8.11.21

Dia Mundial Pobres “não é para falar deles, mas estar com eles”

Henrique Cunha, in RR

Presidente da Confederação Portuguesa do Voluntariado diz que há um novo perfil. Além da geracional, há pobres com qualificações académicas e ainda uma pobreza ligada à infoexclusão.

A propósito do Dia Mundial dos Pobres, que se assinala no próxima dia 14 de novembro, Eugénio da Fonseca, presidente da Confederação Portuguesa do Voluntariado e ex-presidente da Cáritas portuguesa, defende que esta data “é muito importante para se começar a fazer experiências de integração dos pobres nas comunidades cristãs, para se deixar de ter os pobres à porta das igrejas e passá-los para dentro da Igreja, tentado resolver os problemas complexos dessas pessoas”.

Na sua opinião, é um dia “não para falar deles, mas estar com os pobres” e é “por isso que o Santo Padre pede que haja iniciativas ao nível das comunidades cristãs”, porque é ao nível das comunidades que os pobres se encontram.

O responsável pela Confederação do Voluntariado refere que infelizmente “é rara a semana em que não aparece em alguma paróquia alguém a pedir ajuda para o seu agregado familiar”. É nesta altura que deve arrancar a sua integração nas comunidades cristãs.

O antigo presidente da Cáritas Portuguesa sustenta que para além da pobreza geracional que persiste, em Portugal há um novo perfil. “Temos gente pobre e com qualificações académicas. Há gente que não encontra um posto de trabalho e admite-se até que possa haver gerações que nunca venham a ter trabalho. Eu conheço gente com licenciaturas que vai para as caixas das grandes superfícies”, refere.

Existe uma outra forma de pobreza que é a infoexclusão. “Todos já percebemos que para se ter acesso à igualdade de oportunidades, que é um direito básico tem que se recorrer à Internet porque é lá que estão os documentos para preencher, os passos a seguir”, explica. Por último, Eugénio da Fonseca identifica um outro tipo de pobreza “que se veio a tornar mais expressiva com a pandemia e que é a solidão”, pois “pode fazer as pessoas ficarem mais doentes, e ficando mais doentes ficam mais pobres”.
Livro sobre Pobres solidário com pobres de Pemba

Eugénio da Fonseca contribuiu para a reflexão sobre este Dia Mundial da Pobreza através do livro “Jesus representa todos os Pobres – subsídios para o dia Mundial dos Pobres”. O autor defende ser “um livro que pode ser aproveitado para além dos Dia Mundial dos Pobres”, por isso, “desejaria que os grupos socio-caritativos e as instituições sociais da Igreja pudessem ter a oportunidade de refletir sobre os nove pontos que o Santo Padre propõe (na mensagem para o dia mundial dos pobres)”.

Nesta entrevista, explica que “o título dado ao livro é para usar uma expressão do Santo Padre”, mas admite que “todos nós sabemos que Jesus não representa só os pobres, pois Jesus está nos pobres”.

O autor quer que este livro seja “um pequeno subsídio” para ajudar a diocese de Pemba, em Cabo Delgado, no Norte de Moçambique. “O livro custa cinco euros, mas a editora-as Irmãs Paulinas - que não cobraram nada pelo custo - irão enviar dois euros para a diocese de Pemba para ajudar aqueles pobres que estão a ser vítimas de atos terroristas altamente criminosos”.

No próximo domingo assinala-se o V Dia Mundial dos Pobres. O Papa Francisco instituiu a data em 2016 inspirado na experiência do Jubileu da Misericórdia e celebra-se no penúltimo domingo do ano litúrgico.

A celebração é inspirada no Ano Santo da Misericórdia (dezembro 2015-novembro 2016) e, particularmente, no ‘Jubileu das Pessoas Excluídas Socialmente’, que se celebrou no Vaticano a 13 de novembro, dia em que se fecharam as Portas Santas em todas as catedrais e santuários do mundo.

“Intuí que, como mais um sinal concreto deste Ano Santo extraordinário, se deve celebrar em toda a Igreja, na ocorrência do XXXIII Domingo do Tempo Comum, o Dia Mundial dos Pobres”, escreveu Francisco, na carta apostólica ‘Misericórdia e mísera’, com a qual marcou o final do Jubileu.