Sónia Bexiga, in Sapo25
Devido a uma série de vulnerabilidades, como a pobreza, habitação sobrelotada e sem condições, e uma alta concentração em empregos onde o distanciamento físico é difícil, os imigrantes enfrentam um risco muito maior de infeção e morte por Covid-19 do que os cidadãos dos países que os acolhem, segundo apurou a mais recente análise da OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, esta segunda-feira.“A pandemia da COVID-19 chega num momento crucial para a migração internacional. Pouco antes da crise, registaram-se números recorde, em vários países, de nascimentos de filhos de imigrantes (hoje representam uma em cada cinco pessoas na OCDE). Também a integração havia melhorado em muitas frentes. Nos países da OCDE, exceto Turquia e Colômbia, os imigrantes tiveram mais sucesso em encontrar e manter empregos nos últimos cinco anos. Na Educação, os resultados dos filhos de imigrantes melhoraram desde 2005, com níveis de realização educacional mais elevados. Mas esse progresso está agora em risco por causa da pandemia” pode pode ler-se no documento de análise “Qual o impacto da Covid-19 nos imigrantes e nos seus filhos?”.
Segundo a organização, os imigrantes estão numa posição mais vulnerável no mercado de trabalho devido às condições menos estáveis e à menor antiguidade no posto de trabalho, sendo que também a discriminação tende a aumentar nos períodos de desaceleração no mercado de trabalho. As redes de contactos – que os migrantes raramente têm – tornam-se ainda mais relevantes para encontrar emprego.
O impacto negativo da pandemia sobre o mercado de trabalho dos imigrantes é ainda agravado pelo facto de estarem “excessivamente” alocados aos setores mais afetados pela pandemia. Como é o caso do Turismo.
Apesar de considerar que ainda é cedo para avaliar os efeitos reais da pandemia no mercado de trabalho – especialmente na Europa, a organização não deixa de salientar que os países que a integram têm vivido de soluções de ‘lay-off’ que amorteceram o impacto imediato dos bloqueios. Não obstante, aponta para as evidências disponíveis sobre o impacto inicial que mostram já uma ‘fatura’ desproporcionalmente negativa para os imigrantes na grande maioria dos países para os quais os dados estão atualmente disponíveis, especialmente nos países do sul da Europa, Irlanda, Noruega, Suécia e Estados Unidos.
Mas há ainda de ter em conta o impacto nos mais novos, alerta a OCDE. O encerramento das escolas e as medidas de ensino à distância postas em prática para conter a propagação da Covid-19 vieram colocar os filhos de imigrantes em desvantagem, a vários níveis. Estes pais tendem a ter menos recursos para ajudar nas tarefas escolares e 40% dos filhos de imigrantes não falam a língua do país de acolhimento em casa.
Acresce ainda que estas crianças também têm menos probabilidade de ter acesso a um computador e ligação à internet em casa ou num lugar tranquilo para estudar.
A pandemia impulsionou a aprendizagem remota de idiomas também para adultos. Na Alemanha, por exemplo, foram criados tutoriais online para compensar o encerramento temporário dos cursos de integração de imigrantes. Contudo, essa aprendizagem online revelou-se difícil para imigrantes com baixo nível de escolaridade, especialmente nos estágios iniciais de aprendizagem das línguas, levando a atrasos na aprendizagem e numa integração social mais ampla.