Marta Grosso , Anabela Góis (entrevista), in RR
Numa altura em que as fábricas de têxteis já deveriam estar a produzir as coleções do próximo Verão, o setor vive momentos de mudança e a crise poderá não ser tão profunda, mas muito mais prolongada.
O setor têxtis ainda tem margem para crescer com o incentivo certo, defende Associação Têxtil e Vestuário de Portugal. Tendo em conta a evolução do mercado de maio até julho, a situação parece estar a melhorar, mas as dificuldades vão prolongar-se
“No mês de junho, a quebra, comparativamente com o mês de junho do ano passado, foi de 14%, quando vínhamos de quebras de 40% no mês de maio. Estes valores mostram que há claramente aqui uma situação de retoma. 14% é um número desastroso, mas mostra que vamos na direção certa”, afirma à Renascença o presidente da associação.
Para esta inversão contribuiu o novo produto que surgiu com a pandemia: as máscaras, em cujo fabrico muitas fábricas decidiram apostar.
“Há aqui um valor da ordem dos 7-8% que tem a ver com um novo produto que o setor têxtil começou a exportar, que são os equipamentos de proteção individual. Isso já representou, em termos de exportações, um valor da ordem dos 30 milhões de euros”, indica Mário Jorge Machado.
“É um novo segmento de negócio. As empresas adaptaram-se e começaram a produzir um novo tipo de produto que não era habitual no seu portefólio”, salienta. Ajustar para melhor apoiar
O cenário começa a mudar e as perspetivas também, mas não, necessariamente, para melhor. Apesar de ter tido um papel importante, a produção de máscaras não chega para compensar as quebras.
O que se está a perceber é que a crise não vai ser tão profunda como se temia, mas vai ser bastante mais prolongada, diz o responsável.
“Em março, pensámos que era um problema muito intenso, com paragens da ordem dos 40-50-60%, mas durante dois, três meses. Agora estamos a verificar que estamos numa fase em que há um problema de quebras de 20-30-40%, mas um problema de nove, dez, 11, 12 meses”, explica.
Mário Jorge Machado diz, por isso, que as medidas de apoios ao setor não foram as adequadas e defende que “as medidas do lay-off deveriam ser ajustadas a esta nova realidade”.
“Assim poderia ajudar as empresas a pagar os salários com uma diminuição de atividade não tão intensa, mas mais prolongada”, sustenta.
A manter-se a atual tendência, a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal estima que, no final do ano, as quebras no setor possam rondar os 20% – o que representa um valor na ordem dos mil milhões de euros.
Nesta altura, já há empresa a fechar – na quinta-feira, foi notícia a falência de uma fábrica de camisas em Vila do Conde. A apreensão cresce e as cadeias de distribuição ainda têm muitos produtos em armazém. Nalgumas fábricas, trabalha-se a meio gás.
O incentivo certo
Mas o setor tem margem para crescer, considera a Associação Têxtil e Vestuário de Portugal.
“A máscara têxtil é um produto reutilizável, nalgumas situações, até às 50 vezes. Há aqui ainda uma oportunidade de consciencializar as pessoas para a importância de passarmos a usar uma máscara têxtil, que nos permite ser utilizada dezenas de vezes”, defende Mário Jorge Machado.
O presidente da associação do setor defende que esta mensagem tem de passar até para o mercado europeu.
“Do ponto de vista de sustentabilidade, esta mensagem que ainda não passou e pode fazer uma grande diferença, quer para o planeta quer para o setor têxtil”, sublinha.