Tiago Varzim, in EcoOnline
O Banco de Portugal prevê que a economia vá contrair 8,1% este ano, recuperando 3,9% em 2021. A taxa de desemprego ficará nos 7,2%, deteriorando-se em 2021 para 8,8%.
O Banco de Portugal atualizou esta segunda-feira as previsões económicas para Portugal nos próximos três anos. Este ano a economia deverá cair 8,1%, a mesma previsão realizada em outubro, recuperando 3,9% em 2021. Já a taxa de desemprego ficará nos 7,2%, deteriorando-se em 2021 para 8,8%. O banco central faz questão de dizer que “a retoma projetada beneficia das decisões de política monetária e orçamental de resposta à crise”.
O boletim económico de dezembro do banco central mantém a mesma previsão para 2020 (-8,1%), mas revê em baixa o crescimento do PIB em 2021 (5,2% em junho). Além disso, a taxa de crescimento de 3,9% fica abaixo dos 5,4% previstos pelo Governo, um número que é a base das previsões do Orçamento do Estado para 2021 (OE 2021). As projeções do BdP “assumem que as restrições são gradualmente retiradas a partir do primeiro trimestre de 2021, embora a atividade permaneça condicionada até ao início de 2022, altura em que uma solução médica eficaz estará plenamente implementada”.
Nos anos seguintes, o Banco de Portugal até antevê uma aceleração em 2022 com um crescimento da economia de 4,5%, o que compara com os 3,8% estimados no boletim económico de junho. Em 2023, o último ano deste exercício de previsões, a economia deverá recuperar 2,4%. “A atividade económica deverá retomar o nível anterior à pandemia no final de 2022“, prevê, em linha com as previsões de outras instituições.
Em relação a 2020, o banco central concorda com a maior parte dos economistas: a recuperação foi mais forte no terceiro trimestre face ao antecipado, “mas a evolução da pandemia e das medidas de contenção levaram à revisão em baixa da atividade no quarto trimestre“. O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, esclareceu na conferência de imprensa que prevê uma contração do PIB (em cadeia) no quarto trimestre, o que terá um “efeito [negativo] de arrastamento” para o primeiro trimestre de 2021.Boletim económico de dezembro do Banco de Portugal.
Contudo, apesar do crescimento da economia portuguesa no próximo ano, o mercado de trabalho vai deteriorar-se. O Banco de Portugal prevê uma subida da taxa de desemprego de 6,5% em 2019 para 7,2% em 2020 (acima dos 7,5% estimados em outubro), voltando a subir em 2021 para os 8,8%. Só em 2022 é que o desemprego volta a descer para os 8,1% e depois para 7,4% em 2023, ainda acima do pré-crise.
“A recuperação lenta do emprego decorre da evolução perspetivada para os setores mais expostos aos contactos pessoais, ligados ao alojamento, restauração, viagens e serviços recreativos“, explica o Banco de Portugal, antecipando que o emprego comece a crescer “em meados” do próximo ano, com os efeitos a sentirem-se apenas mais tarde.
Como é habitual nas previsões desde que começou a pandemia, o banco central avisa que “as perspetivas económicas permanecem rodeadas de elevada incerteza, estando dependentes da evolução da pandemia e da rapidez da vacinação em larga escala”. O Banco de Portugal deixa também os habituais avisos sobre “o aumento do endividamento público e privado e do risco de crédito”, aos quais se junta o “impacto da crise sobre a capacidade produtiva e pela necessária reafetação de recursos entre empresas e entre setores“.
“As políticas nacionais e supranacionais vão continuar a ter um papel fundamental na recuperação e resiliência da economia nacional, devendo promover a retoma do investimento e a correta afetação de recursos”, assinala ainda a instituição liderada por Mário Centeno, que foi presidente do Eurogrupo e esteve envolvido na resposta europeia à crise pandémica.
No cenário severo, a economia encolhe 8,2% e só recupera 1,3%
Este é o cenário mais provável das previsões, mas os economistas do banco central também traçaram um cenário mais severo e um mais otimista. Ambos têm pressupostos diferentes face aqueles que estão na base da projeção central.
No cenário mais severo, o Banco de Portugal “assume uma maior dificuldade em controlar o crescimento dos novos casos no final de 2020 e um aumento de novas infeções no primeiro trimestre de 2021“. “Este contexto obriga a um reforço das medidas de contenção, incluindo a possibilidade de introdução de confinamentos mais rigorosos e prolongados”, refere, assumindo que a vacinação será mais lenta. Assim, o PIB encolhe 8,2% em 2020 e só recupera 1,3% em 2021, com crescimentos mais acentuados em 2022 (+3,1%) e em 2023 (2,4%).
No cenário otimista, “o enquadramento é mais favorável do que o assumido no cenário base, com um maior crescimento da atividade mundial e dos fluxos de comércio internacional, em particular na área do euro onde se concentram os principais parceiros comerciais de Portugal”. Assim, o PIB encolhe 8% em 2020, recuperando 5,9% em 2021 (em linha com a projeção do Governo), 4,8% em 2022 e 2% em 2023.