20.7.22

Geração Z e millennials portugueses sentem-se financeiramente ansiosos. Custo de vida é a principal preocupação

Daniela Carmo, in Público

Inquérito da Deloitte mostra que além de inquietos com as finanças a curto e longo prazo, millennials e jovens da geração Z estão também preocupados com as mudanças climáticas. Saúde mental e desemprego estão igualmente entre as principais preocupações.Financeiramente inseguros, stressados, apreensivos quanto à reforma, mas comprometidos com a luta pelo clima. 

É assim que os 400 millennials e jovens da geração Z portugueses que responderam ao inquérito mundial “Gen Z and Millennial Survey 2022” se descrevem. Entre as principais preocupações (que coincidem nas duas gerações e tanto para portugueses como para os outros inquiridos dos restantes 45 países envolvidos no questionário) destacam-se o custo de vida e as alterações climáticas.

No que toca à segurança financeira, a geração nascida entre 1983 e 1994 (millennial) está mais apreensiva e insegura, do que a geração subsequente (de 1995 a 2003). Ao inquérito, que decorreu entre Novembro de 2021 e Janeiro último, responderam 200 millennials e 200 jovens da geração Z. Entre os millennials, 65% não se sente seguro financeiramente. Uma percentagem mais elevada do que os 61% dos jovens da geração Z nacionais que estão inseguros nesse parâmetro.

A nível global o questionário contou com mais de 23 mil inquiridos de 46 países de diversos continentes (Europa, América, África, etc). Nesta 11.ª edição, a Deloitte, empresa que levou a investigação a cabo, incluiu uma análise dedicada a Portugal. Comparando com os outros inquiridos, a inquietação com as finanças dos jovens e adultos nacionais é maior: a percentagem global desce para os 40% e 46%, respectivamente, nos jovens da geração Z e nos millennials que estão inseguros financeiramente.

O estudo analisou várias questões como expectativas sobre segurança financeira, stress, ansiedade e saúde mental ou a expectativa com a possibilidade de vir a receber reforma.

O custo de vida é, aliás, a maior preocupação dos inquiridos quando lhes é pedido que escolham cinco inquietações e lhes dêem uma ordem. A nível nacional mais de um terço dos jovens da geração Z (34%) e quase metade dos millennials (46%) colocam o custo de vida no topo da tabela. No segundo lugar aparecem as alterações climáticas (32% em ambos os grupos etários).

Ansiedade financeira, ansiedade climática

Já o panorama mundial mostra que a percentagem de inquiridos que colocam as alterações climáticas no segundo lugar baixa para os 24% (Geração Z) e para os 25% (millennials). Mas enquanto estão a braços com a ansiedade financeira, estes jovens e adultos lutam pela protecção do ambiente com pequenos gestos diários. Mais de 70% dos inquiridos dos dois grupos etários “concordam que o mundo está num ponto de inflexão na resposta às alterações climáticas e no futuro poderá ir para qualquer um dos lados”, lê-se no estudo.

Entre os comportamentos que tomam diariamente para inverter a situação destacam o uso de plástico/papel reciclados ou recicláveis; o uso de copos e utensílios reutilizáveis; compras em segunda mão (roupa e mobília, por exemplo); comprar no comércio local ou produtos orgânicos.

Por outro lado, aspiram poder vir a, no futuro, a comprar carros eléctricos ou híbridos, melhorar as habitações tornando-as mais sustentáveis (por exemplo, com a instalação de painéis solares) ou aumentar a participação cívica. Os resultados do inquérito indicam ainda que as duas gerações “estão dispostas a gastar dinheiro no curto prazo pela sustentabilidade, mas, actualmente, alguns hesitam em fazer grandes investimentos financeiros a longo prazo, provavelmente devido a restrições financeiras”.

“O stress é outra das marcas das gerações mais novas em Portugal”, destaca o comunicado de imprensa relativo à situação nacional enviado ao PÚBLICO. Mais de metade (53%) dos inquiridos da geração Z e 39% dos millennials relatam sentir-se ansiosos ou stressados na maior parte do tempo (46% e 38% a nível global, respectivamente). Entre as causas de stress destacam o futuro financeiro a longo prazo, as preocupações relacionadas com a saúde mental, a carga laboral, a família e relações pessoais e ainda as finanças diárias.

A saúde mental é, aliás, a terceira das preocupações dos jovens da geração Z, além do custo de vida e do clima. Neste grupo etário, a percentagem a colocar a saúde mental no terceiro lugar das cinco maiores preocupações corresponde a 27% dos inquiridos (a nível global nesta geração, o parâmetro aparece em quarto lugar no Top 5 das preocupações, com 19%). Segue-se o desemprego (19%) e a escassez de recursos (17%).

Os números são mais expressivos quando se percebe que no local de trabalho a percentagem de inquiridos que não se sentiria à vontade para falar abertamente com o gestor directo sobre o facto de se sentirem ansiosos ou sobre outros desafios da saúde mental chega aos 37% nos jovens da geração Z e aos 35% para os millennials.

Já os millennials estão mais inquietos com a desigualdade de rendimento/distribuição de riqueza (25%), com o desemprego (23%) e com a saúde/ prevenção de doenças (17%).
Gerações reavaliam o que é prioritário

De acordo com Nuno Carvalho, responsável pela área de Capital Humano da Deloitte em Portugal, citado no comunicado, “o actual contexto mundial conduziu a um clima generalizado de apreensão com o futuro, a que os millennials e a geração Z não são alheios”. “Os efeitos da pandemia e, mais recentemente, da guerra na Ucrânia têm levado as gerações mais novas a reavaliarem o que é prioritário, contrariamente a algumas das conclusões em edições anteriores. Temas como a flexibilidade no trabalho, o stress ou mesmo a reforma estão agora no topo das prioridades destas gerações e devem ser tidos em consideração pela sociedade e pelas empresas”, sublinha.

O jovens da geração Z mostraram-se com mais vontade de mudar de emprego do que os millennials. “Segundo o estudo, 29% dos Gen Z pretende sair do seu actual trabalho dentro de dois anos e 20% pretende mudar dentro de cinco anos. Nos millennials 27% que sair daqui a dois anos e 28% daqui a cinco anos. Cerca de 36% dos inquiridos da geração Z e 23% dos millennials afirma que abandona o seu empregador mesmo se não tiver outro trabalho garantido para onde mudar”, refere o comunicado.

Quando se fala de reforma no final da carreira profissional, 27% dos jovens da geração Z e um terço (33%) dos millennials dizem sentir-se seguros em relação à sua reforma. Os números são mais baixos do que a nível mundial: 41% nas duas categorias que têm confiança quanto à reforma.