaras, tomarem as calçadas dos canais neste fim de semana para aproveitar o tempo ensolarado.
2.9.14
Estudo diz que actuais práticas agrícolas podem causar falta de alimentos em 2050
Cláudia Bancaleiro, in Público on-line
Investigadores recomendam “dietas mais saudáveis e equilibradas” para impedir desflorestação e perda da biodiversidade.
Os gases de efeito de estufa provenientes da produção de alimentos podem vir a aumentar mais de 80% se o consumo de carne e lacticínios continuar a subir como até agora. O alerta é feito por um estudo das universidades britânicas de Cambridge e de Aberdeen, publicado na revista Nature Climate Change, segundo o qual a produção de alimentos por si só pode atingir ou levar mesmo ao aumento dos níveis previstos para o total de emissões de gases de efeito de estufa dentro de 35 anos. A garantia de alimentos para toda a população mundial em 2050 pode também estar em causa.
O risco de alterações climáticas dramáticas e que se torne impossível alimentar a população mundial devido ao consumo crescente de determinados alimentos são os principais alertas do estudo. No trabalho, uma equipa de investigadores analisou dados sobre o uso do solo, aptidão agrícola das terras e de biomassa agrícola para criar um modelo que compara diferentes cenários para 2050, incluindo manter as actuais tendências de práticas agrícolas.
Com o aumento da população e a tendência crescente de optar por uma dieta mais ocidentalizada centrada no consumo de carne, torna-se impossível que os rendimentos da agricultura respondam às necessidades de alimentos dos 9600 milhões de pessoas que se prevê virem a ser a população mundial dentro de três décadas. Para responder a este problema, a solução é aumentar as áreas de cultivo.
Mas o estudo sublinha que esse caminho vai levar a que o ambiente pague um “preço elevado”. “A desflorestação vai aumentar as emissões de carbono, bem como a perda de biodiversidade, e a subida da produção de gado levar a maiores níveis de metano”, aponta o documento, segundo uma nota publicada nesta segunda-feira pelas universidades de Cambridge e de Aberdeen.
Os investigadores das duas universidades recomendam que se adoptem “dietas mais saudáveis e equilibradas”. Por exemplo, que se consumam apenas duas porções de carne vermelha e cinco ovos por semana, bem como uma pequena quantidade de lacticínios por dia.
“Este não é um argumento vegetariano radical, é um argumento sobre consumir carne em quantidades sensíveis como parte de uma dieta saudável, equilibrada”, defende o professor Keith Richards da Universidade de Cambridge, que colaborou no trabalho.
O também professor Pete Smith, um dos investigadores da Universidade de Aberdeen que elaboraram o estudo, adverte que, a “menos que façamos algumas mudanças sérias nas tendências de consumo de alimentos, teremos que descarbonizar por completo os sectores da energia e da indústria para respeitar as metas de emissões que evitam alterações climáticas perigosas”. Para Pete Smith, “isso é praticamente impossível”. “Temos que repensar o que comemos”, propõe.
Bojana Bajzelj, da equipa de investigação do Departamento de Engenharia de Cambridge, sustenta uma solução semelhante. "Reduzir o desperdício de alimentos e moderar o consumo de carne em dietas mais equilibradas, são as opções ‘sem arrependimento’ essenciais”.
Bajzelj afirma que “existem leis básicas da biofísica que não podemos evitar”. "A eficiência média de gado para converter ração vegetal em carne é inferior a 3%, e enquanto comemos mais carne, mais área de cultivo é criada para a produção de alimentos para os animais que fornecem carne aos seres humanos”. A investigadora conclui que com o crescente consumo de carne a “conversão de plantas em alimento torna-se cada vez menos eficiente, conduzindo à expansão agrícola e libertando mais gases de efeito de estufa”. “As práticas agrícolas não estão necessariamente em falha aqui - mas a nossa escolha de alimentos está”, frisa.
Com base nos dados recolhidos pelo estudo, dentro de 35 anos a área cultivada terá aumentado em 42% e o uso de fertilizantes crescido 45% em relação aos níveis de 2009. Mais de um décimo das florestas tropicais do mundo vai desaparecer nas próximas décadas. A crescente desflorestação, uso de fertilizantes e as emissões de gases metano proveniente das fezes e libertação de gases intestinais do gado são “susceptíveis de levar ao aumento dos gases de efeito de estufa resultantes da produção de alimentos em quase 80%”.
Investigadores recomendam “dietas mais saudáveis e equilibradas” para impedir desflorestação e perda da biodiversidade.
Os gases de efeito de estufa provenientes da produção de alimentos podem vir a aumentar mais de 80% se o consumo de carne e lacticínios continuar a subir como até agora. O alerta é feito por um estudo das universidades britânicas de Cambridge e de Aberdeen, publicado na revista Nature Climate Change, segundo o qual a produção de alimentos por si só pode atingir ou levar mesmo ao aumento dos níveis previstos para o total de emissões de gases de efeito de estufa dentro de 35 anos. A garantia de alimentos para toda a população mundial em 2050 pode também estar em causa.
O risco de alterações climáticas dramáticas e que se torne impossível alimentar a população mundial devido ao consumo crescente de determinados alimentos são os principais alertas do estudo. No trabalho, uma equipa de investigadores analisou dados sobre o uso do solo, aptidão agrícola das terras e de biomassa agrícola para criar um modelo que compara diferentes cenários para 2050, incluindo manter as actuais tendências de práticas agrícolas.
Com o aumento da população e a tendência crescente de optar por uma dieta mais ocidentalizada centrada no consumo de carne, torna-se impossível que os rendimentos da agricultura respondam às necessidades de alimentos dos 9600 milhões de pessoas que se prevê virem a ser a população mundial dentro de três décadas. Para responder a este problema, a solução é aumentar as áreas de cultivo.
Mas o estudo sublinha que esse caminho vai levar a que o ambiente pague um “preço elevado”. “A desflorestação vai aumentar as emissões de carbono, bem como a perda de biodiversidade, e a subida da produção de gado levar a maiores níveis de metano”, aponta o documento, segundo uma nota publicada nesta segunda-feira pelas universidades de Cambridge e de Aberdeen.
Os investigadores das duas universidades recomendam que se adoptem “dietas mais saudáveis e equilibradas”. Por exemplo, que se consumam apenas duas porções de carne vermelha e cinco ovos por semana, bem como uma pequena quantidade de lacticínios por dia.
“Este não é um argumento vegetariano radical, é um argumento sobre consumir carne em quantidades sensíveis como parte de uma dieta saudável, equilibrada”, defende o professor Keith Richards da Universidade de Cambridge, que colaborou no trabalho.
O também professor Pete Smith, um dos investigadores da Universidade de Aberdeen que elaboraram o estudo, adverte que, a “menos que façamos algumas mudanças sérias nas tendências de consumo de alimentos, teremos que descarbonizar por completo os sectores da energia e da indústria para respeitar as metas de emissões que evitam alterações climáticas perigosas”. Para Pete Smith, “isso é praticamente impossível”. “Temos que repensar o que comemos”, propõe.
Bojana Bajzelj, da equipa de investigação do Departamento de Engenharia de Cambridge, sustenta uma solução semelhante. "Reduzir o desperdício de alimentos e moderar o consumo de carne em dietas mais equilibradas, são as opções ‘sem arrependimento’ essenciais”.
Bajzelj afirma que “existem leis básicas da biofísica que não podemos evitar”. "A eficiência média de gado para converter ração vegetal em carne é inferior a 3%, e enquanto comemos mais carne, mais área de cultivo é criada para a produção de alimentos para os animais que fornecem carne aos seres humanos”. A investigadora conclui que com o crescente consumo de carne a “conversão de plantas em alimento torna-se cada vez menos eficiente, conduzindo à expansão agrícola e libertando mais gases de efeito de estufa”. “As práticas agrícolas não estão necessariamente em falha aqui - mas a nossa escolha de alimentos está”, frisa.
Com base nos dados recolhidos pelo estudo, dentro de 35 anos a área cultivada terá aumentado em 42% e o uso de fertilizantes crescido 45% em relação aos níveis de 2009. Mais de um décimo das florestas tropicais do mundo vai desaparecer nas próximas décadas. A crescente desflorestação, uso de fertilizantes e as emissões de gases metano proveniente das fezes e libertação de gases intestinais do gado são “susceptíveis de levar ao aumento dos gases de efeito de estufa resultantes da produção de alimentos em quase 80%”.
5.9.12
Alimentos: Nações Unidas defendem intervenção nos preços
in Agência Financeira
Há receios de que crise alimentar de 2007-2008 se possa repetir
As três agências das Nações Unidas responsáveis pelas questões alimentares apelaram esta terça-feira para uma intervenção internacional «rápida e coordenada» que impeça a repetição da crise alimentar de 2008, numa altura em que os preços dos alimentos continuam a subir.
Num comunicado comum, o diretor-geral da organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, o presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Kanayo F. Nwanze, e a diretora executiva do Programa Alimentar Mundial (PAM), Ertharin Cousin, apelam ainda para «o combate às causas profundas do aumento do preço dos alimentos».
«A situação nos mercados globais de alimentos, caraterizada por um forte aumento dos preços do trigo, milho e soja, provocou receios de uma repetição da crise alimentar de 2007-2008. Uma resposta rápida e coordenada à escala internacional pode evitar a sua repetição», consideraram os três responsáveis, citados pela Lusa.
Trata-se de «agir prontamente para assegurar que esses choques de preços não levem a uma catástrofe que venha a afligir dezenas de milhões de pessoas ao longo dos próximos meses», advertiram.
A FAO, PAM e FIDA, consideram que «os preços elevados dos alimentos são um sintoma, não a doença» e defendem que a comunidade internacional «deve tomar medidas preventivas para evitar aumentos excessivos, fazendo uma intervenção ao nível das causas profundas que estão na origem do aumento dos preços».
Os responsáveis defendem a «produção sustentável nos países pobres importadores de alimentos, que geralmente têm um enorme potencial para o aumento da produção».
«Tal permitiria abastecer os mercados locais e criar empregos e receitas, particularmente nas zonas rurais onde vivem 70 por cento dos pobres do planeta», consideraram.
«Devemos abordar também o problema do desperdício e da perda de um terço dos alimentos produzidos no mundo devido a alterações, deterioração ou outras causas», acrescentaram.
As três agências defendem ainda uma «dupla abordagem» com o objetivo de apoiar os investimentos a longo prazo na agricultura, nomeadamente dos pequenos agricultores, garantindo ao mesmo tempo o estabelecimento de redes de segurança para produtores e consumidores pobres que evitem situações de fome e pobreza a curto prazo.
As organizações apontam ainda algumas medidas a evitar: «os países devem abster-se de fazer compras impulsionadas pelo pânico e pelas restrições às exportações, que apesar de ajudarem temporariamente alguns consumidores, se revelam ineficazes e dificultam a vida a todos os outros».
«A crescente conversão de culturas de alimentos em biocombustíveis e a especulação financeira desempenharam um papel no aumento e na volatilidade dos preços», denunciam ainda as organizações das Nações Unidas, renovando uma recomendação da reunião do G20 de 2011 em Paris, que vai no sentido de que as autorizações para a produção de biocombustíveis sejam ajustadas quando o abastecimento de alimentos esteja ameaçado.
Há receios de que crise alimentar de 2007-2008 se possa repetir
As três agências das Nações Unidas responsáveis pelas questões alimentares apelaram esta terça-feira para uma intervenção internacional «rápida e coordenada» que impeça a repetição da crise alimentar de 2008, numa altura em que os preços dos alimentos continuam a subir.
Num comunicado comum, o diretor-geral da organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, o presidente do Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola (FIDA), Kanayo F. Nwanze, e a diretora executiva do Programa Alimentar Mundial (PAM), Ertharin Cousin, apelam ainda para «o combate às causas profundas do aumento do preço dos alimentos».
«A situação nos mercados globais de alimentos, caraterizada por um forte aumento dos preços do trigo, milho e soja, provocou receios de uma repetição da crise alimentar de 2007-2008. Uma resposta rápida e coordenada à escala internacional pode evitar a sua repetição», consideraram os três responsáveis, citados pela Lusa.
Trata-se de «agir prontamente para assegurar que esses choques de preços não levem a uma catástrofe que venha a afligir dezenas de milhões de pessoas ao longo dos próximos meses», advertiram.
A FAO, PAM e FIDA, consideram que «os preços elevados dos alimentos são um sintoma, não a doença» e defendem que a comunidade internacional «deve tomar medidas preventivas para evitar aumentos excessivos, fazendo uma intervenção ao nível das causas profundas que estão na origem do aumento dos preços».
Os responsáveis defendem a «produção sustentável nos países pobres importadores de alimentos, que geralmente têm um enorme potencial para o aumento da produção».
«Tal permitiria abastecer os mercados locais e criar empregos e receitas, particularmente nas zonas rurais onde vivem 70 por cento dos pobres do planeta», consideraram.
«Devemos abordar também o problema do desperdício e da perda de um terço dos alimentos produzidos no mundo devido a alterações, deterioração ou outras causas», acrescentaram.
As três agências defendem ainda uma «dupla abordagem» com o objetivo de apoiar os investimentos a longo prazo na agricultura, nomeadamente dos pequenos agricultores, garantindo ao mesmo tempo o estabelecimento de redes de segurança para produtores e consumidores pobres que evitem situações de fome e pobreza a curto prazo.
As organizações apontam ainda algumas medidas a evitar: «os países devem abster-se de fazer compras impulsionadas pelo pânico e pelas restrições às exportações, que apesar de ajudarem temporariamente alguns consumidores, se revelam ineficazes e dificultam a vida a todos os outros».
«A crescente conversão de culturas de alimentos em biocombustíveis e a especulação financeira desempenharam um papel no aumento e na volatilidade dos preços», denunciam ainda as organizações das Nações Unidas, renovando uma recomendação da reunião do G20 de 2011 em Paris, que vai no sentido de que as autorizações para a produção de biocombustíveis sejam ajustadas quando o abastecimento de alimentos esteja ameaçado.
3.4.12
Erradicar a fome até 2025
Texto Miguel Marujo, in Fátima Missionária
Compromisso assumido pelos países da América Latina e do Caribe. «Combate à fome não pode ser apenas o compromisso único de um governo»
Países da América Latina e do Caribe reafirmaram o seu compromisso em erradicar a fome, no decorrer de uma conferência das Nações Unidas sobre alimentação e agricultura, que teve lugar em Buenos Aires, Argentina, durante o fim de semana. “Esta iniciativa pertence aos países e deve ser abraçada por todos: governos, parlamentos, sociedade civil e setores privado e académico, porque o combate à fome não pode ser apenas o compromisso único de um governo. Deve ser uma decisão tomada por toda a sociedade”, disse o director geral da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, na 32ª Conferência Regional da FAO para a América Latina e Caribe, que terminou sábado.
Na conferência, os estados renovaram o seu compromisso com a Iniciativa América Latina e Caribe sem Fome 2025, um esforço que visa garantir que nenhuma criança, homem ou mulher na região terá fome nesse ano. Desde o seu lançamento em 2005, quatro países da região reconhecream o direito à alimentação nas suas constituições, enquanto sete aprovaram leis sobre segurança alimentar ou de soberania alimentar.
Compromisso assumido pelos países da América Latina e do Caribe. «Combate à fome não pode ser apenas o compromisso único de um governo»
Países da América Latina e do Caribe reafirmaram o seu compromisso em erradicar a fome, no decorrer de uma conferência das Nações Unidas sobre alimentação e agricultura, que teve lugar em Buenos Aires, Argentina, durante o fim de semana. “Esta iniciativa pertence aos países e deve ser abraçada por todos: governos, parlamentos, sociedade civil e setores privado e académico, porque o combate à fome não pode ser apenas o compromisso único de um governo. Deve ser uma decisão tomada por toda a sociedade”, disse o director geral da Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO), José Graziano da Silva, na 32ª Conferência Regional da FAO para a América Latina e Caribe, que terminou sábado.
Na conferência, os estados renovaram o seu compromisso com a Iniciativa América Latina e Caribe sem Fome 2025, um esforço que visa garantir que nenhuma criança, homem ou mulher na região terá fome nesse ano. Desde o seu lançamento em 2005, quatro países da região reconhecream o direito à alimentação nas suas constituições, enquanto sete aprovaram leis sobre segurança alimentar ou de soberania alimentar.
24.3.12
Luta contra a fome depende da gestão da água
Texto Cristina Santos, in Fátima Missionária
Deve haver uma melhor gestão dos recursos hídricos para alimentar o mundo; reduzir a quantidade de comida desperdiçada permite poupar enormes quantidades de água, alertam responsáveis das Nações Unidas
«Se não usarmos a água de uma forma mais inteligente na agricultura, não estaremos em condições de eliminar a fome e estaremos a abrir as portas a uma série de outros males», como a seca, as crises alimentares e a instabilidade política, alertou ontem o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon. «A água irá ter um papel central na criação do futuro que desejamos», afirmou, lembrando que em muitas regiões do mundo a agua é cada vez mais escassa e as taxas relativas à produção agrícola estão a estagnar.
Também o diretor da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação a Agricultura), José Graziano da Silva, referiu que era importante investir em hábitos alimentares mais saudáveis e na redução dos desperdícios. Para isso é necessário apostar nas pessoas, nas infraestruturas, na educação e sensibilização. Segundo a FAO, todos os anos são desperdiçadas 1,3 mil milhões de toneladas de comida. Reduzir essa cifra permitiria poupar enormes quantidades de água.
Atualmente, cerca de 1,6 mil milhões de pessoas vivem em países ou regiões onde a água é escassa. Dois terços da população mundial poderão estar a viver numa situação de «stress hídrico» até 2025. Cada ser humano consome em média entre dois e quatro litros por dia mas são necessários entre 2.000 e 5.000 litros de água para produzir a comida necessária para alimentar uma só pessoa.
Deve haver uma melhor gestão dos recursos hídricos para alimentar o mundo; reduzir a quantidade de comida desperdiçada permite poupar enormes quantidades de água, alertam responsáveis das Nações Unidas
«Se não usarmos a água de uma forma mais inteligente na agricultura, não estaremos em condições de eliminar a fome e estaremos a abrir as portas a uma série de outros males», como a seca, as crises alimentares e a instabilidade política, alertou ontem o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon. «A água irá ter um papel central na criação do futuro que desejamos», afirmou, lembrando que em muitas regiões do mundo a agua é cada vez mais escassa e as taxas relativas à produção agrícola estão a estagnar.
Também o diretor da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação a Agricultura), José Graziano da Silva, referiu que era importante investir em hábitos alimentares mais saudáveis e na redução dos desperdícios. Para isso é necessário apostar nas pessoas, nas infraestruturas, na educação e sensibilização. Segundo a FAO, todos os anos são desperdiçadas 1,3 mil milhões de toneladas de comida. Reduzir essa cifra permitiria poupar enormes quantidades de água.
Atualmente, cerca de 1,6 mil milhões de pessoas vivem em países ou regiões onde a água é escassa. Dois terços da população mundial poderão estar a viver numa situação de «stress hídrico» até 2025. Cada ser humano consome em média entre dois e quatro litros por dia mas são necessários entre 2.000 e 5.000 litros de água para produzir a comida necessária para alimentar uma só pessoa.
22.3.12
Sucesso no combate à fome depende de uma melhor utilização da água - Afirma o Secretário Geral da ONU
in Diário de Notícias do Funchal
O Secretário Geral da ONU Ban Ki-moon afirmou hoje que a produção de alimentos suficientes para alimentar a crescente população mundial exigirá que comunidade internacional assegure o uso sustentável do “recurso finito mais importante” do mundo, a água.
“A menos que melhoremos a nossa capacidade de usar a água na agricultura com sensatez, não conseguiremos acabar com a fome e vamos abrir a porta a uma
série de outros problemas, incluindo a seca, a fome e a instabilidade política”, alertou Ban num comunicado lido no início das cerimónias do Dia Mundial da Água 2012 que decorrem na FAO.
Em muitas partes do mundo, a escassez de água está a aumentar e as taxas de crescimento na produção agrícola têm diminuído, observou. Ao mesmo tempo, as
alterações climáticas estão a agravar os riscos e imprevisibilidades para os agricultores, “especialmente para os agricultores pobres em países de baixo
rendimento que são os mais vulneráveis e menos capazes de se adaptar”, afirmou Ban Ki-moon.
Garantir a segurança sustentável dos alimentos e da água para todos exigirá a transferência de tecnologias hídricas apropriadas, a capacitação de pequenos produtores alimentares e a conservação de serviços ambientais essenciais, afirmou o chefe da ONU. Também apelou a políticas que promovam os direitos de água para todos, uma capacidade regulamentar mais forte e a igualdade de género.
“A água vai desempenhar um papel central na criação do futuro que queremos”, concluiu Ban. “Na próxima Cimeira da Terra Rio +20, a comunidade
internacional terá de fazer a ligação entre a segurança no acesso à água e a segurança alimentar e nutricional no contexto de uma economia verde”.
Todos os 22 de Março a parceria ONU-Água de 28 organizações das Nações Unidas diferentes comemora o Dia Mundial da Água, como forma de chamar a
atenção do público para várias questões relacionadas com a água e a necessidade de gerir de forma sustentável os recursos de água doce.
A FAO é a principal agência da ONU para as comemorações do Dia da Água deste ano, que tem como tema "Água e segurança alimentar". A agência da ONU para a Alimentação e a Agricultura está a realizar uma série de palestras e debates de especialistas internacionais da água ao longo de todo o dia na sua sede
de Roma.
Água para o futuro
Durante a sua intervenção, o Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva afirmou: “Há vinte anos atrás, a primeira Cimeira da Terra no Rio destacou a
importância vital de uma efetiva gestão da água na construção de um futuro sustentável e com segurança alimentar para o planeta. Apesar de muitos
países terem feito grandes progressos na melhoria da sua gestão dos recursos hídricos, é necessário fazer muito mais.”
“Temos de responder à procura agrícola de uma maneira que economize a água e outros recursos naturais, o que implica uma intensificação sustentável da
agricultura, capaz de produzir os alimentos de que o mundo precisa enquanto utiliza a água de forma mais inteligente, bem como uma mudança na nossa
forma de comer, reduzindo as perdas, desperdícios e promovendo dietas saudáveis”, acrescentou.
De acordo com Graziano da Silva, será para isso necessário investir nas pessoas, nas infraestruturas e na educação e sensibilização, bem como
encontrar incentivos para que os pequenos agricultores adotem melhores práticas – e reforçar a sua capacidade de melhorar a sua produtividade.
Aumentar a resiliência dos agricultores contra as alterações climáticas, melhorar a governança da água e criar instituições para melhorar a gestão
das águas nacionais e regionais são também áreas prioritárias, afirmou.
“É também necessário um consumo sustentável, que reduza as perdas, desperdícios e promova dietas sustentáveis”, acrescentou Graziano da Silva, citando estimativas da FAO de que 1,3 bilhões de toneladas de alimentos são desperdiçados todos os anos.
Uma redução de 50 por cento nas perdas de alimentos e dos desperdícios a nível mundial pouparia 1.350 km3 de água anualmente, segundo a FAO. A título
de comparação, a precipitação média anual na Espanha é de 350 km3, a capacidade de armazenamento do lago Nasser no Egito e no Sudão é de cerca de
85 km3, e a água do rio Reno que passa na cidade de Bonn , no período de um ano é de aproximadamente 60 km3.
Agricultura e segurança da água interligadas
Actualmente, cerca de 1,6 bilhão de pessoas vivem em países ou regiões com escassez absoluta de água e em 2025 dois terços da população mundial poderá
estar a viver em condições de stresse hídrico.Uma das principais razões para isso é a necessidade da utilização de água para produção de alimentos. Em média uma pessoa bebe de 2 a 4 litros de água por dia, mas são necessários 2.000 a 5.000 litros de água para produzir a alimentação diária de uma pessoa.
Na verdade, a agricultura é responsável por 70 por cento da utilização de toda a água doce e subterrânea em todo o mundo.
No entanto, a razão para esta grande pegada de água é clara: regando os agricultores podem produzir mais alimentos. A agricultura de regadio é responsável por apenas 20 por cento da área terrestre cultivada do planeta, mas produz 40 por cento dos alimentos.
O Secretário Geral da ONU Ban Ki-moon afirmou hoje que a produção de alimentos suficientes para alimentar a crescente população mundial exigirá que comunidade internacional assegure o uso sustentável do “recurso finito mais importante” do mundo, a água.
“A menos que melhoremos a nossa capacidade de usar a água na agricultura com sensatez, não conseguiremos acabar com a fome e vamos abrir a porta a uma
série de outros problemas, incluindo a seca, a fome e a instabilidade política”, alertou Ban num comunicado lido no início das cerimónias do Dia Mundial da Água 2012 que decorrem na FAO.
Em muitas partes do mundo, a escassez de água está a aumentar e as taxas de crescimento na produção agrícola têm diminuído, observou. Ao mesmo tempo, as
alterações climáticas estão a agravar os riscos e imprevisibilidades para os agricultores, “especialmente para os agricultores pobres em países de baixo
rendimento que são os mais vulneráveis e menos capazes de se adaptar”, afirmou Ban Ki-moon.
Garantir a segurança sustentável dos alimentos e da água para todos exigirá a transferência de tecnologias hídricas apropriadas, a capacitação de pequenos produtores alimentares e a conservação de serviços ambientais essenciais, afirmou o chefe da ONU. Também apelou a políticas que promovam os direitos de água para todos, uma capacidade regulamentar mais forte e a igualdade de género.
“A água vai desempenhar um papel central na criação do futuro que queremos”, concluiu Ban. “Na próxima Cimeira da Terra Rio +20, a comunidade
internacional terá de fazer a ligação entre a segurança no acesso à água e a segurança alimentar e nutricional no contexto de uma economia verde”.
Todos os 22 de Março a parceria ONU-Água de 28 organizações das Nações Unidas diferentes comemora o Dia Mundial da Água, como forma de chamar a
atenção do público para várias questões relacionadas com a água e a necessidade de gerir de forma sustentável os recursos de água doce.
A FAO é a principal agência da ONU para as comemorações do Dia da Água deste ano, que tem como tema "Água e segurança alimentar". A agência da ONU para a Alimentação e a Agricultura está a realizar uma série de palestras e debates de especialistas internacionais da água ao longo de todo o dia na sua sede
de Roma.
Água para o futuro
Durante a sua intervenção, o Diretor-Geral da FAO, José Graziano da Silva afirmou: “Há vinte anos atrás, a primeira Cimeira da Terra no Rio destacou a
importância vital de uma efetiva gestão da água na construção de um futuro sustentável e com segurança alimentar para o planeta. Apesar de muitos
países terem feito grandes progressos na melhoria da sua gestão dos recursos hídricos, é necessário fazer muito mais.”
“Temos de responder à procura agrícola de uma maneira que economize a água e outros recursos naturais, o que implica uma intensificação sustentável da
agricultura, capaz de produzir os alimentos de que o mundo precisa enquanto utiliza a água de forma mais inteligente, bem como uma mudança na nossa
forma de comer, reduzindo as perdas, desperdícios e promovendo dietas saudáveis”, acrescentou.
De acordo com Graziano da Silva, será para isso necessário investir nas pessoas, nas infraestruturas e na educação e sensibilização, bem como
encontrar incentivos para que os pequenos agricultores adotem melhores práticas – e reforçar a sua capacidade de melhorar a sua produtividade.
Aumentar a resiliência dos agricultores contra as alterações climáticas, melhorar a governança da água e criar instituições para melhorar a gestão
das águas nacionais e regionais são também áreas prioritárias, afirmou.
“É também necessário um consumo sustentável, que reduza as perdas, desperdícios e promova dietas sustentáveis”, acrescentou Graziano da Silva, citando estimativas da FAO de que 1,3 bilhões de toneladas de alimentos são desperdiçados todos os anos.
Uma redução de 50 por cento nas perdas de alimentos e dos desperdícios a nível mundial pouparia 1.350 km3 de água anualmente, segundo a FAO. A título
de comparação, a precipitação média anual na Espanha é de 350 km3, a capacidade de armazenamento do lago Nasser no Egito e no Sudão é de cerca de
85 km3, e a água do rio Reno que passa na cidade de Bonn , no período de um ano é de aproximadamente 60 km3.
Agricultura e segurança da água interligadas
Actualmente, cerca de 1,6 bilhão de pessoas vivem em países ou regiões com escassez absoluta de água e em 2025 dois terços da população mundial poderá
estar a viver em condições de stresse hídrico.Uma das principais razões para isso é a necessidade da utilização de água para produção de alimentos. Em média uma pessoa bebe de 2 a 4 litros de água por dia, mas são necessários 2.000 a 5.000 litros de água para produzir a alimentação diária de uma pessoa.
Na verdade, a agricultura é responsável por 70 por cento da utilização de toda a água doce e subterrânea em todo o mundo.
No entanto, a razão para esta grande pegada de água é clara: regando os agricultores podem produzir mais alimentos. A agricultura de regadio é responsável por apenas 20 por cento da área terrestre cultivada do planeta, mas produz 40 por cento dos alimentos.
9.3.12
Vamos conseguir alimentar o mundo daqui a 20 anos?
Por Alexandra Prado Coelho, in Público on-line
A Fundação Gulbenkian e o PÚBLICO iniciam nesta sexta-feira um ciclo de conferências sobre o futuro da alimentação, para pensar nas mudanças na agricultura e nas nossas dietas. Como produzir mais e desperdiçar menos?
Um mundo em que cada vez mais gente come carne, uma pressão crescente sobre os cereais que alimentam os animais, solos a ficarem esgotados, seca, recursos hídricos a serem explorados até ao limite e, ao mesmo tempo, desperdícios de alimentos na ordem dos 30% a 50%. Como vamos conseguir, no futuro, alimentar a população mundial?
A pergunta é o ponto de partida para um ciclo de conferências organizadas pela Fundação Calouste Gulbenkian/PÚBLICO, intitulado O Futuro da Alimentação - Ambiente, Saúde e Economia. A primeira, Enquadramento Global da Produção e do Consumo de Alimentos, com o especialista britânico Charles Godfray, professor da Universidade de Oxford, acontece hoje, às 17h30, na fundação, em Lisboa, e a entrada é livre.
As subidas dos preços dos alimentos a que assistimos em 2008 e 2009 tornaram ainda mais premente este debate. "A questão da qual partimos tem que ver precisamente com a nossa capacidade para alimentar um mundo com nove ou dez mil milhões de pessoas", explica José Lima Santos, que coordenou o ciclo de conferências. "Isto prende-se com alterações climáticas, mas também com mudanças nas dietas alimentares. No Brasil, na China, na Índia, as pessoas estão a mudar a alimentação, a consumir mais carne, o que causa uma pressão muito maior sobre a procura de cereais."
"Vai ser necessário produzir muitos mais alimentos até 2030", o ano em que, segundo o especialista britânico John Beddington, vamos assistir a uma "tempestade perfeita" devido à escassez de água, energia e alimentos. O problema, prossegue Lima Santos, é que "a produtividade dos cereais por hectare está a aumentar de forma cada vez mais lenta".
A este cenário soma-se a questão do preço do petróleo, "muito importante para a produção de alimentos", e a falta de água. "Temos na África Subsariana, mas sobretudo no Norte da Índia e na China, zonas altamente povoadas em que os níveis de esgotamento dos recursos hídricos são brutais e os aquíferos estão a ser perfurados em níveis impensáveis", alerta o professor do Instituto Superior de Agronomia.
É preciso, portanto, pensar no assunto e procurar soluções. E estas passam por onde? "Até agora", diz Lima Santos, "os aumentos de produção agrícola dependeram integralmente ou do aumento do uso de água e energia para fabricar adubos ou pesticidas ou da expansão de terra cultivada".
A dependência nacional
A partir daqui, as soluções têm de ser diferentes. Algumas passam pela tecnologia e, aí, a tendência será para investir menos na planta geneticamente modificada, super-resistente, e mais na "optimização do funcionamento dos ecossistemas", recuperando "muitas ideias dos sistemas tradicionais de agricultura" mas "utilizando mais intensivamente a ciência".
"Outro dos ajustamentos que temos de fazer é ao nível das dietas." Mas não é simples, porque "a nossa alimentação não é meramente biológica, é cultural" - daí que uma das conferências deste ciclo seja sobre "cultura e ética". "Há um compromisso ético sem o qual estas questões não se resolvem." E aí entra a questão do desperdício - em relação à qual vai ser apresentado na conferência de Dezembro um estudo realizado em Portugal.
A situação de Portugal vai, aliás, estar presente em todo o ciclo. "O problema é global, mas queremos também perceber as implicações que tem para Portugal", um país que "raramente, se é que alguma vez, foi auto-suficiente em alimentação". Portugal importa grande parte do que consome. "Temos cerca de 30% de dependência do exterior, mas o facto é que nunca fomos auto-suficientes, excepto em dois anos da campanha do trigo, na altura do Estado Novo, mas isso foi feito à custa de uma degradação enorme dos solos, o que era insustentável." Para começar a pensar o assunto, a conferência de hoje inclui também uma intervenção de Arlindo Cunha, ex-ministro da Agricultura, sobre a Política Agrícola Comum e a globalização.
Conferências até Dezembro
O objectivo da Fundação Gulbenkian/PÚBLICO ao organizar uma série de conferências sobre alimentação é "antecipar um dos problemas que mais profundamente marcarão a nossa sociedade" no futuro. O ciclo que hoje se inicia terá outras seis conferências até ao final do ano. A seguinte, a 11 de Abril, tem como tema Alimentação e Saúde e inclui um workshop sobre Alimentação em Tempo de Crise.
A 17 de Maio, o tema será Alimentação e Desenvolvimento e, em Junho (dia 14), Alimentação e Economia (com workshop sobre casos de sucesso na área alimentar).
Depois de uma interrupção, o ciclo regressa em Outubro (dia 16) com uma conferência sobre Alimentação, Ambiente e Pescas; em Novembro (dia 2) com Alimentação, Agricultura e Ambiente. E termina em Dezembro (dia 13) com um debate sobre Alimentação, Cultura e Ética, que inclui um workshop com a apresentação de um estudo sobre desperdício alimentar em Portugal.
A Fundação Gulbenkian e o PÚBLICO iniciam nesta sexta-feira um ciclo de conferências sobre o futuro da alimentação, para pensar nas mudanças na agricultura e nas nossas dietas. Como produzir mais e desperdiçar menos?
Um mundo em que cada vez mais gente come carne, uma pressão crescente sobre os cereais que alimentam os animais, solos a ficarem esgotados, seca, recursos hídricos a serem explorados até ao limite e, ao mesmo tempo, desperdícios de alimentos na ordem dos 30% a 50%. Como vamos conseguir, no futuro, alimentar a população mundial?
A pergunta é o ponto de partida para um ciclo de conferências organizadas pela Fundação Calouste Gulbenkian/PÚBLICO, intitulado O Futuro da Alimentação - Ambiente, Saúde e Economia. A primeira, Enquadramento Global da Produção e do Consumo de Alimentos, com o especialista britânico Charles Godfray, professor da Universidade de Oxford, acontece hoje, às 17h30, na fundação, em Lisboa, e a entrada é livre.
As subidas dos preços dos alimentos a que assistimos em 2008 e 2009 tornaram ainda mais premente este debate. "A questão da qual partimos tem que ver precisamente com a nossa capacidade para alimentar um mundo com nove ou dez mil milhões de pessoas", explica José Lima Santos, que coordenou o ciclo de conferências. "Isto prende-se com alterações climáticas, mas também com mudanças nas dietas alimentares. No Brasil, na China, na Índia, as pessoas estão a mudar a alimentação, a consumir mais carne, o que causa uma pressão muito maior sobre a procura de cereais."
"Vai ser necessário produzir muitos mais alimentos até 2030", o ano em que, segundo o especialista britânico John Beddington, vamos assistir a uma "tempestade perfeita" devido à escassez de água, energia e alimentos. O problema, prossegue Lima Santos, é que "a produtividade dos cereais por hectare está a aumentar de forma cada vez mais lenta".
A este cenário soma-se a questão do preço do petróleo, "muito importante para a produção de alimentos", e a falta de água. "Temos na África Subsariana, mas sobretudo no Norte da Índia e na China, zonas altamente povoadas em que os níveis de esgotamento dos recursos hídricos são brutais e os aquíferos estão a ser perfurados em níveis impensáveis", alerta o professor do Instituto Superior de Agronomia.
É preciso, portanto, pensar no assunto e procurar soluções. E estas passam por onde? "Até agora", diz Lima Santos, "os aumentos de produção agrícola dependeram integralmente ou do aumento do uso de água e energia para fabricar adubos ou pesticidas ou da expansão de terra cultivada".
A dependência nacional
A partir daqui, as soluções têm de ser diferentes. Algumas passam pela tecnologia e, aí, a tendência será para investir menos na planta geneticamente modificada, super-resistente, e mais na "optimização do funcionamento dos ecossistemas", recuperando "muitas ideias dos sistemas tradicionais de agricultura" mas "utilizando mais intensivamente a ciência".
"Outro dos ajustamentos que temos de fazer é ao nível das dietas." Mas não é simples, porque "a nossa alimentação não é meramente biológica, é cultural" - daí que uma das conferências deste ciclo seja sobre "cultura e ética". "Há um compromisso ético sem o qual estas questões não se resolvem." E aí entra a questão do desperdício - em relação à qual vai ser apresentado na conferência de Dezembro um estudo realizado em Portugal.
A situação de Portugal vai, aliás, estar presente em todo o ciclo. "O problema é global, mas queremos também perceber as implicações que tem para Portugal", um país que "raramente, se é que alguma vez, foi auto-suficiente em alimentação". Portugal importa grande parte do que consome. "Temos cerca de 30% de dependência do exterior, mas o facto é que nunca fomos auto-suficientes, excepto em dois anos da campanha do trigo, na altura do Estado Novo, mas isso foi feito à custa de uma degradação enorme dos solos, o que era insustentável." Para começar a pensar o assunto, a conferência de hoje inclui também uma intervenção de Arlindo Cunha, ex-ministro da Agricultura, sobre a Política Agrícola Comum e a globalização.
Conferências até Dezembro
O objectivo da Fundação Gulbenkian/PÚBLICO ao organizar uma série de conferências sobre alimentação é "antecipar um dos problemas que mais profundamente marcarão a nossa sociedade" no futuro. O ciclo que hoje se inicia terá outras seis conferências até ao final do ano. A seguinte, a 11 de Abril, tem como tema Alimentação e Saúde e inclui um workshop sobre Alimentação em Tempo de Crise.
A 17 de Maio, o tema será Alimentação e Desenvolvimento e, em Junho (dia 14), Alimentação e Economia (com workshop sobre casos de sucesso na área alimentar).
Depois de uma interrupção, o ciclo regressa em Outubro (dia 16) com uma conferência sobre Alimentação, Ambiente e Pescas; em Novembro (dia 2) com Alimentação, Agricultura e Ambiente. E termina em Dezembro (dia 13) com um debate sobre Alimentação, Cultura e Ética, que inclui um workshop com a apresentação de um estudo sobre desperdício alimentar em Portugal.
15.2.12
Progenitores de países pobres estão a cortar na alimentação dos filhos
in Público on-line
A organização não-governamental (ONG) inglesa Save de Children concluiu que milhões de progenitores de países em vias de desenvolvimento tiveram, no último, de cortar na alimentação dos seus filhos em consequência dos preços recorde dos alimentos.
A ONG levou a cabo inquéritos na Índia, Bangladesh, Peru, Paquistão e Nigéria e concluiu que os preços elevados dos alimentos vieram piorar as situações de malnutrição e poderão inverter a melhoria dos índices de mortalidade infantil.
O inquérito concluiu que quase 250 milhões de pais e mães tiveram que racionar a comida para a sua família durante o ano passado. Um terço dos pais inquiridos afirmou que os filhos se queixam de não ter comida suficiente.
A Save de Children concluiu igualmente no seu relatório A Life Free From Hunger: Tackling Child Malnutrition que um em cada seis progenitores disse que os seus filhos vão abandonar a escola para poderem trabalhar e ajudar o agregado familiar a arranjar mais dinheiro para comprar comida.
A agência britânica concluiu que se não for feito nada, 500 milhões de crianças poderão ficar atrofiadas física e mentalmente durante os próximos 15 anos por causa da malnutrição.
Este estudo foi conduzido em cinco países onde - diz a Save the Children - vivem metade das crianças malnutridas existentes em todo o mundo, de acordo com a Globescan.
“O mundo fez progressos incríveis na redução de mortes infantis, de 12 para 7,6 milhões, mas esta tendência poderá abrandar se não conseguirmos resolver estes problemas de malnutrição”, disse o director executivo da Save the Children, Justin Forsyth.
A organização não-governamental (ONG) inglesa Save de Children concluiu que milhões de progenitores de países em vias de desenvolvimento tiveram, no último, de cortar na alimentação dos seus filhos em consequência dos preços recorde dos alimentos.
A ONG levou a cabo inquéritos na Índia, Bangladesh, Peru, Paquistão e Nigéria e concluiu que os preços elevados dos alimentos vieram piorar as situações de malnutrição e poderão inverter a melhoria dos índices de mortalidade infantil.
O inquérito concluiu que quase 250 milhões de pais e mães tiveram que racionar a comida para a sua família durante o ano passado. Um terço dos pais inquiridos afirmou que os filhos se queixam de não ter comida suficiente.
A Save de Children concluiu igualmente no seu relatório A Life Free From Hunger: Tackling Child Malnutrition que um em cada seis progenitores disse que os seus filhos vão abandonar a escola para poderem trabalhar e ajudar o agregado familiar a arranjar mais dinheiro para comprar comida.
A agência britânica concluiu que se não for feito nada, 500 milhões de crianças poderão ficar atrofiadas física e mentalmente durante os próximos 15 anos por causa da malnutrição.
Este estudo foi conduzido em cinco países onde - diz a Save the Children - vivem metade das crianças malnutridas existentes em todo o mundo, de acordo com a Globescan.
“O mundo fez progressos incríveis na redução de mortes infantis, de 12 para 7,6 milhões, mas esta tendência poderá abrandar se não conseguirmos resolver estes problemas de malnutrição”, disse o director executivo da Save the Children, Justin Forsyth.
"A crise alimentar de 2008 não vai repetir-se no mundo"
Por Ana Rute Silva, in Público on-line
Ann Berg nunca tinha estado em Lisboa, mas, a convite da Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo, falou, esta semana, para a plateia de 500 agricultores sobre o mercado de futuros e a volatilidade dos preços, durante o VII Congresso do Milho.
Numa altura em que as medidas de austeridade arriscam provocar uma descida do valor dos alimentos e um "êxodo da agricultura", a consultora da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e antiga corretora da Bolsa de Chicago, critica os movimentos especulativos e a falta de "transparência" em algumas transacções. Sem arriscar previsões para este ano, Berg defende que um cenário como o da grave crise alimentar de 2008, que fez disparar os preços do arroz e do milho em 170 e 140%, respectivamente, não deverá repetir-se.
Em 2011, os preços dos alimentos tiveram um movimento de subida constante. A tendência vai manter-se este ano?
Neste momento os preços dos cereais estão estáveis. E é impossível prever o que vai acontecer porque factores que menos esperamos afectam directamente os preços. Ninguém poderia prever a crise no mundo árabe ou o tsunami [no Japão]. Os preços dispararam. Há alguns factores que têm relação directa e que podemos identificar: os relatórios sobre as colheitas, a intervenção dos Governos nas exportações e na política monetária, e motivos climáticos que ninguém pode prever.
Todos estes acontecimentos influenciam da mesma forma a oscilação dos preços?
Depende muito da localização geográfica. A seca e os incêndios na Rússia [em Agosto de 2010] tiveram um enorme impacto. Toda a região é um grande produtor de trigo e, de repente, deixou de exportar. O efeito sentiu-se na Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos, e nos mercados globais. O preço aumentou.
A crescente procura dos mercados emergentes, sobretudo da China, também tem grande influência no preço a que os cereais são vendidos.
Imensa. A China decidiu comprar uma grande quantidade de feijão de soja, tornando-se no maior importador do mundo deste produto. Vão produzir o seu próprio trigo e milho, comprando por isso quantidades mínimas, mas vão importar 50 milhões de toneladas de soja por ano. É uma quantidade enorme. Foi uma decisão governamental. Além disso, também há uma orientação política nos biocombustíveis, que favorece a alta dos preços do milho. Estamos a falar de 130 milhões de toneladas de grãos que são direccionados para os biocombustíveis.
Nos EUA, 40% da produção de milho destina-se aos biocombustíveis, o equivalente a alimentar 600 milhões de pessoas. É um contra-senso?
Estão em causa razões políticas. É uma questão de dinheiro e o lobby dos agricultores é muito poderoso. Não estamos a falar de pessoas pobres: são ricos, donos de milhares de hectares de terra e cada hectare vale, hoje, sete mil dólares. Os incentivos dados aos agricultores para venderem os seus cereais ao biocombustível não resolvem o problema energético. A única coisa que fizeram foi aumentar o preço do milho. Voltando à sua questão sobre o que vai acontecer aos preços dos cereais este ano, assistimos às altas em 2008, mas tivemos resposta do lado da produção e mais consciência do problema. Penso que o mesmo cenário não se vai repetir.
Que consequências tem esta volatilidade dos preços para as pessoas?
Um agricultor pode decidir, de repente, semear feijões de soja em toda a propriedade. Mas se todos decidirem fazer o mesmo, os preços descem e cria-se um problema. Os mercados podem ser muito úteis para vender e comprar, mas a volatilidade traz dificuldades para os agricultores, e ainda mais para quem vive com um ou dois dólares por dia. Esta realidade não existe na Europa. Quando compramos uma carcaça por 15 cêntimos, apenas 10% desse valor equivale ao preço do trigo. Tudo o resto são custos de transporte, embalamento, entre outros. Os altos preços das commodities [mercadorias] não afectam assim tanto as sociedades ocidentais. Não se passa o mesmo na carne. Quando os preços sobem, o consumo desce.
Quem é que mais beneficia com a instabilidade de preços?
Os operadores de mercado. Com os mercados hoje totalmente informatizados, podem ser os primeiros a aproveitar uma subida de preço e fazer muito dinheiro. Não há dúvida de que estes veículos se tornaram mais especulativos.
Pensa que a existência de regulamentação, como defende a França, pode travar esta excessiva especulação?
Não, isso não vai acontecer. Os países do G20 concordaram com alguns limites, mas os lobbies dos bancos são muito poderosos, sobretudo no Reino Unido, onde não há limite para os preços, nem para as posições a comprar. Em 2010, um fundo de investimento comprou cerca de 7% da produção anual global de cacau e o preço subiu para 2800 libras por tonelada [o valor mais alto dos últimos 33 anos]. Assim que a mercadoria foi entregue, em Setembro, o preço caiu 30 a 40%. Na minha opinião, houve manipulação de mercado. Nas leis dos Estados Unidos chama-se a isso "distorção de comércio" e é ilegal.
Defende, então, que é preciso regras mais apertadas na Europa?
Penso que outros mercados deveriam adoptar a lei dos Estados Unidos, que é um modelo a seguir no que toca à transparência. Por exemplo, proíbe o armazenamento da mercadoria.
Com a crise global, tem havido uma transferência dos investidores do mercado financeiro para as commodities...
O que é que hão-de fazer? Não estão a conseguir ganhar dinheiro. As taxas de juro estão a zero.
Mas isso significa que as commodities vão assumir cada vez mais importância?
Não sei. Há duas influências opostas a ter em conta: uma são os estímulos à economia que criam mais riqueza e fazem com que os preços subam; outra é a contracção, a diminuição da procura e as medidas de austeridade. Sei que a Reserva Federal está com muito medo da deflação, que afecta não só o preço dos alimentos, mas também da habitação. Olha para a Europa e questiona se estas medidas de austeridade não vão matar a economia...
E é também a sua opinião?
Penso que as medidas de austeridade são um comprimido e tenderão a contrair a economia. Há alternativa? Não sei. Não sou economista. Mas desejaria que houvesse formas de aumentar a produtividade.
Investir na produção agrícola é uma solução?
Há uma tendência para o investimento agrícola, nomeadamente na China, e se eu fosse governante tentaria garantir o abastecimento.
Tem defendido que os cortes para travar a crise provocam uma queda nos preços das matérias-primas e, em consequência, um êxodo de agricultores e abandono dos campos. Este cenário já está a acontecer?
Já estamos a assistir a uma queda do volume transaccionado no mercado dos EUA. Os bancos de investimento já estão a prever menos lucros este ano e não vêem as mesmas oportunidades de lucro.
Mas neste momento o abastecimento de alimentos à população mundial está em níveis satisfatórios?
Os maiores problemas são as infra-estruturas e a distribuição dos alimentos. Na Índia, onde estive, as perdas durante o transporte são muitas. As estradas são más. Se conseguíssemos diminuir o desperdício, teríamos excedentes. Não tem havido esforço suficiente neste aspecto.
Ann Berg nunca tinha estado em Lisboa, mas, a convite da Associação Nacional de Produtores de Milho e Sorgo, falou, esta semana, para a plateia de 500 agricultores sobre o mercado de futuros e a volatilidade dos preços, durante o VII Congresso do Milho.
Numa altura em que as medidas de austeridade arriscam provocar uma descida do valor dos alimentos e um "êxodo da agricultura", a consultora da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e antiga corretora da Bolsa de Chicago, critica os movimentos especulativos e a falta de "transparência" em algumas transacções. Sem arriscar previsões para este ano, Berg defende que um cenário como o da grave crise alimentar de 2008, que fez disparar os preços do arroz e do milho em 170 e 140%, respectivamente, não deverá repetir-se.
Em 2011, os preços dos alimentos tiveram um movimento de subida constante. A tendência vai manter-se este ano?
Neste momento os preços dos cereais estão estáveis. E é impossível prever o que vai acontecer porque factores que menos esperamos afectam directamente os preços. Ninguém poderia prever a crise no mundo árabe ou o tsunami [no Japão]. Os preços dispararam. Há alguns factores que têm relação directa e que podemos identificar: os relatórios sobre as colheitas, a intervenção dos Governos nas exportações e na política monetária, e motivos climáticos que ninguém pode prever.
Todos estes acontecimentos influenciam da mesma forma a oscilação dos preços?
Depende muito da localização geográfica. A seca e os incêndios na Rússia [em Agosto de 2010] tiveram um enorme impacto. Toda a região é um grande produtor de trigo e, de repente, deixou de exportar. O efeito sentiu-se na Bolsa de Chicago, nos Estados Unidos, e nos mercados globais. O preço aumentou.
A crescente procura dos mercados emergentes, sobretudo da China, também tem grande influência no preço a que os cereais são vendidos.
Imensa. A China decidiu comprar uma grande quantidade de feijão de soja, tornando-se no maior importador do mundo deste produto. Vão produzir o seu próprio trigo e milho, comprando por isso quantidades mínimas, mas vão importar 50 milhões de toneladas de soja por ano. É uma quantidade enorme. Foi uma decisão governamental. Além disso, também há uma orientação política nos biocombustíveis, que favorece a alta dos preços do milho. Estamos a falar de 130 milhões de toneladas de grãos que são direccionados para os biocombustíveis.
Nos EUA, 40% da produção de milho destina-se aos biocombustíveis, o equivalente a alimentar 600 milhões de pessoas. É um contra-senso?
Estão em causa razões políticas. É uma questão de dinheiro e o lobby dos agricultores é muito poderoso. Não estamos a falar de pessoas pobres: são ricos, donos de milhares de hectares de terra e cada hectare vale, hoje, sete mil dólares. Os incentivos dados aos agricultores para venderem os seus cereais ao biocombustível não resolvem o problema energético. A única coisa que fizeram foi aumentar o preço do milho. Voltando à sua questão sobre o que vai acontecer aos preços dos cereais este ano, assistimos às altas em 2008, mas tivemos resposta do lado da produção e mais consciência do problema. Penso que o mesmo cenário não se vai repetir.
Que consequências tem esta volatilidade dos preços para as pessoas?
Um agricultor pode decidir, de repente, semear feijões de soja em toda a propriedade. Mas se todos decidirem fazer o mesmo, os preços descem e cria-se um problema. Os mercados podem ser muito úteis para vender e comprar, mas a volatilidade traz dificuldades para os agricultores, e ainda mais para quem vive com um ou dois dólares por dia. Esta realidade não existe na Europa. Quando compramos uma carcaça por 15 cêntimos, apenas 10% desse valor equivale ao preço do trigo. Tudo o resto são custos de transporte, embalamento, entre outros. Os altos preços das commodities [mercadorias] não afectam assim tanto as sociedades ocidentais. Não se passa o mesmo na carne. Quando os preços sobem, o consumo desce.
Quem é que mais beneficia com a instabilidade de preços?
Os operadores de mercado. Com os mercados hoje totalmente informatizados, podem ser os primeiros a aproveitar uma subida de preço e fazer muito dinheiro. Não há dúvida de que estes veículos se tornaram mais especulativos.
Pensa que a existência de regulamentação, como defende a França, pode travar esta excessiva especulação?
Não, isso não vai acontecer. Os países do G20 concordaram com alguns limites, mas os lobbies dos bancos são muito poderosos, sobretudo no Reino Unido, onde não há limite para os preços, nem para as posições a comprar. Em 2010, um fundo de investimento comprou cerca de 7% da produção anual global de cacau e o preço subiu para 2800 libras por tonelada [o valor mais alto dos últimos 33 anos]. Assim que a mercadoria foi entregue, em Setembro, o preço caiu 30 a 40%. Na minha opinião, houve manipulação de mercado. Nas leis dos Estados Unidos chama-se a isso "distorção de comércio" e é ilegal.
Defende, então, que é preciso regras mais apertadas na Europa?
Penso que outros mercados deveriam adoptar a lei dos Estados Unidos, que é um modelo a seguir no que toca à transparência. Por exemplo, proíbe o armazenamento da mercadoria.
Com a crise global, tem havido uma transferência dos investidores do mercado financeiro para as commodities...
O que é que hão-de fazer? Não estão a conseguir ganhar dinheiro. As taxas de juro estão a zero.
Mas isso significa que as commodities vão assumir cada vez mais importância?
Não sei. Há duas influências opostas a ter em conta: uma são os estímulos à economia que criam mais riqueza e fazem com que os preços subam; outra é a contracção, a diminuição da procura e as medidas de austeridade. Sei que a Reserva Federal está com muito medo da deflação, que afecta não só o preço dos alimentos, mas também da habitação. Olha para a Europa e questiona se estas medidas de austeridade não vão matar a economia...
E é também a sua opinião?
Penso que as medidas de austeridade são um comprimido e tenderão a contrair a economia. Há alternativa? Não sei. Não sou economista. Mas desejaria que houvesse formas de aumentar a produtividade.
Investir na produção agrícola é uma solução?
Há uma tendência para o investimento agrícola, nomeadamente na China, e se eu fosse governante tentaria garantir o abastecimento.
Tem defendido que os cortes para travar a crise provocam uma queda nos preços das matérias-primas e, em consequência, um êxodo de agricultores e abandono dos campos. Este cenário já está a acontecer?
Já estamos a assistir a uma queda do volume transaccionado no mercado dos EUA. Os bancos de investimento já estão a prever menos lucros este ano e não vêem as mesmas oportunidades de lucro.
Mas neste momento o abastecimento de alimentos à população mundial está em níveis satisfatórios?
Os maiores problemas são as infra-estruturas e a distribuição dos alimentos. Na Índia, onde estive, as perdas durante o transporte são muitas. As estradas são más. Se conseguíssemos diminuir o desperdício, teríamos excedentes. Não tem havido esforço suficiente neste aspecto.
9.2.12
Risco de pobreza aumenta, preços dos alimentos mais altos
António Henriques, in PTjornal
O risco de pobreza aumentou em Portugal, seguindo a mesma tendência do preço dos alimentos. Segundo dados do Eurostat, um quarto dos portugueses estão perto de passar à classe pobre, ou em risco de exclusão social. Uma em cada quatro crianças portuguesas já é pobre.
Aos números divulgados ontem pelo Eurostat, autoridade estatística da União Europeia, acrescenta uma informação conhecida nesta quinta-feira: o custo dos alimentos subiu em janeiro, o que sucede pela primeira vez, numa análise aos últimos seis meses.
Recorde-se que ontem o Eurostat apontou que, em 2010, cerca de um quarto da população europeia (23,4 por cento) corre elevado risco de pobreza ou de exclusão social. Esta percentagem representa 115 milhões de europeus. Em Portugal, a percentagem é superior (25,3 por cento) e registou um aumento, entre os anos de 2009 e 2010.
Com o agravamento dos preços em produtos essenciais, esses dados de 2010 (eventualmente já desatualizados, em virtude da crise internacional) podem não representar a real situação de 2012.
Portugal tinha, em 2010, 25,3 por cento dos cidadãos nesta situação, quando no ano anterior essa percentagem se situava no 24,9 pontos. A média europeia em 2010 ficou-se nos 23,4 por cento.
Realce para os países com riscos de exclusão e pobreza reduzidos: República Checa (14 por cento), Holanda (15 por cento) e Suécia (15 por cento). Os dados divulgados nesta quarta-feira em Bruxelas indicam que no extremo oposto estão Bulgária (42 por cento da população), Roménia (41 por cento) e Letónia (38 por cento).
Ontem, Ann Berg, responsável da FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, criticava duramente a produção de biocombustíveis a partir de alimentos. Só nos EUA, 40 por cento da produção do milho serve esta indústria, o que “seria suficiente para alimentar cerca de 600 milhões de pessoas durante um ano”.
Nesse sentido, num mundo onde a fome mata, com dramas humanitários em diversas regiões, torna-se “ridícula” a ideia de desviar os alimentos para gerar biocombustíveis. Ann Berg, em declarações à agência Lusa, aponta medidas drásticas, como o fim dos subsídios que são entregues à indústria produtora de biocombustíveis.
Berg salienta que se trata de uma opinião “pessoal”, e não uma posição formal da FAO, mas realça a gravidade do problema, que se agrava com a subida de preços do milho – 125 milhões de toneladas, nos EUA, são usadas na produção deste tipo de combustível.
O risco de pobreza aumentou em Portugal, seguindo a mesma tendência do preço dos alimentos. Segundo dados do Eurostat, um quarto dos portugueses estão perto de passar à classe pobre, ou em risco de exclusão social. Uma em cada quatro crianças portuguesas já é pobre.
Aos números divulgados ontem pelo Eurostat, autoridade estatística da União Europeia, acrescenta uma informação conhecida nesta quinta-feira: o custo dos alimentos subiu em janeiro, o que sucede pela primeira vez, numa análise aos últimos seis meses.
Recorde-se que ontem o Eurostat apontou que, em 2010, cerca de um quarto da população europeia (23,4 por cento) corre elevado risco de pobreza ou de exclusão social. Esta percentagem representa 115 milhões de europeus. Em Portugal, a percentagem é superior (25,3 por cento) e registou um aumento, entre os anos de 2009 e 2010.
Com o agravamento dos preços em produtos essenciais, esses dados de 2010 (eventualmente já desatualizados, em virtude da crise internacional) podem não representar a real situação de 2012.
Portugal tinha, em 2010, 25,3 por cento dos cidadãos nesta situação, quando no ano anterior essa percentagem se situava no 24,9 pontos. A média europeia em 2010 ficou-se nos 23,4 por cento.
Realce para os países com riscos de exclusão e pobreza reduzidos: República Checa (14 por cento), Holanda (15 por cento) e Suécia (15 por cento). Os dados divulgados nesta quarta-feira em Bruxelas indicam que no extremo oposto estão Bulgária (42 por cento da população), Roménia (41 por cento) e Letónia (38 por cento).
Ontem, Ann Berg, responsável da FAO, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, criticava duramente a produção de biocombustíveis a partir de alimentos. Só nos EUA, 40 por cento da produção do milho serve esta indústria, o que “seria suficiente para alimentar cerca de 600 milhões de pessoas durante um ano”.
Nesse sentido, num mundo onde a fome mata, com dramas humanitários em diversas regiões, torna-se “ridícula” a ideia de desviar os alimentos para gerar biocombustíveis. Ann Berg, em declarações à agência Lusa, aponta medidas drásticas, como o fim dos subsídios que são entregues à indústria produtora de biocombustíveis.
Berg salienta que se trata de uma opinião “pessoal”, e não uma posição formal da FAO, mas realça a gravidade do problema, que se agrava com a subida de preços do milho – 125 milhões de toneladas, nos EUA, são usadas na produção deste tipo de combustível.
Primeiro aumento do preço dos alimentos em seis meses
in Diário de Notícias
Os preços dos alimentos a nível mundial registaram pela primeira vez em seis meses um aumento, devido às más condições meteorológicas, anunciou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
Em janeiro, o índice estabelecido pela FAO registou um aumento de 2% em relação ao mês de dezembro, o primeiro aumento desde julho. Mantem-se nos 214 pontos, abaixo do recorde absoluto registado em fevereiro de 2011 (236 pontos).
O aumento envolve todos os produtos alimentares, com os óleos à cabeça (aumento de 3%), seguidos pelos produtos lácteos (2,5%), os cereais (2,3%), o açúcar (2,2%) e a carne (0,5%).
"O mau tempo que atinge atualmente as principais regiões produtoras como a América do Sul e a Europa desempenhou o seu papel e continua a ser motivo de preocupação", explicou o economista da FAO, Abdolreza Abbassian, citado no comunicado.
Contudo, "não há uma explicação única. Diferentes fatores estão em jogo" em cada tipo de produto, afirmou.
Os preços dos alimentos a nível mundial registaram pela primeira vez em seis meses um aumento, devido às más condições meteorológicas, anunciou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO).
Em janeiro, o índice estabelecido pela FAO registou um aumento de 2% em relação ao mês de dezembro, o primeiro aumento desde julho. Mantem-se nos 214 pontos, abaixo do recorde absoluto registado em fevereiro de 2011 (236 pontos).
O aumento envolve todos os produtos alimentares, com os óleos à cabeça (aumento de 3%), seguidos pelos produtos lácteos (2,5%), os cereais (2,3%), o açúcar (2,2%) e a carne (0,5%).
"O mau tempo que atinge atualmente as principais regiões produtoras como a América do Sul e a Europa desempenhou o seu papel e continua a ser motivo de preocupação", explicou o economista da FAO, Abdolreza Abbassian, citado no comunicado.
Contudo, "não há uma explicação única. Diferentes fatores estão em jogo" em cada tipo de produto, afirmou.
8.2.12
Países não precisam de ser auto-suficientes em termos de alimentação
in Jornal de Notícias
Os países não precisam de ser auto-suficientes em termos alimentares desde que o comércio funcione para dar resposta à escassez de produção, defendeu Ann Berg, a consultora da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação.
A especialista em mercados e ex-directora da Bolsa de Chicago, que participa no VIII Congresso do Milho, esta quarta-feira, salientou, em entrevista à agência Lusa, que "o comércio é a melhor resposta à escassez da produção", lembrando que "as matérias-primas ainda são relativamente baratas".
Questionada sobre se considera importante que países fortemente dependentes das importações, como Portugal, que importa cerca de 75% dos cereais que consome, se tornam mais auto-suficientes, a resposta foi negativa.
"Não é importante os países serem auto-suficientes", disse Ann Berg à Lusa, exemplificando com o Japão, "que importa todos os cereais e já o faz há muitos anos".
Para a antiga operadora do mercado de Chicago, "o mundo depende do comércio livre", e, por isso, "não precisa de ser auto-suficiente em termos de cereais, se for mais eficiente na indústria ou noutra coisa qualquer".
Ann Berg acrescentou que os países só aumentam a produção se tiverem terras disponíveis e preços elevados.
A China, por exemplo, decidiu importar grandes quantidades de soja para alimentar a sua produção de suínos, em vez de cultivar, observou.
A Índia reflecte igualmente o funcionamento dos mercados, já que tratando-se do segundo maior produtor de trigo a nível mundial, "às vezes é importador e às vezes é exportador".
A especialista norte-americana defende que "o mundo tem comida suficiente" e atribui os problemas da fome ao facto de os alimentos estarem mal distribuídos e haver desperdício.
"O mais importante são as políticas. Falamos de mercados livres, mas, na realidade não existem. Há muita intervenção, seja através de subsídios aos biocombustíveis, seja nas limitações às exportações", frisou.
Ann Berg explica que a volatilidade dos mercados tem sido acentuada por vários factores, entre os quais as decisões políticas, o desinvestimento na agricultura e os fenómenos climatéricos "que não se podem antecipar", mas também pela crescente atracção dos investidores pelo sector das 'commodities' (matérias-primas) e a desregulação dos mercados financeiros.
"Os bancos de investimento negoceiam cada vez mais em 'commodities' o que não acontecia antes", declarou.
Outro dos factores que contribui para as grandes oscilações de preços é a transição da negociação para o 'trading' automático.
"O método de negociação tradicional de ordens de viva voz ajudava a suavizar as oscilações porque tudo se processava de forma mais lenta", ao contrário do que se passa actualmente, com 50 por cento do 'trading' a processar-se sem intervenção humana.
"Os preços tendem a variar muito nos mercados de futuros e isso é exponenciado por factores como o 'trading' automático e o aumento dos limites de posição", salientou a responsável da FAO.
Ann Berg recordou que, quando era operadora da Bolsa de Chicago, os limites às posições especulativas não permitiam ultrapassar os 600 contratos, enquanto hoje podem ir até aos 33 mil.
"Este salto é enorme e isto aconteceu nos últimos 20 anos porque os corretores e os bancos queriam ganhar cada vez mais comissões e dinheiro só com as transacções. Trinta e três mil contratos é o equivalente a 4,3 milhões de metros cúbicos de cereais, é uma grande quantidade para um indivíduo ou uma empresa financeira controlar, comprar ou vender", considerou.
Os países não precisam de ser auto-suficientes em termos alimentares desde que o comércio funcione para dar resposta à escassez de produção, defendeu Ann Berg, a consultora da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação.
A especialista em mercados e ex-directora da Bolsa de Chicago, que participa no VIII Congresso do Milho, esta quarta-feira, salientou, em entrevista à agência Lusa, que "o comércio é a melhor resposta à escassez da produção", lembrando que "as matérias-primas ainda são relativamente baratas".
Questionada sobre se considera importante que países fortemente dependentes das importações, como Portugal, que importa cerca de 75% dos cereais que consome, se tornam mais auto-suficientes, a resposta foi negativa.
"Não é importante os países serem auto-suficientes", disse Ann Berg à Lusa, exemplificando com o Japão, "que importa todos os cereais e já o faz há muitos anos".
Para a antiga operadora do mercado de Chicago, "o mundo depende do comércio livre", e, por isso, "não precisa de ser auto-suficiente em termos de cereais, se for mais eficiente na indústria ou noutra coisa qualquer".
Ann Berg acrescentou que os países só aumentam a produção se tiverem terras disponíveis e preços elevados.
A China, por exemplo, decidiu importar grandes quantidades de soja para alimentar a sua produção de suínos, em vez de cultivar, observou.
A Índia reflecte igualmente o funcionamento dos mercados, já que tratando-se do segundo maior produtor de trigo a nível mundial, "às vezes é importador e às vezes é exportador".
A especialista norte-americana defende que "o mundo tem comida suficiente" e atribui os problemas da fome ao facto de os alimentos estarem mal distribuídos e haver desperdício.
"O mais importante são as políticas. Falamos de mercados livres, mas, na realidade não existem. Há muita intervenção, seja através de subsídios aos biocombustíveis, seja nas limitações às exportações", frisou.
Ann Berg explica que a volatilidade dos mercados tem sido acentuada por vários factores, entre os quais as decisões políticas, o desinvestimento na agricultura e os fenómenos climatéricos "que não se podem antecipar", mas também pela crescente atracção dos investidores pelo sector das 'commodities' (matérias-primas) e a desregulação dos mercados financeiros.
"Os bancos de investimento negoceiam cada vez mais em 'commodities' o que não acontecia antes", declarou.
Outro dos factores que contribui para as grandes oscilações de preços é a transição da negociação para o 'trading' automático.
"O método de negociação tradicional de ordens de viva voz ajudava a suavizar as oscilações porque tudo se processava de forma mais lenta", ao contrário do que se passa actualmente, com 50 por cento do 'trading' a processar-se sem intervenção humana.
"Os preços tendem a variar muito nos mercados de futuros e isso é exponenciado por factores como o 'trading' automático e o aumento dos limites de posição", salientou a responsável da FAO.
Ann Berg recordou que, quando era operadora da Bolsa de Chicago, os limites às posições especulativas não permitiam ultrapassar os 600 contratos, enquanto hoje podem ir até aos 33 mil.
"Este salto é enorme e isto aconteceu nos últimos 20 anos porque os corretores e os bancos queriam ganhar cada vez mais comissões e dinheiro só com as transacções. Trinta e três mil contratos é o equivalente a 4,3 milhões de metros cúbicos de cereais, é uma grande quantidade para um indivíduo ou uma empresa financeira controlar, comprar ou vender", considerou.
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