14.2.13

Todos os dias 21 famílias deixam de pagar empréstimos à banca

Por Sandra Almeida Simões, in iOnline

No final de 2012, mais de 121 mil particulares estavam em incumprimento por empréstimos de até mil euros

O número de famílias portuguesas sem capacidade financeira para pagar os empréstimos contraídos continua a crescer. Em 2012, 7856 novas famílias entraram em incumprimento. Cerca de 21 novos casos por dia. A realidade não surpreende num ano marcado por novas medidas de austeridade, perda do rendimento disponível das famílias e sobretudo uma taxa recorde de 16,9% do desemprego, que já atinge mais de 920 mil pessoas.

De acordo com os dados da Central de Responsabilidades de Crédito, divulgados ontem pelo Banco de Portugal, no total são já 679 134 famílias com empréstimos em atraso, o equivalente a 15,1% dos portugueses com crédito pedido à banca.

Só na habitação, 146 225 lares estão em incumprimento, mais 6350 casos que em Dezembro de 2011. Entre todos os segmentos de crédito, a habitação é o que regista a percentagem de devedores com crédito vencido mais baixa. Mesmo perante um orçamento mensal apertado, a habitação é o primeiro compromisso das famílias.

No consumo, o incumprimento quadruplica. Quase 620 mil famílias têm prestações por pagar, das quais mais de 9100 entraram em incumprimento no último ano. Entre os empresários em nome individual, o número de incumpridores recuou ligeiramente no último ano. Ainda assim, mais de 30,7%, ou 122 111 empresários, não cumprem as suas obrigações junto da banca.

Apesar de em termos anuais o número de famílias com crédito vencido ter aumentado, nos últimos dois trimestres recuou, depois de em Junho ter atingido o valor mais elevado desde que o Banco de Portugal publica dados. Esta melhoria explica-se com as diversas iniciativas da banca para resolver os casos de incumprimento. A partir de Janeiro deste ano, a resolução do crédito ganhou um novo fôlego com a entrada em vigor da legislação que força os bancos a promover a recuperação dos montantes em dívida sem chegar aos tribunais. Assim, se por um lado é de esperar um aumento do malparado devido à maior dose de austeridade suportada pelas famílias este ano, por outro o procedimento extrajudicial de regularização de situações de incumprimento pode contribuir para atenuar a subida do número de famílias na “lista negra” da banca.

Escalões A análise ao incumprimento por escalões de crédito mostra que o maior número de devedores se encontra nos empréstimos de montantes reduzidos, enquanto a maior crescimento ocorreu, em termos relativos, nos créditos de valor mais elevado no último ano.

No escalão mais baixo, a taxa de incumpridores subiu residualmente de 15,5% para 15,6%. São 121 259 particulares que não conseguem regularizar o pagamento de mil euros. Existem ainda 131 773 famílias que não pagam créditos entre mil e 5 mil euros, uma subida de 20,1% para 20,8%.

Do outro lado do barómetro, e em termos relativos, os portugueses com créditos superiores a 200 mil euros registaram o maior agravamento no último ano. A percentagem de crédito vencido avançou de 15,7% em Dezembro de 2011 para 17,5%, um total de 27 520 famílias com empréstimos em atraso. Estes indicadores podem querer dizer que as famílias com menores rendimentos estão, apesar de sufocadas financeiramente, a fazer um esforço para liquidar as suas dívidas. Ao mesmo tempo, a crise está já a afectar as famílias com mais rendimentos.

empresas A situação das empresas é ainda mais grave. De acordo com as estatísticas, mais de uma em cada quatro empresas tem prestações vencidas. No final de 2012, a percentagem de sociedades não financeiras com crédito vencido fixou-se em 28,6%, um agravamento face ao universo de 24,4% em 2011.

Apesar do agravamento no rácio de crédito vencido, de 6,7% em 2011 para 10% em 2012, o endividamento médio de cada empresa recuou para cerca de 469 mil euros.