8.11.21

Quase metade das famílias apoiadas na pandemia nunca tinha pedido ajuda

Ana Lisboa, in RR

A Igreja celebra o 5.º Dia Mundial dos Pobres no próximo domingo, dia 14 de novembro.

Em Portugal há cerca de dois milhões de pessoas em situação de pobreza. O Dia Mundial dos Pobres, assinalado a 14 de novembro, é uma iniciativa do Papa Francisco, que escreveu uma mensagem para esta ocasião que tem como tema "Sempre tereis pobres entre vós".

Nesta mensagem, pede uma "nova abordagem na luta contra a pobreza", lembrando as "consequências sociais e económicas" que a Covid-19 trouxe.

O Santo Padre alerta para um aumento do número de pobres, consequência também provocada pela pandemia. E refere-se à multiplicação de novas formas de pobreza. Questiona ainda discursos políticos que fazem dos pobres "responsáveis pela sua condição" e mesmo um "peso intolerável" para o sistema económico.

Os últimos números da pobreza divulgados revelam que em Portugal há cerca de dois milhões de pobres. A Cáritas Nacional é uma das instituições que apoia as pessoas mais carenciadas.

A instituição recebeu pedidos de famílias que "viviam uma vida equilibrada", mas, de repente, por causa da pandemia, viram-se obrigadas a recorrer a este apoio, "por ausência de rendimento ou redução do seu rendimento, deixaram de ter condições para sustentar a sua família até aos níveis mais básicos", explica a presidente.

Rita Valadas diz que "entre maio de 2020 e outubro de 2021 foram apoiadas mais de 18 mil pessoas, correspondentes a quase sete mil famílias, três mil das quais nunca tinham chegado à Cáritas", ou seja, "quase 50% do número de famílias que nos apareceram neste intervalo, são famílias que eram para nós completamente desconhecidas".

Para esta responsável, é "absolutamente assustador" olhar para os números e perceber "que nós não conseguimos, com todas medidas criadas, resolver este problema".

Por isso, concorda com as declarações do Papa de que deve haver uma nova abordagem no combate à pobreza.

Em seu entender, "temos tentado combater com vários programas, com vários recursos e não temos conseguido. Eu creio que não existe propriamente uma solução que nos indique como fazer, como resolver o problema da pobreza".

Por isso, defende que "o problema deve ser resolvido com o concurso de muitas áreas que nas várias tentativas que fizemos foram desmobilizando de uma maneira ou de outra, porque a pobreza não é um problema social do ponto de vista das prestações. É um problema que tem a ver com a situação de cada pessoa e da sua contingência. E, por isso, precisamos de um olhar de educação, saúde, segurança social, emprego".

É, sobretudo, fundamental ir ao encontro dos pobres, onde eles estão e não ficar à espera que batam à porta das instituições, como defende o Papa.

A presidente da Cáritas Portuguesa partilha da mesma opinião. "É nesta proximidade que conseguimos ler e escutar realmente o que acontece e o que levou as pessoas a esta situação". Rita Valadas sublinha que a "proximidade no olhar e na escuta são indispensáveis ferramentas para combater a pobreza".