Grupo de nacionalistas deslocou-se à sede do SOS Racismo com máscaras brancas a tapar o rosto e tochas. Já em Julho a fachada tinha sido vandalizada com a frase “Guerra aos inimigos da minha terra”, um mês depois de vários edifícios na zona de Lisboa serem alvo de pinchagens xenófobas e racistas.
Nem um mês depois de a sede do SOS Racismo ter sido vandalizada, em Lisboa, com a frase “Guerra aos inimigos da minha terra”, na noite deste sábado uma dezena de “nacionalistas” juntou-se em frente àquele edifício com máscaras brancas a tapar o rosto e tochas numa iconografia com semelhanças à dos supremacistas brancos Ku Klux Klan, que fizeram linchamentos de afro-americanos nos Estados Unidos, refere aquela organização anti-racista.
O SOS Racismo está a juntar este episódio a outras ameaças e irá fazer queixa ao Ministério Público por ameaças à integridade física, ofensas morais e danos patrimoniais e incitamento ao ódio e violência, nomeadamente com a “parada Ku Klux Klan”.
Numa página de Facebook sob o nome de Resistência Nacional os membros do grupo publicaram imagens suas naquela acção com casacos com capuz e máscaras brancas a tapar totalmente o rosto, empunhando tochas e um post em que referem ter ido protestar contra o que descrevem como “racismo anti-nacional” e “homenagem aos polícias mortos em serviço": “A sede do SOS Racismo recebeu hoje uma visita nossa.”
Segundo disse o SOS Racismo, desta vez não havia registo de vandalização na fachada, mas não descartam a ligação entre o acto anterior e este. Um dos dirigentes do SOS, Mamadou Ba, que partilhou no Facebook uma imagem do sucedido posta a circular pelo grupo nacionalista, comenta ao PÚBLICO: “Isto é uma escalada. Uma coisa é fazerem uma manifestação no espaço público em que assumem uma posição política contra o anti-racismo, o que é inaceitável em democracia, mas elegerem uma organização anti-racista como alvo a abater, fazer ameaças de morte e, não contentes, fazerem uma parada militar à moda de Ku Klux Klan ultrapassa todos os limites do confronto ideológico.”
Classifica o acto de “terrorismo político” e afirma que é preocupante “a manifestação de um ‘à vontade’, cada vez maior, em achar que podem usar a intimidação e a coacção ao anti-racismo como forma de disputa política”.
Já sobre o episódio que ocorreu na noite de 17 para 18 de Julho, o SOS Racismo tinha referido, em comunicado, não ter dúvidas “de que o motivo destes ataques e destas ameaças é silenciar o combate ao racismo, intimidando”.
Isto aconteceu depois de, em Junho, vários locais na Área Metropolitana de Lisboa terem sido alvo de ataques com mensagens racistas e xenófobas e ameaças — locais como o Conselho Português para os Refugiados ("A Europa aos europeus” e “morte aos refugiados") ou o mural de homenagem ao anti-fascista José Carvalho, assassinado por skinheads (com “guerra aos inimigos da minha pátria").
“Esta estratégia do medo, da mordaça e da coacção violenta foi sempre o método de intervenção política dos movimentos e grupos de extrema-direita. O SOS Racismo apresentará queixa junto das entidades competentes, exigindo que estas tudo façam para identificar e levar a tribunal os autores materiais e morais destes crimes”, referiram em Julho.
Segundo o dirigente, à pagina do SOS Racismo chegam centenas de ameaças, bem como à sua página pessoal. “Não sabemos até onde estão dispostos a ir os elementos da extrema-direita. Mas partir do momento em que fazem paradas em frente ao SOS o que está em causa é a integridade física dos seus elementos.”
Num dos emails que receberam recentemente a anunciar uma nova organização de extrema-direita ameaçavam que “para cada nacionalista preso cairá um anti-fascista e para cada nacionalista morto desaparecerão dezenas de estrangeiros”, refere Mamadou Ba. “São ameaças directas.”