29.12.20

Marcados por 2020, os jovens da geração Z anseiam por um futuro sem covid-19

Reuters e P3

A Reuters falou com dez pessoas jovens à volta do mundo, para descobrir como é que as suas vidas foram afectadas pelo novo coronavírus. Estas são as suas histórias.

Vidas que eram focadas na escola, universidade, desporto ou concertos de k-pop desapareceram de um dia para o outro, para os membros da geração Z.

Se muito foi dito sobre o risco das pessoas mais velhas na pandemia de covid-19, esta geração mais jovem, nascida entre o final dos anos 1990 e inícios da década de 2010, também viu os seus mundos virados do avesso em 2020.

Fechados em quartos ou obrigados a voltar à casa dos pais, muitos passaram de ser estudantes, atletas ou trabalhadores para se tornarem cuidadores de familiares doentes. Uma adolescente fez-se mãe. Como tudo nesta pandemia, nenhum caso é igual ao outro. Alguns foram mais atingidos do que outros, dependendo das circunstâncias pessoais, geografias ou eficácia das acções tomadas para conter o vírus.

Enquanto anseia por 2021, esta geração teme que as suas vidas possam ter sido mais abaladas do que as dos seus precedentes, os millennials, durante a crise financeira de 2008/2009. Além dos danos imediatos na educação e perspectivas de emprego futuro, os economistas prevêem que a pandemia também afecte os salários a longo prazo, a formação nas empresas, a evolução da carreira e a saúde mental.

A Reuters falou com dez pessoas jovens à volta do mundo, para descobrir como é que as suas vidas foram afectadas pelo novo coronavírus. Estas são as suas histórias:


Elisa Dossena, 23Crema, Itália

No início de 2020, Elisa Dossena fez 23 anos e estava ansiosa por terminar a licenciatura e inscrever-se num mestrado de uma das universidades mais prestigiadas em Itália.

Ao mesmo tempo, Itália tornou-se o primeiro país europeu a ser atingido pela pandemia. Todos os planos ficaram em suspenso. Elisa foi obrigada a tornar-se a responsável de facto de uma casa debilitada. Enquanto estudava em Milão, a covid-19 devastava os seus familiares na cidade de Crema, a 50 quilómetros da primeira “zona vermelha”, na Lombardia. Ela voltou a casa para ajudar.

“Foi um período muito negativo para mim. Mas também me fez crescer muito.”Elisa Dossena

Tanto a tia de 59 anos como a avó, de 90, morreram depois de o vírus debelar ainda mais os corpos já enfraquecidos por outras doenças. “Tive de tomar conta da casa e gerir tudo para todos porque a minha mãe estava ocupada a tomar conta do meu pai e da minha avó e a ajudar a minha prima, quando os pais dela ficaram doentes. Senti muita pressão. Era muita responsabilidade”, conta. “Foi um período muito negativo para mim. Mas também me fez crescer muito.”

Depois de um confinamento de três meses, em Junho as restrições foram levantadas e Dossena pôde voltar a ver os amigos. Mas um medo constante de serem infectados eliminou a cultura do toque, abraços e beijos pela qual os italianos são famosos.

“As pessoas pararam de confiar em apertar as mãos, abraçarem-se ou conhecerem pessoas novas”, diz, sentada na sala de estar da casa da família. “Quando entrava num espaço fechado conseguia sentir as palpitações, a ansiedade. Claro que algo tinha mudado.”

Um novo aumento dos casos de infecção, no final do Outono, fez com que a sua cerimónia de graduação fosse celebrada por webcam, ficando sem a festa com a família que geralmente acompanha o ritual de passagem à vida adulta.

Agora, está a estudar remotamente para um mestrado em gestão, aguardando por alguma normalidade em 2021. “Espero que as pessoas possam deixar as suas casas livremente. Espero que seja possível sair para tomar um café com os amigos. Espero que seja possível regressar às salas de aula, escritórios e universidades”, anseia. “Não peço muito, mas aguardo por isto.”

Jackline Bosibori, 17Nairobi, Quénia

A adolescente queniana Jackline Bosibori usou camisolas largas para esconder a gravidez da mãe durante o máximo de tempo possível, com medo de trazer ainda mais problemas à família.

“Se estivesse na escola, poderia não estar grávida”, declara a jovem de 17 anos.

Para Bosibori, que deu à luz em Novembro, o fecho das escolas definiu 2020. Muitos grupos activistas do Quénia temem que a gravidez na adolescência aumente, à medida que as jovens mulheres são obrigadas a ficar em casa, enquanto os pais saem para trabalhar.

O pai da bebé, um adulto, evita a família Bosibori desde que soube da gravidez de Jackline. O presidente do Quénia pediu uma investigação após o aumento dos casos de abuso sexual, em Julho, incluindo violações, durante o confinamento.

Os sonhos de se tornar advogada parecem agora longínquos. “Sinto que não progredi de forma alguma, este ano. Se estivesse na escola, teria alcançado os meus objectivos”, lamenta.

Tudo isto deixa-a ansiosa, confessa, na casa com uma só divisão que partilha com outros seis familiares. “Há pessoas que perderam empregos. Há estudantes que não vão voltar à escola”, explica, durante uma pausa nos estudos, enquanto a bebé dorme.

As escolas no Quénia estão fechadas desde Março. Bosibori quer voltar mal abram em Janeiro, mas preocupa-se com as propinas. “2020 foi um mau e um bom ano para mim. Foi mau porque engravidei sem estar à espera. Mas foi um bom ano porque tive a minha bebé e ela está bem.”

Lee Ga-hyeon, 17Cheonan, Coreia do Sul

Lee Ga-hyeon tem um grande desejo para 2021: escapar, finalmente, do seu quarto numa cidade a 100 quilómetros de Seul e ver os seus ídolos, o grupo pop BTS, num concerto ao vivo. “Os BTS são como uma vitamina para mim, mas o coronavírus tirou-me isso e deixou-me muito zangada”, conta, no quarto decorado com fotografias do grupo, bonecos e até um cobertor com a cara de Jin, um dos membros da banda.

A pandemia obrigou os BTS a cancelarem a digressão mundial agendada para 2020, que os levaria à Ásia, Europa e Estados Unidos da América. Para Lee, não houve mais viagens a Seul para ver concertos e estar com amigos. Em vez disso, o quotidiano tornou-se maioritariamente online, onde a hiper-conectividade da Coreia do Sul a ajudou a criar um canal do YouTube com os eventos dos BTS, dos últimos três anos.

“É muito triste que este quarto seja o único sítio onde posso ver os BTS”, disse.

Embora o país tenha sido bem-sucedido a combater o início da pandemia, a terceira e mais forte onda de infecções forçou os fãs a abraçarem o mundo digital, durante o “ano perdido”. A escola também é online, dificultando ainda mais os estudos de quem se prepara para o exame de acesso à universidade, um ritual de passagem visto como um momento definitivo na Coreia do Sul.

Lee espera que o teste cumpra o calendário do próximo ano, livre de coronavírus. Foi atrasado um mês em 2020, quando cerca de meio milhão de candidatos se sentaram para o exame de oito horas, com máscaras.

Foi um ano que a relembrou do quão especial é ter amigos, mesmo que tenham de ficar longe. “No ano passado, passei muito tempo a conversar com amigos cara a cara, durante os intervalos das aulas, mas não o pude fazer este ano”, disse. “Finalmente percebi o quão preciosos esses intervalos eram.”

Valeria Murguia, 21 anos Califórnia

Valeria Murguia estava a terminar o segundo ano de Comunicação, na Universidade do Estado da Califórnia, em Fresno, e a trabalhar em regime de meio horário no centro de saúde do campus quando a pandemia atingiu os Estados Unidos da América.

De repente, as aulas passaram a ser online e o seu salário modesto, do emprego onde escrevia mensagens nas redes sociais para ajudar os estudantes a manterem-se saudáveis, evaporou-se. Viver em Fresno, uma cidade em rápido crescimento onde o custo da habitação está a aumentar, tornou-se demasiado caro. Por isso, em algumas semanas, Murguia estava de volta a casa dos pais, na pequena cidade rural de McFarland.

Como muitos adultos universitários nos EUA, a vida jovem de Murguia deu uma volta sombria. Tanto ela como os amigos começaram a olhar para a sua saúde de forma mais séria, a estudar mais e a serem mais abertos a relações sérias.

Em casa, Murguia atirou-se aos trabalhos da universidade e ao desenvolvimento de competências que poderá vir a precisar num emprego futuro: aprendeu a construir sites, melhorou as capacidades de design gráfico e estudou organização de eventos. Também trabalhou com os pais, ambos imigrantes do México, nas vindimas.

“Isto tornou as pessoas mais sérias. Vai, certamente, deixar uma marca na nossa geração”, acredita.

Murguia, agora com 21 anos, vai formar-se em Maio, num mercado de trabalho estrangulado. Embora o mercado da publicidade tenha perdido menos empregos do que a maior parte dos sectores, não mostrou um crescimento de postos de trabalho desde Maio.

A jovem não tem dívidas de empréstimos estudantis, o que é menos um peso. E os economistas estão cada vez mais optimistas para 2021, graças aos desenvolvimentos das vacinas de covid-19. Ainda assim, o mercado de trabalho que os espera não se assemelha ao que existia antes da pandemia, onde a menor taxa de desemprego em meio século significava que muitos licenciados podiam escolher entre vários empregos.

“Estou a tentar manter-me positiva, porque se começar a olhar para as coisas negativas, começo a imaginar coisas na minha cabeça. E não quero entrar nesse jogo”, diz.

Xiong Feng, 22Wuhan, China

Xiong Feng lidera a única aula de voguing em Wuhan, um estilo popularizado pelas comunidades LGBT no final dos anos 1980.

O confinamento de 76 dias em Wuhan que, quase sem aviso, cortou as ligações da cidade com o resto da China, a 23 de Janeiro, começou meses antes do resto dos países começarem a sentir as dores da pandemia.

Xiong, como muitas outras pessoas da geração Z em Wuhan, viu a sua vida, educação e negócio envolvidos num tumulto. Ficou impedido de terminar a licenciatura lado a lado com os seus colegas. “Acho que perdi alguns amigos. As relações desapareceram porque não nos mantivemos em contacto durante a epidemia”, disse.

A cidade já regressou ao normal, depois de nenhum caso ser reportado desde Maio. Para a geração Z em Wuhan, as previsões da economia são melhores do que para outras pessoas no estrangeiro, já que os negócios e escritórios reabriram e a China se prepara para se tornar a única grande economia a crescer em 2021.

O período após a pandemia ajudou a atrair novos clientes e Xiong espera manter-se um pioneiro do movimento de dança LGBT, em 2021. “Penso que, depois da pandemia, toda a gente gosta mais de si mesma. As pessoas não trabalham tanto como dantes, por isso é natural que haja mais gente a vir dançar”, refere o professor.

No epicentro do surto de covid-19, os habitantes de Wuhan sofreram um trauma profundo durante os primeiros meses de 2020. Mas Xiong acredita que a experiência trouxe mais lições positivas para as pessoas jovens na China e no resto do mundo. “Acho que o mundo deveria ter mais paz e amor. E as pessoas deveriam parar de estar sempre a lutar umas com as outras”, disse.

Nomvula Mbatha, 32 Diepkloof Township, África do Sul

Quando a esgrimista Nomvula Mbatha terminou em primeiro lugar numa competição sul-africana de sabre, em 2019, parecia lançada para os Olímpicos. Depois, a pandemia de covid-19 começou. Todas as competições foram suspensas e o confinamento que se iniciou no final de Março dificultou os treinos para a equipa da jovem de 23 anos.

“A pandemia tem sido desastrosa para nós”, disse Mbatha, na sua casa em Diepkloof, um township a sudoeste de Joanesburgo. “Basicamente não conseguimos atingir nada. Este ano foi cancelado das nossas vidas.”

Mesmo quando as competições regressaram, Mbatha, a número um com 17 medalhas, teve imensas dificuldades em angariar fundos para participar nos eventos internacionais que lhe assegurariam um lugar nos Jogos Olímpicos de Tóquio, adiados para 2021.
Membro do Soweto Fencing Club, é uma das representantes da nova geração de atletas-estrela com dificuldades em conseguir patrocínios, numa economia marcada por baixo crescimento e elevado desemprego, especialmente para pessoas jovens.

“Não tenho uma resolução para 2021… Não quero ter porque tenho medo.”Nomvula Mbatha

Entre Julho e Setembro, o desemprego entre pessoas dos 15 aos 24 anos aumentou de 52,3% para os 61,3%, de acordo com estatísticas oficiais da África do Sul.

Enquanto os governos procuram estimular o emprego, o foco de Mbatha está nos próximos campeonatos africanos. Mais uma vez, no entanto, a pandemia turva este desejo. Um aumento recente no número de infecções motivou novas restrições. “E se voltamos a confinar?”, diz. “Não tenho uma resolução para 2021… Não quero ter porque tenho medo.”

Solene Tissot, 19 Paris

Sozinha num estúdio minúsculo em Paris, impedida de sair do país para visitar o namorado, separada dos amigos e incerta quanto ao seu futuro, Solene Tissot sentiu o peso da pandemia de covid-19 a aumentar dentro dela.

“Rapidamente te sentes a ficar sobrecarregada com isto tudo. Rapidamente te sentes a sufocar”, explica a jovem de 19 anos.

Tissot, que se mudou para Paris há dois anos para estudar no Instituto de Estudos Políticos de Paris, começou a ter consultas com um psicólogo.

Foi diagnosticada com depressão e ansiedade, duas condições que diz terem sido desencadeadas pela solidão dos confinamentos.

Estas restrições tiveram consequências na saúde mental da juventude francesa. Entre Setembro e Novembro deste ano, quando um novo confinamento foi imposto em Franca, a proporção da população entre 18 e 24 anos com depressão subiu de 11% para 21%, de acordo com a autoridade de saúde pública francesa.

Tissot já não frequenta aulas presenciais porque a universidade as cancelou. Restrições às deslocações tornam visitar amigos um acto ilegal. Há um ano que não vê os avós. A licenciatura que escolheu exige um estágio. Mas com muitas empresas a operarem remotamente, está a ser difícil encontrar uma que a aceite.

No próximo ano, iria estudar no Líbano, onde o namorado vive, mas ainda não sabe se as restrições o irão permitir.

Quando se licenciar, encontrar trabalho será mais difícil. De acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico, 22% das pessoas francesas entre os 15 e os 24 anos não estavam nem a trabalhar nem a estudar no terceiro quadrante do ano — mais de 19% em relação ao ano anterior.

Tissot está a pensar no futuro. Está a aprender árabe, na antecipação da viagem ao Líbano. “É verdade que 2020 não deixou espaço para grandes ânimos, e eu gostaria de ter isso de volta.”

Abdullah El-Berry, 22Cairo, Egipto

Abdullah El-Berry, um estagiário de jornalismo de desporto, de 22 anos, entrou em 2020 a achar que a vida ia ser difícil. Uma lesão grave no joelho obrigava-o a ir todos os dias à fisioterapia e afectava seriamente as viagens diárias de três horas do Cairo para a sua casa em Shebine al-Qanatir.

A partir do início da pandemia, deixou de poder continuar a fisioterapia, em consequência da sobrelotação dos hospitais do Egipto. Não pôde apresentar a tese. A suspensão de todos os eventos desportivos tornou quase impossível conseguir fazer o seu trabalho. E a sua viagem diária tornou-se ainda mais complicada, após os recolheres obrigatórios.

Agora, acha que 2021 vai ser ainda mais difícil. Com o ordenado muito baixo pago por um jornal do estado, o recém-licenciado não está confiante com a procura de emprego. “Antes, já sofríamos para encontrar um trabalho”, disse. “Agora, muitas pessoas perderam o emprego devido à crise económica da covid-19. Vai impactar toda a gente.”

A população do Egipto cresce rapidamente e mais de metade dos 102 milhões de habitantes têm menos de 25 anos, mostram dados da ONU. O desemprego é alto entre as pessoas jovens, mulheres e licenciados. Para mulheres entre os 20 e os 24 anos, com uma licenciatura, chega quase aos 50%.

Depois de anos de reformas económicas e medidas de austeridade, muitos egípcios não sabem como navegar a tempestade da covid-19. Os confinamentos paralisaram o turismo e outros sectores vitais. Berry acredita que o distanciamento físico e o uso de máscaras continuarão a controlar vidas em 2021, fazendo com que as pessoas da sua geração viagem menos e explorem novas oportunidades.

A lista de desejos que tem para o próximo ano inclui avançar na sua carreira e recomeçar o trabalho no canal de YouTube que teve de abandonar, por causa dos estudos e do coronavírus.

Galina Akselrod-Golikova, 23 Moscovo, Rússia

No início de 2020, Galina Akselrod-Golikova, 23, preparava-se para viajar de Moscovo para Itália, para um emprego de marketing e relações públicas no pavilhão russo da bienal de Veneza. Mal podia esperar para começar.

Mas o sonho nunca aconteceu: o evento foi adiado, o trabalho desapareceu e, em vez de viajar para o estrangeiro, acabou isolada dos amigos e família num apartamento em Moscovo, quando um confinamento começou subitamente em Abril.

O choque perturbou-a profundamente. Preocupou-se tanto que desenvolveu problemas de saúde induzidos por stress. Com o passar do tempo, no entanto, disse estar aliviada pela oportunidade de ter tempo para pensar.

Pela primeira vez, diz, abrandou e dedicou a sua energia a decorar o apartamento, que partilha com o namorado, com flores e mobília antiga restaurada. Não se apressou a procurar um novo emprego e, com tempo para reflectir, diz ter-se apercebido que quer inscrever-se num mestrado em estudos alimentares em Roma.

A Rússia resistiu a um segundo confinamento, de forma a diminuir os impactos da pandemia na economia. Akselrod-Golikova acredita que a pandemia trouxe muitas coisas positivas à sua vida, embora reconheça que foi mais fácil para as pessoas jovens adaptarem-se rapidamente.

“Comecei a apreciar o meu tempo como um recurso e a dedicá-lo à minha família, aos meus amigos. Comecei a conhecê-los de formas diferentes”, disse.

João Vitor Cavalcante, 19 São Paulo, Brasil

João Vitor Cavalcante, 19, trabalhou arduamente em 2019 na carreira de ciclista profissional, prestes a rebentar. Pensou que 2020 ia ser o melhor ano, até agora. Mas a pandemia destruiu esse sonho, empurrando-o para um trabalho numa oficina de reparação de carros. “O ciclismo não é fácil, é cruel, embora eu aprecie essa crueldade”, disse Cavalcante, à Reuters. “Agora não quero mais viver disso. Quero viver para fazer isso.”

Cavalcante é um dos milhões de brasileiros da geração Z que tiveram de alterar drasticamente as suas aspirações devido ao efeito da pandemia na economia.

De acordo com um inquérito financiado por várias organizações sem fins lucrativos brasileiras, cerca de 23% dos brasileiros com idades entre os 15 e os 29 anos tiveram de procurar novas formas de compensar perdas de rendimentos durante a pandemia. Cerca de 60% inscreveram-se para receber pagamentos de emergência do governo, que distribuiu mais de metade do salário mínimo no Brasil a qualquer cidadão sem um emprego formal.

Para Cavalcante, não havia outra opção. Os pais foram forçados a fechar a loja de roupa da família durante os primeiros meses da pandemia e o seu patrocinador deixou-o quando as competições foram canceladas.

O tio convidou-o a trabalhar na oficina de que é dono. “Foi a minha salvação”, disse Cavalcante. “Ou aceitava o emprego ou trabalhava por quase nada. O ano passado tinha mais ou menos um futuro, mas isso acabou.”

João trabalha agora oito horas por dia a reparar carros, um trabalho que o ajudou a suportar a família durante momentos difíceis.

Quer competir novamente em 2021, mas apenas como amador. “Em 2021, espero que as coisas regressem ao normal, que as pessoas possam ver os seus amigos e família outra vez e que valorizem os seus afectos”, disse.

Como reagiu a geração Z à covid-19? “É preciso falar dos problemas de ansiedade que a pandemia agravou”