21.12.20

INE confirma: a pandemia deu uma ajuda ao ambiente

Patrícia Carvalho, in Públio on-line

Menos emissões provenientes do consumo de combustíveis fósseis e um menor consumo de energia, associados a uma alteração nos hábitos de consumo, contribuíram para uma “menor pressão” sobre o ambiente.

O travão a fundo da economia e a mudança de hábitos forçada pela pandemia da covid-19 causaram uma “menor pressão sobre o ambiente” nos primeiros nove meses deste ano. Alguns dados avulsos já tinham dado conta desta realidade, mas as Estatísticas do Ambiente, divulgadas esta segunda-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmam-no: a diminuição da produção e das deslocações e a alteração no tipo de consumo das famílias levaram a uma redução de emissões e uma melhoria da qualidade do ar.

São cinco os pontos destacados pelo INE que traduzem os benefícios temporários trazidos pela pandemia ao ambiente, entre Janeiro e Setembro de 2020, a começar com a diminuição de 21,9% das emissões de queima de combustíveis fósseis. A redução fez-se sentir também ao nível dos consumos de energia, com uma quebra de 3,8% na electricidade e de 9,4% no gás natural. Além disso, as famílias viraram o foco do consumo para os bens alimentares, diminuindo a procura de outro tipo de produtos e a quantidade dos resíduos sectoriais gerados decresceu. Com os portugueses fechados em casa durante grande parte do ano, o mesmo não aconteceu com os resíduos urbanos, que foram mais do que no ano anterior, mas também aqui há um bom indicador: houve uma maior recolha selectiva nos ecopontos.

Por fim, o INE salienta também que os primeiros nove meses de 2020 representam uma melhoria da qualidade do ar, com uma menor concentração média de dióxido de azoto e a consequente diminuição do número de dias em que a classificação do índice de qualidade do ar foi “Mau” ou “Fraco”.

A equação não é difícil de deslindar. Com o abrandamento significativo da actividade económica, menos deslocações e uma diminuição do consumo, o ambiente nacional teve uma folga da pressão a que está habitualmente sujeito. Olhe-se para o exemplo do transporte aéreo, reduzido praticamente à inexistência durante uma parte considerável do ano, e percebe-se do que estamos a falar. Segundo os dados do INE agora revelados, entre Janeiro e Setembro deste ano houve menos 98 mil aeronaves a circular em Portugal, o que representou uma redução de emissões de equivalentes de dióxido de carbono de 56,6% e do consumo de energia de 60,9%. Dados que também podem ser aplicados ao transporte marítimo, ainda que com menos expressão: a redução das emissões foi de 15,7% e do consumo de energia de 26,9%.

A nível do transporte diário, o confinamento a que os portugueses estiveram sujeitos também se fez sentir na redução de emissões provenientes do consumo de gasolina, que sofreu uma quebra de 18,3%, nos primeiros meses do ano. “Tendo em conta que os transportes são uma fonte importante de pressão ambiental, contribuindo para as alterações climáticas, poluição atmosférica e ruído, a redução de tráfego constitui uma mais-valia para o ambiente”, refere-se no documento do INE.

Mas não foi só ao nível da mobilidade que a pressão sobre o ambiente diminuiu. Se a quebra da produção e consumo são más notícias para a economia, elas também representaram uma folga para a qualidade ambiental. O INE estima que o abrandamento da actividade económica (indústria, comércio, alojamento, restauração e reparação de veículos) levou a uma diminuição das emissões provenientes da queima de combustíveis de 4,2%. A excepção foi a construção, que viu a sua actividade aumentar, mas sem afectar os resultados globais de toda a economia, ao nível dos benefícios para o ambiente. Além do menor consumo de combustíveis fósseis, houve quebras “significativas” do consumo de energia, dos resíduos gerados pela actividade económica e do consumo de gasóleo, que foi superior a 15%.

Fechadas em casa, sem a possibilidade de ir passear para as áreas comerciais, de ir ver espectáculos ou usufruir de temporadas fora, os portugueses também alteraram os seus hábitos de consumo, passando a procurar mais produtos essenciais, como os bens alimentares. Uma tendência com duas consequência associadas: por um lado, houve um aumento das emissões de queima de combustíveis dos sectores da agricultura, floresta e pescas (mais 10,1%), por outro, houve também um aumento dos resíduos urbanos. Entre Janeiro e Junho foram geradas mais 2,2 milhões de toneladas de resíduos urbanos (um aumento de 4,7% em comparação com o ano anterior), mas a recolha selectiva em ecoponto também aumentou em 12,9%. “As famílias tiveram uma preocupação acrescida com a separação do lixo”, conclui, por isso, o INE.

Ainda assim, quando se olha para os dados do primeiro semestre deste ano dos resíduos com fluxos específicos - como veículos em fim de vida ou equipamentos eléctricos ou electrónicos - os dados não são tão animadores, já que todos apresentam uma quebra quando comparados com o mesmo período do ano passado.