Ana Cristina Pereira (em Bruxelas), Público on-line
União Europeia discute forma de reduzir pobreza e exclusão, que afecta mais 6,7 milhões de pessoas do que em 2010. Durão Barroso acredita que é possível cumprir a meta de redução de pobreza em 20 milhões até 2020.
O presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso, reconheceu esta terça-feira, em Bruxelas, que os objectivos da Estratégia Europa 2020 para um crescimento inteligente, sustentável e inclusivo não estão a ser alcançados. Desde 2010, a União Europeia aumentou em 6,7 milhões o número de pessoas em risco de pobreza ou exclusão.
José Manuel Durão Barroso abriu esta tarde a III Convenção Anual da Plataforma Europeia Contra a Pobreza e a Exclusão, uma das sete iniciativas emblemáticas da Estratégia 2020, que ambiciona retirar da pobreza e da exclusão social 20 milhões de pessoas até 2020. Centenas de peritos e decisores políticos estão esta tarde e amanhã todo o dia reunidos a debater o que foi feito até agora e o que poderá ser feito daqui para a frente para alcançar essa meta.
O comissário do Emprego, dos Assuntos Sociais e da Inclusão, László Andor, que presidiu à cerimónia, foi ao encontro da plateia ao admitir que a Europa “enfrenta disparidades crescentes”. “A crise económica atingiu de um modo particular os mais fracos, as gerações mais jovens e as regiões e as cidades mais pobres”, enfatizou.
Ninguém esteve com panos quentes naquela sessão. “Em 2010, quando os chefes de Estado e de Governo adoptaram a Estratégia Europa 2020, assumimos o compromisso de tirar 20 milhões de pessoas da pobreza. Vamos ser honestos: hoje, a situação é pior”, discursou Barroso.
Os dados mais recentes são de 2012 e remetem para rendimentos de 2011. Dir-se-ia que o número estava na cabeça de todos os que tomaram a palavra no plenário: 125,3 milhões de residentes no espaço comunitário estavam em risco de pobreza ou de exclusão social, o que quer dizer que se encontravam numa de três situações: risco de pobreza, carências materiais ou reduzida intensidade de trabalho.
O presidente da Comissão Europeia falou nos tímidos sinais de retoma económica. Parece-lhe, porém, que “não se pode dizer que a crise acabou” quando se tem 25% da população em risco de pobreza ou exclusão, 26 milhões de pessoas desempregadas, 5,6 milhões delas jovens. Na sua opinião, urge recorrer a instrumentos excepcionais.
A Comissão Europeia, disse, ouviu as preocupações que ecoaram neste mesmo edifício na última convenção. E deu alguns passos para contrariar a tendência de empobrecimento, que se propaga por toda a Europa e não apenas pelos países sujeitos a processos de reajustamento económico, como Portugal – onde a taxa de risco de pobreza ou exclusão corresponde à média comunitária (18% das pessoas estavam em risco de pobreza, 8,3% sofriam carências materiais e 8,2% viviam em famílias com apenas um membro empregado). Decidiu-se, por exemplo, canalizar 20% do Fundo Social Europeu para a luta contra a pobreza e a exclusão. "O orçamento total do Fundo Social Europeu está agora, depois de meses de negociação, fixado em € 71.300.000.000, o que significa que mais de € 14.000.000.000 destinar-se-ão às políticas sociais. Portanto, temos aqui uma oportunidade de ir ao encontro do que é, de facto, uma expectativa de muitos, que é utilizar o Fundo Social para um alvo específico: combater a pobreza e alcançar maiores níveis de inclusão social”.
Barroso acredita que ainda será possível cumprir a meta: “Nós podemos fazê-lo, inspirados por nossos valores. O valor da solidariedade está no coração do modelo europeu.”
O discurso de Barroso foi bem acolhido na sala apinhada. E esteve em total sintonia com o de Herman Van Rompuy. O presidente do Conselho Europeu começou por lembrar que o preço da crise “é alto”, que os mais vulneráveis sofrem as maiores consequências. Debruçou-se depois sobre os dilemas da União, que impõe limites a si própria que contrariam os objectivos que traça. Mesmo assim, deixou uma mensagem de esperança, que era também um apelo à acção conjunta.