No evento da Fundação José Neves, que poderá acompanhar na JE TV esta quarta-feira a partir das 14h30, será divulgado o Estado da Nação sobre a Educação, Emprego e Competências, um conjunto de dados sobre estes três contextos e que permitem perceber a sua relação. O JE entrevistou Carlos Oliveira, cofundador e presidente-executivo da Fundação José Neves, que antecipou alguns dos dados que irão ser relevados esta quarta-feira.
A partilha de informação e conhecimento sobre a importância da educação e aposta no desenvolvimento pessoal é um dos objetivos do primeiro evento anual da Fundação José Neves que vai ter lugar esta quarta-feira, 2 de junho, às 14h30, com transmissão em direto na plataforma multimédia JE TV.
O neurocientista português António Damásio e o cantor Bryan Adams são alguns dos oradores de um painel diversificado e que vai promover a aposta no desenvolvimento pessoal como meio para atingir a realização pessoal e profissional.
Neste evento será ainda divulgado o Estado da Nação sobre a Educação, Emprego e Competências, um conjunto de dados sobre estes três contextos e que permitem perceber a sua relação. O Jornal Económico entrevistou Carlos Oliveira, cofundador e presidente-executivo da Fundação José Neves, que antecipou alguns dos dados que irão ser relevados esta quarta-feira.
Quais são os objetivos deste evento anual da Fundação José Neves?
Esta será a primeira edição do evento anual da Fundação José Neves sobre o Estado da Nação sobre educação, emprego e competências em Portugal. Temos vários objetivos que passam por fazer um balanço da atividade da fundação até ao momento, promover a plataforma Brighter Future (uma parceria com o INE e outras entidades com informação sobre a ligação do ensino ao meio profissional) e vamos acima de tudo apresentar dois temas que consideramos importantes: o relatório/estudo Estado da Nação sobre Educação, Emprego e Competências, em que juntámos dados para fazer uma radiografia sobre como está o país nestas três vertentes. Este é um estudo que vai ser feito todos os anos e nesta primeira edição vamos apresentar dados dos últimos dez anos. Há aqui um caminho que queremos projetar a longo prazo. A população portuguesa têm o maior défice de qualificações da União Europeia, de acordo com o estudo que vamos apresentar esta quarta-feira. Em 2000, chegámos ao estágio em que muitos países do centro da Europa chegaram quase cinco décadas antes. Nestes últimos 20 anos, temos tido uma evolução muito interessante.
Mas ainda existem dados muito preocupantes…
Sem dúvida. E são dados que nos devem levar a uma reflexão forte. Acreditamos que a Fundação José Neves pode ter um papel importante na discussão destes temas, através do estudo anual que nos propomos a lançar. É importante realçar que somos o país da Europa com o maior gap intergeracional: a diferença entre os jovens que entram no mercado de trabalho e os adultos que estão nesse mercado, existe a maior diferença da UE em termos de ‘gap’ de qualificações. Esse fator também mostra porque é tão difícil a entrada dos jovens no mercado de trabalho. Cerca de 47,8% dos portugueses adultos concluíram no máximo o ensino secundário e esse é o pior registo da UE. No entanto, os jovens que entram no mercado de trabalho têm evoluído muito nas suas qualificações, mas 19,4% dos jovens que terminaram recentemente o ensino superior não estão empregados. Acrescente-se mais 15% de recém-diplomados que estão a fazer funções para as quais não precisam daquele nível de qualificação. Isto demonstra um desalinhamento entre a oferta educativa e as competências que são dadas aos jovens e o que o mercado procura. Há muitas áreas em que o país está a ter oportunidades de captar investimento estrangeiro mas depois não existem qualificações suficientes.
A educação ao longo da vida também é um aspeto que está a falhar em Portugal?
No último período avaliado, no ano passado, concluiu-se que apenas 10,5% dos adultos no mercado de trabalho fizeram algum tipo de formação. Este indicador ainda é mais preocupante porque pouco mais de 4% são pessoas com qualificações inferiores ao ensino superior. Isto é, pessoas com menores qualificações estão a fazer muito menos formação ao longo da vida em comparação com aqueles que têm mais qualificações. Notámos ainda na pandemia que quem tem mais qualificações, viu o seu emprego protegido durante este período. Queremos que daqui a 20 anos, uma em cada quatro pessoas esteja a fazer formação ao longo da vida.
A Fundação José Neves concluiu ainda que a pandemia prejudicou mais os jovens ao nível do emprego.
Foram os mais penalizados, sem dúvida. No final de 2020, havia menos 60 mil jovens empregados, algo que já tinha acontecido durante a crise financeira. Há aqui alguns motivos para que isto tivesse acontecido: menores qualificações e vínculos laborais de curta duração.
O tema do teletrabalho também será abordado?
Estudo também conclui que o tema do teletrabalho é apenas para uma pequena parte da população empregada. Apenas 30% dos trabalhadores portugueses estão numa área de atividade onde potencialmente poderia existir teletrabalho. Só uma subparte destes é que efetivamente consegue estar em teletrabalho porque é necessária uma preparação por parte das empresas. É possível concluir que o teletrabalho é possível para empregos e pessoas com qualificações mais elevadas.
Qual a relação entre qualificações e salário?
As qualificações mais elevadas também protegem o emprego e aumentam o salário. Em média, os portugueses licenciados ganham mais 750 euros do que aqueles que só têm o ensino secundário. Outra das áreas que nos debruçamos tem a ver com o facto de as mulheres serem mais qualificadas, que fazem com que o abandono escolar tenha reduzido mas isso depois não se repercute no salário. Em média, há situações em que as mulheres, para a mesma profissão e com as mesmas qualificações, ganham até 38% menos que os homens. É uma reflexão importante que deve ser feita e é algo que acontece de forma genérica, em todas as áreas laborais.