Paulo Lourenço, in Jornal de Notícias
Nélson Arraiolos, o desempregado de 41 anos que havia anunciado para esta quarta-feira a ida ao Pingo Doce do Rossio, em Lisboa, para levar um quilo de arroz sem pagar, por não ter rendimentos, acabou por sair com um cabaz de Natal de oferta.
Apesar de a iniciativa não ter corrido como o anunciado, Nélson Arraiolos considerou, à saída daquela superfície comercial, que "valeu a pena". "Pretendi, e acho que consegui, chamar a atenção para a situação de pobreza que atinge milhares de pessoas neste país, onde há crianças a passar fome e idosos à procura de comida nos caixotes do lixo", sublinhou.
Ao meio dia, Nélson entrou no Pingo Doce do Rossio e foi recebido primeiro pelo gerente de loja, depois pelo responsável comercial da zona de Lisboa. Este último disse-lhe que a empresa "compreende perfeitamente" as razões que estiveram na base deste protesto simbólico e anunciou a oferta de um cabaz de Natal.
O desempregado não saiu com o pacote de arroz que pretendia levar sem pagar, mas antes com um cabaz que incluía bacalhau, chouriço, azeite, óleo, bolachas, massas, um bolo rei e, claro, um quilo de arroz!
Nélson Arraiolos aceitou a oferta, mas anunciou que o cabaz iria ser entregue, simbolicamente, a uma família que está a passar fome. "Eu também tenho necessidade, mas quero que estes alimentos vão para quem está ainda pior do que eu", justificou.
Com esta ação, o desempregado - que, ainda há duas semanas, havia viajado num autocarro sem pagar, também por não ter rendimentos - visou ainda protestar contra o desperdício alimentar das grandes superfícies.
"É inaceitável que haja este desperdício, quando há pessoas a ter de recorrer aos caixotes do lixo porque não têm outra forma de obter comida", disse, acrescentando que "mesmo as Instituições de Solidariedade Social já estão esgotadas no que toca a meios de apoio".