Viver mais anos pode parecer bom à partida, mas será que longevidade rima com qualidade de vida?
A adaptação das casas, a criação de um Observatório e até a redefinição do apoio domiciliário e dos lares. O envelhecimento da população já é uma realidade e os próximos anos só devem acentuar ainda mais este problema. Vilamoura acolheu, no passado dia 16 de Maio, uma reunião que criou a rede nacional de centros de referência para o envelhecimento, que já começou a pensar em medidas que promovam uma velhice ativa e saudável.
Viver mais anos pode parecer bom à partida, mas será que longevidade rima com qualidade de vida?
Segundo dados da ONU de 2019, Portugal apresenta o 4º maior ratio de dependência associada à população envelhecida: 39%. Um número que se estima subir para 71% em 2050.
Estas foram, em parte, as premissas que estiveram na origem da reunião de Vilamoura de onde saiu a criação desta rede nacional que mereceu elogios de Ana Mendes Godinho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.
«Tenho de expressar uma palavra de orgulho por este trabalho. Temos um desafio demográfico grande enquanto país e enquanto Europa. A pandemia também mostrou que temos de ter novas medidas para promover a autonomia das pessoas, garantido novas soluções de teleassistência e de apoio domiciliário», disse aos jornalistas.
Com a rede formalizada, os quatro Centros de Referência do Envelhecimento Ativo e Saudável do país que a integram (Porto4Ageing, Ageing@Coimbra, Lisboa AHA e Algarve Active Ageing) já começaram a definir algumas medidas com vista a um envelhecimento mais saudável.
E elas passam, por exemplo, por uma adaptação das casas para que as pessoas sejam mais autónomas, pela a criação de um Observatório para o Envelhecimento e por uma redefinição quer do apoio domiciliário, quer dos próprios lares que devem ser mais focados na questão da autonomia.
Ao mesmo tempo, esta rede propõe uma flexibilização e adaptação das condições laborais às necessidades da população mais velha.
Para Nuno Marques, presidente do Algarve Biomedical Center, que integra o Algarve Active Ageing, esta é a altura «de se definirem medidas concretas».
«Vamos ter um envelhecimento expectável ao longo dos próximos anos. Apontámos aqui algumas medidas, com benefícios a muito curto-prazo e é isso que é necessário: darmos o know-how aos decisores políticos», defendeu.
«Hoje em dia é fundamental também as pessoas saberem usar as ferramentas que já têm à sua disposição, até nestes âmbitos. Se olharmos para isto tudo, de forma integrada, podemos fazer mais num curto espaço de tempo e temos uma oportunidade agora no Plano de Recuperação e Resiliência para fazer a diferença para as pessoas», considerou ainda.
Segundo Nuno Marques, as medidas vão agora «continuar a ser trabalhadas».
«Os centros continuarão a trabalhar para definir mais especificamente as medidas. Uma proposta de plano que será depois entregue ao Governo para tomar decisões mais sustentadas», explicou.
Quanto à ministra Ana Mendes Godinho, também vê estes tempos como uma «oportunidade para olharmos para o envelhecimento como uma forma de investir na economia da sabedoria, transformando este desafio num investimento económico», concluiu.
De resto, a escolha de Vilamoura para esta reunião não foi inocente, uma vez que é nesta localidade que nascerá o ABC Active Life, uma valência que se focará na promoção da vida ativa, muito voltado para a terceira idade.