14.7.22

Chegada do verão empurra subida de preços para lá da média do euro

Maria Caetano, in DN

Além dos combustíveis dos transportes, que voltaram a subir após uma redução em maio, os preços de alojamentos, pacotes de férias e bilhetes de avião dispararam e fizeram acelerar os custos do cabaz das compras nacionais.

Achegada do verão foi no último mês a acha a atiçar o combustível da inflação, levando a subida nacional de preços a ultrapassar a da média da Zona Euro pela primeira vez em quatro anos e meio. Desde o final de 2017 que tal não acontecia.

Em junho, os preços suportados pelos consumidores domésticos ficaram 8,7% acima de um ano antes, segundo dados confirmados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística. Já o cabaz de compras que inclui a procura de estrangeiros, usado para comparações europeias, subiu de preços em 9%, quatro décimas acima da média dos 19 países da moeda única.

Segundo o INE, o índice harmonizado de preços no consumidor português registou em junho uma variação mensal de 1,1%, com o mesmo indicador para o conjunto da Zona Euro a ser de 0,8%.

Já excluindo componentes mais voláteis e sensíveis a choques, a energia e os produtos alimentares não-transformados, tem-se a inflação subjacente, que em Portugal tem andado à frente dos registos da área do euro já desde o arranque deste ano. Este indicador, cuja subida aponta para um acréscimo de preços mais persistente e alargado, marcava aumentos homólogos na ordem dos 6,6% em junho, contra apenas 4,6% na média do euro.

O distanciamento do ritmo de subida de preços português relativamente àquele que ocorre no bloco da moeda única tem vindo a ser notado pelo INE. O indicador harmonizado que permite as comparações é importante, designadamente, por pesar nas avaliações da inflação pelo Banco Central Europeu, que neste mês se prepara para subir juros pela primeira vez em mais de uma década e que tem de assegurar que a política monetária que conduz é adequada a todos os países do euro.

Neste indicador compilado pelo Eurostat, contam de forma mais significativa as despesas em viagens, excursões e alojamento, preços que em Portugal dispararam com a chegada a junho, mostra a evolução detalhada das diferentes componentes de compras.

Turismo dispara

Os índices do INE indicam que a maior subida mensal de preços ocorreu em junho nas passagens de avião, que encareceram 20,3%, e estão agora 60,1% mais caras do que um ano antes. A segunda maior subida ocorreu nos alojamentos, que reagiram à chegada do verão com aumentos de preços de 13,7% e estão hoje 41,6% mais caros do que um ano antes. As férias organizadas também passaram a custar mais 13%, com os preços cobrados pelas agências de viagens a situarem-se 31,3% acima daqueles que eram praticados em junho do ano passado.

A recuperação do turismo está a traduzir-se, assim, também numa subida considerável de preços que alimenta a inflação. Mas, os combustíveis - em particular, a gasolina e o gasóleo usados no transporte das famílias - continuam ainda a sustentar também a aceleração.

Os preços de gasóleo e da gasolina subiram 9% para as famílias em junho, revertendo descidas que coincidiram com os cortes de ISP no mês anterior.

Nova subida nas bombas

Em junho, os preços de combustíveis usados no transporte pessoal voltaram a aumentar, com uma subida de 9% para novos máximos. O aumento mais do que que reverteu uma descida de 3,5% observada em maio, mês em que passou a ser aplicada pelo governo uma redução em imposto sobre produtos petrolíferos equivalente à passagem do IVA sobre os combustíveis para a taxa intermédia. Entretanto, face há um ano, os custos são 34,7% superiores.

Os combustíveis líquidos usados em casa também ficaram 8% mais caros no últimos mês, situando-se 62,5% acima de um ano antes.

Já o gás das habitações sofreu um ligeiro recuo mensal de 0,6%, estando ainda 38,9% acima dos preços de há um ano.

O preço da eletricidade não mexeu em junho. Está 23,6% mais caro do que no ano passado.

Na alimentação, a secção mais pesada dos orçamentos familiares, a subida mensal de preços foi de 1,1%, colocando os gastos com esta parte do cabaz 13,2% acima daqueles que eram feitos há um ano.

Nesta secção, óleos e gordura são os bens que mais têm encarecido. Contudo, em junho, estes preços conheceram uma redução ligeira de 0,3%. Ainda assim, estão 42,6% acima de há um ano.
Também açúcar e refrigerantes conheceram reduções mensais de 1,2% e 0,4%, respetivamente.

Em sentido contrário, junho fica marcado por um aumento de preços na fruta de 3,5%, a maior subida na despesa alimentar das famílias. Em termos homólogos, porém, os preços estão apenas 2,7% acima daqueles que foram recolhidos pelo INE em junho de 2021.

Para os consumidores domésticos, a subida mensal global de preços foi de 0,8%. Retirando, no entanto, energia e produtos alimentares não transformados, o aumento é bem mais contido, de 0,3%, A inflação mensal subjacente para o consumidor português foi menor do que a registada em maio (0,7%).