Sofia Cristino, in JN
A Rede Portuguesa de Jovens para a Igualdade de Oportunidades entre Mulheres e Homens (REDE) disponibilizou esta quarta-feira um inquérito online para obter dados sobre violência sexual baseada em imagens, o primeiro deste género dirigido apenas a mulheres entre os 18 e os 25 anos. A ideia é sensibilizar a comunidade e decisores políticos para esta forma de violência ainda "não reconhecida" como tal.
A REDE disponibilizou um inquérito online dirigido a todas as mulheres entre os 18 e os 25 anos com o objetivo de mapear as suas experiências e perceções sobre a violência sexual baseada em imagens. Entre estas formas de violência incluem-se a captação não consentida de fotografias ou vídeos na rua, em contextos íntimos ou de índole sexual, entre outras.
"Mulheres que estavam a tomar banho ou a ter relações sexuais e estavam a ser filmadas com câmara oculta, ou que foram vítimas de ameaça de partilha dessas imagens, por exemplo. Não é preciso concretizar nenhuma forma de divulgação para que a pessoa seja profundamente violentada, basta saber que existem vídeos que a qualquer momento podem ser partilhados", exemplifica Maria João Faustino, gestora do projeto Faz Delete: diagnosticar, sensibilizar e prevenir a violência sexual com base em imagens contra jovens mulheres.
O questionário, o primeiro deste género sobre mulheres nesta faixa etária em Portugal, estará disponível online até ao final de dezembro e os resultados deverão ser conhecidos em março do próximo ano. É apenas uma parte do estudo "Faz Delete: Experiências e perceções de jovens mulheres sobre a violência sexual baseada em imagens", que se insere num projeto financiado pelo Programa Cidadãos Ativos, um fundo constituído por recursos públicos da Islândia, Liechtenstein e Noruega e gerido em Portugal pela Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação Bissaya Barreto. Haverá ainda entrevistas, presenciais ou online, para analisar com mais profundidade estas experiências e os seus impactos.
Após a recolha e tratamento de dados a ideia é sensibilizar a comunidade, "fazendo campanhas dirigidas a jovens" e "entregar a decisores políticos um documento com recomendações para agirem sobre este problema, com o intuito de alterações legislativas".
Em Portugal, os dados sobre a violência sexual baseada em imagens, assim como o esforço preventivo e os mecanismos de intervenção, são ainda incipientes, lê-se no resumo do projeto. O tema tem ganho maior espaço na agenda pública nos últimos anos. Este ano, por exemplo, foi levada uma petição à Assembleia da República para tornar a partilha não consentida de imagens íntimas crime público. Um dos principais objetivos deste estudo é "conseguir reunir mais dados para dar mais visibilidade a esta questão".
"Pretendemos reconhecer o problema. O reconhecimento político, social e jurídico legal que damos a este tipo de violência, que nem reconhecemos como violência muitas vezes, está mesmo no início. Ainda é tratado nos media de uma forma que secundariza o problema, como pornografia de vingança, e trata-se de uma forma de violência. Há todo um caminho para fazer em termos de investigação e agenda política", alerta Maria João Faustino.
O projeto tem ainda a parceria da Associação de Mulheres Contra a Violência e da Associação Mulheres sem Fronteiras. A associação REDE, criada em 2000, uma das 29 associações que integra a Plataforma Portuguesa dos Direitos das Mulheres (PPDM), é uma associação sem fins lucrativos que tem como objetivo a promoção da igualdade de género na juventude.