Alexandra Figueira
Preocupados com a segurança das poupanças ou com a família deixada para trás, os emigrantes estão a enviar mais dinheiro para Portugal. Vem sobretudo da França e da Suíça, mas cada vez mais de Angola.
Se não fosse Angola, as remessas mandadas pelos emigrantes para a terra pátria teria aumentado na mesma, mas com muito menos vigor. Sozinha, a antiga colónia contribuiu com 40% da subida das remessas, de 2011 para o ano passado.
Seis anos antes, Angola quase não aparecia na lista dos países origem de dinheiro emigrante. Mas no ano passado disparou para um sólido 3.o lugar, apesar de muito distante da França (ainda a líder, com a maior comunidade lusa) e da Suíça (num segundo lugar estabilizado).
A emergência de Angola é o reflexo de dois factos. Um é a "instabilidade e falta de democracia" angolanas, que incentivam os emigrantes a colocarem as poupanças na Europa, disse Beatriz Rocha-Trindade, catedrática da Universidade Aberta. Outro é o perfil do emigrado naquele país, somou Jorge Malheiros, do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa: quadros médios e altos, a quem são pagos bons salários.
O docente estima que entre um terço e metade das pessoas que deixaram Portugal nos últimos anos sejam altamente qualificadas, apesar de realçar haver ainda pouca informação que permita fazer afirmações perentórias.
Indecisos ou veteranos
Em todo o caso, sabe-se das famílias inteiras a deixar o país para construir uma vida noutro destino. Têm objetivos diferentes dos atores das grandes vagas de emigração dos anos 60 e 70, quando por norma o homem ia trabalhar longe com o propósito de enviar dinheiro para a mulher os filhos deixados para trás, descreveu Beatriz Rocha-Trindade, autora de "Da Mala de Cartão ao Diploma Universitário", onde alerta para o perigo das extrapolações.
Hoje a emigração será mista, tal como as razões pelas quais mandam dinheiro de volta a Portugal. "Em países instáveis, como Angola ou o Brasil, haverá emigrantes recentes que ainda não decidiram se querem ficar ou regressar a Portugal, mais tarde", disse a docente. Têm, por isso, motivação para guardar as poupanças num país considerado (mais) seguro.
E haverá também muitos emigrantes veteranos querer ajudar a família deixada num país com crise e desemprego, somou Jorge Malheiros.
Quer venha de famílias qualificadas ou de emigrantes há muito estabelecidos, o certo é que no ano passado as remessas atingiram o recorde da última década: 2,7 mil milhões de euros, refletindo o disparar da própria emigração: estima-se que 121 mil pessoas partiram em busca de melhor vida (ler mais nas páginas 4 e 5).
Comparando com o ano anterior, entraram em Portugal mais quase 320 milhões de euros. É um valor absoluto, não conta com o facto de a mesma quantia valer menos, com o passar dos anos. Nesta lógica, Portugal ainda está longe da quantia remetida nos anos 90, mas o Ministério das Finanças agradece com certeza a ajuda dada ao défice externo português.