8.6.21

Fotos de órfãos alegadamente menores que se terão “voluntariado” para trabalhar em minas de carvão na Coreia do Norte estão a chocar a internet

Ana Adriano Mota, in Visão

Publicadas pelos órgãos estatais da Coreia do Norte, as fotos mostram jovens que aparentam ser menores. Contudo, os meios de comunicação afirmam que as crianças se voluntariaram para trabalhar em locais do governo como minas de carvão, quintas e projetos de construção

Segundo a Agência Central de Notícias da Coreia (KCNA), agência noticiosa da Coreia do Norte, dezenas de órfãos, soldados e estudantes ter-se-ão “voluntariado” para trabalhar em minas de carvão, quintas cooperativas e projetos de construção. Apesar de não especificar a idade dos jovens, a agência afirma que já tinham completado o oitavo ano, o que corresponderia a uma média de idades de 13/14 anos. As imagens têm chocado o mundi inteiro por estes jovens serem, supostamente, menores de idade.

“[Os formados das escolas dos orfanatos] voluntariaram-se para trabalhar em locais de trabalho de construções socialistas com a intenção de glorificar a sua juventude pela luta pela prosperidade do país. Eles terminaram os seus cursos escolares sob os cuidados calorosos do Partido ‘mãe’”, escreveu a KCNA.

Ao todo a agência afirma que 700 órfãos se ofereceram para trabalhar em quintas cooperativas, complexos de ferro e aço, florestas e outras áreas, noticiando, ainda, que 150 formados de três escolas de orfanatos se voluntariaram para trabalhar em minas de carvão e quintas. Na última semana, foi organizada uma cerimónia paraos “parabenizar por se voluntariarem para trabalhar em campos de difícil mão de obra”. As imagens da cerimónia foram publicadas no jornal estatal Rodong Sinmun e no Minju Joson, onde podem ver-se os jovens, com flores ao pescoço.

“Dezenas de crianças órfãs dirigiram-se para o Complexo de Mineração de Carvão de Chonnae para cumprirem o juramento de retribuir apenas um milionésimo do amor que o partido demostrou. Com sabedoria e coragem no início da juventude, todas se levantaram, transbordando grande entusiasmo”, relatou a KCNA.

Segundo a Reuters, um relatório de 2020 do Departamento de Estados dos EUA sobre direitos humanos afirma que, na Coreia do Norte, crianças entre os 16 e os 17 anos são colocadas em brigadas de construção em estilos similares ao exército, submetidas a longas horas de trabalho árduo durante pelo menos 10 anos. “Os estudantes sofrem lesões físicas e psicológicas, má nutrição, exaustão e deficiências no crescimento como resultado do trabalho forçado”, pode ler-se no relatório.

Também um artigo do Comité das Nações Unidas sobre os direitos das crianças de 2017 expressa preocupação pelas crianças na Coreia do Norte, que são forçadas a dispensar “extensos períodos do seu dia para trabalharem em quintas e minas”, acrescentando, ainda, que esta problemática “interfere com os seus direitos à educação, saúde, descanso e lazer”.

A Reuters afirma que a Coreia do Norte nega os relatos de abusos dos direitos humanos, garantindo que estas questões são politizadas pelos seus inimigos. Segundo o jornal NK News, o Ministro dos Negócios Estrangeiros do país, Ri Son-gwon, acusou, na terça-feira, outros países de apoiarem o trabalho infantil forçado. Já referindo-se à Coreia do Norte, afimrou que “todas as crianças, com corações puros e que nada sabem sobre mentiras ou afetos, desejam ver até nos sonhos o seu pai, Kim Jong-un”.