Luís Villalobos, in Público
Crescimento incide mais no preço, mas deverá haver também subidas ao nível do número de turistas. Banco de Portugal prevê uma subida de 14%, superando os 24 mil milhões de euros de receitas.
Para o sector do turismo, o Verão que se aproxima deverá ser “excelente”, prevendo-se que sejam batidos novos recordes em receitas e, provavelmente, também em número de turistas e dormidas, depois de o ano passado ter sido já superior em receitas face a 2019 (quando tinham sido batidos novos máximos em vários indicadores).
Os primeiros dados oficiais deste ano sinalizam já a manutenção da tendência de crescimento , com uma subida de dois dígitos entre Janeiro e Março tanto em hóspedes como em dormidas nos alojamentos turísticos contabilizados pelo INE face a idêntico período de 2019.
O maior crescimento, no entanto, registou-se nas receitas totais, que subiram 35%, para perto dos 800 milhões de euros, com todas as regiões a registar melhorias face ao período pré-pandemia.
Os números do trimestre, diz a secretária-geral da Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (Ahresp), Ana Jacinto, “dão algum alento para o que se perspectiva ser um ano turístico de novos recordes, tal como foi 2022, que superou os resultados de 2019, aquele que foi o melhor ano turístico de sempre”.
A Páscoa (em Abril), diz, foi um “sucesso” e tudo indica que haverá novos máximos no Verão, o que “é o reconhecimento do trabalho árduo de todos os agentes económicos ligados à actividade turística”.
A vice-presidente da Associação de Hotelaria de Portugal (AHP), Cristina Siza Vieira, cita o inquérito feito por esta entidade, o qual revelou que os hoteleiros antevêem que todos os trimestres deste ano sejam melhores face a 2019 e a 2022 nos principais indicadores (como taxa de ocupação e receitas).
Eduardo Miranda, presidente da Associação do Alojamento Local em Portugal (Alep), nota que o Verão “tem boas perspectivas”, mas que “o aumento do número de turistas não deverá ser a variável principal”, apontando antes para a subida “das receitas por noite, em especial no segmento médio alto dos turistas estrangeiros, reflexo que Portugal está a conquistar o mercado pela qualidade e não pelo preço”.
No entanto, defende, “toda a estratégia e bom desempenho do turismo vai ter os seus dias contados se estas medidas desproporcionais do Mais Habitação” em relação ao alojamento local “avançarem”.
Este será o último Verão antes de serem aplicadas as novas leis propostas pelo Governo, que implicam medidas como uma contribuição extraordinária, a suspensão de novas licenças (e revisão das actuais em 2030) e poderes para os condomínios encerrarem os AL existentes.
Sector a puxar pela economia
O presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP), Francisco Calheiros, afirma também esperar um crescimento do turismo em geral neste Verão, que se antevê como “excelente”.
“Ainda que continuemos infelizmente em situação de guerra, Portugal continua a ser visto como um país seguro, reconhecido pela sua diversidade de oferta e pelo serviço de qualidade, pelo que os turistas nos continuam a escolher”, acrescenta.
Do lado do Governo, o secretário de Estado do Turismo, Comércio e Serviços, Nuno Fazenda, diz que, “considerando os resultados já conhecidos, o aumento do indicador de confiança dos consumidores e do clima económico e, sobretudo, as perspectivas positivas dos empresários baseadas nas reservas turísticas”, tudo aponta “para um ano francamente positivo, que se traduzirá, muito provavelmente, num novo recorde turístico nacional”. “Estes resultados”, acrescenta, “têm impacto na economia real do país: criação de riqueza, emprego e salários para as pessoas”.
De acordo com Nuno Fazenda, “a expectativa é que este Verão seja um dos melhores de sempre”, seguindo a tendência observada neste primeiro trimestre do ano. A Jornada Mundial de Juventude (JMJ) será “um ponto alto deste Verão, que contribuirá para a projecção internacional de Portugal”, assegurando que o Governo “está atento e a monitorizar a potencial pressão aeroportuária e no sector dos transportes”.
A perspectiva positiva dos agentes do sector é acompanhada por análises de instituições como a Comissão Europeia, FMI e Banco de Portugal, que reviram em alta o crescimento da economia para este ano devido ao forte impulso do turismo.
No caso do Banco de Portugal, a instituição liderada por Mário Centeno subiu, no boletim económico de Março, a previsão de receitas (exportações) para o sector este ano. Assim, estas “deverão aumentar 14,5% em 2023, desacelerando posteriormente, num quadro de dissipação dos efeitos da procura adiada durante a pandemia”.
Com esta taxa de crescimento, as receitas deverão chegar aos 24.252 milhões de euros este ano. Para se ter uma ideia de como a recuperação foi mais rápida do que o esperado, em Maio de 2021 a previsão apontava para 18.291 milhões em 2023, ou seja, menos seis mil milhões de euros.
Para este ano, o Banco de Portugal destaca o contributo extraordinário da JMJ, que se realiza em Agosto na região de Lisboa. Também uma análise do departamento de estudos económicos do BPI feita este mês refere que, tendo por base a JMJ, e “o crescimento do turismo originário dos EUA”, associado ao incremento do número de voos, “2023 deverá reunir condições para superar os anteriores máximos quer ao nível de hóspedes, quer de proveitos”.
“Nem tudo é um mar de rosas”
A secretária-geral da Ahresp, Ana Jacinto, não deixa de destacar que “nem tudo é um mar de rosas” no sector, confirmando que a falta de trabalhadores permanece como “um dos problemas centrais”, embora adiante que tem havido melhorias.
O mesmo é sublinhado pela vice-presidente da (AHP), Cristina Siza Vieira: “A grave escassez de recursos humanos na hotelaria mantém-se como um ponto crítico, apesar de se estar a sentir um regresso, ainda que tímido, de pessoas para trabalharem no nosso sector, e a um volume crescente de trabalhadores estrangeiros, como é notório”.
A capacidade do aeroporto de Lisboa em lidar com o aumento do número dos voos é outro dos receios suscitados pelos agentes do sector.
Questionada sobre se, com o aumento de preços, não há o risco de afastar os turistas portugueses das zonas mais procuradas, nomeadamente do Algarve, Ana Jacinto diz que, apesar dos sinais positivos do sector, é preciso ter “muito cuidado no que à rentabilidade das empresas diz respeito, porque é imprescindível assegurarmos a sustentabilidade dos negócios e da manutenção dos postos de trabalho”. Ana Jacinto diz ainda que, no sector da restauração, as empresas continuam “a absorver custos e a não repercutir no consumidor aumentos em igual proporção”.
No caso da AHP, Cristina Siza Vieira começa por destacar que, tradicionalmente, o mercado interno está sempre muito aquém do internacional na hotelaria. “Não obstante o aumento de preços, no Verão o nosso país é, sem dúvida, destino de excelência para os residentes em Portugal”, acrescenta.
Sobre se se corre o risco de haver novamente demasiada pressão turística em algumas áreas, o secretário de Estado do Turismo, Nuno Fazenda, sublinha que o objectivo é que haja um “turismo mais sustentável, mais inclusivo e mais coeso”.
Nas zonas com maior densidade turística, diz, “importa assegurar um equilíbrio entre a actividade turística e a vida nas cidades/destinos, de modo a garantir qualidade de vida para os residentes e, simultaneamente, uma experiência turística positiva e com autenticidade”.
“Por isso”, acrescenta, “o planeamento, a regulação ou a gestão sustentável e dispersão de fluxos turísticos são alguns dos aspectos que devem ser considerados na gestão de destinos turísticos à escala local”.
Em paralelo, diz, “importa ter mais turismo em todo o território, nomeadamente no interior do país”, que pesa apenas 10% da procura do turismo total e 5% do turismo internacional, destacando a aplicação da Agenda do Turismo para o Interior, que conta com 200 milhões de euros e está agora a chegar ao terreno.
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22.5.23
30.8.22
Alimentação, habitação, energia, restaurantes e hotéis com subidas de preços a dois dígitos
in JN
A alimentação, habitação e energia, restaurantes e hotéis são as classes de produtos e serviços cujos preços mais aumentaram entre janeiro e julho, variando, respetivamente, 11,47%, 12,92% e 13,08%, segundo o Índice de preços do INE.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulga esta quarta-feira a estimativa rápida da inflação em agosto, que não contém dados ainda detalhados, sendo estes conhecidos em 12 de setembro.
Medidas. Hotelaria e restauração, agricultura e construção com falta de trabalhadores
Os dados relativos a julho revelaram que a inflação homóloga avançou para 9,1%, superando a subida registada no mês anterior, sendo necessário recuar a novembro de 1992 para encontrar uma variação mais elevada.
A análise do índice de preços do consumidor medida pelo INE indica que entre as 12 classes de produtos de serviços que são consideradas, quatro registam variações de preços de dois dígitos na comparação entre julho e o início do ano, nomeadamente, alimentação e bebidas não alcoólicas; habitação, água, eletricidade e gás; transportes; e restaurantes e hotéis.
Na comparação homóloga, com julho de 2021, além destas categorias de produtos e serviços referidas, há mais uma (a dos acessórios para o lar) com uma subida de dois dígitos.
O agravamento dos preços já vinha a sentir-se desde o ano passado, mas acentuou-se este ano, com o início da guerra na Ucrânia e a forte subida dos preços da energia.
Segundo os dados do INE, a variação homóloga dos preços dos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas avançou 14,0%, e 11,47% na comparação com o início do ano. Na habitação, água, eletricidade e gás, o aumento ascende a 17,7%, face a julho de 2021 e a 12,92% face ao início do ano.
A contribuir para a subida dos preços nesta classe de produtos está a variação dos preços da eletricidade (30,54% face a janeiro) e gás (23,54%).
Na classe que integra os restaurantes e hotéis, os dados do INE apontam para uma subida homóloga de 14,65% e 13,08% face ao início do ano, sendo esta explicada essencialmente pelos serviços de alojamento, com uma variação de 61,21% (face a janeiro), enquanto o serviço de refeições em restaurantes, cafés e similares subiu 4,38%.
A alimentação, habitação e energia, restaurantes e hotéis são as classes de produtos e serviços cujos preços mais aumentaram entre janeiro e julho, variando, respetivamente, 11,47%, 12,92% e 13,08%, segundo o Índice de preços do INE.
O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulga esta quarta-feira a estimativa rápida da inflação em agosto, que não contém dados ainda detalhados, sendo estes conhecidos em 12 de setembro.
Medidas. Hotelaria e restauração, agricultura e construção com falta de trabalhadores
Os dados relativos a julho revelaram que a inflação homóloga avançou para 9,1%, superando a subida registada no mês anterior, sendo necessário recuar a novembro de 1992 para encontrar uma variação mais elevada.
A análise do índice de preços do consumidor medida pelo INE indica que entre as 12 classes de produtos de serviços que são consideradas, quatro registam variações de preços de dois dígitos na comparação entre julho e o início do ano, nomeadamente, alimentação e bebidas não alcoólicas; habitação, água, eletricidade e gás; transportes; e restaurantes e hotéis.
Na comparação homóloga, com julho de 2021, além destas categorias de produtos e serviços referidas, há mais uma (a dos acessórios para o lar) com uma subida de dois dígitos.
O agravamento dos preços já vinha a sentir-se desde o ano passado, mas acentuou-se este ano, com o início da guerra na Ucrânia e a forte subida dos preços da energia.
Segundo os dados do INE, a variação homóloga dos preços dos produtos alimentares e bebidas não alcoólicas avançou 14,0%, e 11,47% na comparação com o início do ano. Na habitação, água, eletricidade e gás, o aumento ascende a 17,7%, face a julho de 2021 e a 12,92% face ao início do ano.
A contribuir para a subida dos preços nesta classe de produtos está a variação dos preços da eletricidade (30,54% face a janeiro) e gás (23,54%).
Na classe que integra os restaurantes e hotéis, os dados do INE apontam para uma subida homóloga de 14,65% e 13,08% face ao início do ano, sendo esta explicada essencialmente pelos serviços de alojamento, com uma variação de 61,21% (face a janeiro), enquanto o serviço de refeições em restaurantes, cafés e similares subiu 4,38%.
11.8.21
Trabalhadores da hotelaria pedem contratação colectiva e dizem que pandemia “não é desculpa”
in Público on-line
Trabalhadores do sector concentraram-se esta terça-feira em frente à sede da AHRESP, em Lisboa.
Mais de uma centena de trabalhadores do sector da hotelaria e turismo concentrou-se hoje em frente à sede da AHRESP, em Lisboa, para reivindicar a contratação colectiva, considerando que a pandemia “não é desculpa” para perder direitos.
“Temos aqui trabalhadores concentrados de norte a sul do país, fomos apresentar uma moção com as principais reivindicações do sector, que são muitas, nomeadamente a contratação colectiva”, disse aos jornalistas a coordenadora da Federação dos Sindicatos de Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (FESAHT), Maria das Dores Gomes.
Concentrados em frente à sede da associação da hotelaria, restauração e similares de Portugal (AHRESP), em Lisboa, os trabalhadores consideraram “fundamental” que a associação empresarial “responda relativamente todos os contratos colectivos de trabalho”.
Segundo Maria das Dores Gomes, “os trabalhadores hoje ganham praticamente o salário mínimo nacional, e portanto é fundamental a contratação colectiva”.
Questionada acerca dos efeitos da pandemia de covid-19 no sector, a dirigente sindical considerou que “não é desculpa, porque houve anos e anos, cerca de sete e oito anos, em que a hotelaria esteve, de facto, em alta, com lucros fabulosos, e aí os trabalhadores não viram as suas condições de vida melhoradas”.
Durante a pandemia, “boa parte das empresas tiveram direito a apoio do Estado, apoios esses com dinheiros públicos”, sinalizando que devido a isso, para a FESAHT, “não foram penalizadas”.
“Estão a ser postos em causa os principais direitos dos trabalhadores, nomeadamente o direito às férias, à conciliação entre a família e o trabalho, uma grande parte das empresas está a impor o banco de horas, portanto neste momento os sindicatos estão muito atentos”, vincou a responsável sindical.
Maria das Dores Gomes denunciou ainda que neste momento as empresas dos vários sectores abrangidos pela FESAHT “vão buscar os estagiários, pagam-lhes apenas o subsídio de alimentação -- nalguns casos, noutros nem isso -- e portanto têm trabalhadores à borla”, falando até em “escravatura”.
“Não é atractivo também para os jovens, porque não estão a ser acompanhados por um profissional. São lançados aos “leões”, como nós costumamos dizer. São estagiários e estão a substituir trabalhadores efectivos. Consideramos que isto é, de facto, um abuso por parte das empresas”, salientou.
A FESAHT entregou à AHRESP uma moção reivindicativa e “pedidos de reuniões ainda para este mês”, segundo Maria das Dores Gomes, devido à questão ser “muito urgente”.
Os trabalhadores em protesto marcharam depois até ao Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, com o objectivo de entregar a moção e solicitar uma reunião com a ministra Ana Mendes Godinho.
Na moção, a que a Lusa teve acesso, os trabalhadores exigem a “reabertura imediata de todas as empresas e estabelecimentos”, a “reposição de todos os direitos dos trabalhadores retirados desde o início da pandemia”, o “pagamento dos salários em atraso” e a “integração nos quadros de todos os trabalhadores despedidos”.
É ainda exigido “respeito pelos direitos dos trabalhadores”, a “negociação da contratação colectiva”, o “aumento salarial mínimo de 90 euros para todos os trabalhadores” e a “anulação de todas as restrições e condicionalismos desnecessários”.
Trabalhadores do sector concentraram-se esta terça-feira em frente à sede da AHRESP, em Lisboa.
Mais de uma centena de trabalhadores do sector da hotelaria e turismo concentrou-se hoje em frente à sede da AHRESP, em Lisboa, para reivindicar a contratação colectiva, considerando que a pandemia “não é desculpa” para perder direitos.
“Temos aqui trabalhadores concentrados de norte a sul do país, fomos apresentar uma moção com as principais reivindicações do sector, que são muitas, nomeadamente a contratação colectiva”, disse aos jornalistas a coordenadora da Federação dos Sindicatos de Alimentação, Bebidas, Hotelaria e Turismo de Portugal (FESAHT), Maria das Dores Gomes.
Concentrados em frente à sede da associação da hotelaria, restauração e similares de Portugal (AHRESP), em Lisboa, os trabalhadores consideraram “fundamental” que a associação empresarial “responda relativamente todos os contratos colectivos de trabalho”.
Segundo Maria das Dores Gomes, “os trabalhadores hoje ganham praticamente o salário mínimo nacional, e portanto é fundamental a contratação colectiva”.
Questionada acerca dos efeitos da pandemia de covid-19 no sector, a dirigente sindical considerou que “não é desculpa, porque houve anos e anos, cerca de sete e oito anos, em que a hotelaria esteve, de facto, em alta, com lucros fabulosos, e aí os trabalhadores não viram as suas condições de vida melhoradas”.
Durante a pandemia, “boa parte das empresas tiveram direito a apoio do Estado, apoios esses com dinheiros públicos”, sinalizando que devido a isso, para a FESAHT, “não foram penalizadas”.
“Estão a ser postos em causa os principais direitos dos trabalhadores, nomeadamente o direito às férias, à conciliação entre a família e o trabalho, uma grande parte das empresas está a impor o banco de horas, portanto neste momento os sindicatos estão muito atentos”, vincou a responsável sindical.
Maria das Dores Gomes denunciou ainda que neste momento as empresas dos vários sectores abrangidos pela FESAHT “vão buscar os estagiários, pagam-lhes apenas o subsídio de alimentação -- nalguns casos, noutros nem isso -- e portanto têm trabalhadores à borla”, falando até em “escravatura”.
“Não é atractivo também para os jovens, porque não estão a ser acompanhados por um profissional. São lançados aos “leões”, como nós costumamos dizer. São estagiários e estão a substituir trabalhadores efectivos. Consideramos que isto é, de facto, um abuso por parte das empresas”, salientou.
A FESAHT entregou à AHRESP uma moção reivindicativa e “pedidos de reuniões ainda para este mês”, segundo Maria das Dores Gomes, devido à questão ser “muito urgente”.
Os trabalhadores em protesto marcharam depois até ao Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, com o objectivo de entregar a moção e solicitar uma reunião com a ministra Ana Mendes Godinho.
Na moção, a que a Lusa teve acesso, os trabalhadores exigem a “reabertura imediata de todas as empresas e estabelecimentos”, a “reposição de todos os direitos dos trabalhadores retirados desde o início da pandemia”, o “pagamento dos salários em atraso” e a “integração nos quadros de todos os trabalhadores despedidos”.
É ainda exigido “respeito pelos direitos dos trabalhadores”, a “negociação da contratação colectiva”, o “aumento salarial mínimo de 90 euros para todos os trabalhadores” e a “anulação de todas as restrições e condicionalismos desnecessários”.
6.8.21
O Mezze Escola quer formar refugiados e imigrantes na área da restauração
Mariana Marques Tiago, in Público on-line
A parceria entre a Associação Pão a Pão e a Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa visa capacitar refugiados e imigrantes e prepará-los para um futuro melhor. Há 20 vagas para a formação (que começa em Setembro) e as candidaturas já abriram.
Em 2017 o Mercado de Arroios via nascer o restaurante Mezze, pautado por uma característica diferente: além de servir comida do Médio Oriente, todos os funcionários eram refugiados sírios. Na época, antes da grande abertura, tinha sido estabelecido um protocolo com a Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa (EHTL) no qual os refugiados recebiam uma formação de um mês que os capacitava e diminuía a dificuldade em encontrar emprego por falta de experiência laboral.
Agora, quatro anos depois da abertura do restaurante – que acabou por se tornar auto-suficiente – a associação que tornou tudo isto possível tomou a decisão de “recuperar a parceria, mas de forma mais consolidada e estruturada”.
Quem o diz é Francisca Gorjão Henriques, presidente da Associação Pão a Pão, fundada em 2016 “já com o propósito de criar o Mezze”. Mas agora, tendo por objectivo dar resposta a necessidades identificadas ao longo destes quatro anos, a associação, apoiada pelo Programa Cidadãos Ativ@s da Gulbenkian e em parceria com a EHTL, lançou o Mezze Escola, uma formação para refugiados e imigrantes.
“Desenvolvemos uma formação com base no curso de um mês e juntámos a experiência no Mezze enquanto entidade empregadora”, explica a responsável. Os seis meses de duração da formação dividem-se em três meses de componente teórico-prática leccionada na EHTL e três meses de componente prática em contexto real de trabalho no Mezze.
Após a formação de 540 horas que terá início a 15 de Setembro e término a 27 de Março de 2022, a associação vai continuar a apoiar os formandos através de parcerias: “a associação juntará empregadores a formandos para facilitar a entrada no mercado de trabalho e acompanhar o seu percurso. Já há parcerias apalavradas”, admite Francisca Gorjão Henriques, acrescentando que não tem dúvidas de que se vão realizar.
O curso, gratuitamente assegurado aos seleccionados, dá formação em técnicas de cozinha e sala, mas também de português, sustentabilidade, direito laboral e literacia financeira. Para Francisca é importante que os recém-chegados ao país conheçam os seus direitos e deveres e se possam proteger. “É preciso explicar como as coisas funcionam em Portugal para que não haja desconfiança. Por exemplo pagar impostos! Muitos não percebiam o porquê de os termos de pagar. Temos que explicar que não é uma opção, há que pagar”, explica.
Já no que toca ao ensino da língua, a justificação é rápida e fácil: “sem conhecer a língua do país a integração é mais difícil, se é que chega a existir integração”. Além disso, partilha a presidente, no restaurante Mezze rapidamente perceberam que quem está na cozinha tem uma aprendizagem mais lenta, já que não comunica tanto com os clientes de outras nacionalidades.
Nesta primeira edição o programa contempla 20 alunos – sendo que todos terão acesso à formação na escola – mas apenas dez vão cumprir todo o programa e ter a formação prática no Mezze. No entanto, há critérios. Apenas se podem candidatar maiores de idade que sejam: imigrantes, refugiados ou requerentes de asilo, que tenham título de residência, NIF e NISS e, no mínimo, nível A2 em língua portuguesa. Além disso têm que ter disponibilidade para trabalhar por turnos rotativos.
Por sua vez, os critérios de preferência para se ser seleccionado passam por não beneficiar de apoio de acolhimento do Estado, ser mulher, ter até 30 anos, saber falar árabe e estar no país há, pelo menos, três anos. Além disto, a Mezze Escola valoriza ainda a paixão pela restauração e alguma experiência na área. As candidaturas para a formação já estão abertas e podem ser realizadas através do preenchimento do formulário de inscrição, havendo depois uma entrevista e, por fim, uma selecção final dos candidatos.
Francisca considera que este novo programa ajuda a “definir o foco e objectivo que temos enquanto associação. É uma parceria muito útil para perceber qual é o papel da associação além do restaurante”. Em simultâneo, diz, “ajuda a rebentar a bolha da língua e cultura” que existe no Mezze, podendo até estimular quem já lá trabalha, na medida em que “conhecem novas pessoas e novas culturas”.
Actualmente trabalham no restaurante 13 funcionários. “Mas estamos prestes a ir aos 15 porque procuramos um chefe de cozinha para dar formação e mais alguém para a sala”, anuncia Francisca. O restaurante viu-se “muitíssimo afectado” devido à pandemia, motivo pelo qual foi necessário recorrer a um crédito bancário, já que, após o primeiro mês, ficou cada vez mais difícil pagar os salários. No entanto, Francisca e a sua equipa orgulham-se por não ter despedido ninguém durante esta fase.
Agora, a única diferença no estabelecimento que em breve receberá dez novos funcionários reside na mesa corrida que enche a sala de refeição, imagem de marca do restaurante. Anteriormente quatro mesas, unidas, formavam uma só, no entanto “há um mês as mesas foram afastadas para as pessoas se sentirem mais confortáveis e seguras… Mas o plano é, assim que isto melhorar, serem juntas outra vez”, afirma a responsável com determinação.
“Mezze” significa refeição com vários pratos para partilhar entre amigos e família. É símbolo de partilha de cultura e identidade e, a Mezze Escola espera poder continuar a contribuir para o enriquecimento deste momento.
A parceria entre a Associação Pão a Pão e a Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa visa capacitar refugiados e imigrantes e prepará-los para um futuro melhor. Há 20 vagas para a formação (que começa em Setembro) e as candidaturas já abriram.
Em 2017 o Mercado de Arroios via nascer o restaurante Mezze, pautado por uma característica diferente: além de servir comida do Médio Oriente, todos os funcionários eram refugiados sírios. Na época, antes da grande abertura, tinha sido estabelecido um protocolo com a Escola de Hotelaria e Turismo de Lisboa (EHTL) no qual os refugiados recebiam uma formação de um mês que os capacitava e diminuía a dificuldade em encontrar emprego por falta de experiência laboral.
Agora, quatro anos depois da abertura do restaurante – que acabou por se tornar auto-suficiente – a associação que tornou tudo isto possível tomou a decisão de “recuperar a parceria, mas de forma mais consolidada e estruturada”.
Quem o diz é Francisca Gorjão Henriques, presidente da Associação Pão a Pão, fundada em 2016 “já com o propósito de criar o Mezze”. Mas agora, tendo por objectivo dar resposta a necessidades identificadas ao longo destes quatro anos, a associação, apoiada pelo Programa Cidadãos Ativ@s da Gulbenkian e em parceria com a EHTL, lançou o Mezze Escola, uma formação para refugiados e imigrantes.
“Desenvolvemos uma formação com base no curso de um mês e juntámos a experiência no Mezze enquanto entidade empregadora”, explica a responsável. Os seis meses de duração da formação dividem-se em três meses de componente teórico-prática leccionada na EHTL e três meses de componente prática em contexto real de trabalho no Mezze.
Após a formação de 540 horas que terá início a 15 de Setembro e término a 27 de Março de 2022, a associação vai continuar a apoiar os formandos através de parcerias: “a associação juntará empregadores a formandos para facilitar a entrada no mercado de trabalho e acompanhar o seu percurso. Já há parcerias apalavradas”, admite Francisca Gorjão Henriques, acrescentando que não tem dúvidas de que se vão realizar.
O curso, gratuitamente assegurado aos seleccionados, dá formação em técnicas de cozinha e sala, mas também de português, sustentabilidade, direito laboral e literacia financeira. Para Francisca é importante que os recém-chegados ao país conheçam os seus direitos e deveres e se possam proteger. “É preciso explicar como as coisas funcionam em Portugal para que não haja desconfiança. Por exemplo pagar impostos! Muitos não percebiam o porquê de os termos de pagar. Temos que explicar que não é uma opção, há que pagar”, explica.
Já no que toca ao ensino da língua, a justificação é rápida e fácil: “sem conhecer a língua do país a integração é mais difícil, se é que chega a existir integração”. Além disso, partilha a presidente, no restaurante Mezze rapidamente perceberam que quem está na cozinha tem uma aprendizagem mais lenta, já que não comunica tanto com os clientes de outras nacionalidades.
Nesta primeira edição o programa contempla 20 alunos – sendo que todos terão acesso à formação na escola – mas apenas dez vão cumprir todo o programa e ter a formação prática no Mezze. No entanto, há critérios. Apenas se podem candidatar maiores de idade que sejam: imigrantes, refugiados ou requerentes de asilo, que tenham título de residência, NIF e NISS e, no mínimo, nível A2 em língua portuguesa. Além disso têm que ter disponibilidade para trabalhar por turnos rotativos.
Por sua vez, os critérios de preferência para se ser seleccionado passam por não beneficiar de apoio de acolhimento do Estado, ser mulher, ter até 30 anos, saber falar árabe e estar no país há, pelo menos, três anos. Além disto, a Mezze Escola valoriza ainda a paixão pela restauração e alguma experiência na área. As candidaturas para a formação já estão abertas e podem ser realizadas através do preenchimento do formulário de inscrição, havendo depois uma entrevista e, por fim, uma selecção final dos candidatos.
Francisca considera que este novo programa ajuda a “definir o foco e objectivo que temos enquanto associação. É uma parceria muito útil para perceber qual é o papel da associação além do restaurante”. Em simultâneo, diz, “ajuda a rebentar a bolha da língua e cultura” que existe no Mezze, podendo até estimular quem já lá trabalha, na medida em que “conhecem novas pessoas e novas culturas”.
Actualmente trabalham no restaurante 13 funcionários. “Mas estamos prestes a ir aos 15 porque procuramos um chefe de cozinha para dar formação e mais alguém para a sala”, anuncia Francisca. O restaurante viu-se “muitíssimo afectado” devido à pandemia, motivo pelo qual foi necessário recorrer a um crédito bancário, já que, após o primeiro mês, ficou cada vez mais difícil pagar os salários. No entanto, Francisca e a sua equipa orgulham-se por não ter despedido ninguém durante esta fase.
Agora, a única diferença no estabelecimento que em breve receberá dez novos funcionários reside na mesa corrida que enche a sala de refeição, imagem de marca do restaurante. Anteriormente quatro mesas, unidas, formavam uma só, no entanto “há um mês as mesas foram afastadas para as pessoas se sentirem mais confortáveis e seguras… Mas o plano é, assim que isto melhorar, serem juntas outra vez”, afirma a responsável com determinação.
“Mezze” significa refeição com vários pratos para partilhar entre amigos e família. É símbolo de partilha de cultura e identidade e, a Mezze Escola espera poder continuar a contribuir para o enriquecimento deste momento.
8.2.21
Três mil empresas pediram apoio às rendas nas primeiras 24 horas
Victor Ferreira, in Público on-line
A dotação inicial de 150 milhões de euros, metade do prometido pelo Governo, será reforçada no caso de vir a ser necessário, garante o Ministério da Economia.
Três mil empresas pediram apoio para pagamento das rendas nas primeiras 24 horas do prazo de candidatura deste auxílio, que abriu na quinta-feira passada.
Os dados são do Banco de Portugal, fornecidos ao PÚBLICO pelo Ministério da Economia. Segundo o aviso do programa Apoiar Rendas, criado pelo Governo como medida de combate aos efeitos económicos da pandemia de covid-19, a dotação inicial deste programa de apoio ao pagamento de rendas é de 150 milhões de euros.
Esse montante é metade dos 300 milhões de que o Governo falou quando apresentou a medida, mas o gabinete do ministro da Economia diz, em resposta a questões do PÚBLICO, que aquela dotação de 150 milhões “será reforçada no caso de vir a ser necessário”.
As 3000 candidaturas já apresentadas até às 17h de sexta-feira totalizam um apoio solicitado de aproximadamente 8,6 milhões de euros, segundo os mesmos dados.
São elegíveis empresários em nome individual, micro, pequenas e médias empresas e sociedade que tenham até 250 trabalhadores e não ultrapassem os 50 milhões de euros de facturação anual.
Terão de estar em situação de crise empresarial, com quebras entre 25% e 40%. Terão direito a um subsídio equivalente a 30% da renda devida em seis meses. O apoio mensal máximo é de 1200 euros e o primeiro pagamento foi adiantado para a segunda quinzena de Fevereiro, segundo promessa feita pelo ministro da Economia em meados de Janeiro.
Quem tiver quebras de 40% ou mais, terá direito a 50% da renda, até ao limite de 2000 euros de apoio por mês.
Trabalhadores independentes com contabilidade organizada também são elegíveis, segundo a documentação já disponibilizada (aqui, em PDF).
O apoio máximo por empresa ascende a 40 mil euros, no total dos seis meses. Cada candidato está limitado a uma candidatura. As candidaturas são feitas através do serviço Balcão 2020.
Este apoio a fundo perdido será financiado por verbas do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (Feder), que contribui com 100 milhões, e por uma componente de financiamento nacional de 50 milhões, segundo o aviso.
A dotação inicial de 150 milhões de euros, metade do prometido pelo Governo, será reforçada no caso de vir a ser necessário, garante o Ministério da Economia.
Três mil empresas pediram apoio para pagamento das rendas nas primeiras 24 horas do prazo de candidatura deste auxílio, que abriu na quinta-feira passada.
Os dados são do Banco de Portugal, fornecidos ao PÚBLICO pelo Ministério da Economia. Segundo o aviso do programa Apoiar Rendas, criado pelo Governo como medida de combate aos efeitos económicos da pandemia de covid-19, a dotação inicial deste programa de apoio ao pagamento de rendas é de 150 milhões de euros.
Esse montante é metade dos 300 milhões de que o Governo falou quando apresentou a medida, mas o gabinete do ministro da Economia diz, em resposta a questões do PÚBLICO, que aquela dotação de 150 milhões “será reforçada no caso de vir a ser necessário”.
As 3000 candidaturas já apresentadas até às 17h de sexta-feira totalizam um apoio solicitado de aproximadamente 8,6 milhões de euros, segundo os mesmos dados.
São elegíveis empresários em nome individual, micro, pequenas e médias empresas e sociedade que tenham até 250 trabalhadores e não ultrapassem os 50 milhões de euros de facturação anual.
Terão de estar em situação de crise empresarial, com quebras entre 25% e 40%. Terão direito a um subsídio equivalente a 30% da renda devida em seis meses. O apoio mensal máximo é de 1200 euros e o primeiro pagamento foi adiantado para a segunda quinzena de Fevereiro, segundo promessa feita pelo ministro da Economia em meados de Janeiro.
Quem tiver quebras de 40% ou mais, terá direito a 50% da renda, até ao limite de 2000 euros de apoio por mês.
Trabalhadores independentes com contabilidade organizada também são elegíveis, segundo a documentação já disponibilizada (aqui, em PDF).
O apoio máximo por empresa ascende a 40 mil euros, no total dos seis meses. Cada candidato está limitado a uma candidatura. As candidaturas são feitas através do serviço Balcão 2020.
Este apoio a fundo perdido será financiado por verbas do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (Feder), que contribui com 100 milhões, e por uma componente de financiamento nacional de 50 milhões, segundo o aviso.
25.1.21
“Os empresários começam a ter dificuldade em compreender algumas medidas”
Luís Villalobos, Victor Ferreira (texto) e Daniel Rocha (fotografias), in Público on-line
Para a secretária-geral da Ahresp, Ana Jacinto, é preciso um equilíbrio as medidas sanitárias e os impactos na economia e, nesse ponto, “o Governo tem tido algumas dificuldades, porque as medidas aparecem de forma tardia, complexa”. E os sectores que representa “estão a sofrer há um ano”.
Ana Jacinto, secretária-geral da Ahresp - Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, afirma que os sectores ligados à restauração e ao alojamento estão a ficar numa situação cada vez mais difícil, e que os apoios, além de demorarem a chegar ao terreno, “quando são regulamentados e colocados à disposição das empresas, verifica-se que nem todas são elegíveis”. Recentemente, diz, o Governo tem feito melhorias, mas é preciso maior agilidade e “o dinheiro tem de entrar nas empresas”, porque senão haverá mais despedimentos. Sobre as moratórias, defende que se está apenas a “empurrar com a barriga” um problema e que as condições de acessibilidade aos apoios alicerçados na manutenção dos postos de trabalho “começam a estrangular as empresas”.
Como encara as novas restrições anunciadas pelo Governo?
Não temos comentado as restrições sanitárias, porque não estamos habilitados. Não temos informação técnica suficiente e portanto acreditamos que o Governo tenha informação que nós desconhecemos e que o leve a tomar estas decisões difíceis, mas cruciais. O sector já estava numa situação muito débil e está a ficar cada vez pior.
O Governo deveria sustentar as decisões com dados?
É verdade, até porque os nossos empresários começam a ter dificuldade em compreender algumas destas medidas. Há actividades encerradas desde Março de 2020, temos restrições desde sempre, seja nos horários, seja na capacidade e nem assim os números da pandemia têm baixado. Há muitos empresários a questionarem-nos sobre este tema. A ser assim, é preciso fazer o tal equilíbrio difícil entre estas medidas sanitárias e a economia. E é nesse ponto que o Governo tem tido algumas dificuldades, porque as medidas aparecem de forma tardia, complexa e estes sectores estão a sofrer há um ano. Se no início de Março, no primeiro confinamento, estas empresas ainda tinham algumas reservas, porque vínhamos de um ano positivo e foi possível aguentar o confinamento, agora estamos há um ano com estas restrições, com estas quebras de facturação, o que torna tudo muito mais complicado. À data de hoje, era preciso que o Governo tivesse capacidade de injectar apoios, dinheiro a fundo perdido nas empresas, e está a ser muito difícil. Como sabem, é verdade que o Governo anunciou medidas importantes a 10 de Dezembro, digo importantes porque estão em linha com as propostas da Ahresp, só que demoraram mais de um mês para que pudessem ser regulamentadas e muitas delas ainda não estão disponíveis...
Por que demora tanto tempo entre o anúncio e a concretização?
Não sabemos. O que sabemos é que não se pode demorar este tempo todo. Elas demoram a ser anunciadas, demoram a ser regulamentadas e agora mesmo ainda há algumas que não estão ao dispor das empresas. As nossas primeiras propostas são de Março. E à medida que o tempo vai passando, fica cada vez mais difícil.
Mas quando perguntam ao Governo por que se demora esse tempo, qual é a resposta que vos dão? Ou nunca questionaram o Governo?
Nunca nos deram uma explicação, são opções. A explicação é aquela que todos conhecemos: a falta de recursos, de ferramentas que o país não tem. Os recursos não são infindáveis, mas têm de ser tomadas opções, desde o início sabemos que há uma preocupação de apoiar a economia no seu todo, e desde o início que dizemos que há sectores que têm de ser apoiados de forma diferente, porque sentem o impacto negativo da pandemia de forma diferente.
Sentem que não têm sido prioridade?
Agora sim, mas de forma muito tardia. Estamos nesta pandemia há quase um ano, estes últimos apoios são relevantes, porque apontam para o reforço da tesouraria das empresas, para as rendas e para a manutenção dos postos de trabalho. A verdade é que demoraram muito tempo. E depois não é só a demora. É que quando são regulamentados e colocados à disposição das empresas, verifica-se que nem todas são elegíveis. E que nem todas conseguem aceder...
Uma coisa são anúncios e boas vontades. Outra coisa é saber se o empresário consegue ou não ir lá buscar dinheiroAna Jacinto, secretária-geral da AHRESP
Quantos estabelecimentos fecham com estas novas medidas e em que sectores se sentirá mais o impacto?
No último inquérito, referente a Dezembro, que ainda não contempla as medidas agora anunciadas e o embate do encerramento em Janeiro, 39% das empresas de restauração e bebidas dizem que não vão abrir. Sendo que muitas delas são as que estão a ser afectadas há mais tempo, designadamente os tais bares e discotecas que estão fechados há quase um ano. Estas são as que estão em maior dificuldade, mas 39% são muitas empresas. Empregávamos 400 mil pessoas directas e estamos a falar de muitos trabalhadores e empresas. No caso do alojamento turístico, o número é menos elevado, com 16% das empresas a dizerem que não vão abrir, sendo que muitas delas estão completamente encerradas já há muito tempo, não por decreto, mas porque não há turistas internacionais e, por força destas restrições, também não terão turistas nacionais.
Que evolução espera desses números face às medidas agora anunciadas?
Tudo depende da capacidade de apoiar estas microempresas. Uma coisa são anúncios e boas vontades. Outra coisa é saber se o empresário consegue ou não ir lá buscar dinheiro. Se o Governo for incapaz de colocar esses apoios rapidamente na generalidade das empresas, obviamente que estes 39% que não abririam porta em Dezembro vão crescer, porque não aguentarão os seus negócios apenas com o delivering e o take-away, que são modalidades residuais.
Quais têm sido as razões que impedem as empresas de acederem aos apoios?
O sector é composto por microempresas e logo daí vem uma dificuldade que é a capacitação dos empresários para preencherem formulários e perceberem as vírgulas dos diplomas. Aparentemente é sempre tudo muito simples, mas depois quando chegamos aos empresários que estão nesta situação dramática há tanto tempo, muito desorientados, obviamente não sabem a quem se dirigir, como fazer, o que preencher. Temos apoios que são complexos, designadamente o caso do Apoio à Retoma, que é muito complexo e exigia da parte das empresas informação mensal e isso revelou-se praticamente ineficaz no nosso sector de actividade. Poucas foram as empresas que recorreram ao Apoio à Retoma. Precisamos que os apoios à manutenção do emprego sejam mais ágeis e simples. Depois, há outro detalhe que é a exclusão de muitas empresas. Na primeira versão do programa Apoiar não se incluía os empresários em nome individual sem contabilidade organizada. Ora, no nosso sector, estes são 70%! São muitas empresas que não têm contabilidade organizada porque não têm de ter, não são obrigadas e só por isso eram excluídas de um apoio, o que não fazia sentido algum.
Por que acha que foram excluídos?
A resposta que tivemos é que se devia a regras comunitárias. Pelos vistos, o Governo resolveu o problema e agora incluiu este número enorme de empresários em nome individual que ficavam de fora. Esteve bem, mas demorámos tempo a incluir estes empresários e a cada dia que passa há quem venha à Ahresp dizer que não aguenta mais e vai fechar. Portanto, há medidas que são importantes, mas quando vamos ver as vírgulas, percebe-se que os apoios serão para uma minoria. Sejamos justos: o Governo tem feito melhorias importantes. Mas temos de ser mais ágeis e rápidos e o dinheiro tem de entrar nas empresas.
Por que pedem o layoff simplificado para as empresas que vos fornecem serviços, que não estão legalmente obrigadas a encerrar, quando têm acesso ao Apoio à Retoma se tiverem quebras de facturação de pelo menos 25%? Esse vosso pedido não é complicar tudo e tornar tudo igual, quando não é?
O Apoio à Retoma é um processo mais complexo, que exige mais burocracia. Por outro lado, o desconto na TSU não é de 100% como no layoff. Portanto, aquele apoio pode não ser tão benéfico, sendo que estas empresas ficam na mesma circunstância que as outras que encerram, porque se a empresa está fechada, por culpa do teletrabalho ou porque a lei assim o dita, não se justifica que essas empresas não possam ter o mesmo mecanismo de apoio.
Mas são muitas empresas?
São algumas. Pense no alojamento turístico, que não tem o apoio do layoff simplificado, porque não foi obrigado a encerrar. Mas a verdade é que todas estas medidas têm impacto nessa actividade. Há muitas unidades que já estavam fechadas e agora, por culpa destas restrições à circulação, também não se justifica manterem-se abertas. É um facto que podem ir ao Apoio à Retoma, mas não faz sentido estarem nas mesmas circunstâncias porque, no fundo, a única diferença é que não existe um diploma a dizer “encerre-se”. Porém, quando dizemos às pessoas “fiquem em casa”, então os hotéis ficam sem clientes. Portanto, por que estamos a burocratizar com o Apoio à Retoma, se temos o layoff simplificado e as condições destas empresas são, afinal, similares?
Já propuseram isso ao Governo?
Para as empresas prestadoras de serviços ainda não, mas sobre o alojamento já temos falado.
E qual foi a resposta?
Dizem que estão a analisar.
O Governo avançou logo em Março com apoio a planos de formação. Qual foi a adesão nos vossos sectores, estão satisfeitos com essa adesão e o que têm dito as empresas?
Voltamos ao mesmo problema. Este sector é dominado por microempresas. Criámos uma academia na Ahresp para neste período podermos reforçar a capacitação dos trabalhadores e empresários. Intensificámos as formações, mas os números que temos não são de muita adesão, como poderiam ser, por causa das dificuldades que têm em perceber como é que o mecanismo funciona. Não tenho dados concretos sobre quantas empresas recorreram a esses planos de formação, mas não é a adesão que poderia ser.
O apoio pode ser melhorado?
Temos de estar mais próximos dos empresários. Não chega anunciar. Um dos problemas que temos sinalizado é a falta de informação clara e precisa. Todos assistimos a diplomas que saem em cima da hora, que entram em vigor de um dia para o outro e que são complexos, medidas que hoje saem e amanhã são alteradas... As empresas da restauração e do alojamento precisam de planeamento. Veja-se o que aconteceu no fim do ano. Uns dias antes, estávamos a dizer aos empresários: “Faça compras, adquira serviços e prepare-se, porque pode fazer a ceia de fim de ano”. Passados uns dias, estávamos a dizer-lhes: “Contratou? Olhe, paciência. Comprou matéria-prima? Vai ter de deitar fora porque, afinal, vão ter de fechar as portas”. Isto é inconcebível. É preciso planear, é muito difícil esta alteração constante das regras.
Por causa dessa necessidade de ajuda na informação, a Ahresp ganhou associados? Ou registam uma quebra, devido à crise?
Temos tido muitos novos associados, porque precisam, mas também temos muitos que já não conseguem pagar quotas e a Ahresp vive da quotização, exclusivamente. O microempresário sempre recorreu muito ao técnico de contas, mas também estes têm dificuldades, até porque muitas empresas não conseguem garantir os pagamentos.
Alguns dos encargos estarão a ser diferidos com as moratórias. O que vai acontecer quando estas caducarem?
Nós sempre pedimos ao Governo isenções em vez de moratórias, enquanto estivéssemos neste estado de gravidade. Não foram essas as opções e agora já estamos a pedir extensões de moratórias. Por exemplo, estamos a pedir ao Governo que prolongue os apoios do Turismo de Portugal para as microempresas, que já têm o período de carência a caducar. As empresas não têm capacidade de pagar. As moratórias não foram uma boa opção, porque não sabemos quando é vai haver retoma e sabemos que não vamos ter logo filas e filas de clientes à porta e que vai ser tudo um mar de rosas. Vai ser difícil recuperar a confiança. A moratória é um alívio, mas estamos só a empurrar com a barriga. Tal como nas linhas de crédito. Sempre dissemos que era preferível o apoio a fundo perdido, mas só fomos ouvidos agora, numa fase já muito tardia.
As linhas não servem?
Mais uma vez, não chegam a todos. Tivemos inúmeras empresas que não conseguiram apoio na banca.
Porquê?
Apesar de a banca estar impedida de pedir garantias bancárias, estar obrigada a respeitar prazos de resposta, nada disto aconteceu para muitas microempresas. Estas foram muitas vezes confrontadas com exigências de garantias pessoais e patrimoniais, com prazos intermináveis, com respostas imediatas sem análise de processo a dizerem que a empresa não era elegível... A maioria não conseguiu apoio e aquelas que conseguiram criaram dívida que terá de ser paga mais tarde, sem sabermos como nem quando, porque desconhecemos o futuro.
Esses pedidos da banca incidiam sobre a percentagem não garantida pelo Estado?
Sim. Muitas instituições bancárias, e nós confrontámos cada uma delas e demos nota disto ao Governo e até ao Presidente da República, estavam, indevidamente, a exigir às microempresas garantias pessoais e patrimoniais para terem o crédito aprovado. Algo que o Governo impediu. Mas na prática não era o que acontecia.
Mas qual é o retrato geral?
Muitos empresários meteram na empresa as suas poupanças, tudo o que tinham e agora estão numa situação muito difícil. E outros recorreram à banca.
Foi uma minoria?
Não diria uma minoria. As empresas mais estruturadas estão apoiadas em crédito bancário. Mas as empresas mais pequenas não conseguiram, e outras evitaram esses mecanismos, até porque provavelmente não conseguiriam se se tivessem candidatado.
São essas as que correspondem aos tais 31% de empresas da restauração que não pagaram o salário por inteiro em Dezembro, segundo os dados do vosso barómetro?
Há muitos que recorreram ao crédito à banca, que foi ao layoff simplificado, que passou pelo Apoio à Retoma e mesmo assim está a chegar a um ponto de ruptura. Estes apoios ajudam mas não pagam os encargos todos. Não se esqueçam que 60% das empresas inquiridas reporta quebras de facturação acima de 60%. No caso do alojamento, temos 60% a reportar quebras acima de 80%. Isto tudo em Dezembro! Neste cenário, chega-se a um ponto em que se esgota tudo e já nem os apoios adiantam nem ajudam a assegurar todos os encargos.
Os despedimentos vão continuar a crescer?
Se não tivermos a capacidade de agilizarmos todos aqueles apoios que estão a ser regulamentados, acho que sim. Na restauração e bebidas, quase metade das empresas já estão a fazer despedimentos. O que levanta outro problema, porque estes apoios estão alicerçados na manutenção dos postos de trabalho e muitas empresas já não conseguem fazer isso. As condições de acessibilidade aos apoios começam a estrangular as empresas.
Quando vier a retoma, a tendência geral será contratar com salário abaixo daquele que praticavam quando despediram?
É uma pergunta difícil de responder. Há bem pouco tempo, a Ahresp dizia que temos um problema de falta de mão-de-obra qualificada, que encaixaríamos 40 mil pessoas se as tivéssemos porque o sector é líder de empregabilidade. Dizíamos isto há ano e meio e precisamos de manter os postos de trabalho em que as empresas investiram ao longo destes anos.
Mas muitos já foram destruídos...
Segundo o INE, sem os meses do último trimestre, que foram dramáticos, perdemos já quase 50 mil postos de trabalho e muitos ainda se vão perder. Precisávamos de os manter, não vamos ter essa capacidade. Quando vamos voltar a contratar, como e de que forma, não sabemos. O foco é manter o que temos. Porque se destruímos este tecido, vão ser anos para retomarmos o nível que atingimos. Ainda havia caminho a fazer, dignificar as carreiras e melhorar o salário, e nós iríamos lá chegar e estávamos a fazer um caminho que agora ficou estagnado.
Se os apoios, que agora estão a ser regulamentados, chegarem efectivamente à maioria das empresas, para não dizer à totalidade, é evidente que o clima acalmaAna Jacinto, secretária-geral da AHRESP
Em Abril do ano passado, numa entrevista ao PÚBLICO já em contexto de pandemia, e questionada sobre se as pessoas poderiam ter algum receio de voltar a frequentar restaurantes e hotéis, respondeu de forma afirmativa, admitindo ainda que o perfil dos clientes poderia estar em mudança. O que é que sente agora?
Bom, agora não temos clientes. Temos os restaurantes e os hotéis basicamente fechados. Agora, estou convencida que quando pudermos ter liberdade de circulação e retomarmos a possibilidade de viajar, o perfil do nosso consumidor, do nosso turista, certamente será outro. Será muito mais preocupado com as questões de saúde pública, questões sanitárias, irá procurar locais menos massificados. Temos de estar preparados para os muitos desafios que vão chegar. No curto prazo, temos três grandes desafios. O da sobrevivência, porque senão nem vale a pena estar a falar do perfil do novo turista ou da retoma se não tivermos empresas. E a sobrevivência só vai ser alcançada se, de facto, o Governo ajudar estas empresas agora. Depois, o segundo desafio passa por ter capacidade para uma maior flexibilização. As empresas têm feito trinta por uma linha para se reinventarem, para se adaptarem, mas no pós-pandemia vamos ter de intensificar essa flexibilização, porque vamos ter a necessidade de novos negócios, novas modalidades. O delivering [entrega] e o take-away, que para muitas empresas ainda é meramente residual, se calhar são modelos que o consumidor vai intensificar no futuro. E, depois, há a confiança, que tem de ser retomada por parte dos empresários e gerada junto dos seus quadros. Os clientes também têm de ter confiança, de que os espaços são seguros.
Mas não haverá um excesso de oferta, durante um determinado período?
Eu não diria que vamos ter um excesso de oferta porque muitas empresas certamente não vão abrir. A minha preocupação é ao contrário: vamos ter oferta para a procura? Eu não tenho dúvidas nenhumas de que vamos voltar a ser um destino preferencial.
A estimativa é a de que o tráfego aéreo volta aos níveis de 2019 em 2024 ou 2025. E até lá?
Por isso é que digo que corremos o risco de não termos oferta para a procura quando ela aparecer. Seja em 2022, como alguns dizem, em 2024 ou quando for. Arriscamo-nos a não ter oferta e é essa a nossa preocupação. A procura vai surgir, não sabemos bem é quando. E isto implica também resolver problemas internos, como a nossa capacidade aeroportuária, a necessidade de diversificar os mercados emissores, temos de dar mais território aos turistas - devido ao problema dos fluxos turísticos estarem muito concentrados nos mesmos locais -, de ter um turismo muito mais sustentável ao nível ambiental, social e económico...tudo isto são desafios que temos de tratar já, para estarmos posicionados na primeira linha do pelotão quando tudo puder ser reaberto. O que nós queremos agora é manter empresas e ter oferta para essa procura.
Olhando então para o futuro, o plano de recuperação e resiliência que foi apresentado em Bruxelas não tem uma referência à hotelaria, restauração e turismo. Parece afastar o país de um modelo de desenvolvimento que vinha a ser seguido até agora.
O que do nosso ponto de vista é um erro. O turismo tem sido o motor da nossa economia. É evidente que precisa de evoluir, e esse trabalho estava a ser feito e tem de ser retomado, como referi, mas precisamos de um turismo cada vez mais robusto. E isso para alavancar todas as outras actividades, que gravitam à volta do turismo, como a área alimentar e as bebidas. Esperemos que o turismo não seja esquecido e que percebam que vamos precisar que o turismo sirva de novo de alavanca como aconteceu na última crise, financeira.
O surgimento de novos actores, de movimentos de contestação nos últimos meses, é um sintoma de que o clima de crispação está a tornar-se algo incontrolável nos vossos sectores?
A Ahresp tem vindo, desde a primeira hora, a dialogar com o Governo. Fizemos variadíssimas reuniões e chamámos vários empresários, dos diversos sectores que representamos. Enquanto foram dadas respostas, de uma forma mais ou menos célere, como foi o caso do layoff simplificado, estes grupos mais inorgânicos não tinham necessidade de gritar, ou de dizer o que quer que seja. A partir do momento que começaram a ser mais demoradas, e os tais apoios que a Ahresp foi solicitando não tinham tanta resposta, é natural que as pessoas se sintam desorientadas, mais descontroladas, mais desapoiadas, e tivessem necessidade de manifestar essa desorientação, e surgiram então esses movimentos inorgânicos. Alguns - e a Imprensa - perguntavam porque é que a Ahresp não estava presente, e o que fomos dizendo é que respeitamos, que compreendemos até, mas essa não é a nossa forma de estar. A Ahresp é uma instituição secular e a sua postura foi sempre a de criar pontes, de reivindicar e propor soluções junto de quem tem o poder para decidir. E quem tem poder para decidir nunca fechou a porta para conversar connosco, pelo que não fazia sentido a Ahresp ir para a rua dizer que queria ser ouvida.
Neste momento não há razões para esses movimentos continuarem a sua actividade, ou até para agravarem um clima de confronto?
O que posso dizer é que nós compreendemos. Porque de facto há muita desorientação e muito desespero. São muitas famílias sem saber o que fazer, e onde recorrer. Agora, não vão ver a Ahresp nesses movimentos, porque o que temos a dizer, dizemo-lo directamente ao Governo.
A pergunta é mais sobre o clima actual...
Se os apoios, que agora estão a ser regulamentados, chegarem efectivamente à maioria das empresas, para não dizer à totalidade, é evidente que o clima acalma. Agora, se as empresas percebem que as condições de elegibilidade continuam a excluir um conjunto delas, que a dificuldade que está em cima da mesa não vai permitir que empresas possa ser apoiadas – o apoio às rendas: aparece ou não aparece? Está previsto para 4 de Fevereiro, o que é tarde. Tudo isto precisa de ser ágil. Sendo certo que estes apoios foram apresentados numa conjuntura em que não estávamos em confinamento. Alguns foram reforçados, mas não sabemos - e tememos - se este confinamento se vai ou não prolongar. Se ele se vier a prolongar, nem estes apoios que foram anunciados já são suficientes para suster as nossas actividades. E esse ambiente mais descontrolado, digamos assim, vai surgir, porque as empresas não se vão aguentar e vão-se manifestar, provavelmente com razão. Temos de ter capacidade de criar e reforçar apoios à medida que o confinamento se vai estendendo ou não.
Para a secretária-geral da Ahresp, Ana Jacinto, é preciso um equilíbrio as medidas sanitárias e os impactos na economia e, nesse ponto, “o Governo tem tido algumas dificuldades, porque as medidas aparecem de forma tardia, complexa”. E os sectores que representa “estão a sofrer há um ano”.
Ana Jacinto, secretária-geral da Ahresp - Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, afirma que os sectores ligados à restauração e ao alojamento estão a ficar numa situação cada vez mais difícil, e que os apoios, além de demorarem a chegar ao terreno, “quando são regulamentados e colocados à disposição das empresas, verifica-se que nem todas são elegíveis”. Recentemente, diz, o Governo tem feito melhorias, mas é preciso maior agilidade e “o dinheiro tem de entrar nas empresas”, porque senão haverá mais despedimentos. Sobre as moratórias, defende que se está apenas a “empurrar com a barriga” um problema e que as condições de acessibilidade aos apoios alicerçados na manutenção dos postos de trabalho “começam a estrangular as empresas”.
Como encara as novas restrições anunciadas pelo Governo?
Não temos comentado as restrições sanitárias, porque não estamos habilitados. Não temos informação técnica suficiente e portanto acreditamos que o Governo tenha informação que nós desconhecemos e que o leve a tomar estas decisões difíceis, mas cruciais. O sector já estava numa situação muito débil e está a ficar cada vez pior.
O Governo deveria sustentar as decisões com dados?
É verdade, até porque os nossos empresários começam a ter dificuldade em compreender algumas destas medidas. Há actividades encerradas desde Março de 2020, temos restrições desde sempre, seja nos horários, seja na capacidade e nem assim os números da pandemia têm baixado. Há muitos empresários a questionarem-nos sobre este tema. A ser assim, é preciso fazer o tal equilíbrio difícil entre estas medidas sanitárias e a economia. E é nesse ponto que o Governo tem tido algumas dificuldades, porque as medidas aparecem de forma tardia, complexa e estes sectores estão a sofrer há um ano. Se no início de Março, no primeiro confinamento, estas empresas ainda tinham algumas reservas, porque vínhamos de um ano positivo e foi possível aguentar o confinamento, agora estamos há um ano com estas restrições, com estas quebras de facturação, o que torna tudo muito mais complicado. À data de hoje, era preciso que o Governo tivesse capacidade de injectar apoios, dinheiro a fundo perdido nas empresas, e está a ser muito difícil. Como sabem, é verdade que o Governo anunciou medidas importantes a 10 de Dezembro, digo importantes porque estão em linha com as propostas da Ahresp, só que demoraram mais de um mês para que pudessem ser regulamentadas e muitas delas ainda não estão disponíveis...
Por que demora tanto tempo entre o anúncio e a concretização?
Não sabemos. O que sabemos é que não se pode demorar este tempo todo. Elas demoram a ser anunciadas, demoram a ser regulamentadas e agora mesmo ainda há algumas que não estão ao dispor das empresas. As nossas primeiras propostas são de Março. E à medida que o tempo vai passando, fica cada vez mais difícil.
Mas quando perguntam ao Governo por que se demora esse tempo, qual é a resposta que vos dão? Ou nunca questionaram o Governo?
Nunca nos deram uma explicação, são opções. A explicação é aquela que todos conhecemos: a falta de recursos, de ferramentas que o país não tem. Os recursos não são infindáveis, mas têm de ser tomadas opções, desde o início sabemos que há uma preocupação de apoiar a economia no seu todo, e desde o início que dizemos que há sectores que têm de ser apoiados de forma diferente, porque sentem o impacto negativo da pandemia de forma diferente.
Sentem que não têm sido prioridade?
Agora sim, mas de forma muito tardia. Estamos nesta pandemia há quase um ano, estes últimos apoios são relevantes, porque apontam para o reforço da tesouraria das empresas, para as rendas e para a manutenção dos postos de trabalho. A verdade é que demoraram muito tempo. E depois não é só a demora. É que quando são regulamentados e colocados à disposição das empresas, verifica-se que nem todas são elegíveis. E que nem todas conseguem aceder...
Uma coisa são anúncios e boas vontades. Outra coisa é saber se o empresário consegue ou não ir lá buscar dinheiroAna Jacinto, secretária-geral da AHRESP
Quantos estabelecimentos fecham com estas novas medidas e em que sectores se sentirá mais o impacto?
No último inquérito, referente a Dezembro, que ainda não contempla as medidas agora anunciadas e o embate do encerramento em Janeiro, 39% das empresas de restauração e bebidas dizem que não vão abrir. Sendo que muitas delas são as que estão a ser afectadas há mais tempo, designadamente os tais bares e discotecas que estão fechados há quase um ano. Estas são as que estão em maior dificuldade, mas 39% são muitas empresas. Empregávamos 400 mil pessoas directas e estamos a falar de muitos trabalhadores e empresas. No caso do alojamento turístico, o número é menos elevado, com 16% das empresas a dizerem que não vão abrir, sendo que muitas delas estão completamente encerradas já há muito tempo, não por decreto, mas porque não há turistas internacionais e, por força destas restrições, também não terão turistas nacionais.
Que evolução espera desses números face às medidas agora anunciadas?
Tudo depende da capacidade de apoiar estas microempresas. Uma coisa são anúncios e boas vontades. Outra coisa é saber se o empresário consegue ou não ir lá buscar dinheiro. Se o Governo for incapaz de colocar esses apoios rapidamente na generalidade das empresas, obviamente que estes 39% que não abririam porta em Dezembro vão crescer, porque não aguentarão os seus negócios apenas com o delivering e o take-away, que são modalidades residuais.
Quais têm sido as razões que impedem as empresas de acederem aos apoios?
O sector é composto por microempresas e logo daí vem uma dificuldade que é a capacitação dos empresários para preencherem formulários e perceberem as vírgulas dos diplomas. Aparentemente é sempre tudo muito simples, mas depois quando chegamos aos empresários que estão nesta situação dramática há tanto tempo, muito desorientados, obviamente não sabem a quem se dirigir, como fazer, o que preencher. Temos apoios que são complexos, designadamente o caso do Apoio à Retoma, que é muito complexo e exigia da parte das empresas informação mensal e isso revelou-se praticamente ineficaz no nosso sector de actividade. Poucas foram as empresas que recorreram ao Apoio à Retoma. Precisamos que os apoios à manutenção do emprego sejam mais ágeis e simples. Depois, há outro detalhe que é a exclusão de muitas empresas. Na primeira versão do programa Apoiar não se incluía os empresários em nome individual sem contabilidade organizada. Ora, no nosso sector, estes são 70%! São muitas empresas que não têm contabilidade organizada porque não têm de ter, não são obrigadas e só por isso eram excluídas de um apoio, o que não fazia sentido algum.
Por que acha que foram excluídos?
A resposta que tivemos é que se devia a regras comunitárias. Pelos vistos, o Governo resolveu o problema e agora incluiu este número enorme de empresários em nome individual que ficavam de fora. Esteve bem, mas demorámos tempo a incluir estes empresários e a cada dia que passa há quem venha à Ahresp dizer que não aguenta mais e vai fechar. Portanto, há medidas que são importantes, mas quando vamos ver as vírgulas, percebe-se que os apoios serão para uma minoria. Sejamos justos: o Governo tem feito melhorias importantes. Mas temos de ser mais ágeis e rápidos e o dinheiro tem de entrar nas empresas.
Por que pedem o layoff simplificado para as empresas que vos fornecem serviços, que não estão legalmente obrigadas a encerrar, quando têm acesso ao Apoio à Retoma se tiverem quebras de facturação de pelo menos 25%? Esse vosso pedido não é complicar tudo e tornar tudo igual, quando não é?
O Apoio à Retoma é um processo mais complexo, que exige mais burocracia. Por outro lado, o desconto na TSU não é de 100% como no layoff. Portanto, aquele apoio pode não ser tão benéfico, sendo que estas empresas ficam na mesma circunstância que as outras que encerram, porque se a empresa está fechada, por culpa do teletrabalho ou porque a lei assim o dita, não se justifica que essas empresas não possam ter o mesmo mecanismo de apoio.
Mas são muitas empresas?
São algumas. Pense no alojamento turístico, que não tem o apoio do layoff simplificado, porque não foi obrigado a encerrar. Mas a verdade é que todas estas medidas têm impacto nessa actividade. Há muitas unidades que já estavam fechadas e agora, por culpa destas restrições à circulação, também não se justifica manterem-se abertas. É um facto que podem ir ao Apoio à Retoma, mas não faz sentido estarem nas mesmas circunstâncias porque, no fundo, a única diferença é que não existe um diploma a dizer “encerre-se”. Porém, quando dizemos às pessoas “fiquem em casa”, então os hotéis ficam sem clientes. Portanto, por que estamos a burocratizar com o Apoio à Retoma, se temos o layoff simplificado e as condições destas empresas são, afinal, similares?
Já propuseram isso ao Governo?
Para as empresas prestadoras de serviços ainda não, mas sobre o alojamento já temos falado.
E qual foi a resposta?
Dizem que estão a analisar.
O Governo avançou logo em Março com apoio a planos de formação. Qual foi a adesão nos vossos sectores, estão satisfeitos com essa adesão e o que têm dito as empresas?
Voltamos ao mesmo problema. Este sector é dominado por microempresas. Criámos uma academia na Ahresp para neste período podermos reforçar a capacitação dos trabalhadores e empresários. Intensificámos as formações, mas os números que temos não são de muita adesão, como poderiam ser, por causa das dificuldades que têm em perceber como é que o mecanismo funciona. Não tenho dados concretos sobre quantas empresas recorreram a esses planos de formação, mas não é a adesão que poderia ser.
O apoio pode ser melhorado?
Temos de estar mais próximos dos empresários. Não chega anunciar. Um dos problemas que temos sinalizado é a falta de informação clara e precisa. Todos assistimos a diplomas que saem em cima da hora, que entram em vigor de um dia para o outro e que são complexos, medidas que hoje saem e amanhã são alteradas... As empresas da restauração e do alojamento precisam de planeamento. Veja-se o que aconteceu no fim do ano. Uns dias antes, estávamos a dizer aos empresários: “Faça compras, adquira serviços e prepare-se, porque pode fazer a ceia de fim de ano”. Passados uns dias, estávamos a dizer-lhes: “Contratou? Olhe, paciência. Comprou matéria-prima? Vai ter de deitar fora porque, afinal, vão ter de fechar as portas”. Isto é inconcebível. É preciso planear, é muito difícil esta alteração constante das regras.
Por causa dessa necessidade de ajuda na informação, a Ahresp ganhou associados? Ou registam uma quebra, devido à crise?
Temos tido muitos novos associados, porque precisam, mas também temos muitos que já não conseguem pagar quotas e a Ahresp vive da quotização, exclusivamente. O microempresário sempre recorreu muito ao técnico de contas, mas também estes têm dificuldades, até porque muitas empresas não conseguem garantir os pagamentos.
Alguns dos encargos estarão a ser diferidos com as moratórias. O que vai acontecer quando estas caducarem?
Nós sempre pedimos ao Governo isenções em vez de moratórias, enquanto estivéssemos neste estado de gravidade. Não foram essas as opções e agora já estamos a pedir extensões de moratórias. Por exemplo, estamos a pedir ao Governo que prolongue os apoios do Turismo de Portugal para as microempresas, que já têm o período de carência a caducar. As empresas não têm capacidade de pagar. As moratórias não foram uma boa opção, porque não sabemos quando é vai haver retoma e sabemos que não vamos ter logo filas e filas de clientes à porta e que vai ser tudo um mar de rosas. Vai ser difícil recuperar a confiança. A moratória é um alívio, mas estamos só a empurrar com a barriga. Tal como nas linhas de crédito. Sempre dissemos que era preferível o apoio a fundo perdido, mas só fomos ouvidos agora, numa fase já muito tardia.
As linhas não servem?
Mais uma vez, não chegam a todos. Tivemos inúmeras empresas que não conseguiram apoio na banca.
Porquê?
Apesar de a banca estar impedida de pedir garantias bancárias, estar obrigada a respeitar prazos de resposta, nada disto aconteceu para muitas microempresas. Estas foram muitas vezes confrontadas com exigências de garantias pessoais e patrimoniais, com prazos intermináveis, com respostas imediatas sem análise de processo a dizerem que a empresa não era elegível... A maioria não conseguiu apoio e aquelas que conseguiram criaram dívida que terá de ser paga mais tarde, sem sabermos como nem quando, porque desconhecemos o futuro.
Esses pedidos da banca incidiam sobre a percentagem não garantida pelo Estado?
Sim. Muitas instituições bancárias, e nós confrontámos cada uma delas e demos nota disto ao Governo e até ao Presidente da República, estavam, indevidamente, a exigir às microempresas garantias pessoais e patrimoniais para terem o crédito aprovado. Algo que o Governo impediu. Mas na prática não era o que acontecia.
Mas qual é o retrato geral?
Muitos empresários meteram na empresa as suas poupanças, tudo o que tinham e agora estão numa situação muito difícil. E outros recorreram à banca.
Foi uma minoria?
Não diria uma minoria. As empresas mais estruturadas estão apoiadas em crédito bancário. Mas as empresas mais pequenas não conseguiram, e outras evitaram esses mecanismos, até porque provavelmente não conseguiriam se se tivessem candidatado.
São essas as que correspondem aos tais 31% de empresas da restauração que não pagaram o salário por inteiro em Dezembro, segundo os dados do vosso barómetro?
Há muitos que recorreram ao crédito à banca, que foi ao layoff simplificado, que passou pelo Apoio à Retoma e mesmo assim está a chegar a um ponto de ruptura. Estes apoios ajudam mas não pagam os encargos todos. Não se esqueçam que 60% das empresas inquiridas reporta quebras de facturação acima de 60%. No caso do alojamento, temos 60% a reportar quebras acima de 80%. Isto tudo em Dezembro! Neste cenário, chega-se a um ponto em que se esgota tudo e já nem os apoios adiantam nem ajudam a assegurar todos os encargos.
Os despedimentos vão continuar a crescer?
Se não tivermos a capacidade de agilizarmos todos aqueles apoios que estão a ser regulamentados, acho que sim. Na restauração e bebidas, quase metade das empresas já estão a fazer despedimentos. O que levanta outro problema, porque estes apoios estão alicerçados na manutenção dos postos de trabalho e muitas empresas já não conseguem fazer isso. As condições de acessibilidade aos apoios começam a estrangular as empresas.
Quando vier a retoma, a tendência geral será contratar com salário abaixo daquele que praticavam quando despediram?
É uma pergunta difícil de responder. Há bem pouco tempo, a Ahresp dizia que temos um problema de falta de mão-de-obra qualificada, que encaixaríamos 40 mil pessoas se as tivéssemos porque o sector é líder de empregabilidade. Dizíamos isto há ano e meio e precisamos de manter os postos de trabalho em que as empresas investiram ao longo destes anos.
Mas muitos já foram destruídos...
Segundo o INE, sem os meses do último trimestre, que foram dramáticos, perdemos já quase 50 mil postos de trabalho e muitos ainda se vão perder. Precisávamos de os manter, não vamos ter essa capacidade. Quando vamos voltar a contratar, como e de que forma, não sabemos. O foco é manter o que temos. Porque se destruímos este tecido, vão ser anos para retomarmos o nível que atingimos. Ainda havia caminho a fazer, dignificar as carreiras e melhorar o salário, e nós iríamos lá chegar e estávamos a fazer um caminho que agora ficou estagnado.
Se os apoios, que agora estão a ser regulamentados, chegarem efectivamente à maioria das empresas, para não dizer à totalidade, é evidente que o clima acalmaAna Jacinto, secretária-geral da AHRESP
Em Abril do ano passado, numa entrevista ao PÚBLICO já em contexto de pandemia, e questionada sobre se as pessoas poderiam ter algum receio de voltar a frequentar restaurantes e hotéis, respondeu de forma afirmativa, admitindo ainda que o perfil dos clientes poderia estar em mudança. O que é que sente agora?
Bom, agora não temos clientes. Temos os restaurantes e os hotéis basicamente fechados. Agora, estou convencida que quando pudermos ter liberdade de circulação e retomarmos a possibilidade de viajar, o perfil do nosso consumidor, do nosso turista, certamente será outro. Será muito mais preocupado com as questões de saúde pública, questões sanitárias, irá procurar locais menos massificados. Temos de estar preparados para os muitos desafios que vão chegar. No curto prazo, temos três grandes desafios. O da sobrevivência, porque senão nem vale a pena estar a falar do perfil do novo turista ou da retoma se não tivermos empresas. E a sobrevivência só vai ser alcançada se, de facto, o Governo ajudar estas empresas agora. Depois, o segundo desafio passa por ter capacidade para uma maior flexibilização. As empresas têm feito trinta por uma linha para se reinventarem, para se adaptarem, mas no pós-pandemia vamos ter de intensificar essa flexibilização, porque vamos ter a necessidade de novos negócios, novas modalidades. O delivering [entrega] e o take-away, que para muitas empresas ainda é meramente residual, se calhar são modelos que o consumidor vai intensificar no futuro. E, depois, há a confiança, que tem de ser retomada por parte dos empresários e gerada junto dos seus quadros. Os clientes também têm de ter confiança, de que os espaços são seguros.
Mas não haverá um excesso de oferta, durante um determinado período?
Eu não diria que vamos ter um excesso de oferta porque muitas empresas certamente não vão abrir. A minha preocupação é ao contrário: vamos ter oferta para a procura? Eu não tenho dúvidas nenhumas de que vamos voltar a ser um destino preferencial.
A estimativa é a de que o tráfego aéreo volta aos níveis de 2019 em 2024 ou 2025. E até lá?
Por isso é que digo que corremos o risco de não termos oferta para a procura quando ela aparecer. Seja em 2022, como alguns dizem, em 2024 ou quando for. Arriscamo-nos a não ter oferta e é essa a nossa preocupação. A procura vai surgir, não sabemos bem é quando. E isto implica também resolver problemas internos, como a nossa capacidade aeroportuária, a necessidade de diversificar os mercados emissores, temos de dar mais território aos turistas - devido ao problema dos fluxos turísticos estarem muito concentrados nos mesmos locais -, de ter um turismo muito mais sustentável ao nível ambiental, social e económico...tudo isto são desafios que temos de tratar já, para estarmos posicionados na primeira linha do pelotão quando tudo puder ser reaberto. O que nós queremos agora é manter empresas e ter oferta para essa procura.
Olhando então para o futuro, o plano de recuperação e resiliência que foi apresentado em Bruxelas não tem uma referência à hotelaria, restauração e turismo. Parece afastar o país de um modelo de desenvolvimento que vinha a ser seguido até agora.
O que do nosso ponto de vista é um erro. O turismo tem sido o motor da nossa economia. É evidente que precisa de evoluir, e esse trabalho estava a ser feito e tem de ser retomado, como referi, mas precisamos de um turismo cada vez mais robusto. E isso para alavancar todas as outras actividades, que gravitam à volta do turismo, como a área alimentar e as bebidas. Esperemos que o turismo não seja esquecido e que percebam que vamos precisar que o turismo sirva de novo de alavanca como aconteceu na última crise, financeira.
O surgimento de novos actores, de movimentos de contestação nos últimos meses, é um sintoma de que o clima de crispação está a tornar-se algo incontrolável nos vossos sectores?
A Ahresp tem vindo, desde a primeira hora, a dialogar com o Governo. Fizemos variadíssimas reuniões e chamámos vários empresários, dos diversos sectores que representamos. Enquanto foram dadas respostas, de uma forma mais ou menos célere, como foi o caso do layoff simplificado, estes grupos mais inorgânicos não tinham necessidade de gritar, ou de dizer o que quer que seja. A partir do momento que começaram a ser mais demoradas, e os tais apoios que a Ahresp foi solicitando não tinham tanta resposta, é natural que as pessoas se sintam desorientadas, mais descontroladas, mais desapoiadas, e tivessem necessidade de manifestar essa desorientação, e surgiram então esses movimentos inorgânicos. Alguns - e a Imprensa - perguntavam porque é que a Ahresp não estava presente, e o que fomos dizendo é que respeitamos, que compreendemos até, mas essa não é a nossa forma de estar. A Ahresp é uma instituição secular e a sua postura foi sempre a de criar pontes, de reivindicar e propor soluções junto de quem tem o poder para decidir. E quem tem poder para decidir nunca fechou a porta para conversar connosco, pelo que não fazia sentido a Ahresp ir para a rua dizer que queria ser ouvida.
Neste momento não há razões para esses movimentos continuarem a sua actividade, ou até para agravarem um clima de confronto?
O que posso dizer é que nós compreendemos. Porque de facto há muita desorientação e muito desespero. São muitas famílias sem saber o que fazer, e onde recorrer. Agora, não vão ver a Ahresp nesses movimentos, porque o que temos a dizer, dizemo-lo directamente ao Governo.
A pergunta é mais sobre o clima actual...
Se os apoios, que agora estão a ser regulamentados, chegarem efectivamente à maioria das empresas, para não dizer à totalidade, é evidente que o clima acalma. Agora, se as empresas percebem que as condições de elegibilidade continuam a excluir um conjunto delas, que a dificuldade que está em cima da mesa não vai permitir que empresas possa ser apoiadas – o apoio às rendas: aparece ou não aparece? Está previsto para 4 de Fevereiro, o que é tarde. Tudo isto precisa de ser ágil. Sendo certo que estes apoios foram apresentados numa conjuntura em que não estávamos em confinamento. Alguns foram reforçados, mas não sabemos - e tememos - se este confinamento se vai ou não prolongar. Se ele se vier a prolongar, nem estes apoios que foram anunciados já são suficientes para suster as nossas actividades. E esse ambiente mais descontrolado, digamos assim, vai surgir, porque as empresas não se vão aguentar e vão-se manifestar, provavelmente com razão. Temos de ter capacidade de criar e reforçar apoios à medida que o confinamento se vai estendendo ou não.
29.12.20
A luta para manter portas abertas: como a pandemia afectou novos negócios
Daniel Moura Borges, in Público on-line
Este ano a pandemia de covid-19 dificultou ainda mais as possibilidades de sucesso de novos empreendedores. Numa luta constante para manterem as portas abertas, os estabelecimentos que começaram a surgir no final de 2019 e início de 2020 viram os seus rendimentos iniciais reduzidos pelo confinamento.
“Tudo o que não poderia acontecer num primeiro negócio aconteceu”, diz Bruno, sentado numa mesa interior da Chasing Rabbits, uma loja de vinis que funciona também como café, da qual é dono. Juntamente com a sua parceira Ana, Bruno abriu o espaço há pouco mais de um ano, em Novembro de 2019.
Na Rua do Sol ao Rato, entre Campo de Ourique e o largo do Rato (Lisboa), Ana e Bruno decidiram começar um negócio baseado nas respectivas vivências e no que gostam de fazer. Formados na área da publicidade e do design gráfico, decidiram investir num negócio que é uma “continuidade de uma partilha musical” que já faziam em casa.
No salão principal da loja costuma está sentada uma cadela Border Collie chamada Grace. Estão expostos à venda postais de artistas conhecidos, desde Tom Waits a Lou Reed, vários pins, sacos de pano com o logótipo da loja e ainda algumas revista da área da música. Há algumas mesas para os clientes se sentarem, mas o espaço é apertado.
Em frente há uma passagem para uma pequena esplanada exterior, decorada de verde com plantas e flores. À esquerda a divisão onde estão expostos discos, livros e mais recentemente uma exposição fotográfica intitulada Do Espaço que existe entre o Princípio e o Fim, bem como um cantinho de audição de música com um gira-discos e um longo sofá em pele.
Os primeiros meses foram suficientes para se ligarem ao bairro e para conquistarem alguns clientes que se tornaram habituais, mas o sucesso do negócio é difícil de medir, precisamente por causa do início da pandemia. “Tanto pode estar a tapar um futuro muito promissor, como pode estar a tapar um futuro não muito promissor”, diz Bruno.
Quando projectaram o futuro, Bruno e Ana não equacionaram uma pandemia que levaria ao encerramento contínuo da fonte de rendimento. “Nunca achas que chega perto de casa... e de repente chega”, explica o dono. Fecharam as portas durante o primeiro fim-de-semana do confinamento, por perceberem “que as pessoas estavam assustadas” e que “já não estavam a circular da mesma forma”.
Pensaram que “poderia não valer a pena abrir” novamente, visto que o negócio estava a começar e que não tinham ainda alicerces e rotinas. “Decidimos não o fazer porque o processo já estava em curso, há dinheiro investido”, justifica. “Achámos que nos poderíamos adaptar”.
E foi o que fizeram. Abriram a esplanada exterior para haver alguma circulação de ar e a possibilidade de as pessoas manterem o distanciamento. Apostaram no formato online através do site, que agora funciona também como loja, bem como das redes sociais. Mas não foi o suficiente para colmatar as falhas no rendimento.
“Perdemos rendimento porque tivemos o espaço fechado com rendas para pagar, com fornecedores para pagar, com comida para nos alimentarmos”, diz Bruno. “É dinheiro que se foi da bolsa que era o que nos daria alguma almofada na construção do negócio. Foi-se, e está cada vez mais difícil neste momento.”
Do Estado receberam o apoio aos sócios-gerentes, mas recusaram as linhas de créditos. “É um assumir que vamos ter outra corda ao pescoço”, explica o dono.
O objectivo dos gerentes é tentar reduzir a dívida ao máximo e aumentar o lucro para tornar o negócio sustentável, mas a imprevisibilidade da pandemia tornou qualquer planeamento impossível. Encomendas de stock, contratação de pessoal, flexibilização de horários, tudo é posto em causa devido à covid-19.
“É bom ainda estarmos cá. É muito mais difícil do que era há um ano. É muito mais desgastante do que era há um ano atrás, mas ainda continuamos cá.”, confessa Bruno. “Quanto tempo vamos continuar? Não sabemos”, admite. “Temos ainda alguns indícios positivos, mas a margem de erro é gigante”.
Pôr um negócio em pausa
Um pouco mais abaixo, ainda na Rua do Sol ao Rato, abriu em Setembro de 2020 o The Whisk Café. Catarina e Ricardo, que gerem o café, conheceram-se em Angola, enquanto trabalhavam os dois na área de consultoria de gestão. Planeavam que o espaço abrisse em Maio, mas a pandemia veio adiar esses planos e pôr uma pausa em todo o desenvolvimento do projecto.
A ideia surgiu em Novembro de 2019 e o casal empenhou-se na procura de um espaço para começar a planificação e construção do café. As obras começaram em Fevereiro, altura em que abandonaram outras fontes de rendimento para se focarem no projecto. Os planos estavam feitos para abrir o mais depressa possível, mas em meados de Março, quando a taxa de propagação do coronavírus começou a aumentar em Portugal, o arquitecto desapareceu.
As obras pararam quinze dias na altura do confinamento e o espaço acabou por ser desenhado pelos donos. O The Whisk é um salão algures entre o estilo industrial e vintage com uma longa mesa de madeira ao meio, acompanhada em comprimento por um espelho na parede. Várias mesas de diferentes formatos ocupam a montra e os cantos do café e as paredes estão enfeitadas com placas metálicas de estilos diferentes. Ao pé da porta lê-se, num sinal iluminado, “The Whisk”.
Aliados à falta de arquitecto e ao adiamento das obras surgiram outros desafios. “A maior dificuldade foi por parte da EDP”, explica Ricardo. “Precisávamos de ter um aumento de potência significativa e eles não nos deram resposta. Pedimos em Fevereiro e só nos responderam em Agosto”.
Outro problema foi a entrega de equipamentos. A máquina de café do The Whisk, que veio de Itália, atrasou-se porque as fábricas encerraram devido à covid-19. O mesmo aconteceu com os equipamentos da cozinha, que vieram da Alemanha. Todo este tempo entre problemas significou apenas despesa e nenhum rendimento para os donos.
Não conseguiram ajuda financeira por parte do Estado. “Uma candidatura que fizemos em Abril, recebemos uma resposta negativa há um mês”, diz Ricardo. “De 60 e tal projectos que foram submetidos, apenas três candidaturas não foram aprovadas e a nossa foi uma delas”, diz Catarina.
“Quando o presidente da câmara de Lisboa disse que iam haver apoios para a restauração eu telefonei para a Câmara e eles disseram-me: «Você só começou actividade este ano, não tem histórico do ano passado, por isso não há nada»”, lamenta Ricardo. “Eu vou pagar na mesma os impostos, nós começámos este ano, é este ano que precisamos de ajuda”.
Associado à falta de clientes e de rendimentos está também a dificuldade em gerir um café num momento tão imprevisível. A falta de uma matriz de instruções clara e as constantes mudanças nas medidas de restrição contra a covid-19 causaram já alguns mal entendidos.
“No primeiro fim-de-semana nós fechámos porque achámos que as notícias não eram muito claras. Não queríamos estar a abrir e depois receber uma multa. Foi um rombo enorme porque depois percebemos que o fim-de-semana teria corrido bastante bem”, explica Catarina.
Segundo a empresária, o mesmo aconteceu com as segundas-feiras antes dos feriados de 1 e 8 de Dezembro, em que o café fechou mais cedo do que podia ter fechado porque as instruções não era claras.
O orçamento para o plano de negócio foi ultrapassado apenas por cerca de 10%, mas os custos fazem-se sentir nas poupanças pessoais dos donos, já que estiveram vários meses com o negócio parado e continuam na expectativa de como será o futuro.
“Quando se falava em retorno ao investimento em três, quatro anos se tudo corresse bem, hoje não consigo prever quando é que as coisas voltam ao normal”, explica Ricardo.
“Há dias em que não entram 10 pessoas na loja”
Germano Roriz, dono da mercearia de produtos brasileiros Mercadim, em Picoas (Lisboa), lamenta o mesmo: “Eu fiz um plano de dois anos. Em dois anos, teoricamente, um negócio bem administrado consegue começar a ter o seu ponto de equilíbrio. Já se passou um ano e eu estou muito longe do ponto de equilibro”.
Germano abriu o Mercadim em abriu em Novembro de 2019 com a sua mulher Flávia, depois de terem decidido mudar-se para Portugal para passar o resto da vida. A maioria dos seus clientes é imigrante brasileira que vêm à procura de produtos da sua terra. Entre as prateleiras podem-se encontrar bombons Malandro, farofa de mandioca e paçoca Moreninha do Rio, entre outros produtos tradicionais do Brasil.
Na esquina da Rua São Sebastião da Pedreira com a Rua Viriato, em frente ao Hotel Turim Europa, o negócio está posicionado de forma estratégica.
“Escolhi este lugar porque estou perto de uma agência do SEF, estou perto do Fogo de Chão que é uma churrasqueira brasileira muito movimentada, estou perto de uma Conservatória, onde os brasileiros têm de ir muito, estou perto das Finanças, estou perto do Boi Preto, que é outra churrasqueira brasileira. Ou seja, o lugar que eu escolhi é o lugar que os brasileiros frequentam”, explica Germano.
No entanto, o início da pandemia retirou alguma da relevância comercial da zona ao mercado. A agência do SEF fechou, as churrasqueiras fecharam, a conservatória também. O Mercadim perdeu clientes que entravam na loja vindos da rua, passando a depender de pessoas que vinham especificamente para fazer compras de produtos especializados. “Muitos clientes habituais voltaram para o Brasil”, acrescenta Germano.
Embora seja um negócio de bens essenciais e tenha a possibilidade de ficar aberto mais tempo que os restaurantes, o facto de ser uma mercearia especializada significa que a quantidade de clientes é mais reduzida. “Há dias em que não entram 10 pessoas na loja”, diz o empresário.
Como os donos do The Whisk, Germano também não teve acesso a apoios financeiros por parte do Estado porque não tinha rendimentos relativos ao ano anterior, e portanto teve de utilizar a sua reserva destinada ao negócio para se sustentar numa altura em que os clientes são escassos e o lucro é incerto.
“Estamos a comer a nossa reserva, o que não era o planeado. Não era suposto estarmos a usar o nosso dinheiro de reserva para morar e para comer”, explica. “O que a pandemia fez foi dilapidar aquela reserva que era específica para a manutenção do negócio até que ele se conseguisse equilibrar”.
As encomendas de stock sofreram muita instabilidade durante o início da pandemia, devido ao desconhecimento do que se passava e iria passar. Antes, como não sabiam o que se avizinhava, os donos fizeram uma compra de stock para o número de vendas que esperavam fazer. Com o início da pandemia e do confinamento, muito desse stock teve de ir para o lixo por passar a data de validade, porque não havia procura. Todas as compras de têm de ser, portanto, calculadas minuciosamente, para que não haja mercadoria em falta ou a mais.
Retomar uma normalidade de vendas a médio prazo mantém-se como o objectivo de Germano, que tem visto o negócio que construiu a sofrer com a falta de clientes, a falta de apoios e a imprevisibilidade das pessoas e da pandemia. No entanto, mantém-se optimista com o início da vacinação. “Eu só olho para a frente”, conclui.
Este ano a pandemia de covid-19 dificultou ainda mais as possibilidades de sucesso de novos empreendedores. Numa luta constante para manterem as portas abertas, os estabelecimentos que começaram a surgir no final de 2019 e início de 2020 viram os seus rendimentos iniciais reduzidos pelo confinamento.
“Tudo o que não poderia acontecer num primeiro negócio aconteceu”, diz Bruno, sentado numa mesa interior da Chasing Rabbits, uma loja de vinis que funciona também como café, da qual é dono. Juntamente com a sua parceira Ana, Bruno abriu o espaço há pouco mais de um ano, em Novembro de 2019.
Na Rua do Sol ao Rato, entre Campo de Ourique e o largo do Rato (Lisboa), Ana e Bruno decidiram começar um negócio baseado nas respectivas vivências e no que gostam de fazer. Formados na área da publicidade e do design gráfico, decidiram investir num negócio que é uma “continuidade de uma partilha musical” que já faziam em casa.
No salão principal da loja costuma está sentada uma cadela Border Collie chamada Grace. Estão expostos à venda postais de artistas conhecidos, desde Tom Waits a Lou Reed, vários pins, sacos de pano com o logótipo da loja e ainda algumas revista da área da música. Há algumas mesas para os clientes se sentarem, mas o espaço é apertado.
Em frente há uma passagem para uma pequena esplanada exterior, decorada de verde com plantas e flores. À esquerda a divisão onde estão expostos discos, livros e mais recentemente uma exposição fotográfica intitulada Do Espaço que existe entre o Princípio e o Fim, bem como um cantinho de audição de música com um gira-discos e um longo sofá em pele.
Os primeiros meses foram suficientes para se ligarem ao bairro e para conquistarem alguns clientes que se tornaram habituais, mas o sucesso do negócio é difícil de medir, precisamente por causa do início da pandemia. “Tanto pode estar a tapar um futuro muito promissor, como pode estar a tapar um futuro não muito promissor”, diz Bruno.
Quando projectaram o futuro, Bruno e Ana não equacionaram uma pandemia que levaria ao encerramento contínuo da fonte de rendimento. “Nunca achas que chega perto de casa... e de repente chega”, explica o dono. Fecharam as portas durante o primeiro fim-de-semana do confinamento, por perceberem “que as pessoas estavam assustadas” e que “já não estavam a circular da mesma forma”.
Pensaram que “poderia não valer a pena abrir” novamente, visto que o negócio estava a começar e que não tinham ainda alicerces e rotinas. “Decidimos não o fazer porque o processo já estava em curso, há dinheiro investido”, justifica. “Achámos que nos poderíamos adaptar”.
E foi o que fizeram. Abriram a esplanada exterior para haver alguma circulação de ar e a possibilidade de as pessoas manterem o distanciamento. Apostaram no formato online através do site, que agora funciona também como loja, bem como das redes sociais. Mas não foi o suficiente para colmatar as falhas no rendimento.
“Perdemos rendimento porque tivemos o espaço fechado com rendas para pagar, com fornecedores para pagar, com comida para nos alimentarmos”, diz Bruno. “É dinheiro que se foi da bolsa que era o que nos daria alguma almofada na construção do negócio. Foi-se, e está cada vez mais difícil neste momento.”
Do Estado receberam o apoio aos sócios-gerentes, mas recusaram as linhas de créditos. “É um assumir que vamos ter outra corda ao pescoço”, explica o dono.
O objectivo dos gerentes é tentar reduzir a dívida ao máximo e aumentar o lucro para tornar o negócio sustentável, mas a imprevisibilidade da pandemia tornou qualquer planeamento impossível. Encomendas de stock, contratação de pessoal, flexibilização de horários, tudo é posto em causa devido à covid-19.
“É bom ainda estarmos cá. É muito mais difícil do que era há um ano. É muito mais desgastante do que era há um ano atrás, mas ainda continuamos cá.”, confessa Bruno. “Quanto tempo vamos continuar? Não sabemos”, admite. “Temos ainda alguns indícios positivos, mas a margem de erro é gigante”.
Pôr um negócio em pausa
Um pouco mais abaixo, ainda na Rua do Sol ao Rato, abriu em Setembro de 2020 o The Whisk Café. Catarina e Ricardo, que gerem o café, conheceram-se em Angola, enquanto trabalhavam os dois na área de consultoria de gestão. Planeavam que o espaço abrisse em Maio, mas a pandemia veio adiar esses planos e pôr uma pausa em todo o desenvolvimento do projecto.
A ideia surgiu em Novembro de 2019 e o casal empenhou-se na procura de um espaço para começar a planificação e construção do café. As obras começaram em Fevereiro, altura em que abandonaram outras fontes de rendimento para se focarem no projecto. Os planos estavam feitos para abrir o mais depressa possível, mas em meados de Março, quando a taxa de propagação do coronavírus começou a aumentar em Portugal, o arquitecto desapareceu.
As obras pararam quinze dias na altura do confinamento e o espaço acabou por ser desenhado pelos donos. O The Whisk é um salão algures entre o estilo industrial e vintage com uma longa mesa de madeira ao meio, acompanhada em comprimento por um espelho na parede. Várias mesas de diferentes formatos ocupam a montra e os cantos do café e as paredes estão enfeitadas com placas metálicas de estilos diferentes. Ao pé da porta lê-se, num sinal iluminado, “The Whisk”.
Aliados à falta de arquitecto e ao adiamento das obras surgiram outros desafios. “A maior dificuldade foi por parte da EDP”, explica Ricardo. “Precisávamos de ter um aumento de potência significativa e eles não nos deram resposta. Pedimos em Fevereiro e só nos responderam em Agosto”.
Outro problema foi a entrega de equipamentos. A máquina de café do The Whisk, que veio de Itália, atrasou-se porque as fábricas encerraram devido à covid-19. O mesmo aconteceu com os equipamentos da cozinha, que vieram da Alemanha. Todo este tempo entre problemas significou apenas despesa e nenhum rendimento para os donos.
Não conseguiram ajuda financeira por parte do Estado. “Uma candidatura que fizemos em Abril, recebemos uma resposta negativa há um mês”, diz Ricardo. “De 60 e tal projectos que foram submetidos, apenas três candidaturas não foram aprovadas e a nossa foi uma delas”, diz Catarina.
“Quando o presidente da câmara de Lisboa disse que iam haver apoios para a restauração eu telefonei para a Câmara e eles disseram-me: «Você só começou actividade este ano, não tem histórico do ano passado, por isso não há nada»”, lamenta Ricardo. “Eu vou pagar na mesma os impostos, nós começámos este ano, é este ano que precisamos de ajuda”.
Associado à falta de clientes e de rendimentos está também a dificuldade em gerir um café num momento tão imprevisível. A falta de uma matriz de instruções clara e as constantes mudanças nas medidas de restrição contra a covid-19 causaram já alguns mal entendidos.
“No primeiro fim-de-semana nós fechámos porque achámos que as notícias não eram muito claras. Não queríamos estar a abrir e depois receber uma multa. Foi um rombo enorme porque depois percebemos que o fim-de-semana teria corrido bastante bem”, explica Catarina.
Segundo a empresária, o mesmo aconteceu com as segundas-feiras antes dos feriados de 1 e 8 de Dezembro, em que o café fechou mais cedo do que podia ter fechado porque as instruções não era claras.
O orçamento para o plano de negócio foi ultrapassado apenas por cerca de 10%, mas os custos fazem-se sentir nas poupanças pessoais dos donos, já que estiveram vários meses com o negócio parado e continuam na expectativa de como será o futuro.
“Quando se falava em retorno ao investimento em três, quatro anos se tudo corresse bem, hoje não consigo prever quando é que as coisas voltam ao normal”, explica Ricardo.
“Há dias em que não entram 10 pessoas na loja”
Germano Roriz, dono da mercearia de produtos brasileiros Mercadim, em Picoas (Lisboa), lamenta o mesmo: “Eu fiz um plano de dois anos. Em dois anos, teoricamente, um negócio bem administrado consegue começar a ter o seu ponto de equilíbrio. Já se passou um ano e eu estou muito longe do ponto de equilibro”.
Germano abriu o Mercadim em abriu em Novembro de 2019 com a sua mulher Flávia, depois de terem decidido mudar-se para Portugal para passar o resto da vida. A maioria dos seus clientes é imigrante brasileira que vêm à procura de produtos da sua terra. Entre as prateleiras podem-se encontrar bombons Malandro, farofa de mandioca e paçoca Moreninha do Rio, entre outros produtos tradicionais do Brasil.
Na esquina da Rua São Sebastião da Pedreira com a Rua Viriato, em frente ao Hotel Turim Europa, o negócio está posicionado de forma estratégica.
“Escolhi este lugar porque estou perto de uma agência do SEF, estou perto do Fogo de Chão que é uma churrasqueira brasileira muito movimentada, estou perto de uma Conservatória, onde os brasileiros têm de ir muito, estou perto das Finanças, estou perto do Boi Preto, que é outra churrasqueira brasileira. Ou seja, o lugar que eu escolhi é o lugar que os brasileiros frequentam”, explica Germano.
No entanto, o início da pandemia retirou alguma da relevância comercial da zona ao mercado. A agência do SEF fechou, as churrasqueiras fecharam, a conservatória também. O Mercadim perdeu clientes que entravam na loja vindos da rua, passando a depender de pessoas que vinham especificamente para fazer compras de produtos especializados. “Muitos clientes habituais voltaram para o Brasil”, acrescenta Germano.
Embora seja um negócio de bens essenciais e tenha a possibilidade de ficar aberto mais tempo que os restaurantes, o facto de ser uma mercearia especializada significa que a quantidade de clientes é mais reduzida. “Há dias em que não entram 10 pessoas na loja”, diz o empresário.
Como os donos do The Whisk, Germano também não teve acesso a apoios financeiros por parte do Estado porque não tinha rendimentos relativos ao ano anterior, e portanto teve de utilizar a sua reserva destinada ao negócio para se sustentar numa altura em que os clientes são escassos e o lucro é incerto.
“Estamos a comer a nossa reserva, o que não era o planeado. Não era suposto estarmos a usar o nosso dinheiro de reserva para morar e para comer”, explica. “O que a pandemia fez foi dilapidar aquela reserva que era específica para a manutenção do negócio até que ele se conseguisse equilibrar”.
As encomendas de stock sofreram muita instabilidade durante o início da pandemia, devido ao desconhecimento do que se passava e iria passar. Antes, como não sabiam o que se avizinhava, os donos fizeram uma compra de stock para o número de vendas que esperavam fazer. Com o início da pandemia e do confinamento, muito desse stock teve de ir para o lixo por passar a data de validade, porque não havia procura. Todas as compras de têm de ser, portanto, calculadas minuciosamente, para que não haja mercadoria em falta ou a mais.
Retomar uma normalidade de vendas a médio prazo mantém-se como o objectivo de Germano, que tem visto o negócio que construiu a sofrer com a falta de clientes, a falta de apoios e a imprevisibilidade das pessoas e da pandemia. No entanto, mantém-se optimista com o início da vacinação. “Eu só olho para a frente”, conclui.
25.11.20
“Tirarem-nos o fim-de-semana foi a mesma coisa que nos matar”
Natália Faria (texto) e Adriano Miranda (fotografias), in Público on-line
A crise pandémica está a provocar muitos danos colaterais na restauração. O desemprego, que avança tão depressa como o coronavírus, ameaça chegar aos 100 mil trabalhadores, nos cálculos dos representantes do sector. O protesto assume a forma de manifestação nacional, esta quarta-feira, em Lisboa.
A crise pandémica está a provocar muitos danos colaterais na restauração. O desemprego, que avança tão depressa como o coronavírus, ameaça chegar aos 100 mil trabalhadores, nos cálculos dos representantes do sector. O protesto assume a forma de manifestação nacional, esta quarta-feira, em Lisboa.
Pedro Lobo anda há uma semana a tentar ganhar coragem para despedir três dos seus 11 trabalhadores. “São pessoas que precisam do ordenado para viver, mas não tenho mesmo hipótese”, desculpa-se. Nuno Portela tem aguentado o prejuízo de manter as portas do seu bar abertas mesmo sem clientes “só para não ter de ficar em casa a dar em doido”. Pedro Oliveira diz que só tem dinheiro para servir almoços e jantares até ao dia 1 de Janeiro. “Se calhar estou só a adiar o enterro”, cogita. Os representantes do sector da restauração, um dos mais violentamente fustigados pela crise pandémica, vão manifestar-se esta quarta-feira, a partir das 15h30, frente à Assembleia da República, num protesto organizado pelo movimento “Sobreviver a Pão e Água”, e que será, para muitos, uma derradeira tentativa de reclamar “apoios robustos” por parte do Governo. Sem isso, o remédio será pespegar definitivamente a placa “Encerrado” nas portas.
A crise já terá mandado cerca de 40 mil trabalhadores do sector para o desemprego, segundo a PRO.VAR - Associação Nacional de Restaurantes. “Pelas contas e pelos inquéritos que temos vindo a fazer, chegaremos ao início do próximo ano acima dos 100 mil desempregados”, calcula Daniel Serrão, o presidente da associação, cujos telefones não têm parado de tocar com “empresários desesperados” do outro lado. “Muitos foram aguentando ao longo destes quase nove meses pensando que teriam alguma oportunidade de facturar neste último trimestre, mas agora, com as novas medidas, perderam qualquer tipo de esperança. O desespero é imenso. Muitos já só pedem ajuda por não saberem como comunicar aos trabalhadores que vão fechar”, relata.
Podia muito bem ter sido o caso de Pedro Lobo, 39 anos, proprietário do restaurante Adamastor, no centro de Aveiro, que emprega 11 funcionários. “Não vou ter hipótese de aguentar esta estrutura. Tirarem-nos o fim-de-semana foi a mesma coisa que nos matar”, explica, para justificar a decisão recente de despedir três funcionários. “Ando há uma semana a tentar ganhar coragem para falar com eles. Isto tira-me o sono, não consigo pensar noutra coisa”, desabafa, num dos cantos do restaurante onde, apesar de ser hora de almoço, tem as dezenas de mesas vazias. “É assim praticamente todos os dias. A quebra na facturação anda nos 95%”, descreve.
Num normal fim-de-semana de Novembro, Pedro servia “entre 100 a 150 refeições” por dia. “Sabe quantas refeições servi no último fim-de-semana? Nenhuma”, compara o empresário. Ao lado, o cozinheiro Carlos Dias confirma a ausência de torvelinho. “Fazíamos três e quatro quilos de arroz por dia e agora fazemos meio quilo e, às vezes, nem esse meio quilo sai. Custa muito ver que, ao final da noite, a panela da sopa continua cheia.”
Do que ele gosta é de preparar marisco ("é quando tenho mais confiança em mim") mas agora é cada vez mais raro ver os búzios, as ameijoas e o camarão a sair das vitrinas. “Se perder o emprego, não vai ser fácil arranjar trabalho novamente no sector”, rumina, consciente de que que nem o facto de o restaurante ter adoptado o serviço de take-away e de entrega de refeições em casa, para mitigar os efeitos da obrigatoriedade de encerrar às 13h00, está a ajudar ao negócio.
“Disponibilizei um funcionário para entregar as refeições, fiz publicidade nas redes sociais”, frisa Pedro Lobo, “mas as pessoas simplesmente não têm esse hábito”. Com uma despesa média mensal a rondar os 20 mil euros e a facturação a rondar os nove mil, o empresário diz-se numa “situação dramática”. “Tenho pessoas comigo há 15 anos. O que é que eu vou fazer?!”.
A declaração de impotência, que já motivou várias manifestações em diferentes cidades do país, ouve-se porta-sim-porta sim nas ruas que desaguam na Praça do Peixe, em Aveiro, pejadas de bares e restaurantes. O Governo tem-se desdobrado em anúncios de apoio ao sector, mas, algumas passadas mais à frente, Pedro Oliveira, dono do “Tasca do Sal” exaspera-se quando recorda algumas das promessas feitas. “Como é que se compreende que um primeiro-ministro nos venha dizer, como disse no sábado, que o prazo de pagamento da TSU [Taxa Social Única] vai ser prolongado, quando a data de pagamento tinha expirado na véspera?! E ele sabe que, quem não tivesse pago, já tinha uma coima de 127 euros no dia em que fez o anúncio. Isso é mentir às pessoas”, sustenta.
Numa altura em que passou de servir “entre 50 a 60 refeições diárias para uma média de cinco”, Pedro Oliveira diz que conseguiu até agora suportar as despesas sem recorrer a moratórias e sem despedir nenhum dos seus cinco funcionários. Mas hesita em candidatar-se à promessa de apoio de 20% sobre a quebra da facturação. “Desde logo, darem 20% da quebra média de facturação face à média de um ano em que estivemos fechados 11 fins-de-semana, é ridículo. E, se a contrapartida for que não posso despedir ninguém nem recorrer ao lay-off, provavelmente não o farei, porque essa é uma garantia que não posso dar”, diz.
Neste momento, “a clientela não justifica nem metade do pessoal”. E não é só por causa das restrições horárias nem pelo facto de as mesas terem sido reduzidas a metade por força da obrigatoriedade de manter o distanciamento entre comensais. “Em Wuhan, que é uma cidade com nove milhões de habitantes, os bares, as discotecas e os restaurantes estavam a trabalhar, na noite de sexta para sábado. Aqui, o Governo está a meter medo às pessoas. E as que saem para os restaurantes são intimidadas pela polícia”, critica, contando que, naquela mesma noite, a polícia fiscalizou os restaurantes da zona e autuou alguns proprietários que continuavam com gente dentro depois das 22h30, ao mesmo tempo que identificava os clientes. “Isso é intimidatório e inconstitucional”.
Já com o pagamento dos salários e dos subsídios de Natal processado, este empresário diz-se capaz de chegar até ao fim do ano sem dívidas acumuladas. “Paguei tudo a toda a gente, inclusive ao Estado”. E em Janeiro? “Se tiver que chegar ao ponto de ter de começar a reinvestir, é melhor fechar. Quando a empresa não se paga a si própria, mantê-la aberta é como guardar um cadáver.”
No caso de Marcos Ladeira, que aos 21 anos é gerente de um restaurante, o que a crise pandémica fez, além de lhe ter aguçado o medo imediato de perder o emprego e com ele o salário, foi adiar os projectos de arriscar sair de casa dos pais e estabelecer-se por contra própria. “Com a situação que está criada, e sem saber onde vou estar em Janeiro, fiquei muito mais longe das minhas metas”, entristece-se.
Está Marcos sem rodopio de clientes, logo, sem regateio a fazer com fornecedores e, algumas portas à frente, noutro restaurante da zona, José Alves com a testa cheia de vincos. “Se formos todos para o fundo do desemprego é mais uma despesa para o Estado”, cogita, alisando a camisa branca. Em 64 anos de vida, passou 50 a servir às mesas. Agora está “saturado” de esperar por clientes que nunca chegam. “Os dias vão de fraco a fraquinho. E os dias parados custam mais, cansam mais”, relata, convencido de que, se o Estado não injectar dinheiro nas empresas do sector, esperam-no dias de maior agonia. “Vou ter que pegar na enxada que está a um canto lá em casa e começar a cavar a terra. Se a casa fechar, vai ser impossível voltar a arranjar trabalho neste sector”, preocupa-se, dizendo que o dinheiro que tem “posto de lado dá para ir desenrascando, mas não por muito tempo.”
Fechar um restaurante, ainda que por apenas alguns períodos do dia, tem um efeito imediato nos milhares de funcionários que raramente ocorre a quem está de fora. “Dantes, comia aqui: almoço, lanche e jantar. Quando me reduziram o horário, passei a ter de comprar comida”, explica Rivânia Barata, que serve às mesas do Rebaldaria. Claro que a redução do horário para metade foi acompanhada de um corte salarial, também para metade. “Ficou tudo muito mais complicado”, diz, apesar de assumir com sorte porque acumula o emprego com o último ano de uma licenciatura na área da informática e tem as despesas mais pesadas asseguradas pela família.
A proprietária do restaurante, Ana Peres, diz que reduzir o horário aos quatro funcionários foi a única forma de encarar as quebras “de 70% a 80% na facturação”. “Com isso consegui não despedir ninguém”, explica, para acrescentar que, exceptuada a comparticipação dos salários no regime simplificado de lay-off , que vigorou durante o primeiro período da pandemia, não lhe entrou pela porta nem mais um euro dos 1,1 mil milhões de euros dos apoios já disponibilizados ou anunciados para a restauração. “Durante os últimos meses contraí dívidas à Segurança Social e às Finanças e, ao limitar os apoios a quem não tem dívidas, o Governo deixa de fora quem está a ter mais dificuldades em aguentar o negócio”, acusa.
Na óptica do presidente da PRO.VAR, Daniel Serrão, fazer depender os apoios da existência de capitais próprios positivos, é ignorar a realidade de um sector tão fortemente dependente de mão-de-obra intensiva. “Na restauração, qualquer redução da actividade económica tem logo um impacto enorme nas contas. O Governo alega que essa condição resulta de uma imposição da União Europeia, mas então a TAP não tinha capitais próprios negativos?! Por que é que não se pede a mesma excepção para a restauração, que é também um sector estratégico e de interesse nacional?”.
No cenário actual, e numa altura em que diz estar a pagar os duodécimos das rendas mensais de 1500 euros que deve ao senhorio e cujo pagamento beneficiou de uma moratória nos meses em que foi obrigada a fechar, Ana Peres conclui que os apoios concedidos mais não farão do que adiar o estertor. “Estamos quase só a falar de empréstimos ou adiamentos que vão ter que ser todos pagos mais à frente. E, deste modo, os pequenos empresários que não caírem agora vão cair daqui a dois anos, porque a retoma desta crise vai ser muito lenta”, sustenta.
“Estes apoios parecem todos muito bonitos mas limitam-se a adiar os problemas com a barriga, porque o que não pagarmos agora vamos ter de pagar depois”, concorda Nuno Portela, proprietário de um bar cuja facturação “desceu 90%” desde que deixou de servir bebidas após as 22h00 em vez das habituais 4h00 da manhã. “A autarquia foi razoável e até nos isentou de todas as taxas de licenças de esplanadas e toldos até ao final do ano, mas isso não chega”. Por enquanto, o remédio vai ser fechar temporariamente, aproveitando para dar férias ao funcionário. “Numa altura em que a facturação não dá para pagar as despesas fixas, já nem se justificava ele estar a trabalhar, aliás, se eu desligasse agora o [botão] geral da electricidade e fechasse a torneira da água perdia menos dinheiro. Mas, pronto, ele é nosso funcionário e a verdade é que estar fechado em casa é pior para a minha saúde mental”, ironiza, consciente de que, “sem apoios a fundo perdido”, a almofada financeira de que dispõe não chega até Maio que é quando prevê que a situação possa “começar a melhorar um bocadinho”.
Até lá, antevê o presidente da PRO.VAR, muitas empresas fecharão portas que só dificilmente voltarão a abrir. “O Governo adoptou uma estratégia muito sólida para afastar as pessoas dos restaurantes. Se nesta altura 20% dos restaurantes já estão encerrados, com mais esta decisão catastrófica que os impede de facturar na altura do Natal, os restaurantes que estão a ponderar encerrar, definitiva ou
A crise já terá mandado cerca de 40 mil trabalhadores do sector para o desemprego, segundo a PRO.VAR - Associação Nacional de Restaurantes. “Pelas contas e pelos inquéritos que temos vindo a fazer, chegaremos ao início do próximo ano acima dos 100 mil desempregados”, calcula Daniel Serrão, o presidente da associação, cujos telefones não têm parado de tocar com “empresários desesperados” do outro lado. “Muitos foram aguentando ao longo destes quase nove meses pensando que teriam alguma oportunidade de facturar neste último trimestre, mas agora, com as novas medidas, perderam qualquer tipo de esperança. O desespero é imenso. Muitos já só pedem ajuda por não saberem como comunicar aos trabalhadores que vão fechar”, relata.
Podia muito bem ter sido o caso de Pedro Lobo, 39 anos, proprietário do restaurante Adamastor, no centro de Aveiro, que emprega 11 funcionários. “Não vou ter hipótese de aguentar esta estrutura. Tirarem-nos o fim-de-semana foi a mesma coisa que nos matar”, explica, para justificar a decisão recente de despedir três funcionários. “Ando há uma semana a tentar ganhar coragem para falar com eles. Isto tira-me o sono, não consigo pensar noutra coisa”, desabafa, num dos cantos do restaurante onde, apesar de ser hora de almoço, tem as dezenas de mesas vazias. “É assim praticamente todos os dias. A quebra na facturação anda nos 95%”, descreve.
Num normal fim-de-semana de Novembro, Pedro servia “entre 100 a 150 refeições” por dia. “Sabe quantas refeições servi no último fim-de-semana? Nenhuma”, compara o empresário. Ao lado, o cozinheiro Carlos Dias confirma a ausência de torvelinho. “Fazíamos três e quatro quilos de arroz por dia e agora fazemos meio quilo e, às vezes, nem esse meio quilo sai. Custa muito ver que, ao final da noite, a panela da sopa continua cheia.”
Do que ele gosta é de preparar marisco ("é quando tenho mais confiança em mim") mas agora é cada vez mais raro ver os búzios, as ameijoas e o camarão a sair das vitrinas. “Se perder o emprego, não vai ser fácil arranjar trabalho novamente no sector”, rumina, consciente de que que nem o facto de o restaurante ter adoptado o serviço de take-away e de entrega de refeições em casa, para mitigar os efeitos da obrigatoriedade de encerrar às 13h00, está a ajudar ao negócio.
“Disponibilizei um funcionário para entregar as refeições, fiz publicidade nas redes sociais”, frisa Pedro Lobo, “mas as pessoas simplesmente não têm esse hábito”. Com uma despesa média mensal a rondar os 20 mil euros e a facturação a rondar os nove mil, o empresário diz-se numa “situação dramática”. “Tenho pessoas comigo há 15 anos. O que é que eu vou fazer?!”.
A declaração de impotência, que já motivou várias manifestações em diferentes cidades do país, ouve-se porta-sim-porta sim nas ruas que desaguam na Praça do Peixe, em Aveiro, pejadas de bares e restaurantes. O Governo tem-se desdobrado em anúncios de apoio ao sector, mas, algumas passadas mais à frente, Pedro Oliveira, dono do “Tasca do Sal” exaspera-se quando recorda algumas das promessas feitas. “Como é que se compreende que um primeiro-ministro nos venha dizer, como disse no sábado, que o prazo de pagamento da TSU [Taxa Social Única] vai ser prolongado, quando a data de pagamento tinha expirado na véspera?! E ele sabe que, quem não tivesse pago, já tinha uma coima de 127 euros no dia em que fez o anúncio. Isso é mentir às pessoas”, sustenta.
Numa altura em que passou de servir “entre 50 a 60 refeições diárias para uma média de cinco”, Pedro Oliveira diz que conseguiu até agora suportar as despesas sem recorrer a moratórias e sem despedir nenhum dos seus cinco funcionários. Mas hesita em candidatar-se à promessa de apoio de 20% sobre a quebra da facturação. “Desde logo, darem 20% da quebra média de facturação face à média de um ano em que estivemos fechados 11 fins-de-semana, é ridículo. E, se a contrapartida for que não posso despedir ninguém nem recorrer ao lay-off, provavelmente não o farei, porque essa é uma garantia que não posso dar”, diz.
Neste momento, “a clientela não justifica nem metade do pessoal”. E não é só por causa das restrições horárias nem pelo facto de as mesas terem sido reduzidas a metade por força da obrigatoriedade de manter o distanciamento entre comensais. “Em Wuhan, que é uma cidade com nove milhões de habitantes, os bares, as discotecas e os restaurantes estavam a trabalhar, na noite de sexta para sábado. Aqui, o Governo está a meter medo às pessoas. E as que saem para os restaurantes são intimidadas pela polícia”, critica, contando que, naquela mesma noite, a polícia fiscalizou os restaurantes da zona e autuou alguns proprietários que continuavam com gente dentro depois das 22h30, ao mesmo tempo que identificava os clientes. “Isso é intimidatório e inconstitucional”.
Já com o pagamento dos salários e dos subsídios de Natal processado, este empresário diz-se capaz de chegar até ao fim do ano sem dívidas acumuladas. “Paguei tudo a toda a gente, inclusive ao Estado”. E em Janeiro? “Se tiver que chegar ao ponto de ter de começar a reinvestir, é melhor fechar. Quando a empresa não se paga a si própria, mantê-la aberta é como guardar um cadáver.”
No caso de Marcos Ladeira, que aos 21 anos é gerente de um restaurante, o que a crise pandémica fez, além de lhe ter aguçado o medo imediato de perder o emprego e com ele o salário, foi adiar os projectos de arriscar sair de casa dos pais e estabelecer-se por contra própria. “Com a situação que está criada, e sem saber onde vou estar em Janeiro, fiquei muito mais longe das minhas metas”, entristece-se.
Está Marcos sem rodopio de clientes, logo, sem regateio a fazer com fornecedores e, algumas portas à frente, noutro restaurante da zona, José Alves com a testa cheia de vincos. “Se formos todos para o fundo do desemprego é mais uma despesa para o Estado”, cogita, alisando a camisa branca. Em 64 anos de vida, passou 50 a servir às mesas. Agora está “saturado” de esperar por clientes que nunca chegam. “Os dias vão de fraco a fraquinho. E os dias parados custam mais, cansam mais”, relata, convencido de que, se o Estado não injectar dinheiro nas empresas do sector, esperam-no dias de maior agonia. “Vou ter que pegar na enxada que está a um canto lá em casa e começar a cavar a terra. Se a casa fechar, vai ser impossível voltar a arranjar trabalho neste sector”, preocupa-se, dizendo que o dinheiro que tem “posto de lado dá para ir desenrascando, mas não por muito tempo.”
Fechar um restaurante, ainda que por apenas alguns períodos do dia, tem um efeito imediato nos milhares de funcionários que raramente ocorre a quem está de fora. “Dantes, comia aqui: almoço, lanche e jantar. Quando me reduziram o horário, passei a ter de comprar comida”, explica Rivânia Barata, que serve às mesas do Rebaldaria. Claro que a redução do horário para metade foi acompanhada de um corte salarial, também para metade. “Ficou tudo muito mais complicado”, diz, apesar de assumir com sorte porque acumula o emprego com o último ano de uma licenciatura na área da informática e tem as despesas mais pesadas asseguradas pela família.
A proprietária do restaurante, Ana Peres, diz que reduzir o horário aos quatro funcionários foi a única forma de encarar as quebras “de 70% a 80% na facturação”. “Com isso consegui não despedir ninguém”, explica, para acrescentar que, exceptuada a comparticipação dos salários no regime simplificado de lay-off , que vigorou durante o primeiro período da pandemia, não lhe entrou pela porta nem mais um euro dos 1,1 mil milhões de euros dos apoios já disponibilizados ou anunciados para a restauração. “Durante os últimos meses contraí dívidas à Segurança Social e às Finanças e, ao limitar os apoios a quem não tem dívidas, o Governo deixa de fora quem está a ter mais dificuldades em aguentar o negócio”, acusa.
Na óptica do presidente da PRO.VAR, Daniel Serrão, fazer depender os apoios da existência de capitais próprios positivos, é ignorar a realidade de um sector tão fortemente dependente de mão-de-obra intensiva. “Na restauração, qualquer redução da actividade económica tem logo um impacto enorme nas contas. O Governo alega que essa condição resulta de uma imposição da União Europeia, mas então a TAP não tinha capitais próprios negativos?! Por que é que não se pede a mesma excepção para a restauração, que é também um sector estratégico e de interesse nacional?”.
No cenário actual, e numa altura em que diz estar a pagar os duodécimos das rendas mensais de 1500 euros que deve ao senhorio e cujo pagamento beneficiou de uma moratória nos meses em que foi obrigada a fechar, Ana Peres conclui que os apoios concedidos mais não farão do que adiar o estertor. “Estamos quase só a falar de empréstimos ou adiamentos que vão ter que ser todos pagos mais à frente. E, deste modo, os pequenos empresários que não caírem agora vão cair daqui a dois anos, porque a retoma desta crise vai ser muito lenta”, sustenta.
“Estes apoios parecem todos muito bonitos mas limitam-se a adiar os problemas com a barriga, porque o que não pagarmos agora vamos ter de pagar depois”, concorda Nuno Portela, proprietário de um bar cuja facturação “desceu 90%” desde que deixou de servir bebidas após as 22h00 em vez das habituais 4h00 da manhã. “A autarquia foi razoável e até nos isentou de todas as taxas de licenças de esplanadas e toldos até ao final do ano, mas isso não chega”. Por enquanto, o remédio vai ser fechar temporariamente, aproveitando para dar férias ao funcionário. “Numa altura em que a facturação não dá para pagar as despesas fixas, já nem se justificava ele estar a trabalhar, aliás, se eu desligasse agora o [botão] geral da electricidade e fechasse a torneira da água perdia menos dinheiro. Mas, pronto, ele é nosso funcionário e a verdade é que estar fechado em casa é pior para a minha saúde mental”, ironiza, consciente de que, “sem apoios a fundo perdido”, a almofada financeira de que dispõe não chega até Maio que é quando prevê que a situação possa “começar a melhorar um bocadinho”.
Até lá, antevê o presidente da PRO.VAR, muitas empresas fecharão portas que só dificilmente voltarão a abrir. “O Governo adoptou uma estratégia muito sólida para afastar as pessoas dos restaurantes. Se nesta altura 20% dos restaurantes já estão encerrados, com mais esta decisão catastrófica que os impede de facturar na altura do Natal, os restaurantes que estão a ponderar encerrar, definitiva ou
20.11.20
Novos apoios às empresas de 1550 milhões já podem ser lançados
in Público on-line
Autorização hoje publicada em Diário da República tem efeitos retroactivos a 5 de NovembroA autorização para lançar 1550 milhões de euros de apoios em subsídios (750 milhões) às pequenas e médias empresas mais afectadas pela covid-19 e em linhas de crédito (800 milhões) do Banco Português de Fomento, foi publicada esta sexta-feira.
Na sua autorização, publicada em Diário da República, com efeitos retroactivos a 5 de Novembro, o Governo defende a necessidade de reforçar os mecanismos de apoio à situação de tesouraria das empresas, “em particular às micro e pequenas empresas, que actuam nos sectores mais afectados pelas medidas de restrição à actividade social e económica, que neste mês de Novembro foram acentuadas”.
O executivo salienta também a necessidade de uma “especial atenção” às empresas do sector industrial exportador mais orientado para o sector do consumo, como a fileira da indústria têxtil, do vestuário e calçado e outras associadas, em que “a procura externa também foi negativamente afectada” pelas medidas de confinamento decretados nos mercados de destino.
O diploma lança novos instrumentos de apoio à tesouraria das empresas, como apoios directos sob a forma de subsídios destinados a micro e pequenas empresas de sectores particularmente afectados pelas medidas excepcionais aprovadas no contexto da pandemia, bem como apoios directos a empresas industriais fortemente exportadoras e a fornecedores de serviços e bens específicos para apoio a eventos culturais, festivos, desportivos ou corporativos, sob a forma de crédito garantido pelo Estado, com possibilidade de conversão parcial em crédito a fundo perdido mediante a manutenção dos postos de trabalho.
Esta medida, diz o executivo no diploma, visa garantir um apoio imediato à liquidez, eficiência operacional e saúde financeira de curto prazo daquelas empresas, e é cumulável com as outras medidas de apoio à economia, nomeadamente o apoio à retoma progressiva ou as demais linhas de crédito com garantia pública.
Estes novos apoios ficam sujeitos à verificação de determinadas condições de elegibilidade, como a de as empresas beneficiárias terem situação líquida positiva a 31 de Dezembro de 2019, e a determinadas obrigações, como a de não distribuição de fundos aos sócios ou a restrição à promoção de efectuar despedimentos colectivos e de extinguir postos de trabalho por motivos económicos.
Do total de apoio, 750 milhões de euros são relativos a subsídios a fundo perdido destinado a micro e pequenas empresas dos sectores mais afectados pela crise, de sectores como comércio, cultura, alojamento e actividades turísticas e restauração, com quebras de facturação superiores a 25% registadas nos primeiros nove meses de 2020 e que tenham a situação fiscal e contributiva regularizada.
Igual verba destina-se a uma linha de crédito para a indústria exportadora, a dinamizar pelo Banco Português de Fomento (BPF), com possibilidade de conversão de 20% do crédito concedido a fundo perdido, em caso de manutenção dos postos de trabalho, sendo o crédito determinado em função do número de postos de trabalho.
O diploma cria ainda uma linha de crédito de 50 milhões de euros para micro, pequenas, médias empresas e “mid cap” de apoio a eventos culturais, festivos, desportivos ou corporativos, com a possibilidade de 20% do crédito concedido ser convertido em crédito a fundo perdido, em caso de manutenção de postos de trabalho, a dinamizar também pelo BPF.
Resultante da fusão de três instituições (a absorção na SPGM - Sociedade de Investimento da PME Investimentos e da IFD - Instituição Financeira de Desenvolvimento), o BPF iniciou formalmente funções no passado dia 03, com uma equipa de gestão composta por quadros destes vários organismos.
No dia da assinatura do diploma hoje publicado, em 5 de Novembro, o ministro da Economia explicou que os encargos com as medidas são suportados por fundos europeus, sendo o crédito bancário atribuído pelo sistema financeiro com garantia do Estado e que uma parte deste crédito pode também ser convertida a fundo perdido.
No diploma publicado esta sexta-feira, o Governo comete ao ministro da Economia e da Transição Digital a operacionalização, monitorização e avaliação das medidas, “as quais devem estar em funcionamento até ao dia 31 de Dezembro de 2020”.
16.11.20
Governo anuncia medidas de ajuda à restauração. Apoios já totalizam mais de 1,1 mil milhões de euros
Os apoios já disponibilizados ou anunciados para o sector da restauração nos últimos meses e na sequência da crise causada pela pandemia totalizam 1.103 milhões de euros, correspondendo a cerca de 60% do da quebra de facturação registada pelo sector, disse o ministro da Economia.
O ministro da Economia, Pedro Siza Veira, anunciou este sábado um conjunto de medidas de apoio à restauração, um dos sectores que mais tem sofrido com as restrições para conter a propagação da pandemia. Os apoios já disponibilizados ou anunciados para o sector da restauração na sequência da crise causada pela pandemia totalizam 1.103 milhões de euros, correspondendo a cerca de 60% do da quebra de facturação registada pelo sector, disse o ministro da Economia.
Aquele valor global engloba 286 milhões de euros de apoios que já chegaram às empresas deste sector por via do lay-off simplificado e do apoio à retoma progressiva ou ainda os 200 milhões de euros para o novo programa Apoiar, que consiste na atribuição de um apoio a fundo perdido às micro, pequenas e médias empresas para as compensar pela quebra de facturação.
Numa conferência de imprensa em Lisboa, Siza Vieira referiu que o pagamento da primeira fase do Apoiar será feito já em Dezembro.
Os dados das facturas comunicadas pelo sector da restauração ao Portal das Finanças permitem concluir a quebra de facturação face a 2019 foi nos primeiros nove meses de 2020 de 1860 milhões de euros.
O sector poderá contar também com o apoio de 20% das perdas da restauração nos próximos dois fins-de-semana, anunciado na quinta-feira por António Costa, depois do Conselho de Ministros. Os donos de restaurantes, cafetarias e afins terão de comunicar, a partir do dia 25 no Balcão 2020 e “sob o seu compromisso de honra”, qual foi a receita que arrecadaram nos próximos dois fins-de-semana em que há regras de circulação mais apertadas associadas ao recolher obrigatório a partir das 13h.
Depois, irão receber um apoio monetário equivalente a 20% da perda da receita em comparação com a média da receita obtida nos 44 fins-de-semana que decorreram entre Janeiro e o final de Outubro. A ideia, disse o primeiro-ministro, é “mitigar o efeito particularmente negativo” que as medidas de restrição irão provocar no sector, já que impedem a realização de almoços e jantares, permitindo apenas o take-away até às 13h e, depois disso, a entrega ao domicílio.
O ministro recordou que em muito países europeus, como a Alemanha, a França ou a Irlanda, a restauração continua fechada, algo que não está a acontecer em Portugal. “Em Portugal estamos principalmente a sentir o impacto na procura”, disse. Siza Vieira considerou que é “compreensível o desespero” do sector em situações “mais extremas, em zonas em que a procura desapareceu”, mas afirmou esperar que estes apoios ajudem a restauração e similares durante algum tempo.
O ministro da Economia, Pedro Siza Veira, anunciou este sábado um conjunto de medidas de apoio à restauração, um dos sectores que mais tem sofrido com as restrições para conter a propagação da pandemia. Os apoios já disponibilizados ou anunciados para o sector da restauração na sequência da crise causada pela pandemia totalizam 1.103 milhões de euros, correspondendo a cerca de 60% do da quebra de facturação registada pelo sector, disse o ministro da Economia.
Aquele valor global engloba 286 milhões de euros de apoios que já chegaram às empresas deste sector por via do lay-off simplificado e do apoio à retoma progressiva ou ainda os 200 milhões de euros para o novo programa Apoiar, que consiste na atribuição de um apoio a fundo perdido às micro, pequenas e médias empresas para as compensar pela quebra de facturação.
Numa conferência de imprensa em Lisboa, Siza Vieira referiu que o pagamento da primeira fase do Apoiar será feito já em Dezembro.
Os dados das facturas comunicadas pelo sector da restauração ao Portal das Finanças permitem concluir a quebra de facturação face a 2019 foi nos primeiros nove meses de 2020 de 1860 milhões de euros.
O sector poderá contar também com o apoio de 20% das perdas da restauração nos próximos dois fins-de-semana, anunciado na quinta-feira por António Costa, depois do Conselho de Ministros. Os donos de restaurantes, cafetarias e afins terão de comunicar, a partir do dia 25 no Balcão 2020 e “sob o seu compromisso de honra”, qual foi a receita que arrecadaram nos próximos dois fins-de-semana em que há regras de circulação mais apertadas associadas ao recolher obrigatório a partir das 13h.
Depois, irão receber um apoio monetário equivalente a 20% da perda da receita em comparação com a média da receita obtida nos 44 fins-de-semana que decorreram entre Janeiro e o final de Outubro. A ideia, disse o primeiro-ministro, é “mitigar o efeito particularmente negativo” que as medidas de restrição irão provocar no sector, já que impedem a realização de almoços e jantares, permitindo apenas o take-away até às 13h e, depois disso, a entrega ao domicílio.
O ministro recordou que em muito países europeus, como a Alemanha, a França ou a Irlanda, a restauração continua fechada, algo que não está a acontecer em Portugal. “Em Portugal estamos principalmente a sentir o impacto na procura”, disse. Siza Vieira considerou que é “compreensível o desespero” do sector em situações “mais extremas, em zonas em que a procura desapareceu”, mas afirmou esperar que estes apoios ajudem a restauração e similares durante algum tempo.
10.11.20
Matosinhos vai pagar aos táxis para que levem comida dos restaurantes aos clientes nos próximos fins-de-semana
André Borges Vieira, in Público on-line
A autarquia criou um sistema de take-away municipal para mitigar perdas no sector da restauração. O serviço é gratuito para restaurantes e clientes e vai funcionar com os táxis do concelho. Para o Governo seguiram outras recomendações em prol da sobrevivência do sector.Mais apoios para o sector da restauração, é o que pede ao Governo a câmara de Matosinhos em carta enviada nesta segunda-feira ao ministro da Economia. Por força da pandemia, os prejuízos para o restaurantes do concelho aumentam diariamente. Para mitigar os danos no sector, face ao ajuste do horário de funcionamento dos estabelecimentos ao confinamento parcial, a autarquia vai lançar um serviço de take-away gratuito durante os próximos dois fins-de-semana do estado de emergência.
No concelho há cerca de 1200 estabelecimentos dedicados à restauração, que empregam aproximadamente 5 mil pessoas. Desde o início da pandemia, há cerca de oito meses, este foi um dos primeiros sectores a sentir o efeito que o novo coronavírus teve em várias áreas de actividade. Em Março, o confinamento obrigou muitos dos empresários da restauração a recorrerem às almofadas de poupanças para segurarem o negócio. Com o número de clientes muito abaixo de outros anos, os recursos financeiros foram-se esgotando.
Apesar da folga das medidas de restrição aplicadas por altura do Verão, a instabilidade no sector continua a ser motivo de preocupação para empresários e funcionários. Matosinhos, que tem nos seus restaurantes um dos cartões de visita da cidade, pede ao Governo mais apoios para o sector, na tentativa de segurar “milhares de postos de trabalho”.
Este reforço surge na sequência da alteração dos horários de funcionamento dos estabelecimentos, ajustada às restrições impostas pelo novo estado de emergência, que desde segunda-feira implementou recolher obrigatório em 121 concelhos do país - durante a semana está definido entre as 23h e as 5h e ao fim-de-semana entre as 13h e as 05h.
Na última semana, em ruas centrais para o negócio, os restaurantes têm estado vazios. Por impossibilidade de poderem funcionar de portas abertas ao público ao sábado e ao domingo durante os horários das refeições, a autarquia matosinhense criou um serviço take-away gratuito para os restaurantes e clientes que irá funcionar nos próximos dois fins-de-semana do estado de emergência.
As despesas do serviço de entrega estão assegurados pela autarquia, adianta a presidente da câmara de Matosinhos. Luísa Salgueiro explica que o serviço funcionará com recurso à Cooperativa de Táxis de Matosinhos, que terá 75 viaturas disponíveis para assegurar o serviço. “Apoia-se os restaurantes e os taxistas, que também tiveram uma quebra na actividade”, sublinha.
Não sabendo ainda os dados exactos relativamente ao impacto que a pandemia está a ter nos restaurantes do concelho, salienta que, “como noutros sectores de actividade”, este precisa de apoios. Em Matosinhos, a sobrevivência dos negócios da restauração é fundamental para a própria imagem do cartaz turístico da cidade. “Somos a sala de jantar de toda a região”, reforça. A nível nacional, de acordo com a Ahresp 43% das empresas de restauração admitem pedir insolvência.
Da lista da missiva endereçada ao ministro Pedro Siza Vieira, fazem parte outras recomendações. A autarca pede a isenção da Taxa Social Única dos trabalhadores “cujo empregador manteve a totalidade dos postos de trabalho durante um período definido”, a fixação da taxa de IVA de 6% nos serviços de alimentação e 23% nas bebidas, durante o mesmo período, “mesmo com a operacionalização do IVAUCHER”, e a moratória de 6 meses no pagamento das facturas de fornecimento e serviços externos, incluindo contas de electricidade, água e o gás.
Luísa Salgueiro recomenda a simplificação do sistema de candidaturas à medida Apoiar.pt, tornando o acesso à mesma automático, em função das quebras na facturação “registadas na Autoridade Tributária e Aduaneira e dos funcionários inscritos no Instituto de Segurança Social”.
Restaurantes em estado de emergência: “Acho que é a rampa final para cairmos”
Mara Gonçalves e Rita Gomes Almeida, in Público on-line
Com o recolher obrigatório a partir das 13h, muitos restaurantes vão optar por fechar portas nos dois próximos fins-de-semana. O impacto, num sector já severamente afectado pela pandemia, “vai ser desastroso”.
Atrás do balcão dos restaurantes contactados pelo PÚBLICO esta segunda-feira, com salas a meio gás ao almoço, a notícia das medidas impostas pelo estado de emergência foi recebida com resignação e muita apreensão. A maioria espera para ver. Até porque em nenhum dos espaços se acredita que as restrições sejam levantadas depois de 23 de Novembro. Para já, com muitos a decidirem fechar portas ao fim-de-semana, há também quem procure alternativas. Como n’ Os Courenses, no bairro lisboeta de Alvalade, onde ainda se estudava a possibilidade de entregar comida ao domicílio com os carros da empresa ou dos funcionários. “Hoje mesmo vamos informar-nos se, legalmente, é possível”, revelava, esta segunda-feira, Marco Araújo, empregado de mesa no restaurante de gastronomia minhota. “Não é para salvar nada. É, única e exclusivamente, para não baixar os braços.”
Ao fim-de-semana, o restaurante abre apenas ao almoço de sábado. Mas o cozido à portuguesa faz filas à porta. “São muitos quilos de cozido e, às 13h do sábado passado, já não havia”, exemplifica. “Foi o melhor dia da semana em termos de vendas.” Tirar a bolha de salvação que o fim-de-semana representa para um sector severamente afectado pela pandemia é “perder quase tudo”. “O impacto vai ser mais do que brutal”, acredita. “Tem sido uma quebra muito acentuada no negócio todos estes meses em que estivemos abertos e agora é reduzir mais aquilo que já não se ganha.”
Com a entrada em vigor do estado de emergência nos 121 concelhos considerados de risco mais elevado de contágio da covid-19 , os espaços de restauração têm de estar fechados durante os períodos de recolher obrigatório, o que, para muitos, implica não abrir portas nos dois próximos fins-de-semana, uma vez que não compensa manter o espaço a funcionar apenas até às 13h. N’ Os Courenses, se não for possível “agarrar no próprio carro e ir entregar comida”, o restaurante vai ficar fechado. “Não se justifica” abrir sequer para serviço de take-away “se as pessoas não puderem vir”.
No Rui dos Pregos das Docas de Lisboa, a decisão também já está tomada. Apesar de serem “os dias mais fortes da casa”, com um volume de negócios cerca de 30% superior aos restantes dias, sem os grupos de amigos e famílias que costumam aproveitar o fim-de-semana para passear na zona e “ficar para beber um cafezinho”, o restaurante não vai abrir.
O cenário, aponta o gerente, Ivanildo Reis, é de grande “incerteza”. Não só os fins-de-semana ficarão em suspenso enquanto a medida vigorar, como o serviço de jantar durante a semana pode estar em causa. “Não sabemos se se vai justificar com o recolher obrigatório a partir das 23h, porque talvez as pessoas não tenham tanta margem para vir.”
O impacto é particularmente severo à medida que o Inverno se aproxima: as pessoas ficam habitualmente mais recolhidas em casa durante a semana e, com a chuva e o frio, “a esplanada é para anular”, relembra Ivanildo, representando menos lugares disponíveis e menor fluxo de clientes.
No Fauna & Flora, aberto na Madragoa em 2017 (com um segundo espaço nos Anjos inaugurado no ano passado), Joana Faria não tem dúvidas: “o impacto vai ser desastroso” para o sector. “Acho que é a rampa final para cairmos”, vaticina. “Sobreviver só com o que estamos a facturar à semana é completamente difícil ou impossível.”
No restaurante, especializado em pratos de pequeno-almoço e brunch à la carte, nos sábados e domingos trabalha-se “cerca de duas a três vezes mais do que num dia de semana”. A estratégia para os próximos fins-de-semana passa por abrir uma hora mais cedo (8h30) e “sensibilizar os clientes para fazerem uma estadia o mais curta possível para dar oportunidade a outros também”.
No entanto, a facturação deverá ser “ridícula”, perspectiva a proprietária. E a ideia de que as entregas ao domicílio possam vir “talvez salvar aqui qualquer coisa” é como “passar areia nos olhos”. Até à reabertura da restauração, a 18 de Maio, o grupo teve um serviço de entregas, com viaturas próprias e funcionários contratados para o efeito. Mas “são gastos extra” que, para já, estão em suspenso. O restaurante está nas plataformas de entregas ao domicílio mas as críticas são muitas. “Implica pagarmos taxas absurdas e temos imensas reclamações dos clientes a dizer que a comida chegou em péssimo estado.” Outras encomendas não chegam completas ao destino.
São essas as razões apontadas n’ Os Courenses e no Helsínquia, em Alvalade, ou no restaurante Paráguas, na Madragoa, para não encontrarem no serviço de entregas uma bóia de salvação. Para espaços pequenos “não compensa”, dizem. Por isso, não vêem alternativa a fechar as portas ao soar do recolher obrigatório.
"Ter take-away é como tentar encher uma piscina com um copo de água”
No Porto, o cenário encontrado é semelhante. Na Casa Isa, na Avenida da Boavista, no Porto, o habitual, antes da pandemia, era ter cerca de 50 clientes à mesa pelas 12h30. Esta segunda-feira não há nenhum. O frenesim habitual não existe. Os funcionários olham pela janela, como que à espera de quem entre para almoçar. Grande parte dos clientes mais frequentes estão em teletrabalho e outros, habitualmente acima dos 50 anos, “têm medo de sair de casa”, garante o proprietário do espaço. No entanto, Mário Rocha diz que tem cumprido todas as normas indicadas pela DGS desde o início da pandemia. Os pedidos do serviço take-away não aumentaram e, com oito empregados, “está a ser difícil manter o restaurante aberto perante tantas despesas”. Desde Março até agora, Mário conta que já perdeu mais de 40 mil euros. Tenciona fechar nestes dois próximos dois fins-de-semana, porque grande parte dos clientes aparece apenas a partir das 13h.
Também no Capa na Baixa, na Praça D. João I, o silêncio da sala persiste. Já se vêem alguns clientes, mas o proprietário Nuno Fontes garante que em nada se compara com o cenário de há meses e planeia não abrir no próximo sábado. O Capa na Baixa faz parte de um grupo de cinco restaurantes e o proprietário não tem dúvidas: “Caminhamos para a fome e para a pobreza. No auge da troika estávamos com quebras de 2% e agora estamos em 8/9%.” O restaurante tem serviço de take-away, apesar de Nuno considerar não ser suficiente para manter o negócio, que já conta com uma quebra entre 70 a 80%. “Ter take-away é como tentar encher uma piscina com um copo de água”, conta.
Nuno esteve presente na manifestação da restauração e de outros sectores mais afectados, como a hotelaria, que decorreu esta segunda-feira no Porto, para “dar apoio”, uma vez que a restrição de horários implementados para os restaurantes “não faz sentido”. “Falam que no seio familiar há mais contágios, mas fechar os restaurantes vai fazer as pessoas irem para casa dos pais, ou seja, juntar a família”, assegura.
Assim como Nuno, Zeca Maia, um dos proprietários do restaurante Xico Queijo, esteve na manifestação. “Foi pacífica e foi uma forma de os sectores mais afectados mostrarem o seu desagrado. Estavam presentes proprietários, ex-funcionários e funcionários que estão a ver o emprego fugir”, explica. Zeca é também um dos donos do café-bar Casa do Livro, encerrado há oito meses. “Estou a endividar-me para pagar o ordenado aos meus funcionários”, que são cerca de uma dezena.
A grande dúvida para muitos persiste: e depois destas duas semanas? Como nos dizia Joana Faria, proprietária do lisboeta Fauna & Flora, o receio é que este seja apenas “o começo de medidas mais duras”. “Imagino que não é com 15 dias e dois fins-de-semana com as pessoas a saírem mais ou menos que os números vão baixar”, concluía.
Com o recolher obrigatório a partir das 13h, muitos restaurantes vão optar por fechar portas nos dois próximos fins-de-semana. O impacto, num sector já severamente afectado pela pandemia, “vai ser desastroso”.
Atrás do balcão dos restaurantes contactados pelo PÚBLICO esta segunda-feira, com salas a meio gás ao almoço, a notícia das medidas impostas pelo estado de emergência foi recebida com resignação e muita apreensão. A maioria espera para ver. Até porque em nenhum dos espaços se acredita que as restrições sejam levantadas depois de 23 de Novembro. Para já, com muitos a decidirem fechar portas ao fim-de-semana, há também quem procure alternativas. Como n’ Os Courenses, no bairro lisboeta de Alvalade, onde ainda se estudava a possibilidade de entregar comida ao domicílio com os carros da empresa ou dos funcionários. “Hoje mesmo vamos informar-nos se, legalmente, é possível”, revelava, esta segunda-feira, Marco Araújo, empregado de mesa no restaurante de gastronomia minhota. “Não é para salvar nada. É, única e exclusivamente, para não baixar os braços.”
Ao fim-de-semana, o restaurante abre apenas ao almoço de sábado. Mas o cozido à portuguesa faz filas à porta. “São muitos quilos de cozido e, às 13h do sábado passado, já não havia”, exemplifica. “Foi o melhor dia da semana em termos de vendas.” Tirar a bolha de salvação que o fim-de-semana representa para um sector severamente afectado pela pandemia é “perder quase tudo”. “O impacto vai ser mais do que brutal”, acredita. “Tem sido uma quebra muito acentuada no negócio todos estes meses em que estivemos abertos e agora é reduzir mais aquilo que já não se ganha.”
Com a entrada em vigor do estado de emergência nos 121 concelhos considerados de risco mais elevado de contágio da covid-19 , os espaços de restauração têm de estar fechados durante os períodos de recolher obrigatório, o que, para muitos, implica não abrir portas nos dois próximos fins-de-semana, uma vez que não compensa manter o espaço a funcionar apenas até às 13h. N’ Os Courenses, se não for possível “agarrar no próprio carro e ir entregar comida”, o restaurante vai ficar fechado. “Não se justifica” abrir sequer para serviço de take-away “se as pessoas não puderem vir”.
No Rui dos Pregos das Docas de Lisboa, a decisão também já está tomada. Apesar de serem “os dias mais fortes da casa”, com um volume de negócios cerca de 30% superior aos restantes dias, sem os grupos de amigos e famílias que costumam aproveitar o fim-de-semana para passear na zona e “ficar para beber um cafezinho”, o restaurante não vai abrir.
O cenário, aponta o gerente, Ivanildo Reis, é de grande “incerteza”. Não só os fins-de-semana ficarão em suspenso enquanto a medida vigorar, como o serviço de jantar durante a semana pode estar em causa. “Não sabemos se se vai justificar com o recolher obrigatório a partir das 23h, porque talvez as pessoas não tenham tanta margem para vir.”
O impacto é particularmente severo à medida que o Inverno se aproxima: as pessoas ficam habitualmente mais recolhidas em casa durante a semana e, com a chuva e o frio, “a esplanada é para anular”, relembra Ivanildo, representando menos lugares disponíveis e menor fluxo de clientes.
No Fauna & Flora, aberto na Madragoa em 2017 (com um segundo espaço nos Anjos inaugurado no ano passado), Joana Faria não tem dúvidas: “o impacto vai ser desastroso” para o sector. “Acho que é a rampa final para cairmos”, vaticina. “Sobreviver só com o que estamos a facturar à semana é completamente difícil ou impossível.”
No restaurante, especializado em pratos de pequeno-almoço e brunch à la carte, nos sábados e domingos trabalha-se “cerca de duas a três vezes mais do que num dia de semana”. A estratégia para os próximos fins-de-semana passa por abrir uma hora mais cedo (8h30) e “sensibilizar os clientes para fazerem uma estadia o mais curta possível para dar oportunidade a outros também”.
No entanto, a facturação deverá ser “ridícula”, perspectiva a proprietária. E a ideia de que as entregas ao domicílio possam vir “talvez salvar aqui qualquer coisa” é como “passar areia nos olhos”. Até à reabertura da restauração, a 18 de Maio, o grupo teve um serviço de entregas, com viaturas próprias e funcionários contratados para o efeito. Mas “são gastos extra” que, para já, estão em suspenso. O restaurante está nas plataformas de entregas ao domicílio mas as críticas são muitas. “Implica pagarmos taxas absurdas e temos imensas reclamações dos clientes a dizer que a comida chegou em péssimo estado.” Outras encomendas não chegam completas ao destino.
São essas as razões apontadas n’ Os Courenses e no Helsínquia, em Alvalade, ou no restaurante Paráguas, na Madragoa, para não encontrarem no serviço de entregas uma bóia de salvação. Para espaços pequenos “não compensa”, dizem. Por isso, não vêem alternativa a fechar as portas ao soar do recolher obrigatório.
"Ter take-away é como tentar encher uma piscina com um copo de água”
No Porto, o cenário encontrado é semelhante. Na Casa Isa, na Avenida da Boavista, no Porto, o habitual, antes da pandemia, era ter cerca de 50 clientes à mesa pelas 12h30. Esta segunda-feira não há nenhum. O frenesim habitual não existe. Os funcionários olham pela janela, como que à espera de quem entre para almoçar. Grande parte dos clientes mais frequentes estão em teletrabalho e outros, habitualmente acima dos 50 anos, “têm medo de sair de casa”, garante o proprietário do espaço. No entanto, Mário Rocha diz que tem cumprido todas as normas indicadas pela DGS desde o início da pandemia. Os pedidos do serviço take-away não aumentaram e, com oito empregados, “está a ser difícil manter o restaurante aberto perante tantas despesas”. Desde Março até agora, Mário conta que já perdeu mais de 40 mil euros. Tenciona fechar nestes dois próximos dois fins-de-semana, porque grande parte dos clientes aparece apenas a partir das 13h.
Também no Capa na Baixa, na Praça D. João I, o silêncio da sala persiste. Já se vêem alguns clientes, mas o proprietário Nuno Fontes garante que em nada se compara com o cenário de há meses e planeia não abrir no próximo sábado. O Capa na Baixa faz parte de um grupo de cinco restaurantes e o proprietário não tem dúvidas: “Caminhamos para a fome e para a pobreza. No auge da troika estávamos com quebras de 2% e agora estamos em 8/9%.” O restaurante tem serviço de take-away, apesar de Nuno considerar não ser suficiente para manter o negócio, que já conta com uma quebra entre 70 a 80%. “Ter take-away é como tentar encher uma piscina com um copo de água”, conta.
Nuno esteve presente na manifestação da restauração e de outros sectores mais afectados, como a hotelaria, que decorreu esta segunda-feira no Porto, para “dar apoio”, uma vez que a restrição de horários implementados para os restaurantes “não faz sentido”. “Falam que no seio familiar há mais contágios, mas fechar os restaurantes vai fazer as pessoas irem para casa dos pais, ou seja, juntar a família”, assegura.
Assim como Nuno, Zeca Maia, um dos proprietários do restaurante Xico Queijo, esteve na manifestação. “Foi pacífica e foi uma forma de os sectores mais afectados mostrarem o seu desagrado. Estavam presentes proprietários, ex-funcionários e funcionários que estão a ver o emprego fugir”, explica. Zeca é também um dos donos do café-bar Casa do Livro, encerrado há oito meses. “Estou a endividar-me para pagar o ordenado aos meus funcionários”, que são cerca de uma dezena.
A grande dúvida para muitos persiste: e depois destas duas semanas? Como nos dizia Joana Faria, proprietária do lisboeta Fauna & Flora, o receio é que este seja apenas “o começo de medidas mais duras”. “Imagino que não é com 15 dias e dois fins-de-semana com as pessoas a saírem mais ou menos que os números vão baixar”, concluía.
5.11.20
Restaurante que apoia integração dos sem-abrigo reabre com take-away e entregas
in Público on-line
Em Lisboa, a comida de conforto é a proposta do É um restaurante. Projecto da associação Crescer para ajudar na integração profissional de pessoas em situação de sem-abrigo voltou a cozinhar para todos.
O restaurante criado pela associação Crescer para dar emprego a pessoas em situação de sem abrigo viu-se obrigado a fechar em Março devido à pandemia (mantendo o fornecimento de refeições a pessoas que estão a viver nas ruas), mas anunciou a sua reabertura, desde o passado dia 29 de Outubro, exclusivamente para take-away e entregas ao domicílio.
Nuno Bergonse, o chefe consultor do projecto, e David Jesus, o chefe executivo, criaram uma nova carta que se propõe tirar maior partido dos produtos da época, apostando nos sabores outonais das castanhas e da batata-doce.
A ideia base continua a ser a de uma cozinha de conforto e de partilha, apresentando o restaurante como pratos principais javali estufado com castanhas e batata-doce (10€/18€ para duas pessoas), caril de camarão com arroz basmati (15€/28€ para duas pessoas), quinoa com legumes e beringela caramelizada (8,50€), ou com frango crocante, queijo da Ilha e molho César (9€), ou ainda sandes de barriga de porco com coleslaw e chips de batata doce (7,50€). Para sobremesa, há pudim de azeite e mel (4€) e mousse de chocolate (3€)
As encomendas pode ser feitas através da plataforma Zomato ou do site www.eumrestaurante.pt e ainda na Globo, Uber Eats, NoMenu e Takeaway.com. O restaurante funciona de segunda a sexta-feira das 12h30 às 15h e das 18h30 às 23h.
Em Lisboa, a comida de conforto é a proposta do É um restaurante. Projecto da associação Crescer para ajudar na integração profissional de pessoas em situação de sem-abrigo voltou a cozinhar para todos.
O restaurante criado pela associação Crescer para dar emprego a pessoas em situação de sem abrigo viu-se obrigado a fechar em Março devido à pandemia (mantendo o fornecimento de refeições a pessoas que estão a viver nas ruas), mas anunciou a sua reabertura, desde o passado dia 29 de Outubro, exclusivamente para take-away e entregas ao domicílio.
Nuno Bergonse, o chefe consultor do projecto, e David Jesus, o chefe executivo, criaram uma nova carta que se propõe tirar maior partido dos produtos da época, apostando nos sabores outonais das castanhas e da batata-doce.
A ideia base continua a ser a de uma cozinha de conforto e de partilha, apresentando o restaurante como pratos principais javali estufado com castanhas e batata-doce (10€/18€ para duas pessoas), caril de camarão com arroz basmati (15€/28€ para duas pessoas), quinoa com legumes e beringela caramelizada (8,50€), ou com frango crocante, queijo da Ilha e molho César (9€), ou ainda sandes de barriga de porco com coleslaw e chips de batata doce (7,50€). Para sobremesa, há pudim de azeite e mel (4€) e mousse de chocolate (3€)
As encomendas pode ser feitas através da plataforma Zomato ou do site www.eumrestaurante.pt e ainda na Globo, Uber Eats, NoMenu e Takeaway.com. O restaurante funciona de segunda a sexta-feira das 12h30 às 15h e das 18h30 às 23h.
4.11.20
Restaurantes portuenses promovem rivais para “salvar milhares de empregos”
“Hoje todos os restaurantes precisam do seu apoio”. Restaurantes em Portugal começaram publicitar-se uns aos outros como forma de apoio.
Vários restaurantes portuenses estão a apelar à população para que frequente outros restaurantes rivais, sensibilizando para a importância de garantir a sobrevivência do sector, novamente sobre “ataque”. A ideia foi lançada pelo restaurante portuense Lado B, antes mesmo de ter sido conhecida esta segunda-feira uma campanha similar lançada pela rede britânica da Burger King.
Numa publicação no Facebook, intitulada “Vamos todos ajudar os restaurantes” o Lado B sublinha que se adivinham tempos difíceis, se a primeira vaga obrigou a encerrar portas, a segunda vaga “mais controlada por agora”, pede alguma antecipação e muita imaginação.
“Se antes já aconselhávamos os vizinhos, ou porque estávamos cheios ou encerrados para descanso, entendemos agora que a restauração não deve caminhar por si, individualmente. Para salvar milhares e milhares de empregos, hoje todos os restaurantes precisam do seu apoio”, lê-se no texto publicado no dia 1 e onde se sugere cerca de 30 alternativas ao Plano B.
Já o restaurante Nogueira's adapta um pouco o estilo Burger King num post com o título “Vá ao Flow”. “Acreditamos que somos um porto de abrigo e não um perigo ameaçador. Por isso, se não vier ao Nogueira's, vá ao Flow, vá ao Terminal 4450, vá ao Brasaria, vá ao Guilty, vá a todos os que merecem o seu apoio neste Inverno doloroso”, lê-se na publicação também no Facebook, onde se salienta que “a lista de restaurantes a colocar é interminável”.
Salientando que, em circunstâncias normais, não fariam tal pedido, os autores da publicação salientam que “o importante é ir”, na medida em que todos precisam do contributo dos clientes para sobreviver.
“As defesas ainda estão a ser reconstruídas e já estamos novamente sobre ataque”, lê-se na publicação, onde se ressalva que sempre foram respeitadas as medidas e vontades de quem manda.
Em declarações à Lusa, um dos proprietários do Nogueira's, Henrique Nogueira, refere que o negócio está a ser muito afectado pela pandemia de covid-19, tendo, por exemplo, reduzido o número de refeições servidas de 300 para 30 em dias que antes da pandemia eram de casa cheia. “Já só estamos a falar de sobreviver”, disse à agência.
Apesar de não ter ainda noção do número de restaurante que aderiram a esta iniciativa, Henrique Nogueira adianta que há já outros estabelecimentos que entram em contacto demonstram vontade de integrar a campanha.
Na sexta-feira, a Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) tinha já apelado ao Governo para não tomar medidas que restringissem a actividade das empresas, acentuando que, se tal suceder, serão necessários apoios “mais robustos”, nomeadamente de um acesso ao “lay-off” simplificado desligado de quebras de facturação.
Se não houver essa resposta, a AHRESP alerta que se irá assistir a uma situação, “sem precedentes, de encerramento massivo das empresas”.
No mesmo dia, o final da reunião da Concertação Social, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira referiu que o Governo está a ponderar novas medidas de apoio ao emprego e às empresas em resposta ao agravamento da pandemia de covid-19.
Vários restaurantes portuenses estão a apelar à população para que frequente outros restaurantes rivais, sensibilizando para a importância de garantir a sobrevivência do sector, novamente sobre “ataque”. A ideia foi lançada pelo restaurante portuense Lado B, antes mesmo de ter sido conhecida esta segunda-feira uma campanha similar lançada pela rede britânica da Burger King.
Numa publicação no Facebook, intitulada “Vamos todos ajudar os restaurantes” o Lado B sublinha que se adivinham tempos difíceis, se a primeira vaga obrigou a encerrar portas, a segunda vaga “mais controlada por agora”, pede alguma antecipação e muita imaginação.
“Se antes já aconselhávamos os vizinhos, ou porque estávamos cheios ou encerrados para descanso, entendemos agora que a restauração não deve caminhar por si, individualmente. Para salvar milhares e milhares de empregos, hoje todos os restaurantes precisam do seu apoio”, lê-se no texto publicado no dia 1 e onde se sugere cerca de 30 alternativas ao Plano B.
Já o restaurante Nogueira's adapta um pouco o estilo Burger King num post com o título “Vá ao Flow”. “Acreditamos que somos um porto de abrigo e não um perigo ameaçador. Por isso, se não vier ao Nogueira's, vá ao Flow, vá ao Terminal 4450, vá ao Brasaria, vá ao Guilty, vá a todos os que merecem o seu apoio neste Inverno doloroso”, lê-se na publicação também no Facebook, onde se salienta que “a lista de restaurantes a colocar é interminável”.
Salientando que, em circunstâncias normais, não fariam tal pedido, os autores da publicação salientam que “o importante é ir”, na medida em que todos precisam do contributo dos clientes para sobreviver.
“As defesas ainda estão a ser reconstruídas e já estamos novamente sobre ataque”, lê-se na publicação, onde se ressalva que sempre foram respeitadas as medidas e vontades de quem manda.
Em declarações à Lusa, um dos proprietários do Nogueira's, Henrique Nogueira, refere que o negócio está a ser muito afectado pela pandemia de covid-19, tendo, por exemplo, reduzido o número de refeições servidas de 300 para 30 em dias que antes da pandemia eram de casa cheia. “Já só estamos a falar de sobreviver”, disse à agência.
Apesar de não ter ainda noção do número de restaurante que aderiram a esta iniciativa, Henrique Nogueira adianta que há já outros estabelecimentos que entram em contacto demonstram vontade de integrar a campanha.
Na sexta-feira, a Associação de Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) tinha já apelado ao Governo para não tomar medidas que restringissem a actividade das empresas, acentuando que, se tal suceder, serão necessários apoios “mais robustos”, nomeadamente de um acesso ao “lay-off” simplificado desligado de quebras de facturação.
Se não houver essa resposta, a AHRESP alerta que se irá assistir a uma situação, “sem precedentes, de encerramento massivo das empresas”.
No mesmo dia, o final da reunião da Concertação Social, o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira referiu que o Governo está a ponderar novas medidas de apoio ao emprego e às empresas em resposta ao agravamento da pandemia de covid-19.
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