4.2.13

"Fecho de 'smartshops' pode reforçar mercado negro"

por Gastão Costa Nunes e Cristina Branco, in RR

A abertura das lojas de drogas legais criou uma nova geração de toxicodependentes, admite o funcionário de um destes estabelecimentos, em entrevista à Renascença.

Com ordem anunciada para encerrar existe o risco de alguns "smartshops" tentarem escoar a mercadoria que têm em stock no mercado negro.

Esta é uma realidade reconhecida pelo director do Serviço de Intervenção dos Comportamentos Aditivos e Dependências, antigo Instituto da Droga e Toxicodependência.

João Goulão reconhece que a proibição da venda destas drogas legais leva ao tráfico nas ruas, mas defende que, ainda assim, a medida é benéfica: “Há benefícios com o impedir desta comercialização em lojas de porta aberta. Há a possibilidade de que algumas das substâncias apareçam no mercado ilícito, mas aí serão objecto de intervenção a cargo das forças policiais e aduaneiras”.

O especialista diz que estas lojas abriram as portas a uma nova geração de toxicodependentes: “Temos a noção que haverá bastante uso destas substâncias por novos consumidores, em alguns casos pessoas muito jovens. Temos ainda muito poucos pedidos de ajuda para se libertarem da dependência propriamente. Aquilo que ocorre com o uso destas substâncias são sobretudo situações agudas que motivam o recurso a urgências hospitalares.”

“Não há dúvida que esta é uma porta de entrada para o uso continuado de substâncias. Estas lojas conferem aos utilizadores uma falsa sensação de segurança. As pessoas compram de forma incauta convencidos de que se é vendido numa loja normal não pode ser perigoso”, confirma.

Um trabalhador de uma das destas lojas, que não quis ser identificado, diz à Renascença que está a nascer um novo tipo de tráfico: “Estamos a perder, para além de produto, clientes, devido ao medo destas lojas fecharem, principalmente para toxicodependentes, o produto começou a vender-se na rua. O Estado permitiu que entrasse uma quantidade enorme de estupefacientes em Portugal, uma vez que existem mais de 40 lojas no país. Ao fecharem, todo o produto vai ser escoado no mercado negro”.

Nas lojas oficiais o produto começa a escassear: “Vai-se notando uma quebra porque cada vez é mais difícil os produtos passarem na alfândega. Muitos dos produtos vêm da Ásia, Índia, e por aí”.

O funcionário explica que as chamadas “Smartshops” introduziram no país uma nova geração de toxicodependentes: “É uma hipocrisia da parte do Governo terem permitido que estas lojas estivessem abertas tanto tempo, criando uma nova geração de toxicodependentes. Os clientes dizem que os pós que vendemos são mais potentes que a cocaína e até que a heroína”, explica.

São estes produtos que agora, alegadamente, estão a comercializar-se no mercado negro, face ao encerramento anunciado dos “smartshops”.

O Governo anunciou uma lei para proibir a venda das chamadas drogas legais nos “smartshops” em Janeiro depois de uma série de casos de incidentes envolvendo menores, alguns dos quais tiveram de ser internados. A proibição deve entrar em vigor em Março, segundo os planos do Executivo.