Sónia M. Lourenço, in Expresso
Subida dos juros acentua abrandamento associado à guerra na Ucrânia. Eventual corte de gás russo é a maior ameaçaA possibilidade de a economia da zona euro entrar em recessão não é o cenário central para os economistas, mas o risco tem vindo a aumentar. É essa a mensagem ouvida pelo Expresso junto de vários especialistas.
“O aumento das taxas de juro tenderá a diminuir o consumo e o investimento da maioria das famílias e empresas, e desta forma contribuir para o abrandamento da economia”, aponta Pedro Brinca, economista e professor da Nova SBE, argumentando que “numa altura em que as taxas de inflação ainda não começaram a cair de forma pronunciada para o objetivo dos 2%, não será necessariamente um problema”. Contudo, “é preciso ser prudente para que o abrandamento da economia seja o necessário para retomar a normalidade dos valores da inflação, mas não mais do que isso”, alerta.
É um “caminho estreito” o que o BCE enfrenta, vinca o estudo “Hard or soft landing?”, publicado pelo Bank for International Settlements. “Apertar demasiado ou muito rapidamente pode resultar em stresse financeiro e uma aterragem dura, infligindo danos desnecessários à economia. Mas, apertar demasiado lentamente pode deixar as pressões inflacionistas tornarem-se persistentes, exigindo ações mais fortes e custosas mais à frente”, avisam os autores.
As projeções apontam para um abrandamento da economia europeia, mas não para uma recessão. A Comissão Europeia antecipa uma expansão da zona euro de 2,6% este ano — com Portugal a liderar o crescimento nos 6,5% — e de 1,4% em 2023 – com Portugal a abrandar para 1,9%.
“O cenário de recessão é possível, mas não parece ser ainda o central”, salienta João Borges de Assunção, professor da Católica-Lisbon, salientando que em caso de forte arrefecimento, “em particular associado a subidas do desemprego, será de esperar uma normalização mais lenta da política monetária”. Paula Carvalho, economista-chefe do BPI, aponta no mesmo sentido: “O cenário de recessão tem alguma probabilidade de ocorrência, não só pela subida dos juros e ambiente financeiro mais restritivo, como sobretudo pelas consequências da guerra na Ucrânia, e, em concreto, a incerteza relativamente ao abastecimento de energia à Europa. Não é o cenário central, mas a sua probabilidade tem vindo a aumentar.” Um corte definitivo do abastecimento de gás natural russo é a principal ameaça e “lançará a Europa numa recessão, disso tenho poucas dúvidas”, salienta Pedro Brinca. Mas, “tirando a questão energética, não me parece que uma recessão seja uma inevitabilidade”, remata.