Por Filipe Paiva Cardoso, in iOnline
Portugal conta com perto de 335 mil desempregados há mais de dois anos nessa situação. São hoje 38% do desemprego total, novo máximo
O desemprego de longa ou muito longa duração parece cada vez mais uma batalha perdida, sendo essa uma das razões para as previsões sobre Portugal salientarem que o desemprego estrutural - o que não está associado directamente à conjuntura - sairá da crise com um nível mais elevado do que no pré-crise.
Apesar do comportamento positivo da taxa global de desemprego do primeiro para o segundo trimestre deste ano, com a queda de 17,7% para 16,4%, uma análise detalhada da evolução das várias subdivisões do desemprego mostra que as boas notícias se limitaram quase exclusivamente aos desempregados que caíram nessa situação há pouco tempo.
Em termos globais, o segundo trimestre evidenciou um recuo de 66,1 mil de-sempregados desde Março deste ano, um valor que, contudo, esconde que o desemprego de muito longa duração (pessoas há mais de dois anos sem emprego) voltou a crescer a um ritmo suficiente não só para anular o recuo do início de 2013 registado neste indicador, como para bater novos máximos no país. Portugal conta hoje com 335,7 mil pessoas desempregadas há mais de dois anos, valor nunca antes visto no país e que cresceu 5,2% no trimestre e 18,6% em relação ao segundo trimestre de 2012.
Este salto no desemprego de muito longa duração contrasta com o que ocorreu ao nível do desemprego de duração de até seis meses: do primeiro para o segundo trimestre, o total de desempregados nessa situação há não mais de seis meses caiu 71,6 mil, para 208 mil pessoas nessa condição. Esta variação não se justifica apenas pelas alterações naturais do período - quem estava desempregado há, por exemplo, quatro meses no primeiro trimestre já não entra nesta subdivisão no segundo trimestre. Veja--se que na divisão seguinte, dos "desempregados há 7 a 11 meses", o aumento no trimestre foi de 17,5 mil, longe portanto da queda de 71,6 mil registada nos desempregados até seis meses.
Assim, e do total de 886 mil desempregados registados em Portugal no segundo trimestre, 37,9% dizem respeito a residentes no país que não encontram emprego há mais de dois anos - e que já perderam direito a qualquer apoio social. Em comparação, veja-se que em Março este peso era de 33,5%. Este salto no desemprego de muito longa duração acabou por alimentar também um outro recorde negativo no emprego: no segundo trimestre, mais de 61% dos desempregados (61,9%) estavam nessa situação há mais de 12 meses, isto quando em Março este total era de 58,9% e em Junho de 2012 de 53,6%. Este recorde surge apesar do total de desempregados há entre 12 e 24 meses ter recuado 11,9% entre Abril e Junho - parte do recuo parcialmente explicável pela passagem de alguns destes desempregados para o segmento de "há mais de 24 meses".
MILHÃO E MEIO FORA DO MERCADO Além dos desempregados, nas estatísticas sobre o mercado do trabalho é preciso também olhar para o subemprego e para os inactivos, e nestes dois indicadores os números do segundo trimestre também não trouxeram motivos para celebrar. Os residentes em Portugal em situação de subemprego - trabalhadores a part-time com vontade de trabalhar mais - subiu 4,8% de Março para Junho, para 270,4 mil. Já os inactivos à procura de emprego passaram de 31 mil para 33,4 mil, com os inactivos disponíveis mas que não procuram emprego a saltar de 261,1 mil para 271,1 mil.
Estes valores, em conjunto com os dos desempregados, dão uma imagem mais aproximada do dito "desemprego real" em Portugal, que em Junho abrangia 1,46 milhões de residentes em idade activa, menos 2,7% que em Março, mas mais 8,9% que em Junho de 2012.