por Olímpia Mairos, in RR
Os emigrantes chegaram para férias. Aldeias e outras pequenas povoações envelhecidas e desertificadas ficam com mais gente, nesta altura do ano. "A gente até tem mais alegria", ouviu a Renascença, em Limões, concelho de Ribeira de Pena.
É um ritual que se repete todos os anos, nesta altura de Verão: os emigrantes estão de volta às suas terras para passar férias e “matar” saudades junto de familiares e amigos.
Em alguns concelhos transmontanos, há aldeias praticamente desertas ao longo do ano que voltam a ser povoadas durante o mês de Agosto. É o caso de Limões, no concelho de Ribeira de Pena, que a reportagem da Renascença visitou.
A aldeia, que é sede de freguesia, é habitada por uma população maioritariamente idosa. Em Agosto, com o regresso dos emigrantes, a aldeia ganha vida. As portas e janelas de muitas casas permanecem abertas, as crianças brincam nas ruas, o café enche-se de pessoas e os convívios entre residentes e visitantes são constantes.
“Vimos sempre, sempre todos os anos. Estou lá, em França, mas gosto muito de Portugal. E, enquanto puder vir de férias, é para Portugal”, diz à Renascença Maria José, com os olhos vidrados de emoção.
O tempo é dividido entre família, amigos, festas e algum descanso. “A gente tem para aí amigo, há festas nas aldeias… E anda-se para trás e para diante", relata Alfredo Gaspar, emigrante em França há trinta e cinco anos.
Pedro Ribeiro diz que vem à terra no Verão "há vinte e cinco anos", o tempo que leva de emigrante. "Nunca deixei de vir à terra, visitar os amigos, ir um bocadinho à praia e, depois, fazer as nossas férias", conta, exemplificando: "Cantar ao desafio, nas festas, e andar para um lado e para o outro".
"De vez em quando, também fazemos festas, fazemos umas arruadas pela rua fora e as pessoas gostam, gostam muito”, diz.
Animação e negócio na aldeia
Limões, ao longo do ano, é quase uma aldeia deserta. Por isso, Maria Augusta aguarda com ansiedade a chegada dos seus familiares, porque "em Agosto, tudo tem mais graça".
"Basta estar cá muita gente emigrante. A gente até tem mais alegria com eles. Em Setembro, começam a ir embora, ficamos mais tristes… Temos um senhor que toca concertina todos os dias, é uma alegria, cantamos”, diz esta moradora de Limões.
“Há casas que têm oito filhos e os filhos já estão cá todos. É uma alegria. No domingo, a gente vai à missa e vê-os lá todos. Matamos saudades, falamos uns com os outros. Estamos sempre à espera do mês de Agosto. Depois, ficamos mais tristes quando eles se vão embora. Levam as crianças com eles e a gente fica cá sem novidade nenhuma", adianta.
No café de Maria da Glória, a vida também fica diferente em Agosto. A presença dos emigrantes significa mais movimento, mais convívio e mais negócio: “Durante o ano, o café é fraco. Está praticamente vazio. Só tem um bocadinho [de movimento] à noite. Durante o dia, está sempre praticamente vazio. No mês de Agosto é bem mais movimentado”.
O presidente da Junta de Freguesia de Limões, António Dinis, confirma que a “presença dos emigrantes traz outro dinamismo à aldeia" e "ganha o café, ganha a mercearia, ganhamos todos". Todavia, nos últimos anos, os emigrantes estão muito mais contidos no consumo. “São os efeitos da crise, a vida também está ruim lá para fora", explica o autarca, sentenciando, de imediato: "O euro não veio trazer boas coisas”.