19.11.21

Faltam professores em quase toda a Europa. Como estão os países a lidar com o problema?

Samuel Silva, in Público on-line

Há 27 sistemas de ensino onde não há docentes suficientes para as necessidades. Envelhecimento e falta de atractividade da profissão são problemas que maioria dos parceiros europeus partilha com Portugal.

Faltam professores, aqueles que estão nas escolas estão a envelhecidos e a profissão perdeu capacidade de atrair os mais jovens. Esta combinação explosiva, que põe em perigo os sistemas de educação, não é um exclusivo português. É comum à maioria dos países europeus e já levarou o Conselho da Europa a reconhecer o problema e a instar os países a tomar medidas.

No mês passado, o jornal Le Figaro lançava a questão, numa manchete: “Por que luta a Educação para recrutar”? O diário francês dava conta de uma diminuição para metade do número de candidatos a entrar na carreira docente nas últimas duas décadas, o que tinha motivado um aumento do número de contratados (sem vínculo ao Estado). Entre as preocupações levantadas estava a qualidade da formação de alguns destes professores.

Em Espanha, as Cortes aprovaram, há um ano, uma nova lei que permite que sejam recrutados professores que ainda não tenham o mestrado habilitante para a profissão, que até agora era exigido. Esta foi a forma encontrada para responder ao problema de falta de professores, que se sente particularmente em algumas das autonomias.

A dimensão do problema no espaço da União foi reconhecida pelo Conselho Europeu, numa reunião em Maio do ano passado. Na declaração saída desse encontro, é reconhecido que os professores respondem hoje a “crescentes exigências, responsabilidades e expectativas”, que têm impacto no seu bem-estar e na atractividade da profissão. Nessa declaração, os responsáveis europeus instam os países a tomar medidas para responder à questão.

“Em alguns países europeus, as escolas estão a debater-se com dificuldades para recrutar professores em certas disciplinas, de tal forma que isso pode prejudicar a sua capacidade de cumprir o currículo”, sublinhava também o último relatório Professores na Europa, publicado em Março pela rede europeia Eurydice.

A “cadeia de oferta e procura” de professores na Europa “parece estar quebrada em vários pontos”, lê-se ainda no relatório, que elenca 27 sistemas de ensino europeus onde há falta de professores para as necessidades, entre os quais estão a França, a Alemanha, o Reino Unido ou a Suíça – a Eurydice analisa todos os países europeus e não apenas os que pertencem à União.

Já Portugal encontra-se num grupo que no documento é classificado como mais “complexo” (onde também estão a Grécia, a Itália e a Espanha), coexistindo um problema de falta de professores com “excesso de oferta” em determinadas áreas disciplinares e zonas geográficas. Segundo a Eurydice, apenas cinco países (Malta, Eslovénia, Eslováquia, Finlândia e Bósnia e Herzegovina) estão numa situação de equilíbrio entre as necessidades de professores e o corpo docente existente.

"Em alguns países europeus, as escolas estão a debater-se com dificuldades para recrutar professores em certas disciplinas, de tal forma que isso pode prejudicar a sua capacidade de cumprir o currículo” Relatório Professores na Europa, publicado em Março pela rede europeia Eurydice.

Paralelismo com o retrato português

A descrição da situação encontrada na Europa tem vários paralelismos com o retrato que tem sido feito do caso português. A falta de professores é “especialmente aguda” em disciplinas específicas como as ciências, as tecnologias e as línguas estrangeiras, aponta o relatório. Em Portugal, a Informática é a área onde, neste momento, há maior falta de professores. Este ano, há também um número elevado de lugares ainda por preencher em Geografia e Física e Química.

Outros problemas comuns aos vários países europeus são a diminuição da atractividade da profissão e o envelhecimento do corpo docente. Há 19 sistemas de ensino – entre os quais se inclui Portugal – que reportam uma diminuição sistemática do número de estudantes que ingressaram nos cursos de formação inicial de professores nos últimos anos. Na mesma situação estão a Alemanha, a França, a Holanda ou a Suécia.

Por outro lado, cerca de 40% dos professores do ensino básico na Europa têm mais de 50 anos. Em países como a Estónia, a Grécia ou a Itália, mais de metade dos docentes deste nível de ensino vão reformar-se nos próximos 15 anos. Portugal surge no grupo seguinte, juntamente com a Alemanha, a Bulgária, a Hungria e a Áustria. Nestes países, prevê-se que 40% a 50% dos docentes deixem as escolas na próxima década e meia.