5.11.21

Levar o jornal para a sala de aula é meio caminho andado para uma “cidadania activa”

Isabel Moura, in Público on-line

O jornalismo como ferramenta para o exercício da cidadania e como recurso pedagógico foi tema da acção de formação dirigida a professores.

Decorreu esta quinta-feira, 4 de Novembro, a partir da biblioteca da Escola Secundária Camões, em Lisboa, uma acção de formação destinada a professores promovida pelo Plano Nacional das Artes (PNA) em parceria com o jornal PÚBLICO. Cerca de 420 professores acompanharam, em directo, a sessão com o tema “O jornal como recurso pedagógico”, através do canal Youtube da Direcção-Geral dos Estabelecimentos Escolares.

O evento contou com a presença do Secretário de Estado Adjunto e da Educação, João Costa e do Secretário de Estado do Cinema Audiovisual e Media, Nuno Artur Silva. João Costa referiu-se ao jornal como “um mundo que se abre enquanto recurso pedagógico, na promoção de novas literacias mais aprofundadas, mas também, e sobretudo, na capacidade de trazer a cidadania para dentro das escolas”. Defendeu ainda que “o jornal e a imprensa livre são dos principais sintomas de uma democracia plena”. Trazer o jornal para a escola é, segundo o Secretário de Estado, “trazer o espaço do pluralismo, o espaço do debate, o espaço do diálogo, o espaço do confronto de ideias, mas também o território do conhecimento e não das pseudo-informações que vivem à nossa volta neste momento”. Nuno Artur Silva reforçou a importância dada ao jornalismo acrescentando que “quando o jornalismo está sob ameaça, também a democracia está”. E considerou que “a defesa da democracia faz-se na aula, na escola, com a ajuda do jornalismo”.

Também para o Comissário do PNA, Paulo Pires do Vale, “o papel dos media é fundamental para, nomeadamente, promover uma verdadeira cidadania cultural”. “Queremos muito transformar os media em território educativo. O jornal é território educativo e a escola é também uma produtora mediática”, sustentou.

Conduzida por vários elementos do jornal PÚBLICO, a formação pretendeu demonstrar a importância que o jornalismo pode ter na educação dos mais jovens. O jornal pode ser, como o título da acção sugere, um verdadeiro “recurso pedagógico”

O projecto PÚBLICO na Escola, criado em parceria com o PNA, tem demonstrado isso mesmo. Luísa Gonçalves, coordenadora do projecto sublinhou que “há mundo para além do manual escolar”. A leitura “não deve ser limitada aos textos escolares e trabalhar com conteúdos jornalísticos deve ser uma prática sistemática e regular”. Segundo a jornalista “essa ferramenta permite desenvolver as competências e promover as literacias de informação e dos media, bem como contribui para a cidadania activa, o espírito crítico e a capacidade de argumentação”. Além do mais o jornal é “actual, real, diversificado, multidisciplinar, interdisciplinar e plural”, acrescenta.

Para Manuel Carvalho, director do PÚBLICO, o projecto PÚBLICO na Escola - que promove, incentiva e ajuda na criação de jornais escolares - tem um carácter de responsabilidade social. O director considera que o jornalismo escolar deve ser encarado como “uma ferramenta, um instrumento divertido para que alunos tenham mais consciência ou responsabilidade pelo que se passa na sua escola ou comunidade”, promovendo, assim “uma sociedade mais justa e coesa”. Defende ainda que “uma sociedade com informação de qualidade, baseada na verdade e no interesse colectivo, com a população mais informada, é um espaço mais rico e democrático”, pelo que reconhece o jornalismo como um verdadeiro recurso para a cidadania.

Nesta formação, os professores aprenderam não só como criar um jornal escolar como utilizar os conteúdos jornalísticos em contexto de sala de aulas. Verbos como envolver, perguntar, situar e escolher fazem parte do jargão jornalístico que os professores ficaram a conhecer através da jornalista Bárbara Simões, coordenadora do PÚBLICO na Escola. Teresa Abecassis, jornalista multimédia, indicou ferramentas para construir um jornal escolar, merecendo elogios na caixa dos comentários. Uma das participantes comentou estar “a aprender mais em meia hora do que em horas a fio de capacitação digital”.

Durante o evento foi anunciado o lançamento do concurso “Vamos fazer um plano” que pretende promover o debate sobre cultura, artes e património, fomentar os jornais como recursos pedagógicos para o conhecimento, fomentar a literacia mediática e combater a desinformação. O regulamento será publicado até final do mês. Os cinco vencedores do concurso terão a oportunidade de receber uma mentoria profissional e ver o seu trabalho publicado em duas páginas do jornal PÚBLICO. O objectivo é dar voz aos alunos e às questões culturais.

Texto editado por Rita Ferreira