Rita Valadas, opinião, in TSF
A Igreja católica assinala hoje, pelo quinto ano, o Dia Mundial dos Pobres sob o mote "Pobres sempre os tendes convosco". O Papa Francisco apresenta esta intenção como um desafio a que a Igreja tome a iniciativa de se aproximar e de "encontrar" os pobres onde estão. "Não podemos ficar à espera que batam à nossa porta; é urgente ir ter com eles" mesmo quando se escondem. É um repto contra a indiferença, um combate ao conformismo na desigualdade, um incentivo a favor da proximidade e de um estar alerta a favor dos mais vulneráveis.
Sinto que talvez ainda não tenhamos todos entendido a profundidade da provocação. Devo confessar que eu ainda estou nessa etapa prévia de entender o desafio do Papa ao assinalar este dia e até a mensagem com que se assinala.
O que significa dizer-se que "pobres sempre os teremos connosco"? A frase é do próprio Jesus, em duas ocasiões, e sempre numa perspetiva alerta para a situação do vulnerável. Colocar este dia no calendário da Igreja e, em consequência, da sociedade é sem dúvida notável, mas parece-me que importa ir mais longe.
Este dia terá de ser mais do que mensagens escritas ou vídeos publicados nas redes sociais ainda que tudo isso seja importante. O que falta é o dia seguinte.
Não faltam dias e ocasiões para assinalar isto e aquilo, mas estes dias não podem ser só efemérides que proporcionam a realização de iniciativas e atividades que, isoladamente colocam em evidência a pobreza, a situação em que vivem os pobres ou as causa que a provocam. Este dia terá de ser mais do que mensagens escritas ou vídeos publicados nas redes sociais ainda que tudo isso seja importante. O que falta é o dia seguinte.
Na Cáritas procuramos transformar esse "dia seguinte" em dias presentes e pela proximidade da nossa rede e do trabalho que realizamos, estamos presentes na vida de muitas pessoas que, pelos mais variados motivos, procuram a nossa ajuda.
A luta contra a pobreza, o estar ao lado dos pobres, é um trabalho diário, a várias mãos, com vários instrumentos, de várias origens. Não podemos continuar a querer encontrar soluções milagrosas construídas em ficheiros de Excel.
Não acreditamos na "pobreza estatística" que sobe e desce, estica e encolhe, segundo a leitura que se quer fazer dos dados. A luta contra a pobreza, o estar ao lado dos pobres, é um trabalho diário, a várias mãos, com vários instrumentos, de várias origens. Não podemos continuar a querer encontrar soluções milagrosas construídas em ficheiros de Excel.
O combate à pobreza faz-se quando houver interdependência entre as várias políticas sociais, o concurso dos vários setores e quando houver partilha de meios e recursos. Quando sentirmos a pobreza como um problema que é de todos. Quando deixarmos de olhar para o pobre e para a sua situação com resignação. Os pobres são sempre um vago "eles". O nosso trabalho é evitar que as famílias entrem em situação de pobreza. É aí que encontramos o foco do nosso trabalho.
Não posso deixar hoje de assinalar o início da campanha 10 Milhões de Estrelas - Um Gesto pela Paz. Uma iniciativa da Cáritas, que simbolicamente se materializa na venda de uma pequena vela, mas que tem um significado muito maior do que isso. Neste tempo que vem aí, de vivência do Natal, desejamos que em cada vela, simbolicamente cada português, e por isso os 10 Milhões, possam fazer o seu compromisso com a Paz.
A paz é tantas coisas .... É desde logo sorrir para o vizinho, dar a vez numa fila de trânsito, ou no supermercado, fazer um telefonema, uma visita... a paz global só será possível se houver gestos concretos de paz na vida de cada um... Podem parecer gestos pequenos, quase insignificantes, mas "Há gestos que constroem"..
Que a V. estrela acompanhe os V. "gestos pela paz".
Feliz domingo.