Ana Cristina Pereira, in Público on-line
Seis centros educativos estão distribuídos ao longo de uma limitada faixa do litoral – Vila do Conde, Porto, Coimbra, Lisboa e Oeiras. “Nem sempre as famílias podem deslocar-se ao centro”, diz director dos Serviços de Justiça Juvenil
Há um antes e um depois da pandemia de covid-19 no modo como raparigas e rapazes internados em centros educativos podem comunicar com a família. Antes, só quem tinha a família nas regiões autónomas ou no estrangeiro tinha direito a trocar a visita semanal por uma videochamada. Agora, qualquer um pode fazê-lo.
No primeiro confinamento, suspenderam-se actividades escolares, formativas, terapêuticas de grupo. Os jovens internados por terem cometido crimes podiam fazer três chamadas e receber outras três por semana (de cinco minutos cada uma), mas estavam privados das visitas (sábado ou domingo, até duas horas).
João d’Oliveira Cóias, director dos Serviços de Justiça Juvenil, reconhece que, naquela fase crítica, as tecnologias se revelaram fundamentais. Professores, formadores, técnicos serviram-se delas para chegar aos jovens. As famílias também. Numa segunda fase, “as visitas foram retomadas com biombos plastificados”. Neste momento, qualquer jovem pode falar com a família por videochamada. “Nem sempre as famílias podem deslocar-se ao centro”, sublinha Cóias. “Acredito que alguns dos contactos se mantenham e se reforcem.” No futuro, quer manter esse modelo: “Se não pode ter visita, pode videochamada.”
São seis centros educativos distribuídos ao longo de uma limitada faixa do litoral – Vila do Conde, Porto, Coimbra, Lisboa e Oeiras. Um jovem de Bragança pode estar em Vila do Conde, um de Faro em Lisboa. Devem ficar o mais perto possível da família, mas há excepções. “Acontece os tribunais pedirem o afastamento”, explica aquele responsável. “Há situações de co-autores em que se entende perigoso ter dois ou três no mesmo centro”.
Maria José Brites, professora da Universidade Lusófona, aplaude a mudança. Está a coordenar o projecto Centros educativos com competências digitais e cívicas – DiCi-Educa, co-financiado pelas Academias Gulbenkian do Conhecimento, e percebe o que pode significar esse passo. “Mesmo para os que estão mais perto de casa, uma distância de alguns quilómetros pode ser muito.”
O país está em acelerada transição para a era digital. “Estamos a falar de jovens”, enfatiza aquela investigadora. “O nosso projecto levou para os centros educativos – e temos esse feedback não só por parte dos jovens mas também dos técnicos – o debate sobre a Internet, as tecnologias, a cidadania digital.” Usando computadores portáteis, gravadores de reportagem, máquinas fotográficas, vídeo 360, a equipa procurou trabalhar competências digitais em ambiente offline. Com a pandemia, tudo se alterou. Teve de passar a trabalhar à distância, recorrendo a plataformas online.
“Foi um período complicado”, resume Cóias. “Os centros educativos têm sempre actividades promovidas por entidades da comunidade, que desenvolvem projecto diversos sobre temáticas quase sempre ligadas a actividades de treino de competências. Quer as actividades promovidas pelos centros, quer as promovidas pelas entidades externas ficaram suspensas algum tempo”, recorda. Com o início do ano lectivo 2020/2021, começaram a voltar as acções, que se mantiveram até Janeiro. Em Abril, tornaram “pouco a pouco a retomar as actividades presenciais.”
Ao que lhe é dado ver, “a situação está praticamente normalizada”. Desde o início até agora, contou nove casos positivos de covid-19: dois em Santa Clara (Vila do Conde), um na Bela Vista (Lisboa) e cinco no Padre António Viera (Oeiras), o que representou um surto. Há duas áreas de isolamento profiláctico que acolhem recém-chegados nos primeiros 14 dias.