7.8.13

Eurostat antecipa INE e baixa desemprego até 17%

por Luís Reis Ribeiro, in Dinheiro Vivo

A taxa de desemprego oficial do segundo trimestre, que hoje será anunciada pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), terá descido no segundo trimestre deste ano, até próximo dos 17% da população ativa (para cerca de 913 mil pessoas), indica o Eurostat.

Mas, mostram as séries históricas, é bastante raro o desemprego piorar neste período por causa da proximidade do verão e dos trabalhos sazonais.

Em todo o caso, se assim for - e apesar de ser de 10% o aumento do número de pessoas sem trabalho face ao segundo trimestre de 2012 -, o recuo trimestral poderá chegar a 0,7 pontos percentuais, o maior desde igual trimestre de 2000. Mas nessa altura o desemprego total estava em 3,7%.

Os novos dados para o segundo trimestre de 2013, recolhidos pelo Dinheiro Vivo, não são ajustados de sazonalidade - são, por isso, os que melhor comparam com a métrica oficial. A atualização foi feita na passada sexta-feira pelo Eurostat.

Essa taxa com sazonalidade é, de forma consecutiva, superior em duas décimas à taxa divulgada pelo INE. No segundo trimestre o Eurostat aponta para 17,2%, donde o INE poderá hoje publicar 17%.

Recentemente, antes deste declínio trimestral, vieram a lume alguns sinais de desanuviamento ligeiro no mercado de trabalho (IEFP) e em alguns indicadores mensais de atividade económica.

O Governo tem aproveitado o facto para prometer que a desejada retoma está mesmo aí ao virar da esquina. “A produção industrial cresce sustentadamente”, “o nível de confiança aumenta sucessivamente”, “as exportações crescem com consistência”, “é cada vez mais provável que no segundo trimestre tenhamos registado crescimento”, disse Pedro Passos Coelho há pouco mais de duas semanas.

Vários economistas ouvidos ao longo das últimas semanas pelo Dinheiro Vivo sublinharam que, de facto, ao longo das últimas semanas tem havido sinais menos sombrios na economia, mas que estes estão sobretudo ligados ao sector exportador - com os combustíveis da Galp a puxarem pelas vendas - e ao turismo.

No entanto, disse Manuel Caldeira Cabral, professor de Economia da Universidade do Minho, “terminado o verão é preciso ver fazer o balanço da estação turística” e “teremos de ver como reagem as pessoas e os empresários às medidas gravosas de corte na despesa que terão de ser plasmadas no Orçamento do Estado de 2014”.

Estas medidas podem assustar muita gente, afundando ainda mais o consumo e o investimento. E arrastando a criação de emprego.

Economistas ouvidos ontem pela Reuters sublinharam a fragilidade da aparente inversão do desemprego. José Brandão de Brito, do BCP, referiu-se ao efeito cíclico mas positivo do “turismo”. Paula Carvalho, do Banco BPI, frisou “fatores sazonais relacionados com a criação de emprego temporário no turismo e não uma alteração de tendência”. O próprio Eurostat aponta para essa explicação. A taxa sem sazonalidade mostra que o desemprego não piora, mas também não melhora. Ficou em 17,6% (como no primeiro trimestre), um recorde histórico.