8.6.21

Amnistia Internacional: países mais ricos estão a condenar milhões à fome, seca e deslocações forçadas

Nelson Marques, in Expresso

A poucos dias do início da cimeira do G7, relatório sobre a crise climática sublinha os impactos negativos do apoio das nações mais ricas à indústria dos combustíveis fósseis. Crise climática “é uma crise de direitos humanos sem precedentes”, defende a ONG

A Amnistia Internacional acusou esta segunda-feira os governos mais ricos de estarem a condenar milhões de pessoas em todo o mundo à fome, à seca e a deslocações forçadas, ao continuarem a investir na indústria dos combustíveis fósseis. A poucos dias do arranque da cimeira do G7, no Reino Unido, a ONG aponta o dedo a EUA, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Canadá e Japão, acusando-os de falhar na proteção das populações dos efeitos das alterações climáticas, que considera ser “uma crise de direitos humanos sem precedentes”.

“As alterações climáticas ameaçam o usufruto dos direitos civis, políticos, económicos, sociais e culturais das gerações presentes e futuras e, em última análise, o futuro da humanidade. Quando os impactos relacionados com as alterações climáticas atingem um país ou uma comunidade, os efeitos multiplicadores podem minar seriamente o gozo do direito à vida em dignidade, colocar em perigo várias liberdades e, em muitos casos, até colocar em risco a sobrevivência cultural de povos inteiros”, lê-se no documento.

Apesar de os sete países do G7 se terem comprometido a tomar medidas para fazer a transição para uma economia mais ecológica e alcançar a neutralidade de carbono até 2050, a Amnistia Internacional acusa-os de não terem ainda “uma estratégia adequada para reduzir as emissões” até ao final desta década, um passo considerado fundamental para evitar os cenários climáticos mais negros. Por isso, desafia os membros do G7 a comprometerem-se nesta cimeira a “eliminar incondicionalmente todos os combustíveis fósseis, tão perto de 2030 quanto tecnicamente viável”, criando regulamentos mais exigentes que obriguem as empresas a fazer a transição para as energias renováveis e a deixando de subsidiar a indústria dos combustíveis fósseis.

"Os planos climáticos pouco ambiciosos apresentados pelos membros do G7 representam uma violação dos direitos humanos de milhares de milhões de pessoas. Não são falhas administrativas, são um ataque devastador e em massa aos direitos humanos", disse num comunicado Chiara Liguori, assessora de Política de Direitos Humanos e Ambiente da ONG.

“O G7 e outros países industrializados ricos têm historicamente emitido as maiores quantidades de carbono e assumem a maior responsabilidade pela atual crise climática. Eles também têm mais recursos para a enfrentar, mas as suas estratégias até agora têm sido terrivelmente inadequadas, e o seu apoio a outros países tem sido avarento.”

A cimeira do G7, o primeiro encontro de líderes destes sete países após o início da pandemia, decorre de 11 a 13 deste mês na Cornualha, Reino Unido.