4.11.21

SAÚDE, EMPREGO, VIOLÊNCIA E PANDEMIA: A IGUALDADE DE GÉNERO E AS CONQUISTAS “MICROSCÓPICAS”

in TVI24

Os países que se destacam no topo do ranking dos mais igualitários são a Suécia, a Dinamarca e os Países Baixos. Portugal surge mais ou menos a meio da tabela com 62,2 pontos em 100 possíveis, 5.8 pontos abaixo da média europeia

A igualdade de género teve um “aumento microscópico” na União Europeia em 2021, de acordo com os resultados do Índice de Igualdade de Género 2021, publicado, na quinta-feira, da responsabilidade do Instituto Europeu para a Igualdade de Género (EIGE, na sigla em inglês).

Em termos de igualdade de género, a Europa consegue apenas 68 pontos entre um máximo de 100, o que representa um “aumento microscópico de apenas 0.6 pontos" em comparação ao ano passado.

Igualdade de Género na União Europeia

Os países que se destacam no topo do ranking dos mais igualitários são a Suécia (83,9 em 100) e a Dinamarca (77,8 em 100), seguidos dos Países Baixos (75,9 em 100), que ultrapassaram a Finlândia e a França “na conquista pelo terceiro lugar”.

Segundo o EIGE, o Luxemburgo, a Lituânia e os Países Baixos foram os países que mais melhorias registaram desde a edição de 2020. Por outro lado, a Eslovénia foi o único país a recuar em matéria de igualdade de género.

No fundo do ranking está a Grécia com 52,6 pontos. Portugal surge mais ou menos a meio da tabela com 62,2 pontos, 5.8 pontos abaixo da média europeia.

Desde 2010, Portugal subiu quatro lugares e conquistou 8.5 pontos no Índice da Igualdade de Género, estando este ano em 15º lugar.

Na avaliação do EIGE, o nosso país destaca-se na área da saúde, onde tem o melhor desempenho de todos os países com 84.8 pontos.

Esta performance deve-se sobretudo a uma pontuação elevada na subcategoria ‘acesso à saúde’ (95.8 pontos). No entanto, Portugal consegue apenas um 19º lugar entre os Estados-membros nesta subcategoria e a sua pontuação é três pontos abaixo da média europeia (98.2)”, lê-se no relatório.
Igualdade de Género em Portugal

SAÚDE E PANDEMIA

O índice deste ano dá particular destaque à pandemia, à saúde mental e à saúde sexual e reprodutiva e centra a sua atenção na relação entre a saúde e a igualdade de género.

Segundo relatório, as mulheres estão em maioria no setor da saúde e por isso mesmo ficaram mais expostas ao vírus. No entanto, foram os homens que tiveram mais expostos ao risco de hospitalização devido aos “seus comportamentos de saúde e doenças preexistentes, tais como as doenças cardiovasculares e a diabetes, que são mais comuns entre os homens”.


Outra consequência da pandemia foi a diminuição da taxa de natalidade, já que a “incerteza economia e o aumento do trabalho não remunerado entre as mulheres” levaram a que muitos casais adiassem os planos no que toca aos filhos.

No entanto, em 2020, em Portugal apenas cerca de 5% das mulheres quiseram parar ou adiar uma gravidez.

Entre os resultados do relatório, salienta-se ainda o desempenho dos portugueses na maneira como gerem o do tempo nas atividades sociais.

O EIGE consta que apenas 10% das mulheres com mais de 15 anos praticam atividades desportivas, culturais ou de lazer, contra 20% dos homens. Estes resultados podem ser explicados, devido ao tempo que as mulheres dispensam nas tarefas domesticas: 78% das mulheres com mais de 18 anos cozinham ou fazem tarefas domésticas todos os dias, contra 19% dos homens.

O Instituto Europeu para a Igualdade de Género relata ainda que as mulheres mais velhas, sobretudo as mais idosas, tem uma saúde mais frágil que os homens.

Espera-se que então que as mulheres vivam menos anos com qualidade após os 65 anos. A expetativa de vida saudável de uma mulher é de 72 anos, menos um ano que os homens. A expetativa de vida saudável europeia tanto para os homens como para as mulheres é de 75 anos.

A proporção de homens que relataram ter uma boa saúde permaneceu em 55% durante o mesmo período, resultando num fosso de género de 10 pontos percentuais em 2019”, lê-se no relatório.

Uma grande percentagem, 68 %, das mulheres portuguesas com mais de 65 anos tem limitações nas atividades diárias por causa de problemas de saúde, contra 56% de homens.

Há também 49% de mulheres e 41% de homens que não conseguem pagar despesas relativas a cuidados de saúde mental.

Durante a pandemia, o EIGE relatou que tenham morrido 16% de mulheres e 15% de homens a mais em 2020/2021 em comparação com 2016/2019.
EMPREGO

Em Portugal, o fosso de género no emprego continua por resolver. As mulheres, especialmente, as mais velhas e as que vivem sozinhas ganham menos do que os homens.

O EIGE dá conta de que as mulheres continuam sobrecarregadas com o trabalho doméstico ou de cuidado. Contudo, é de salientar que o número de mulheres nos cargos políticos tem vindo a aumentar.

Aliás, a categoria “trabalho” é a única, onde Portugal está acima da média europeia, com 73.2 pontos, acima da média de 71.6.

Onde Portugal melhorou mais desde 2010 foi na área do “poder”, onde tem agora 53.6 pontos ficando em 11.º lugar no ranking.

Esta mudança é devida às melhorias consideráveis nas subcategorias da política e da economia desde 2010 (mais 20.7 pontos e 27.5 pontos, respetivamente)”, refere o EIGE.

VIOLÊNCIA

Durante a pandemia de covid-19, muito devido ao isolamento, as mulheres estiveram mais expostas de sofrerem violência doméstica por parte do parceiro.

A pandemia covid-19 expôs e exacerbou lacunas preexistentes na prevenção da violência contra as mulheres e na prestação de serviços de apoio às vítimas com financiamento adequado”.

É ainda adiantado que na União Europeia, em 2018 foram mortas mais de 600 mulheres pelos parceiros.

Constatou-se que 68% das mulheres portuguesas, que sofreram violência física ou psicológica foram vítimas dentro da sua própria casa.

Nos últimos cinco anos, 3% das mulheres lésbicas e 3% das mulheres bissexuais foram atacadas física ou sexualmente por serem da comunidade LGBTI.

Uma em cada quatro mulheres sofreu de assédio nos últimos cinco anos e 14% nos últimos 12 meses, enquanto nas mulheres com deficiência a percentagem foi de 9% e 3%, respetivamente.

Por último, o EIGE refere que, em 2011, entre 5% a 8% das 5.835 raparigas da comunidade migrante residente em Portugal estavam em risco de serem vítimas de mutilação genital feminina.