24.8.20

Jovens estudam para tentar conseguir um emprego e não para a profissão desejada

Clara Viana, in Público on-line

Estudo da DGEEC dá conta de um desencanto com o futuro profissional entre os jovens que concluíram o secundário nos cursos científico-humanísticos, que não é ainda partilhado pelos que vieram dos cursos profissionais.

Entre os jovens que concluem o ensino secundário nos cursos científico-humanísticos (CCH) são cada vez mais os que atribuem a escolha do curso ao facto de que a matéria é a que “gostam de estudar”, enquanto tem vindo a diminuir os que relacionam a escolha da área de formação com o futuro exercício da “profissão desejada”.

Esta é uma das conclusões do novo estudo da Direcção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) sobre o trajecto dos Jovens no Pós-Secundário. Com base em inquéritos, estes estudos têm acompanhado o caminho e as opções dos alunos oriundos dos CCH e dos cursos profissionais (CP) entre 2010 e 2017, tendo como momento de avaliação o final do primeiro semestre após a data provável de conclusão do secundário.
Foi deste modo que se descobriu que, por comparação a 2010, a percentagem de jovens oriundos dos CCH que escolhem os cursos em função do gosto aumentou de 34% para 41%. E que a proporção dos que apresentam como razão para acederem ao exercício da “profissão desejada” desceu de 49% para 44%.

No rescaldo da crise financeira e dos anos da troika, e sem puderem antecipar que levariam poucos anos depois com uma crise ainda bem maior em cima, este desencanto com o futuro profissional reflecte-se também na oscilação das razões apontadas para terem prosseguido estudos no superior, com 51% a indicar que o fez para “melhorar as possibilidades de encontrar um emprego” e outra vez muito menos a fazer a relação entre ter um curso e a oportunidade de “exercer a profissão desejada” (42%).

“A escolha da opção de melhorar as possibilidades de encontrar um emprego foi o motivo que mais peso ganhou junto dos estudantes provenientes do CCH”, destaca a DGEEC, frisando que entre 2010 e 2017 esta opção aumentou seis pontos percentuais (48 para 51%) e a possibilidade de exercer a profissão desejada desceu igualmente seis pontos percentuais, passando de 48% para 42%.
Emprego mais rápido

Já entre os jovens que concluíram o secundário no ensino profissional regista-se um movimento inverso. A razão mais referida para terem prosseguido estudos foi também a de “melhorar a possibilidade de encontrar um emprego”, só que este motivo registou uma diminuição de três pontos percentuais (59% para 56%), enquanto o do exercício da profissão desejada subiu os mesmo três pontos percentuais (28% para 31%). Refira-se que para este último motivo o valor de 2017 sofreu uma quebra por comparação ao ano anterior (36%).

A propósito dos cursos profissionais, a DGEEC destaca que estes “estão direccionados para uma integração imediata no mercado de trabalho após a conclusão do ensino secundário” e, por isso, é “sem surpresas” que 51% dos que concluíram em 2017 estavam a trabalhar quando foram inquiridos. Em relação a 2010 regista-se neste campo (os que estão a trabalhar) um aumento de 16 pontos percentuais e uma diminuição de 35% para 26% entre os jovens oriundos do ensino profissional que estavam então exclusivamente a estudar.

Refere também a DGEEC que os jovens que estavam em exclusivo a trabalhar, em 2017, tiveram “uma integração rápida no mercado de trabalho, uma vez que 53% entraram imediatamente após o final do curso”. O grupo com mais peso entre estes é o que aponta ter conseguido o trabalho através de uma candidatura espontânea (27%), seguindo-se-lhe a ajuda de amigos ou familiares (23%) e os que conseguiram uma colocação através da empresa onde fizeram estágio (19%), que é obrigatório no ensino profissional.

Tantos os jovens oriundos dos Cursos Científico-Humanísticos, como dos Cursos Profissionais, têm como área de formação preferida a de Ciências Sociais, Comércio e Direito. Mas as diferenças surgem logo no patamar seguinte com Saúde e Protecção Social a surgir em segundo lugar nas escolhas dos alunos que vieram dos CCH e Artes e Humanidades a ocupar o mesmo lugar entre os estudantes que vieram do profissional.