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21.7.22

Os portugueses gastam mais em raspadinhas do que em seguros de saúde

Henrique Raposo, opinião, in Expresso

Os portugueses, enquanto povo, gastam mais em raspadinhas do que em seguros de saúde. Como é que se governa um país com este nível de irracionalidade? Quantos seguros de saúde, quantas propinas de colégios ou faculdade, quantas bilhas de gás para os dias frios, quantas refeições saudáveis não estão naqueles 1718 milhões queimados na raspadinha pelos mais pobres?

Estado da nação? Claro que muito do que está errado parte da governação socialista, que tem sido dominante desde 1995. Há uma ideia de Estado e de sociedade – a ideia socialista – que está na base da nossa decadência e do constante empobrecimento neste século. É o socialismo que cria os tais “problemas estruturais” que o PS não resolve porque a sua solução implica a negação do PS. Mas há outro tipo de problemas, problemas orgânicos, culturais, que estão na mentalidade dos portugueses – uma mentalidade de pobreza que cria ainda mais pobreza.

A raspadinha é uma doença social e económica neste país porque vicia os pobres num nível de jogo sem precedentes. A Dona Maria não vai ao casino ou a uma sala de batota jogar com os homens, mas vai à papelaria ou ao café torrar a reforma em raspadinhas. O caso está amplamente estudado e é de facto uma vergonha que a Santa Casa e o Estado usem a psique da pobreza que procura estímulos imediatos que dão conforto, daí a relação entre pobreza e obesidade, daí a relação entre pobreza e aquele gesto frenético de raspar a raspadinha. Seja como for, com ou sem psique da pobreza que debilita o livre arbítrio e a racionalidade das escolhas, o certo é que os portugueses gastam milhões em raspadinhas. Em 2020, gastaram 4,7 milhões de euros por dia em raspadinhas, o que dá o incrível valor de mil milhões e setecentos e dezoito milhões. Para termos a noção desta irracionalidade dos mais pobres (que devia ser mitigada e não explorada), convém registar que os portugueses gastam mil milhões em seguros de saúde privados.

Ou seja, os portugueses, enquanto povo, gastam mais em raspadinhas do que em seguros de saúde. Como é que se governa um país com este nível de irracionalidade? Quantos seguros de saúde, quantas propinas de colégios ou faculdade, quantas bilhas de gás para os dias frios, quantas refeições saudáveis não estão naqueles 1718 milhões queimados na raspadinha pelos mais pobres? Pior: como é que o Estado e a Santa Casa exploram esta irracionalidade em vez de a travar?

Claro que estamos a falar de dois agregados populacionais diferentes. Os seguros de saúde pertencem à classe média que consegue pensar racionalmente a sua vida; o grupo da raspadinha representa a pobreza sem qualquer esperança e mergulhada naquele vórtice da miséria. E este é talvez o grande problema: o socialismo que nos apascenta tem criado pobreza, empobrecimento e sobretudo esta cultura de desesperança nos mais pobres, que acabam por ter no gesto de raspar a raspadinha a sua grande esperança de um futuro melhor.

20.7.22

Montenegro diz que "país está a empobrecer" e apela à sensibilidade do Primeiro-ministro

in CM

Presidente do PSD pede que seja aplicado o excedente de receita fiscal em apoios sociais.

O presidente do PSD considerou esta terça-feira que o estado da nação "é grave" e que "o país está a empobrecer", apelando à "sensibilidade social, moralidade e humildade" do Governo para aplicar o excedente de receita fiscal em apoios sociais.

Em declarações aos jornalistas no final de visitas a dois projetos na área social em Cascais, Luís Montenegro foi questionado sobre o seu diagnóstico sobre o estado da nação, na véspera do debate parlamentar com este tema.

"O estado da nação é grave, é um estado em que estamos a empobrecer, estamos a sofrer na pele os efeitos da falta de transformação e reformismo em Portugal", afirmou, apontando que, apesar de "o Governo não ter culpa de haver guerra", a inflação já estava a subir antes do conflito na Ucrânia e já existia "um caos completo nos serviços públicos essenciais".

Luís Montenegro apontou alguns números para sustentar as suas afirmações.

"Nós hoje somos um país mais pobre porque estamos a ter um ritmo de crescimento inferior, muito inferior, à media de todos os países da União Europeia, temos um rendimento per capita que é o 21.º dos 27", referiu.

"Pior do que isso", considerou, é que "de 2016 a 2021, anos da exclusiva responsabilidade do PS e anos onde todos os países foram atingidos da mesma maneira pela pandemia, o crescimento acumulado do PIB português foi de 7,1%".

No mesmo período, disse, nos países da coesão o crescimento do PIB foi, em média, de 18,3%, "ou seja, mais do dobro".

"No mesmo período, um Governo socialista estagnou o país condenando-o a ter um impacto mais grave nas dificuldades conjunturais que a guerra trouxe, não estava tão bem preparado como outros e a recuperação da economia portuguesa está a ser muito mais lenta", criticou.

Questionado se não é um problema não estar no parlamento para questionar diretamente o primeiro-ministro, Luís Montenegro respondeu negativamente e aproveitou as visitas as instituições para reiterar um apelo que tem feito ao Governo.

"Neste momento, o Governo tem excesso de receita fiscal, muito acima do que tinha estimado em termos de arrecadação de impostos. É uma exigência moral que o Governo coloque esse excedente orçamental ao serviço dos que no dia a dia têm dificuldades em pagar as suas despesas básicas", apelou.

Montenegro pediu ao Governo para que tenha "sensibilidade social, moralidade e humildade" e deixou um desafio direto ao primeiro-ministro.

"Dr. António Costa, olhe para aqueles que na sociedade estão a ser mais atingidos pelo aumento galopante dos bens mais essenciais", afirmou, dizendo que este apelo pode ser feito sem estar no hemiciclo do parlamento.

Ainda assim, o líder do PSD salientou que vai "acompanhar bem de perto" o debate, sem esclarecer se poderá passar na Assembleia da República", e sublinhou que o partido estará "muito bem representado" na discussão parlamentar.

Questionado sobre a votação obtida pelo novo líder parlamentar do PSD, Joaquim Miranda Sarmento (menos de 60%, muito abaixo da maioria dos seus antecessores), Montenegro respondeu que a bancada expressou "de forma inequívoca a sua confiança na direção do grupo num espírito de grande democraticidade.".

"Se for comparar com o que aconteceu no início do ciclo de liderança anterior, os resultados até foram bem piores", disse, referindo-se, de forma implícita, aos 39% de Fernando Negrão em 2018, depois de ter substituído Hugo Soares por vontade de Rui Rio.

Desta vez, foi também por vontade da nova direção de Luís Montenegro que o anterior líder parlamentar do PSD, Paulo Mota Pinto, convocou eleições antecipadas, depois de ter obtido 92% dos votos em abril.

Sempre acompanhado pelo presidente da Câmara de Cascais, o social-democrata Carlos Carreiras, e o vice-presidente do PSD (e também 'vice' deste município), Miguel Pinto Luz, Luís Montenegro começou por visitar o projeto Bata Branca, na Unidade de Saúde Misericórdia de Cascais, que garante o acesso a consultas de clínica geral a todos os munícipes sem médico de família atribuído.

Daí, o presidente do PSD e comitiva seguiram para a "Cozinha com Alma", um projeto social que vende refeições para fora ao público em geral e cujas receitas são utilizadas para apoiar famílias carenciadas (entre 70 e 80, atualmente).

Luís Montenegro partilhou com a responsável, Cristina de Botton, uma confidência: "Já cozinhei para 80 ou 100 pessoas em refeições sociais, nunca publicitei isso".

Questionado pelos jornalistas qual era a sua especialidade na cozinha, explicou que nessas ocasiões teve de recorrer a pratos mais simples.

"Costumo fazer rojões, feijoadas, coisas que em quantidade se conseguem cozinhar melhor", disse.

Os portugueses gastam mais em raspadinhas do que em seguros de saúde

Henrique Raposo, opinião,  in Expresso 

https://expresso.pt/opiniao/2022-07-20-Os-portugueses-gastam-mais-em-raspadinhas-do-que-em-seguros-de-saude-b580ac3e



Os portugueses, enquanto povo, gastam mais em raspadinhas do que em seguros de saúde. Como é que se governa um país com este nível de irracionalidade? Quantos seguros de saúde, quantas propinas de colégios ou faculdade, quantas bilhas de gás para os dias frios, quantas refeições saudáveis não estão naqueles 1718 milhões queimados na raspadinha pelos mais pobres?



Estado da nação? Claro que muito do que está errado parte da governação socialista, que tem sido dominante desde 1995. Há uma ideia de Estado e de sociedade – a ideia socialista – que está na base da nossa decadência e do constante empobrecimento neste século. É o socialismo que cria os tais “problemas estruturais” que o PS não resolve porque a sua solução implica a negação do PS. Mas há outro tipo de problemas, problemas orgânicos, culturais, que estão na mentalidade dos portugueses – uma mentalidade de pobreza que cria ainda mais pobreza.






A raspadinha é uma doença social e económica neste país porque vicia os pobres num nível de jogo sem precedentes. A Dona Maria não vai ao casino ou a uma sala de batota jogar com os homens, mas vai à papelaria ou ao café torrar a reforma em raspadinhas. O caso está amplamente estudado e é de facto uma vergonha que a Santa Casa e o Estado usem a psique da pobreza que procura estímulos imediatos que dão conforto, daí a relação entre pobreza e obesidade, daí a relação entre pobreza e aquele gesto frenético de raspar a raspadinha. Seja como for, com ou sem psique da pobreza que debilita o livre arbítrio e a racionalidade das escolhas, o certo é que os portugueses gastam milhões em raspadinhas. Em 2020, gastaram 4,7 milhões de euros por dia em raspadinhas, o que dá o incrível valor de mil milhões e setecentos e dezoito milhões. Para termos a noção desta irracionalidade dos mais pobres (que devia ser mitigada e não explorada), convém registar que os portugueses gastam mil milhões em seguros de saúde privados.

Ou seja, os portugueses, enquanto povo, gastam mais em raspadinhas do que em seguros de saúde. Como é que se governa um país com este nível de irracionalidade? Quantos seguros de saúde, quantas propinas de colégios ou faculdade, quantas bilhas de gás para os dias frios, quantas refeições saudáveis não estão naqueles 1718 milhões queimados na raspadinha pelos mais pobres? Pior: como é que o Estado e a Santa Casa exploram esta irracionalidade em vez de a travar?

Claro que estamos a falar de dois agregados populacionais diferentes. Os seguros de saúde pertencem à classe média que consegue pensar racionalmente a sua vida; o grupo da raspadinha representa a pobreza sem qualquer esperança e mergulhada naquele vórtice da miséria. E este é talvez o grande problema: o socialismo que nos apascenta tem criado pobreza, empobrecimento e sobretudo esta cultura de desesperança nos mais pobres, que acabam por ter no gesto de raspar a raspadinha a sua grande esperança de um futuro melhor.

5.7.22

Parlamento antecipa debate do estado da Nação para 20 de Julho

Maria Lopes, in Público

Chega marca debate sobre direitos das crianças para a próxima semana. Deputados únicos do PAN e Livre terão direito oito declarações políticas até Setembro de 2023.A conferência de líderes decidiu antecipar o agendamento do debate do estado da Nação de dia 21 para 20 de Julho e usar o último plenário antes do Verão para discutir e votar a proposta de lei do Governo que facilita as regras para a concessão de vistos de residência e de estada temporária para cidadãos de países da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP). No mesmo dia é também discutida a transposição de uma directiva sobre acesso à actividade bancária.

Nesse dia 21, os deputados irão também fazer, como é tradição, uma lista de votações de diplomas que foram sendo entregues desde o início desta sessão legislativa - mas como os trabalhos parlamentares só começaram no final de Março essa lista será, desta vez, mais curta.

Na reunião da conferência de líderes desta quarta-feira de manhã ficou também agendado um debate a pedido do Chega sobre a “salvaguarda dos direitos da criança” que se realizará no dia 7 - aproveitando a onda de indignação gerada com a morte da criança de três anos de Setúbal na passada semana. Porém, o partido não irá usar este debate para discutir e votar quaisquer iniciativas sobre o assunto. Na passada semana, o Chega entregou no Parlamento um projecto de lei que prevê a pena de prisão perpétua para “crimes de homicídio praticados com especial perversidade, nomeadamente contra crianças”, mas o diploma deverá ser recusado sob o argumento de ser inconstitucional uma vez que a Constituição portuguesa não admite a prisão perpétua.

A porta-voz da conferência de líderes, a deputada socialista Maria da Luz Rosinha, anunciou que as bancadas parlamentares decidiram que os deputados únicos do PAN e do Livre terão direito a realizar oito declarações políticas durante esta primeira sessão legislativa que se estende até meados de Setembro de 2023. Na sessão legislativa seguinte voltarão às cinco declarações que constam do regimento. Este ajustamento ficou a dever-se ao facto de esta nova legislatura ter arrancado no fim de Março devido à realização de legislativas antecipadas e quando isso acontece a Constituição determina que a primeira sessão legislativa abarca o resto do tempo que faltaria cumprir da sessão legislativa em curso, que acresce à primeira sessão da nova legislatura.

22.7.21

“Atirar milhões para cima da mesa esconde, mas não resolve problemas sociais”

Ângela Roque, in RR

A presidente da Cáritas espera que o dinheiro do PRR seja bem aplicado em medidas concretas de combate à pobreza, que tenham em conta o país real. Para Rita Valadas, os apoios dados pelo Governo na pandemia “almofadaram” o impacto da crise, mas não a evitaram, e “o pior ainda não chegou”.


A presidente da Cáritas diz que a crise social ainda não atingiu o pico. Em entrevista à Renascença, a propósito do debate sobre o Estado da Nação desta quarta-feira, Rita Valadas diz que ainda é cedo para avaliar o verdadeiro impacto da pandemia.


A responsável da Cáritas está preocupada com a “incerteza” que se vive, que dificulta planear o futuro. Espera que se aproveite bem o dinheiro do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), a que a Cáritas também vai candidatar-se, para continuar a “acudir” aos mais frágeis. E garante que o Estado pode contar com a colaboração das instituições sociais e solidárias, mas tem de trabalhar mais em rede.

O parlamento vai debater o estado da Nação. Como presidente da Cáritas, como é que vê a situação do Estado em termos sociais?

Nós ainda estamos no meio de um enorme furacão. Vivemos uma realidade almofadada por algumas medidas do governo, que naturalmente protegeram o impacto nas empresas e nas pessoas. Nas empresas não temos a certeza se depois de deixarem de ter os suportes que têm neste momento vão ter, ou não, capacidade para fazer retoma. Eu fico sempre muito duvidosa das notícias que vão aparecendo, de que afinal é muito melhor do que se estava a pensar... Eu só sei ler as notícias do território, e ao território ainda não chegou o pior.

Tem essa perceção?

Tenho, porque se as empresas não fizerem retoma não vão conseguir manter o emprego. E ainda assim vamos ter aqui um delay de tempo. As crises sociais normalmente não são ao mesmo tempo das crises económicas, ou as do imobiliário. Neste caso a crise de saúde arrasta a económica e depois arrasta a social, e a social ainda não chegou em toda a sua plenitude.

Mas sabe-se que há um quinto da população portuguesa pobre, e até há um estudo que aponta para 400 mil novos pobres...

Esse dado é de um estudo da Universidade Católica, mas as avaliações e investigações não dão todas os mesmos valores. Por exemplo, os dados do Eurostat não falam em 400 mil novos pobres... Salvaguardado que não sou investigadora, os dados que temos – nós, Cáritas – são os da nossa realidade, e esses para mim são seguros e não se materializam na realidade de haver 400 mil novos pobres.

A Cáritas desenvolveu um programa para a pandemia que é o 'Vamos Inverter a Curva da Pobreza' – isto para além da ação normal da Cáritas, não estamos a falar dos programas que já se desenvolvem sempre e que sempre apoiaram as questões alimentares, as roupas, as famílias, etc. Mas este, o 'Vamos Inverter a Curva da Pobreza', entre 1 de maio de 2020 e 2 de julho de 2021 teve cerca de 16 mil pessoas apoiadas, o que corresponde a cerca de seis mil famílias, e destas há cerca de 2.900 famílias novas, que nunca recorreram à Cáritas.

"Ainda estamos no meio de um enorme furacão. Vivemos uma realidade almofadada por algumas medidas do governo. Ainda não chegou o pior"

Isso a nível nacional?

A nível nacional, e concretamente deste programa. Não estamos a falar do aumento, que também houve, do número de atendimentos em mais 10%, mas que também não é ao nível dos 400 mil mais pobres.

Neste mais de um ano demos apoio financeiro de emergência superior a 203 mil euros a 3.107 pessoas, e com vales de bens essenciais apoiámos 13.567 pessoas (quase cinco mil famílias), no valor de mais de 202 mil euros.

Com o 'Vamos Inverter a Curva da Pobreza' – que é um apoio para as situações que nos parecem diferentes das típicas – já aplicámos quase meio milhão de euros.

Sabemos que há um impacto que fustiga muitas famílias que não eram apoiadas antes por nós, e que as soluções já não podem ser as mesmas, porque muitas são famílias que estão no limitar da pobreza, mas até trabalham, o salário é insuficiente. E isto deve-nos convocar, na perspetiva do debate do estado da Nação! É uma questão crítica.

Ter trabalho não assegura rendimento suficiente.

Não assegura. E as medidas de apoio que existem abaixo do salário mínimo, muito menos: rendimento social de inserção, pensões sociais e afins, são panaceias para situações críticas, mas não são soluções de vida.

Como é que a Cáritas tem conseguido dar resposta? Não está também em dificuldades?

A Cáritas tem vindo a responder às necessidades que vão surgindo. Uma coisa boa que aconteceu na pandemia – se é que podemos dizer isto assim – foi que as pessoas, obrigadas a estar em casa, tiveram tempo para olhar para o que se passa à sua volta e no impacto que isso tem, e mobiliaram-se para apoiar. As empresas também ficaram a conhecer melhor a Cáritas.

Essa tem sido uma das suas apostas, o apoio das empresas. Está a correr bem?

Sim, é extraordinário que muitas, com quem nunca tínhamos colaborado, se aproximem e digam: ‘nós fazemos responsabilidade social e queremos fazer isso convosco’. Não fazemos procura ativa, mas divulgamos o que fazemos e como aplicamos o dinheiro. Vivemos tempos de falta de confiança nos dinheiros que são entregues ou doados, por isso é muito importante que pessoas e empresas saibam exatamente a aplicação que existe.

Temos um boletim de doadores onde são divulgados todos os donativos existentes, e temos um enorme orgulho em identificar o apoio que estamos a receber. Como eu já disse uma vez: a crise não foi de solidariedade, mas é preciso muita solidariedade.

E continuam capilarmente no terreno?

A Cáritas em Portugal é um serviço prestado por 20 dioceses, e a Cáritas Portuguesa é um serviço para estas dioceses. A Cáritas só faz aquilo que é preciso no seu território e que mais ninguém consegue fazer, no sentido de apoiar os mais vulneráveis dos vulneráveis. Mas há todo um trabalho que é feito ao nível do território, cuja avaliação não temos.

Seria importante ter?

Se tivéssemos informação plena de todo o atendimento que se faz, certamente teríamos noção do que é que é pobreza. Sabemos que há idosos em aldeias remotas que conseguem fazer poupança de pensões de 200 euros, e mandar para a família, e sabemos que com 200 euros um idoso na cidade não consegue sobreviver se não tiver outro tipo de apoio. Por isso é que eu digo: é muito importante definir estratégias, mas é preciso que essas estratégias tenham uma leitura da realidade.

Tem havido noção do país real, e dessas nuances e diferenças, quando se elaboram estratégias e políticas públicas?

Ao nível estratégico, da definição de estratégias, não há. Ao nível dos territórios, cada junta de freguesia saberá o que se passa, como cada paróquia sabe.

As instituições de proximidade…

Essas sabem o que se passa lá, têm grande capacidade para resolver as situações de emergência e os problemas dos seus mais próximos, mas não têm a dimensão estratégica. Por isso é que muitas vezes se sente que as estratégias que são criadas não são para os pobres, porque não chega lá. E é esse o meu temor em relação ao PRR.

Ter muitos milhões não significa resolver os problemas. Atirar milhões para cima da mesa esconde os problemas sociais, mas não os resolve. Para quem trabalha próximo, tirar uma pessoa da pobreza é uma grande vitória. Para quem trabalha estratégias, tirar uma pessoa da pobreza nem chega a ser estatística, não tem expressão.

O PRR devia incluir medidas concretas de combate à pobreza e às desigualdades?

Tem de incluir. Espero que aquilo que existe sobre o Plano de Recuperação e Resiliência seja uma perspetiva intencional, a concretização passa por planos mais finos.

"Preocupa-me o desconhecimento permanente em que se vive. Aquilo que eu sinto sempre é que não é possível planear nada neste momento em Portugal"


O governo tem tido em conta o trabalho das instituições sociais e solidárias, como a Cáritas, e as propostas que têm? Essa colaboração devia desenvolver-se mais?

Tem de se desenvolver mais. Somos um país pobre, não somos um país rico, por isso temos todos que juntar esforços e recursos para resolver os problemas.

Trabalhar mais em rede?

Trabalhar mais em rede. Fazer rede, nalguns casos nem existe! Fazer rede, garantir a rede e trabalhar mais. Das experiências que tenho, de passagem por algumas crises, as instituições, se ouvidas, põem tudo em cima da mesa. A questão é que têm de ser ouvidas. E os programas que vierem também têm de ser adaptados às realidades de Portugal. Têm de se definir programas que sejam para resolver os problemas e não para perpetuar a situação que temos, isso é que não pode ser.

A Cáritas também vai ser candidata a beneficiar dos dinheiros do PRR?

Todos temos de ser. Se não é para deixar ninguém de fora, se temos de acudir a todas as pessoas, temos de ter todos os recursos. A Cáritas tem um potencial especial, porque consegue ter um olhar nacional – e até internacional, com a Cáritas Europa e a Cáritas Internacionalis – e agir sobre os territórios. Tudo o que entendermos que pode ser um recurso para desenvolver soluções que resolvam os problemas dos mais vulneráveis, naturalmente vamos aproveitar. O que nós fazemos é quase redistribuição, é juntar as boas vontades às grandes necessidades e proteger os mais frágeis.

As medidas que o governo tomou ao longo deste ano de pandemia foram as suficientes? Ou podia ter-se ido mais longe?

Gostava que se pudesse ter ido mais longe, mas acredito que se tomaram as medidas possíveis. Fizeram muita diferença na vida dos portugueses, mas não resolveram os problemas. A saída das almofadas é que é o problema para mim. Temos de saber sair sem deixar cair as pessoas.

A questão das moratórias é uma preocupação?

É. Numa perspetiva generalista, as medidas que houve foram boas, permitam que muitas pessoas não caíssem rapidamente, mas era preciso que a retoma da economia fosse anterior ao fim das almofadas, só que isso não é possível, porque não se sabe quando a situação vai acabar. Vivemos num equilíbrio extraordinariamente difícil em que temos que utilizar o melhor possível este PRR, e o melhor possível todos os recursos que temos no país, a começar pela proximidade no que diz respeito às famílias.

O que é que a preocupa mais neste momento no país?

Preocupa-me o desconhecimento permanente em que se vive. Na verdade, aquilo que eu sinto sempre é que não é possível planear nada neste momento em Portugal. É preciso ser extraordinariamente flexível, estar muito atento e alerta, porque a cada dia pode-nos ser pedida uma coisa diferente, e isso, para quem tem esta responsabilidade de acudir aos mais frágeis, é extraordinariamente difícil, porque não há forma de priorizar, temos de acudir!

As situações são muito críticas, mas nós percecionamos que podem ser mais. Sabemos que temos rapidamente de entrar numa perspetiva de cuidar das famílias, para que elas possam estar autónomas, e não sabemos como o fazer, porque não sabemos até onde esta crise vai, o que é que mais nos vai ser pedido. Mas temos de começar a ter estas duas perspetivas: não viver constantemente em emergência e, ao mesmo tempo, perceber quais são os pequenos passos que temos de dar na solução de alguma coisa. Mas, a incerteza...eu diria que a incerteza é o que mais me preocupa.

4.6.21

População portuguesa tem o maior défice de qualificações da União Europeia, conclui estudo da Fundação José Neves

José Carlos Lourinho, in Económico

No evento da Fundação José Neves, que poderá acompanhar na JE TV esta quarta-feira a partir das 14h30, será divulgado o Estado da Nação sobre a Educação, Emprego e Competências, um conjunto de dados sobre estes três contextos e que permitem perceber a sua relação. O JE entrevistou Carlos Oliveira, cofundador e presidente-executivo da Fundação José Neves, que antecipou alguns dos dados que irão ser relevados esta quarta-feira.

A partilha de informação e conhecimento sobre a importância da educação e aposta no desenvolvimento pessoal é um dos objetivos do primeiro evento anual da Fundação José Neves que vai ter lugar esta quarta-feira, 2 de junho, às 14h30, com transmissão em direto na plataforma multimédia JE TV.

O neurocientista português António Damásio e o cantor Bryan Adams são alguns dos oradores de um painel diversificado e que vai promover a aposta no desenvolvimento pessoal como meio para atingir a realização pessoal e profissional.

Neste evento será ainda divulgado o Estado da Nação sobre a Educação, Emprego e Competências, um conjunto de dados sobre estes três contextos e que permitem perceber a sua relação. O Jornal Económico entrevistou Carlos Oliveira, cofundador e presidente-executivo da Fundação José Neves, que antecipou alguns dos dados que irão ser relevados esta quarta-feira.

Quais são os objetivos deste evento anual da Fundação José Neves?

Esta será a primeira edição do evento anual da Fundação José Neves sobre o Estado da Nação sobre educação, emprego e competências em Portugal. Temos vários objetivos que passam por fazer um balanço da atividade da fundação até ao momento, promover a plataforma Brighter Future (uma parceria com o INE e outras entidades com informação sobre a ligação do ensino ao meio profissional) e vamos acima de tudo apresentar dois temas que consideramos importantes: o relatório/estudo Estado da Nação sobre Educação, Emprego e Competências, em que juntámos dados para fazer uma radiografia sobre como está o país nestas três vertentes. Este é um estudo que vai ser feito todos os anos e nesta primeira edição vamos apresentar dados dos últimos dez anos. Há aqui um caminho que queremos projetar a longo prazo. A população portuguesa têm o maior défice de qualificações da União Europeia, de acordo com o estudo que vamos apresentar esta quarta-feira. Em 2000, chegámos ao estágio em que muitos países do centro da Europa chegaram quase cinco décadas antes. Nestes últimos 20 anos, temos tido uma evolução muito interessante.

Mas ainda existem dados muito preocupantes…

Sem dúvida. E são dados que nos devem levar a uma reflexão forte. Acreditamos que a Fundação José Neves pode ter um papel importante na discussão destes temas, através do estudo anual que nos propomos a lançar. É importante realçar que somos o país da Europa com o maior gap intergeracional: a diferença entre os jovens que entram no mercado de trabalho e os adultos que estão nesse mercado, existe a maior diferença da UE em termos de ‘gap’ de qualificações. Esse fator também mostra porque é tão difícil a entrada dos jovens no mercado de trabalho. Cerca de 47,8% dos portugueses adultos concluíram no máximo o ensino secundário e esse é o pior registo da UE. No entanto, os jovens que entram no mercado de trabalho têm evoluído muito nas suas qualificações, mas 19,4% dos jovens que terminaram recentemente o ensino superior não estão empregados. Acrescente-se mais 15% de recém-diplomados que estão a fazer funções para as quais não precisam daquele nível de qualificação. Isto demonstra um desalinhamento entre a oferta educativa e as competências que são dadas aos jovens e o que o mercado procura. Há muitas áreas em que o país está a ter oportunidades de captar investimento estrangeiro mas depois não existem qualificações suficientes.

A educação ao longo da vida também é um aspeto que está a falhar em Portugal?

No último período avaliado, no ano passado, concluiu-se que apenas 10,5% dos adultos no mercado de trabalho fizeram algum tipo de formação. Este indicador ainda é mais preocupante porque pouco mais de 4% são pessoas com qualificações inferiores ao ensino superior. Isto é, pessoas com menores qualificações estão a fazer muito menos formação ao longo da vida em comparação com aqueles que têm mais qualificações. Notámos ainda na pandemia que quem tem mais qualificações, viu o seu emprego protegido durante este período. Queremos que daqui a 20 anos, uma em cada quatro pessoas esteja a fazer formação ao longo da vida.

A Fundação José Neves concluiu ainda que a pandemia prejudicou mais os jovens ao nível do emprego.

Foram os mais penalizados, sem dúvida. No final de 2020, havia menos 60 mil jovens empregados, algo que já tinha acontecido durante a crise financeira. Há aqui alguns motivos para que isto tivesse acontecido: menores qualificações e vínculos laborais de curta duração.

O tema do teletrabalho também será abordado?

Estudo também conclui que o tema do teletrabalho é apenas para uma pequena parte da população empregada. Apenas 30% dos trabalhadores portugueses estão numa área de atividade onde potencialmente poderia existir teletrabalho. Só uma subparte destes é que efetivamente consegue estar em teletrabalho porque é necessária uma preparação por parte das empresas. É possível concluir que o teletrabalho é possível para empregos e pessoas com qualificações mais elevadas.

Qual a relação entre qualificações e salário?

As qualificações mais elevadas também protegem o emprego e aumentam o salário. Em média, os portugueses licenciados ganham mais 750 euros do que aqueles que só têm o ensino secundário. Outra das áreas que nos debruçamos tem a ver com o facto de as mulheres serem mais qualificadas, que fazem com que o abandono escolar tenha reduzido mas isso depois não se repercute no salário. Em média, há situações em que as mulheres, para a mesma profissão e com as mesmas qualificações, ganham até 38% menos que os homens. É uma reflexão importante que deve ser feita e é algo que acontece de forma genérica, em todas as áreas laborais.

27.7.20

Num ano, Portugal afundou. O retrato do país em sete pontos

Sandra Afonso, in RR

No ano em que se previa o primeiro excedente da democracia, as expectativas de Centeno afundaram, com um novo recorde de endividamento da economia e um défice ainda por calcular. As famílias portuguesas estão agora mais endividadas, com menos emprego e menos perspectivas de futuro, e Portugal regista uma brutal quebra num setor que representa mais de 10% do PIB.

Na contagem decrescente para o debate o Estado da Nação, o impacto económico da pandemia de Covid-19 e a resposta do Governo à crise que assola o país deverão marcar a discussão no plenário. Da esquerda à direita ninguém nega o período de instabilidade que se avizinha, mas que indicadores sustentam este receio?

Do turismo ao desemprego, a Renascença apresenta-lhe uma radiografia do país, em sete pontos.

1 - TURISMO AO ABANDONO

É um dos sectores mais afectados pela crise pandémica, começou a sangrar com as medidas de confinamento e continua a perder receitas com a falta de confiança dos turistas e a inclusão de Portugal nas listas de destinos não recomendados para férias, que estão a ser apresentadas por vários países.

Em Maio, as receitas turísticas representaram 260 milhões de euros, o valor mais baixo alguma vez registado neste mês. Apresentado como um sector chave para a exportação, o turismo representou quase 35% das exportações de serviços neste mês, mas um ano antes valia metade, segundo o Banco de Portugal.

São dados visíveis na queda da actividade turística, que nalguns casos parou completamente em maio. Segundo o INE, afectou mais de 70% dos estabelecimentos. As dormidas de residentes diminuíram 85,9% e as de não residentes foram quase inexistentes, caíram 98,4% face a maio de 2019.

Só nos primeiros cinco meses deste ano o sector já registou uma quebra de 58% nos hóspedes, fizeram chek-in 3,9 milhões de pessoas.

2 - EXPORTAÇÕES AFUNDAM

As exportações portuguesas afundaram quase 40% em maio, face ao mesmo mês do ano anterior. É uma queda semelhante ao mês anterior e, mais uma vez, uma consequência directa da pandemia nas trocas comerciais internacionais.

As quebras abrangeram tanto o comércio intra como extra União Europeia e foram transversais a todas as categorias de produtos.

A produção automóvel está entre as quedas mais expressivas, num sector em que a esmagadora maioria da produção (98%) é para exportar. Portugal produziu metade do que tinha registado em maio do ano passado, é um corte de 100 mil veículos nos primeiros cinco meses do ano, segundo a Associação Automóvel de Portugal (ACAP). Isto numa altura em que a Autoeuropa já tinha retomado a produção, ainda que de forma parcial.

Contas feitas, segundo o INE em maio deste ano as vendas totais ao exterior estavam a cair 39%, enquanto há um ano subiam 9,8%.

3 - PIB NEGATIVO

É o pai de todos os indicadores, reflecte tudo o que está a acontecer no país, bom ou mau, concentrado num número que nos indica se a economia está a crescer e a que velocidade. Quando a tendência é de descida ou chega ao vermelho: “Houston, we have a problem”.

É neste ponto que nos encontramos. Nos primeiros três meses do ano, o Produto Interno Bruto já estava a cair 2,3%, segundo o INE (que compara com uma subida de 2,4% no primeiro trimestre de 2019), e não deve ficar por aqui.

O governo já corrigiu as contas, a estimativa inicial para este ano, que apontava para um crescimento de 1,9% no Orçamento de Estado de 2020, já passou para uma queda de 6,9% no Orçamento Suplementar.

Não só o país não está a produzir riqueza, como perde rendimento.

4 - DÉFICE E DÍVIDA ANDAM PARA TRÁS

Portugal anda a perder os anéis. O famoso excedente de 0,2% conseguido pelo ex Ministro Mário Centeno passou agora para uma previsão de défice de 7%, já admitida pelo sucessor, o novo Ministro das Finanças, João Leão.

A dívida pública deverá passar de 116% para mais de 134%, o valor inscrito no Orçamento Suplementar, que representa um novo recorde.

5 - PAÍS NA PENHORA

O endividamento da economia atingiu um novo recorde, já ultrapassa os 740 mil milhões de euros. Para este número contribuíram as famílias, as empresas e o Estado, que só em maio se endividaram em mais seis mil milhões de euros. Foi o segundo mês seguido em que a dívida da economia aumentou, em resposta à crise pandémica.

De acordo com o Banco de Portugal, no espaço de um ano, a economia acumulou mais 11,5 mil milhões de dívidas.

Do total acumulado, 333,7 mil milhões de euros respeitavam ao setor público e 407 mil milhões ao setor privado.

6 - FAMÍLIAS AFLITAS

Mais endividadas, com menos emprego e menos perspectivas de futuro.

Com as moratórias, prolongadas até março de 2021, muitas famílias adiaram o pagamento das prestações, o que significa que acumularam para curto prazo mais encargos. Estão nesta situação pelo menos 475 mil, é o número de moratórias aprovadas a particulares, segundo os últimos dados do Banco de Portugal.

Os níveis de poupança também se agravaram, o INE refere que o grau de poupança dos agregados em maio era de 12,6%, abaixo dos 13,7% registados um ano antes.

Tudo isto se complica com o lay off simplificado, que tudo indica deverá ser prolongado após julho de 2021 e tem sido a medida mais utilizada pelas empresas. Para os trabalhadores representa a manutenção dos postos de trabalho, mas vem também com perda de parte do salário.

7 - DESEMPREGO NO TRIÂNGULO DAS BERMUDAS

Onde param os desempregados? Com as insolvências a subir e actividade económica praticamente parada em alguns sectores, é certo que aumentam também os desempregados, mas eles não se vêm nas estatísticas.

O INE aponta em Maio para uma descida da taxa de desemprego para 5,5%, uma diminuição de 2,2% relativamente ao mês anterior e de 4,0% em relação a três meses antes e ao mesmo mês de 2019.

De fora das estatísticas oficiais fica a chamada Taxa de subutilização do trabalho, que inclui quem está sem trabalho e não é contabilizado como desempregado pelo INE.

Já nos centros de emprego os números continuam a aumentar, mas aqui a contabilização é feita de outra forma. O IEFP tem em conta as inscrições de pessoas à procura de emprego.

De acordo com os dados divulgados pelo Gabinete de Estratégia e Planeamento do Ministério de Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, os desempregados inscritos no Continente atingiram os 381,6 mil indivíduos em junho, o que representa um crescimento homólogo de 38,3%. Voltaram a subir para 389 mil indivíduos até 7 de julho, o que traduz um aumento de 41,3%, face ao final de julho de 2019.

20.7.20

Estado da Nação. Portugal mais pobre, com menos emprego e maiores desigualdades em 2022

por Inês Moreira Santos, in RTP

A enfrentar uma pandemia, Portugal tem sofrido várias mudanças sociais e económicas, nos últimos meses. Mas se o cenário atual não parece muito animador, as expectativas dos portugueses para a economia portuguesa daqui a dois anos são ainda mais pessimistas, revela uma sondagem da Universidade Católica Portuguesa.

Com a Covid-19, a situação económica e social de muitos portugueses mudou drasticamente. As expectativas para a evolução da economia em Portugal, daqui a dois anos, revelam-se sombrias.

Face à situação atual, os portugueses acreditam que, daqui por dois anos, Portugal será "um país mais pobre, com maior desigualdade social, com mais austeridade e menos emprego". É assim que a maioria dos portugueses imagina o contexto económico português, segundo a Sondagem Social e Política do CESOP–Universidade Católica Portuguesa para a RTP e o jornal Público.

De facto, em função do que se conhece hoje, 70 por cento dos inquiridos consideram que Portugal estará mais pobre daqui por dois anos e 55 por cento estimam que as desigualdades sociais se acentuem ainda mais. O cenário parece ainda mais pessimista face aos 71 por cento que acreditam que o desemprego vai aumentar, na mesma altura.

Se compararmos as estatíticas antes e depois da pandemia podemos entender as expectativas menos animadoras dos portugueses. De acordo com os dados do relatório, três por cento dos inquiridos ficaram em lay-off, "seis por cento estão agora desempregados" e "quatro por cento afirmam estar sem atividade", desde o início da pandemia em Portugal.

Selecionados apenas os inquiridos a trabalhar no momento em que foi realizado o inquérito, a maioria (55 por cento) acredita que vai continuar a ter trabalho a médio prazo (um período definido de seis meses). Contudo, 13 por cento acham que é "algo ou muito provável perder o emprego no próximos seis meses".

Dos inquiridos, selecionados aleatoriamente, há ainda 66 por cento que afirmam que voltarão a enfrentar períodos de mais austeridade.

Menos rendimentos, menos férias

A pandemia, a suspensão de algumas atividades económicas, o lay-off e o desemprego vieram alterar os rendimentos de alguns agregados familiares. Embora a maioria dos inquiridos (67 por cento) admita que os rendimentos familiares não sofreram alterações, "29 por cento dos inquiridos têm agora rendimentos do agregado inferiores ao que tinham antes da crise".

Desses participantes que revelam ter o seu rendimento reduzido, 16 por cento dizem que "o rendimento desceu para mais de metade do que recebiam".

Segundo o mesmo relatório, "35 por cento dos inquiridos com rendimentos até 1000 euros ganham agora menos do que antes da pandemia". "Para os inquiridos com rendimentos entre os 1000 e os 2500, essa percentagem é de 24 por cento. Entre os que recebem mais de 2500, 17 por cento perderam rendimento".

No entanto, "parece haver alguma recuperação de rendimentos, sendo agora maior a percentagem que diz ter rendimentos iguais ao que eram antes da pandemia".

E, considerando as quebras em alguns rendimentos e a situação epidemiológica, a "maioria da população não tenciona fazer férias este ano fora da sua residência".

Dos inquiridos que, em anos normais, se deslocam para fazer férias, 45 por cento responderam que "de certeza que não" farão férias fora de casa e nove por cento dizem que "provavelmente não".

Mas para quem quer tentar passar uns dias fora, os destinos mais indicados são "o Algarve (referido por 34 por cento dos que pensam sair), a Região Norte (26 por cento), a Região Centro (19 por cento) e o Alentejo (16 por cento)".

Mesmo com uma pandemia global, há ainda seis por cento que indicaram "destinos na Europa e três por cento fora da europa".

Economia e justiça vão piorar

Mas não é só economicamente falando que as expectativas não são as mais promissoras.

Embora mais de metade dos participantes deste estudo considerem que Portugal vai continuar a ser um país "democrático" (59 por cento), tão ou mais "justo" do que atualmente (63 por cento) e, talvez, mais "solidário" (38 por cento), 40 por cento receiam que seja um país menos "seguro".

A juntar às descrenças dos portugueses, a maioria estima que o investimento público vai ser menor do que é atualmente.

Na ótica dos portugueses, as expectativas para a Economia, daqui a dois anos, são claramente pessimistas - 67 por cento dos inquiridos imaginam que a economia em Portugal vai estar pior.

Apesar de as piores previsões serem para o sector económico, 40 por cento dos inquiridos também consideram que a justiça será afetada e, por isso, estará pior também.

Já no que se refere ao ambiente as previsões parecem melhores. A maioria acha que não será muito diferente (37 por cento), mas 34 por cento acreditam que pode estar melhor.


Certo é que, a nível da "imagem internacional", 42 por cento acham que não será negativamente afetada e 29 por cento dizem que pode ser melhor, em 2022.


Considerando o contexto atual, as previsões dos portugueses para daqui a dois anos revelam, neste relatório, ser pouco positivas para a evolução da Economia em Portugal.

Ficha técnica
Os 1217 participantes desta sondagem foram selecionados aleatoriamente, através de uma lista de números de telefone fixo e de telemóvel, 34 por cento da região Norte, 21 por cento do Centro, 31 por cento da Área Metropolitana de Lisboa, seis por cento do Alentejo, quatro por cento do Algarve, dois por cento da Madeira e dois por cento dos Açores.

Todos os resultados obtidos foram depois ponderados de acordo com a distribuição da população por sexo (50 por cento foram mulheres), escalões etários, grau de escolaridade e região com base no recenseamento eleitoral e nas estimativas do INE.

11.7.17

Estado da Nação: Menos défice e desemprego desde 2015 mas mais dívida e poupança em mínimos

in Diário de Notícias

Portugal tem menos défice e menos desemprego e a atividade económica está a crescer mais, mas a dívida pública continua a subir e a taxa de poupança das famílias está em mínimos históricos.

Nas vésperas do dia em que os deputados da Assembleia da República debatem o Estado da Nação, agendado para esta quarta-feira, a Lusa fez um retrato da evolução do país através do que dizem os indicadores económicos e orçamentais desde 2015, o ano em que o atual Governo assumiu funções, comparando com os dados mais recentes já disponíveis para este ano.

O Produto Interno Bruto (PIB) está a crescer este ano ao ritmo mais elevado dos últimos dez anos: no primeiro trimestre, cresceu 2,8% face ao período homólogo, depois de ter progredido 1,6% em 2015 e 1,4% no ano passado.

A taxa de desemprego também tem estado sucessivamente a cair: em 2015 foi de 12,4% e em 2016 permaneceu acima dos dois dígitos mas recuou para os 11,1% da população ativa.

A estimativa provisória do Instituto Nacional de Estatística (INE) para a taxa de desemprego aponta para que tenha ficado nos 9,4% em maio deste ano.

Na frente orçamental, o défice das administrações públicas está igualmente em queda: em 2015 foi de 4,4%, já contando com o impacto do Banif, e, em 2016, foi de 2% do PIB, o mais baixo da história da democracia portuguesa e que permitiu o encerramento do Procedimento por Défice Excessivo (PDE).

Este desempenho foi, no entanto, ajudado pelo valor recorde da despesa que ficou por descativar até ao final do ano (cerca de 940 milhões de euros), pelo Programa Especial de Regularização do Endividamento ao Estado (PERES), que permitiu um perdão total ou parcial de juros aos contribuintes que regularizassem as suas dívidas fiscais (cerca de 550 milhões), e pelo regime de reavaliação de ativos (mais 100 milhões de euros).

Para 2017, os dados mais recentes são relativos ao primeiro trimestre e apontam para um défice de 2,1% até março, abaixo dos 3,3% verificados no mesmo período do ano passado e acima da meta de 1,5% para a totalidade do ano, um desempenho que faz com que o objetivo anual seja alcançável, segundo os analistas.

A dívida pública, por seu lado, ainda não inverteu a tendência de subida que tem vindo a ser anunciada sucessivamente e, em 2015, atingiu os 129% do PIB, tendo disparado para os 130,3% em 2016 e voltado a subir para os 130,5% no primeiro trimestre deste ano.

Também a poupança das famílias nunca esteve tão baixa: depois de ter caído para os 4,5% do rendimento disponível em 2015 e para os 4,3% em 2016, no primeiro trimestre deste ano, as famílias pouparam apenas 3,8% do seu rendimento disponível, o valor mais baixo desde 1999, o primeiro ano da série do INE.

Por oposição, um indicador que tem vindo a evoluir favoravelmente é a confiança dos consumidores que, em junho deste ano, o último mês para o qual o INE já tem dados, voltou a aumentar para um novo máximo desde novembro de 1997, o ano a partir do qual esta informação está disponibilizada.

Do mesmo modo, também o clima económico continuou a subir no mês passado, para o máximo desde junho de 2002.