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27.10.22

É Ou Não É? - O Grande Debate

in Notícias EAPN

A Diretora Executiva da EAPN Portugal, Sandra Araújo, esteve presente no programa da RTP, “É ou Não É?” do dia 25 de outubro.

O programa debateu o tema da pobreza em Portugal e contou com a Diretora Executiva da EAPN Portugal / Rede Europeia Anti-Pobreza como uma das convidadas.

Aceda ao programa completo aqui.

24.10.22

Sandra Araújo indicada para coordenar a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza.

in DN

De acordo com a tutela, Sandra Araújo foi escolhida para "garantir a definição e implementação de planos de ação, a articulação entre as diferentes entidades envolvidas e a orientação para os indicadores e metas a atingir até 2030"

A diretora executiva da Rede Europeia Anti-Pobreza, Sandra Araújo, foi indicada pelo Governo para coordenar a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza até 2030, anunciou esta segunda-feira o Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social.

Em comunicado, o Ministério refere que Sandra Araújo foi escolhida pelo Governo para o cargo de coordenadora da Estratégia Nacional de Combate à Pobreza (ENCP) 2021-2030, lançada no final do ano passado.

"A coordenação da ENCP 2021-2030 terá um papel fundamental para garantir a definição e implementação de planos de ação, com âmbito temporal 2022-2025 e 2026-2030, a articulação entre as diferentes entidades envolvidas e a orientação para os indicadores e metas a atingir até 2030", explica a tutela.

A ENCP foi lançada em dezembro do ano passado e assenta em seis prioridades: reduzir a pobreza nas crianças, jovens e suas famílias; promover a integração plena dos jovens adultos na sociedade; potenciar o emprego e a qualificação como fatores de eliminação da pobreza; reforço das políticas públicas de inclusão social; assegurar a coesão territorial e o desenvolvimento local; e fazer do combate à pobreza um desígnio nacional.

Reconhecendo a existência de cerca de dois milhões de portugueses ainda em risco de pobreza e exclusão social, este mecanismo pretende também reduzir para metade a pobreza monetária de crianças, o que significa retirar aproximadamente 170 mil crianças de situação de pobreza, e diminuir para metade a taxa de pobreza monetária dos trabalhadores pobres, ou seja, menos 230 mil trabalhadores em situação de pobreza.

Sandra Araújo, que assume agora a coordenação da Estratégia Nacional, é atualmente diretora executiva da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN, na sigla em inglês) Portugal, onde ingressou em 1994, dois anos após ter iniciado a sua carreira no Projeto de Luta Contra a Pobreza, no Centro Histórico de Gaia.

Como diretora executiva da EAPN Portugal, tem desenvolvido atividades no âmbito do combate à pobreza e às desigualdades sociais, coordenação e gestão de projetos de nacionais e internacionais, e gestão de recursos humanos.

Coordena também a atividade dos observatórios da EAPN Portugal, que representa no Comité Executivo da EAPN Europa, acrescenta o comunicado.

Portugal: «Só conseguimos resolver o problema da pobreza se ele se tornar um fator mobilizador do conjunto da sociedade» – Carlos Farinha Rodrigues

Entrevista conduzida por Henrique Cunha (Renascença) e Octávio Carmo (Ecclesia), in Agência Ecclesia

Na última semana confirmou-se aquela que era uma perceção geral. A população portuguesa está mais pobre. E não fora os apoios sociais mais de quatro milhões de pessoas seriam pobres. Foi também no Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza que ficamos a saber que Sandra Araújo será a nova coordenadora da Estratégia Nacional de Combate a este flagelo. Carlos Farinha Rodrigues, professor do Instituto Superior de Economia e Gestão e especialista em desigualdades e pobreza, é o convidado desta semana da Renascença e da Agência Ecclesia.

Desde a apresentação da estratégia nacional de combate à pobreza até à definição da sua coordenadora passou quase um ano. Numa área de emergência como esta, não passou demasiado tempo?

Bom, vamos começar por clarificar alguns aspetos que aqui foram referidos. Eu gosto de frisar que o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza não é o Dia dos Pobres. Não é um dia exclusivamente para a população pobre. É um dia para apelar a toda a sociedade para a necessidade do combate à pobreza.

Até porque não é apenas um problema deles?

O problema da pobreza não é exclusivamente um problema dos pobres, embora sejam eles que mais sofrem com a situação de pobreza. É um problema nosso enquanto sociedade, porque a pobreza trava o desenvolvimento económico, põe em causa os valores democráticos da nossa sociedade e põe em causa, acima de tudo, a coesão social. O segundo aspeto tem a ver com um conjunto muito alargado de dados que saíram e que tiveram um destaque na comunicação social.

Mas são os dados que o INE (Instituto Nacional de Estatística) publicou em novembro do ano passado. Ou seja, são dados que, acima de tudo, retratam a situação de 2020. Entretanto, muita água passou por debaixo dos rios e, acima de tudo, muitas alterações.

E a realidade é pior?

Eu penso que em alguns aspetos é pior. Noutros, eventualmente, nem tanto. E isso tem a ver com a forma como nós analisamos o que são os indicadores oficiais de pobreza e o que é a realidade concreta das condições de vida. Deixe-me dar-lhe um exemplo. Nós hoje estamos numa situação em que, provavelmente, os rendimentos nominais das famílias ou se mantiveram, ou cresceram ligeiramente. Estamos numa situação em que o emprego atinge níveis históricos. O que é que isso significa? Significa que, da forma tradicional como nós em Portugal e na União Europeia medimos a desigualdade e a pobreza, isso até pode significar um desagravamento da desigualdade e da pobreza.

Se não relacionarmos esses dados com outros…

Agora, o problema é que nós estamos a fazer a avaliação da pobreza e da desigualdade a partir de rendimentos nominais quando esta nova situação de termos um acréscimo do nível de preços, que é particularmente penalizador para as famílias mais pobres, vai significar necessariamente uma forte deterioração das condições de vida.

É nesse sentido que lhe perguntava se não é preciso um sentido de urgência para estas matérias.

É preciso um sentido de urgência. Em princípio, o INE divulgará os dados referentes a 2021 em novembro deste ano, o que nos permitirá ter alguma ideia, não tanto ainda do efeito da inflação, mas do rescaldo da pandemia. E, portanto, aí, na minha opinião, é preciso ter muita atenção aos indicadores oficiais de pobreza, mas também a indicadores de privação. Por exemplo, se nós tivermos um agravamento da percentagem de famílias que têm dificuldade em pagar água, luz e eletricidade; isso é significativo. Portanto, claramente, nós temos aqui um conjunto de desafios muito grandes. E, ainda por cima, num contexto de forte incerteza. Nós não sabemos como é que vamos estar daqui a uns meses em termos de inflação, em termos do desenvolvimento económico e em termos da própria situação europeia. Toda esta urgência, toda esta incerteza, reforça a necessidade de termos uma estratégia de combate à pobreza. E aí há um primeiro aspeto que eu gostaria de reforçar. O que é que aconteceu?

Nós tivemos a estratégia aprovada em dezembro do ano passado e só agora, com a nomeação da Drª. Sandra Araújo, temos condições para começar a implementar. Eu faria dois comentários em relação a esse atraso. Primeiro, não vejo nenhuma razão para que esse atraso tenha acontecido. Certamente que terá havido boas razões para isso, mas eu não conheço e, de alguma forma, acho que isso penalizou a capacidade de dar respostas integradas às situações de pobreza.

Há um segundo aspeto que eu penso que é extremamente importante, porque de alguma forma, equilibra este aspeto negativo do atraso na implementação da estratégia, que é o seguinte: se nós olharmos para um conjunto muito significativo de medidas de âmbito social que foram tomadas este ano ou que estão contempladas no Orçamento [do Estado para 2023], etc., nós podemos verificar que praticamente todas elas se inserem no espírito da estratégia. Aquilo que eram os eixos prioritários da estratégia, [como] a defesa das crianças, uma preocupação acrescida com os jovens, o manter os níveis de rendimento da população mais idosa. Ou seja, as várias medidas que foram tomadas estão claramente imbuídas do espírito da estratégia.

Ou seja, foram beber ao espírito da estratégia nacional?

Foram beber ao espírito da estratégia. Têm implícito a existência dessa estratégia. Portanto, de alguma forma, eu não diria que a estratégia esteve em ‘stand-by’. Agora, o facto de nós termos demorado estes meses significa que reduzimos a nossa capacidade de criar sinergias, de olhar para o combate à pobreza de uma forma mais integrada, como ela exige.

Isso decorre do quê? De falta de vontade política para definir planos e colocá-los em prática?

Não. Embora eu continue a pensar que o problema da pobreza no nosso país é essencialmente uma questão de vontade política, acho que seria um pouco abusivo dizer que foi por falta de vontade política. Acho que outras razões existirão. Agora, a estratégia de combate à pobreza, que foi aprovada o ano passado e que foi amplamente discutida, quer no seio da comissão de que eu fiz parte, quer com vários agentes que no terreno atuam no combate à pobreza, têm uma mensagem que para mim é particularmente importante que é o seguinte: o combate à pobreza não se faz exclusivamente com políticas sociais, por mais importante que essas políticas sejam. Eu tenho de ser capaz de coordenar praticamente todo o universo das políticas públicas para o combate à pobreza.

Ou seja, não bastam abordagens periféricas é preciso ir ao centro da questão?

Não basta tentarmos resolver o problema imediato das famílias mais carenciadas. Eu hoje estou convencido que quando nós olhamos para a pobreza, a realidade concreta da pobreza em Portugal, a existência de largas famílias com falta de recursos mínimos continua a ser um problema determinante.

O que falhou no passado foi a capacidade de quebrar ciclos?

Foi também essa capacidade de quebrar ciclos. Mas a falta de recursos continua a ser determinante. É ela que, no fundo, permite classificar uma pessoa como pobre ou não. pobre, mas hoje assume cada vez maior importância a capacidade de acesso a bens e serviços mínimos e isso remete-nos diretamente para as questões da saúde, da habitação, da educação.

Hoje, os problemas da habitação são fulcrais na análise da pobreza. As questões da educação. Nós, por exemplo, durante a pandemia, tivemos a necessidade de tomar medidas que foram profundamente geradoras de desigualdade e cujos efeitos se vão sentir durante muitos anos, dependendo, obviamente, da sua intensidade das políticas que forem tomadas.

Falou da questão da habitação. E a inflação e a subida das taxas de juro não mereciam uma intervenção mais musculada por parte do Governo, em particular junto das muitas famílias com dificuldades para o cumprimento dos créditos à habitação, porque provavelmente será um dos problemas mais emergentes num futuro próximo?

Eu penso que sim, ou seja, a questão do crédito à habitação vai ser fundamental, mas não é única. Eu acho que de há muito que nós não temos uma política integrada de habitação que permita resolver problemas. No fundo permita um reajustamento são entre oferta e procura. Nós olhamos para Lisboa e temos milhares de casas desocupadas. Nós vemos as dificuldades que os jovens hoje têm para ter uma habitação com um mínimo de dignidade nas principais cidades.

E ainda assim há o receio de muitas pessoas ficarem sem casa…

Exatamente. Porquê? Estas intervenções têm de ser devidamente pensadas e enquadradas. Deixe-me dar um exemplo. O Governo decidiu face à atual crise, não permitir aumentos das rendas no próximo ano superiores a dois por cento. É uma medida com a qual concordo, mas já estamos a perceber que essa medida vai poder, potencialmente, ter efeitos perversos: a não renovação de contratos das famílias que estão a terminar o seu prazo de contrato. Ou seja, não basta ter medidas pontuais, temos de ser capazes de as integrar e olhar para elas de uma forma global.

Implementar, pôr a funcionar a estratégia de uma forma mais efetiva pode ser um contributo muito importante no combate à pobreza. A Drª Sandra Araújo, que foi nomeada como coordenadora, é uma pessoa que tem experiência do trabalho no terreno. Ela foi durante muitos anos diretora executiva da Rede Europeia Anti-Pobreza. Eu desejo-lhe as maiores felicidades porque vai ter uma tarefa que é de primordial importância, mas difícil.

Agora eu espero que ela tenha capacidade para, de facto, pôr a estratégia a funcionar.

Falava ainda agora da questão de as medidas terem de ser avaliadas no seu conjunto, no conjunto do setor a que se destinam. Gravamos esta entrevista no dia em que o Governo começou a efetuar o pagamento extraordinário aos pensionistas e na véspera de um conjunto significativo de portugueses verem cair na sua conta bancária 125 euros, como forma de tentar minimizar os efeitos da crise que vivemos. Já tem uma ideia concreta sobre a eficácia destas medidas?

Eu acho que esse impacto vai ser relativamente limitado, embora seja simultaneamente extremamente importante para as famílias mais carenciadas. Agora é uma ajuda, mas mais uma vez aqui é o problema da forma como nós jogamos com a implementação de medidas pontuais que se não forem enquadradas numa visão mais global -não direi que são inúteis, que não são-; são importantes, mas perdem a sua capacidade transformadora.

Começamos por abordar a questão do atraso na implementação da estratégia de combate à pobreza. Ainda estamos a tempo de recuperar o tempo perdido. Perdeu-se o objetivo de fazer deste combate um desígnio nacional?

Não. A estratégia vai até 2030. Este atraso, como eu referi, não é despiciente. Agora, se se avançar rapidamente com a constituição de toda a estrutura que vai gerir a própria estratégia. Se se avançar rapidamente com a elaboração de planos trianuais para definir quais são os objetivos imediatos, quais são as metas que se pretendem alcançar num horizonte de dois, três anos, isso será um passo importante. Portanto, eu penso que claramente não é algo que está perdido. Continua a ser uma estrutura estruturante – passe a redundância – para nós combatermos a pobreza.

O segundo especto que me tinha colocado, que era do desígnio nacional.

Deixe me dizer-lhe que quando nós estávamos na comissão que elaborou a estratégia de combate à pobreza, eu fui daqueles que propus e que lutei muito para que essa meta e esse objetivo ficasse plasmado na estratégia. Porquê? Porque eu estou convencido que só conseguimos resolver o problema da pobreza em Portugal se ele se tornar um fator mobilizador do conjunto da sociedade. E isso remete para o primeiro aspeto que referi. O problema da pobreza não é um problema dos pobres.

E também não é só um problema do Estado…

Não, não é só um problema do Estado, claro que não. Mas deixe-me dar-lhe um exemplo que permite situar isso. Aqui já há muitos anos, quando eu comecei a estudar as questões da pobreza; eu, como a generalidade dos investigadores nesta área, chegamos a esta área a partir da perceção muito clara da profunda injustiça que é a existência de largos setores da população em situação de pobreza. Eu hoje continuo a ter essa mesma perceção. Mas eu sou economista. Olho para a realidade de uma forma, enfim, não direi diferente, mas com outros instrumentos. E eu hoje também estou convencido de que os níveis de pobreza e os níveis de desigualdade que nós temos são um obstáculo poderosíssimo para o desenvolvimento económico e para o crescimento económico. Portanto, o combate à pobreza e à desigualdade não é só por uma questão de equidade e justiça social. E só por isso valia a pena. Mas é também um instrumento fundamental para termos um desenvolvimento sustentado no futuro.

Falamos de muitas medidas direcionadas para os setores mais frágeis da sociedade. Com o agravar da crise e do potencial aumento dos fatores de exclusão social e pobreza, há um desgaste significativo no outro setor, aquilo que chamaríamos a classe média, que coloca mais pessoas em risco de pobreza?

Quando olhamos para a desigualdade e a evolução da desigualdade, ao longo do tempo, passamos de um paradigma de ‘pobres vs. ricos’ para algo que hoje é cada vez mais relevante, na minha opinião: os muito ricos contra o conjunto da sociedade, a concentração de riqueza no topo da distribuição – entre os 1 ou 2% mais ricos. É algo que não só em Portugal, mas a nível dos países mais desenvolvidos, tem tido um aprofundamento claramente perigoso para a própria coesão social.

Hoje temos de ter medidas para o combate à pobreza, mas há também que garantir que largos setores da população, que não estão na situação de pobreza, mas que sofrem os efeitos da crise, tenham também capacidade de resistir e de enfrentar com os instrumentos adequados esta crise.

Dito de outra forma, o facto de nós defendermos medidas muito específicas, na sua incidência, sobre a população mais pobre, não significa que não se deva pugnar por garantir um desenvolvimento mais sustentado, mais equilibrado do conjunto da sociedade.

Entrando agora em aspetos um pouco mais técnicos, é extraordinariamente difícil dizer o que é ser classe média, hoje, em Portugal. Temos níveis limiares de pobreza à volta dos 500 euros: o que é que eu direi de uma pessoa que ganha 2000 euros? É rico? É classe média? Há aqui uma zona cinzenta. Há uma larga zona na escala dos rendimentos que já não estão em situação de pobreza, mas claramente têm níveis de fragilidade que é preciso ter em conta, até para evitar o risco que uma parte significativa dessas pessoas caia em situação de pobreza.

E não falamos aqui dos fenómenos da pobreza envergonhada que ganha cada vez maior dimensão e que se calhar não cresce mais, dado o apoio da família…

Há situações de pobreza que não são detetadas pelas estatísticas oficiais. Quando nós vemos os indicadores de pobreza que o INE e o Eurostat publicam anualmente, muitas vezes esquecemos que toda a população sem-abrigo não é abrangida, que há uma parte da população que não é só pobre e excluída materialmente, mas é também autoexcluída das próprias estatísticas sobre a pobreza. Isso é um problema que esta estratégia de combate à pobreza também deve ter em conta. Temos pobreza envergonhada, temos igualmente franjas da população em situação de pobreza que não são facilmente detetáveis.

Uma das lições que tiramos da pandemia é que, em crises anteriores, nomeadamente durante o período da troika, nós sabíamos que havia um conjunto vasto de famílias que, apesar de não terem rendimentos formais conhecidos, conseguiam sobreviver à custa da economia informal, com biscates, com sistemas vários. O que aconteceu durante a pandemia, durante aquele período em que tudo parou? Essas atividades, que serviam quase como uma almofada às situações de pobreza mais extrema, deixaram de funcionar. Descobrimos uma realidade de que não tínhamos uma consciência muito profunda: estas famílias, porque estão fora do mercado formal de emprego, estão também fora dos mecanismos tradicionais de proteção social.

De repente, nós vimo-nos com uns largos milhares de famílias que não tinham nada, que tinham por via da pandemia, ficavam completamente desprotegidas. A forma de responder a isso foi, na altura, tentar dar o apoio possível a essas famílias, mas foi também, ou pelo menos deveria ter sido – é uma avaliação que eu, pessoalmente, ainda não tenho – uma tentativa de clara de os integrar na economia formal, para que eles sejam trabalhadores de pleno direito, com todos os direitos e também todos os deveres que estão associados e que tenham acesso à proteção social.

Na última semana, a Igreja Católica promoveu em Fátima um encontro nacional da Pastoral Social, no qual se disse que, face ao agravamento das condições de desigualdade e da pobreza, é possível que as pessoas se vejam obrigadas a escolher entre a alimentação e os medicamentos?

Nalgumas famílias isso pode acontecer. Nós não temos ainda dados concretos que nos permita responder a essa questão. A inflação, é ela, em si mesma, um fator de desigualdade, porque quando nós temos uma subida dos bens de primeira necessidade, é fácil perceber que, na estrutura das despesas das famílias mais pobres, esses bens têm um peso maior.

O peso relativo é muito maior…

Sim, aquilo que nos designamos por “share” do rendimento gasto nessas despesas é muito maior e, portanto, o efeito é imediato. Quando nós olhamos para o efeito do preço dos combustíveis, vai muito para além da população em situação de pobreza e atinge largos setores da classe média. Mas os principais efeitos da inflação incidem muito sobre a população mais pobre.

Para fazer face a todos estes problemas, precisamos, de facto, de um Estado Social forte. Do percurso efetuado até agora, até ao momento com que identificou, vivemos de facto, ao lado desse Estado social forte?

Nós temos um Estado Social que, historicamente, começou tarde e que ainda tem muitas insuficiências, sendo fortemente condicionado pelas restrições económicas. É evidente que as medidas seriam diferentes, se não tivéssemos o défice e a dívida que temos. Portanto, há restrições económicas fortes, mas não tenho dúvidas que o caminho a perseguir é o do reforço do Estado Social.

E, nessa perspetiva, o Programa de Resolução e Resiliência, a famosa bazuca, seria importante para esse reforço do Estado Social, em ligação a outros outras políticas públicas, nomeadamente a Agenda 20-30?

Deixe-me referir que nós, em relação ao Estado Social, sempre tivemos algumas vozes críticas que são perfeitamente legítimas. Eu discordo, mas admito perfeitamente que se possa defender que não deve existir um Estado Social. Acho que uma das poucas vantagens desta pandemia é que mostrou claramente a necessidade da existência de um Estado Social tão forte quanto possível. As consequências da pandemia seriam muito mais drásticas se nós não tivéssemos a intervenção do Estado. Isso levou a que alguns dos defensores do fim do Estado Social, não mudassem de opinião, mas estivessem calados durante algum tempo. Acho que mudar de opinião não mudaram e brevemente iremos ouvi-los novamente.

O segundo aspeto é particularmente importante: como é que a estratégia de combate à pobreza joga com o Plano de Recuperação Económica e com o Plano 20-30.

Eu faço parte da Comissão de Acompanhamento do PRR, exatamente nas áreas sociais. Em relação ao PRR, pode haver aqui, se bem aplicado, um papel fundamental na resolução de alguns problemas estruturais.

Há pouco falávamos na habitação. O PRR é essencialmente um plano de investimentos e, nesse sentido, se conseguirmos implementar aquilo que está previsto… há dificuldades várias, não é um caminho fácil.

Mas vai lutar por isso?

Claro que sim. Um segundo aspeto tem a ver com o Plano 20-30, no qual já é possível ter medidas mais direcionadas para o apoio direto às famílias em situação de maior pobreza. Há algum atraso, mas espero que ele seja implementado de forma eficiente. Nós precisamos, cada vez mais, de ser capazes de fazer uma avaliação dos impactos, transformadores ou não, de cada uma das medidas.

Não nos basta ter um relatório e dizer “nós gastamos 95% do que estava previsto, é muito bom”. Não. O que é importante é saber o que mudou com aquilo que se gastou. E nesse sentido, já extravasando um pouco a questão da pobreza, mas com impacto importante, devemos ser capazes de avaliar os impactos transformadores das políticas públicas, em particular estas que têm uma grande componente de investimento ou de transferências monetárias.

As instituições sociais podem e devem ser um parceiro mais eficaz no combate à desigualdade?

O combate à pobreza não pode ser exclusivamente do Estado, daí dizer que é necessário fazer do combate à pobreza um desígnio nacional. Muitas das organizações que trabalham diretamente com a população pobre têm um papel fundamental. Quando olhamos para a atuação dessas instituições no terreno, podemos chegar à conclusão de que estas instituições são a porta de entrada, são a entrada de emergência, quando uma pessoa cai numa situação extremamente difícil. Em vez de ir primeiro ao Estado, se calhar é a primeira porta onde vão bater são essas instituições, porque estão mais próximas. Tem a ver com as características da população e, nesse sentido, são extraordinariamente importantes.

A atuação destas instituições tem de ser complementar da intervenção do Estado e não pode ser nunca um pretexto para dispensar a intervenção do Estado. Depois, na forma de funcionamento destas instituições, há aspetos em que ganharíamos muito se fossem mudados. Por exemplo, hoje o acompanhamento dos beneficiários do RSI é, em grande parte do país, efetuado por Instituições de Solidariedade Social, umas trabalhando muito bem, outras trabalhando um pouco menos bem.

No entanto, não temos um mecanismo que permita avaliar o que é que cada uma dessas instituições faz, dizendo “esta Instituição A teve um desempenho excecional, esta experiência deve ser exportada para outros” ou “esta Instituição B cometeu erros e nós devíamos fazer com que eles não sejam repetidos”. Também aqui a estratégia pode ter um aspeto importante. Temos de ser capazes de pôr estas várias instituições do Estado e instituições de solidariedade em diálogo e em colaboração.

Há um último aspeto que também gostaria de referir: quando olhamos para o que tem sido o combate à pobreza em Portugal, geralmente falamos na intervenção do Estado e nas Instituições de Solidariedade Social. Há aqui um grande ausente: o poder local, as autarquias.

É evidente que há muitas autarquias com um papel fundamental e que têm desenvolvido, ao longo dos anos, atividades importantíssimas no combate à pobreza. Mas geralmente não falamos nas autarquias quando falamos no combate à pobreza. Para mim, também as autarquias devem ser chamadas a esta discussão sobre quais as melhores formas de alterar a nossa sociedade, para que ela não gere tanta desigualdade e tanta pobreza.

Acontecerá quando tivermos um país regionalizado?

Não me preocupa muito qual é a forma administrativa com que isso se vai realizar. Para mim, o importante é que seja um processo inclusivo, que todas estas instituições, que no fundo têm um mandato para defender as populações – seja ele resultante de eleições ou da confiança que a comunidade deposita em certas instituições- todas elas sejam chamadas a este desígnio nacional que é o combate à pobreza.

População portuguesa está mais pobre e a ficar para trás

 Céu Neves, in DN

Há mais pessoas no limiar da pobreza, mesmo depois dos apoios sociais. Muitos são famílias com filhos. Também há mais agregados nos escalões de menores rendimentos do IRS. E os mais ricos estão mais ricos. Portugal piorou a posição no âmbito da UE.

O primeiro ano da pandemia afetou todos os países europeus, mas teve um impacto mais negativo em Portugal. Os dados da Pordata para o Dia Internacional da Pobreza, assinalado esta segunda-feira, revelam que o número de pessoas em risco de pobreza ou de exclusão social aumentou 12,5% em 2020 comparativamente a 2019, a primeira subida desde 2014. Os mais ricos estão mais ricos e os mais pobres, mais pobres. Conclusão: recuámos. Somos o 2.º país com mais pessoas a viver em más condições materiais.

Ministério Do Trabalho E Da Segurança Social. Sandra Araújo indicada para coordenar a Estratégia Nacional de Combate à Pobreza

Tsf. "Políticas públicas não devem centrar-se só nas transferências sociais"

Furtos. Supermercados colocam alarmes em alimentos. Aumentam "roubos para comer"

"Portugal desviou-se da trajetória de redução da pobreza que vinha a fazer desde 2014 . Em 2020 houve um agravamento. Sem os apoios sociais, 4, 4 milhões são pobres ou têm rendimentos abaixo do limiar da pobreza [554 euros mensais], o que passa para 1,9 milhões após as transferências sociais", explica Luísa Loura, diretora da Pordata. O país está mais longe da meta a atingir até 2030 - menos 765 mil pobres.

No que diz respeito ao risco de pobreza ou de exclusão social recuámos aos níveis de 2017 (43,7 % contra 43,5 %), mas a queda foi maior na taxa de pobreza após as transferências sociais e na desigualdade na distribuição de rendimentos. A pobreza atinge 18,4 % da população após os apoios e o rácio entre os 20 % mais pobres e os 20 % mais ricos é de 5,7. As transferências sociais incluem pensões de velhice e sobrevivência, bem como apoios à família, educação, habitação, doença/invalidez, desemprego e combate à exclusão social.

Comparação com a Europa

Comparativamente aos outros 26 países da União Europeia (UE), "Portugal piorou a sua posição". Entre 2019 e 2020, há três indicadores considerados "chave" em que regrediu: "a percentagem de população em risco de pobreza ou exclusão social, a taxa de risco de pobreza e a desigualdade na distribuição do rendimento". Está no primeiro terço dos piores (8.º lugar, melhorando ligeiramente após as transferências sociais (10.º).

Portugal foi o 2.º país, dos 27 da UE, com mais pessoas a viver em alojamentos com más condições (25%) - um em cada quatro casas. E, em 2021, foi o 5.º país com mais população incapaz de aquecer convenientemente a habitação (16%). Seis em cada dez pessoas com rendimentos abaixo do limiar da pobreza não conseguem fazer face a una despesa inesperada, o que coloca o país em 13.º lugar na União Europeia.

Ainda assim, quem vive em Portugal parece conseguir fazer mais com menos. Segundo a análise da Pordata, há comparativamente menos pessoas a sofrer de privação alimentar. O país está em segundo lugar no que diz respeito aos pobres que conseguem assegurar uma refeição de carne, peixe ou equivalente vegetariano de dois em dois dias (são 6% os que não o conseguem).


Há mais 226 mil pobres no país, sobretudo famílias com filhos, daí que os menores de 18 anos estejam na série de três grupos que correm um maior risco de exclusão social. A que se juntam os desempregados.
Efeitos da pandemia

A Pordata trabalhou com os dados do Eurostat de 2020, publicados em 2021. Referem-se ao primeiro ano da pandemia de covid-19, que afetou todos os países. Mas, sublinha Luísa Loura, "em Portugal teve um impacto que não teve noutros países".

Entre 2019 e 2020, a pandemia afetou mais os agregados com crianças dependentes (mais 9 pontos percentuais), as famílias monoparentais (5 p.p.) e as pessoas com 65 anos ou mais (2,6 p.p.).

Aumentou o número de pobres mas também as famílias que têm no máximo dez mil euros para gastar por ano. Dos quase 5,5 milhões de agregados familiares com declaração de IRS em 2020, dois em cada cinco recebem aproximadamente 833 euros€ mensais.

Em 2020, havia mais 58 famílias do que em 2021 (mais 8,6%) no escalão mínimo de IRS (até 5000 euros anuais). Uma subida que já não acontecia desde 2015.

Há dois anos houve uma ligeira redução dos beneficiários do Rendimento Social de Inserção (257983). Mas aumentou no ano passado (mais 2,6 %), situando-se nas 262 mil pessoas, valor mais próximo de 2019. Mais de metade são mulheres (52%) e dois em cada cinco (41%) têm menos de 25 anos.

Em 2021, 1,6 milhões de pensionistas da Segurança Social receberam uma pensão de velhice ou invalidez inferior ao salário mínimo nacional. "Conclui-se que 72% dos pensionistas de velhice e 87% dos pensionistas de invalidez viviam com menos de 665 euros mensais, o valor do salário mínimo em 2021 (a preços correntes)."

A média anual de desempregados inscritos nos centros de emprego e de formação profissional estava numa rota descendente desde 2014. Esta tendência infletiu no primeiro ano da pandemia.

"O número de inscritos aumentou 22,5% face a 2019. Em 2021, a média anual de desempregados inscritos no Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) não só não recuou a valores de 2019, como ainda aumentou 0,3% em relação a 2020 (386 200). Tal significa que, "em 2021, havia cerca de 23% mais desempregados inscritos do que antes do início da pandemia em 2019", referem os técnicos da Pordata.

Mas, como revelam as últimas estatísticas do IEFP, os valores são bem diferentes atualmente. Em agosto, estavam inscritos 282 847 desempregados, menos 106 mil do que a média no ano passado.

21.10.22

Rede Europeia Anti-Pobreza vai expor "realidades dramáticas" em Portugal

Por Notícias ao Minuto

A Rede Europeia Anti-Pobreza (REAP) vai colocar nas ruas de Portugal uma campanha de sensibilização para a situação de pessoas que vivem "uma realidade dramática", sem possibilidade de assegurar refeições, habitação e conforto para os filhos.

"Pobre Povo" é o nome da campanha, hoje anunciada e que estará na rua em 17 de outubro, por ocasião do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.

"Testemunhar e denunciar a crescente pobreza no nosso país" é o objetivo da campanha nacional anunciada pela REAP, que promete revelar "realidades dramáticas de muitas e muitos portugueses ".

A iniciativa tem por base 20 cartazes diferentes com "uma imagem direta e crua, monocromática e escura, remetendo para o luto".

Cada cartaz conta uma história, um testemunho, adaptado de frases recolhidas nos conselhos locais de cidadãos da rede em Portugal.

"Já não sei qual é o sabor da carne. Normalmente janto pão, ou, com sorte, bolachas" ou "Tivemos que entregar a casa. Daqui a um mês vamos para a rua viver, com os miúdos" e "Por causa das rendas vivo a 35km do trabalho. Saio às 5h de casa e chego às 22h." são exemplos do que constará nos cartazes.

"Enquanto o grave problema que é a pobreza não estiver resolvido, seremos todos, todo o povo, responsável e pobre porque permite este flagelo e porque falha enquanto sociedade", defende a diretora executiva da REAP, Sandra Araújo, citada no comunicado de apresentação da campanha.

Além dos cartazes, a campanha terá uma conta de Instagram própria (@pobrepovo), onde serão partilhados os testemunhos e conteúdos relacionados com a iniciativa.

As ações fazem parte da semana que assinala o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que a rede celebra com mais de 135 atividades entre 17 e 24 de outubro.


Rede Europeia Anti-Pobreza lança campanha para expor "realidades dramáticas" em Portugal

in o Observador

Iniciativa da Rede Europeia Anti-Pobreza tem por base 20 cartazes diferentes com "uma imagem direta e crua, monocromática e escura, remetendo para o luto".

A Rede Europeia Anti-Pobreza (REAP) vai colocar nas ruas de Portugal uma campanha de sensibilização para a situação de pessoas que vivem “uma realidade dramática“, sem possibilidade de assegurar refeições, habitação e conforto para os filhos.

“Pobre Povo” é o nome da campanha, neste dia anunciada e que estará na rua em 17 de outubro, por ocasião do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza.

“Testemunhar e denunciar a crescente pobreza no nosso país” é o objetivo da campanha nacional anunciada pela REAP, que promete revelar “realidades dramáticas de muitas e muitos portugueses “.

A iniciativa tem por base 20 cartazes diferentes com “uma imagem direta e crua, monocromática e escura, remetendo para o luto“.

Cada cartaz conta uma história, um testemunho, adaptado de frases recolhidas nos conselhos locais de cidadãos da rede em Portugal.

“Já não sei qual é o sabor da carne. Normalmente janto pão, ou, com sorte, bolachas” ou “Tivemos que entregar a casa. Daqui a um mês vamos para a rua viver, com os miúdos” e “Por causa das rendas vivo a 35km do trabalho. Saio às 5h de casa e chego às 22h.” são exemplos do que constará nos cartazes.

“Enquanto o grave problema que é a pobreza não estiver resolvido, seremos todos, todo o povo, responsável e pobre porque permite este flagelo e porque falha enquanto sociedade”, defende a diretora executiva da REAP, Sandra Araújo, citada no comunicado de apresentação da campanha.

Além dos cartazes, a campanha terá uma conta de Instagram própria (@pobrepovo), onde serão partilhados os testemunhos e conteúdos relacionados com a iniciativa.

As ações fazem parte da semana que assinala o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que a rede celebra com mais de 135 atividades entre 17 e 24 de outubro.


6.7.22

DEZ MIL PESSOAS PERDERAM AJUDA ALIMENTAR DEPOIS DE REAVALIAÇÃO A PROGRAMA PARA CARENCIADOS

Daniel Faria, in JM Madeira

Dez mil pessoas deixaram de receber o apoio dado através do Programa de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas (POAPMC), na sequência da reavaliação feita pelo Instituto de Segurança Social, que identificou 110 mil beneficiários elegíveis.A presidente do Instituto de Segurança Social (ISS) foi hoje ouvida na Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão, na Assembleia da República, sobre a redução do número de beneficiários do POAPMC e a redução do número de produtos que compõem os cabazes alimentares que são entregues às famílias, e deixou a garantia de que nunca foi dada indicação para cortar no número de pessoas abrangidas.

A audição surge depois de no início do mês ter sido tornado público um ofício interno do Instituto de Segurança Social (ISS) com indicações aos diretores regionais para que os técnicos reduzissem o número de beneficiários do programa de apoio alimentar em 30 mil pessoas, passando de 120 mil para 90 mil beneficiários.

Segundo Catarina Marcelino, o número de 90 mil beneficiários era meramente indicativo e tinha por base os números do desemprego, garantindo que nunca foi dada orientações para fazer um corte no número de pessoas apoiadas, mas sim para que fosse feita uma reavaliação do POAPMC, uma vez que a avaliação trimestral que está prevista tinha sido suspensa durante a pandemia.

Perante os deputados da comissão, a presidente do ISS revelou que essa reavaliação foi entretanto concluída e que o programa de apoio alimentar chega agora a 110 mil pessoas, ou seja, houve 10 mil pessoas que deixaram de cumprir os critérios de elegibilidade para o programa e deixaram de receber este apoio que chega às famílias na forma de um cabaz alimentar.

Catarina Marcelino disse também que depois desta reavaliação continuam a fazer avaliação das famílias e deixou a garantia de que o compromisso é apoiar todas as pessoas que precisam do programa e sublinhando que não só não foram alteradas as regras de acesso, como não estão previstos cortes nos apoios dados às pessoas.

No entanto, segundo a diretora executiva da Rede Europeia Anti-Pobreza, que foi ouvida pela mesma comissão antes da presidente do ISS, as organizações que no terreno trabalham diretamente com as famílias dão conta de listas de espera para ter acesso a este apoio alimentar e que o sistema não deixa incluir novos beneficiários.

Governo vai alargar por três meses apoio ao cabaz alimentar. Medida abrange "cerca de um milhão de famílias"

in Notícias Online

O primeiro-ministro, António Costa, anunciou hoje que o Governo vai aprovar na quinta-feira o alargamento por mais três meses do apoio extraordinário ao cabaz alimentar, indicando que a medida abrange "cerca de um milhão de famílias".

"Amanhã [quinta-feira] o Conselho de Ministros aprovará que a medida extraordinária de apoio ao cabaz alimentar vigorará por mais três meses, ou seja, com mais 60 euros a ser pagos às pessoas que beneficiam da tarifa social de eletricidade e a todos os beneficiários das prestações mínimas", anunciou o chefe de Governo esta quarta-feira no parlamento.

O primeiro-ministro falava no primeiro debate sobre política geral da legislatura, na Assembleia da República, e respondia a uma pergunta do Chega.

De acordo com António Costa, esta medida "abrangerá cerca de um milhão de famílias".

Recorde-se que hoje foi notícia que dez mil pessoas deixaram de receber ajuda alimentar depois da reavaliação do Programa de Apoio às Pessoas Mais Carenciadas (POAPMC) feita pelo Instituto de Segurança Social, que identificou 110 mil beneficiários elegíveis.

A presidente do Instituto de Segurança Social (ISS) foi hoje ouvida na Comissão de Trabalho, Segurança Social e Inclusão, na Assembleia da República, sobre a redução do número de beneficiários do POAPMC e a redução do número de produtos que compõem os cabazes alimentares que são entregues às famílias, e deixou a garantia de que nunca foi dada indicação para cortar no número de pessoas abrangidas.

A audição surge depois de no início do mês ter sido tornado público um ofício interno do Instituto de Segurança Social (ISS) com indicações aos diretores regionais para que os técnicos reduzissem o número de beneficiários do programa de apoio alimentar em 30 mil pessoas, passando de 120 mil para 90 mil beneficiários.

Segundo Catarina Marcelino, o número de 90 mil beneficiários era meramente indicativo e tinha por base os números do desemprego, garantindo que nunca foi dada orientações para fazer um corte no número de pessoas apoiadas, mas sim para que fosse feita uma reavaliação do POAPMC, uma vez que a avaliação trimestral que está prevista tinha sido suspensa durante a pandemia.

Perante os deputados da comissão, a presidente do ISS revelou que essa reavaliação foi entretanto concluída e que o programa de apoio alimentar chega agora a 110 mil pessoas, ou seja, houve 10 mil pessoas que deixaram de cumprir os critérios de elegibilidade para o programa e deixaram de receber este apoio que chega às famílias na forma de um cabaz alimentar.

Catarina Marcelino disse também que depois desta reavaliação continuam a fazer avaliação das famílias e deixou a garantia de que o compromisso é apoiar todas as pessoas que precisam do programa e sublinhando que não só não foram alteradas as regras de acesso, como não estão previstos cortes nos apoios dados às pessoas.

Sobre a composição do cabaz de alimentos, que deveria ter 21 produtos e mais quatro fornecidos em alternância, Catarina Marcelino admitiu que depois do inicio da guerra na Ucrânia houve dificuldade no fornecimento, mas disse que o ISS está a trabalhar “afincadamente para repor” e que espera conseguir brevemente a reposição integral do cabaz.

No entanto, segundo a diretora executiva da Rede Europeia Anti-Pobreza, que foi ouvida pela mesma comissão antes da presidente do ISS, as organizações que no terreno trabalham diretamente com as famílias dão conta de listas de espera para ter acesso a este apoio alimentar e que o sistema não deixa incluir novos beneficiários.

Segundo Sandra Araújo, as instituições e alguns dos operadores que estão na gestão do programa dão conta de que “há de facto listas de esperas”.

“Algumas entidades que estão na operação e na gestão referem que há listas de espera e que não é possível no sistema incluir novas [famílias]. É preciso averiguar”, defendeu, lembrando que em 2020 o Tribunal de Contas fez um relatório sobre o POAPMC que demonstrava que “possivelmente haveria famílias que seriam elegíveis para o programa mas que não estariam a beneficiar dele”.

Na opinião da responsável, é expectável que continuem a aparecer mais famílias à procura deste apoio familiar tendo em conta o aumento da inflação.

O presidente da EAPN Portugal, padre Jardim Moreira, aproveitou para referir que há uma estratégia contra a Pobreza que foi aprovada, mas que ainda não está implementada e voltou a defender a necessidade de que o apoio alimentar seja dado às famílias na forma de cartão ou voucher e não em cabaz, dando assim liberdade para que cada um faça a sua gestão mensal alimentar.

Jardim Moreira sublinhou que estas pessoas deveriam poder comer o que quisessem e não o que os outros querem ou as sobras e instou a que todos sejam corajosos para resolver este desafio, apontando que é preciso unir esforços para o bem comum, ultrapassando ideologias, e que é preciso vontade política para encontrar uma solução comum.

A propósito da estratégia nacional de combate à pobreza, Sandra Araújo apontou que a EAPN gostava que fosse nomeado um coordenador nacional e implementado um plano de ação estratégico.

3.5.21

UE: Cimeira do Porto deve ser uma "afirmação inequívoca da Europa social"

Ecclesia, in RR

Comissão Episcopal da Pastoral Social e Rede Europeia Anti Pobreza Portugal projetam Cimeira Social da União Europeia.

A Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana e a Rede Europeia Anti Pobreza Portugal (EAPN) partilham as “expectativas” sobre a Cimeira Social da União Europeia, que se vai realizar no dia 7 de maio, no Porto.

“Esperamos que esta cimeira concretize planos de ação, quer europeus, quer nacionais, se defina metas e indicadores sérios de monitorização mas que não sejam meramente quantitativos mas qualitativos, que se traduzam na melhoria das condições de vida de muitos cidadãos europeus e, naturalmente, cidadãos nacionais”, disse a coordenadora nacional da EAPN Portugal.

Em declarações à Agência Ecclesia, Sandra Araújo destaca que “está muito em jogo”, nomeadamente, um compromisso de todos os Estados-membros entre torno do plano de ação do Pilar Europeu, que foi apresentado pela Comissão Europeia, e estabeleceu “objetivos” nomeadamente na “área da redução da pobreza a nível da União Europeia, ao nível da criação de emprego e das qualificações”.

“Mas é preciso traduzir objetivos europeus em objetivos também nacionais e definir indicadores de monitorização. Temos elevadas expectativas sobre os resultados desta cimeira social”, acrescentou.

A coordenadora nacional da EAPN-Portugal adiantou que em relação ao Estado português e ao Governo também têm “alguma expectativa” de ver a apresentação dos objetivos do que pode vir a ser “o plano de ação nacional para a implementação do próprio Pilar Europeu”.

Sandra Araújo salienta que a taxa de pobreza continua “muito elevada” e no contexto da pandemia Covid-19 os indicadores apontam para um “aumento substancial, significativo, dos principais indicadores de pobreza e de privação”.

A EAPN tem apelado em termos europeus uma diretiva sobre salários mínimos, que sejam “justos e adequados e protejam as pessoas da situação de pobreza”, e também sobre “rendimento mínimo adequado” para proteger as pessoas que “não podem trabalhar ou que precisam de apoio numa determinada fase da sua vida para não cair em situação de pobreza ou sair de uma situação de pobreza”.

A Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, da Igreja Católica em Portugal, destaca que a reflexão subjacente à Cimeira Social “é a da afirmação inequívoca da Europa social”, uma dimensão que corresponde ao “sonho dos pais fundadores da Europa”, sobretudo “dando atenção aos mais pobres em cada país e no conjunto da Europa”.

“Mas também não pode ser descorada em relação àqueles que a Europa pode socorrer, como tem feito e é bom que faça mais, no que diz respeito a esta pandemia e ao apoio à vacinação das populações mais frágeis do globo”, acrescentou o padre José Manuel Pereira de Almeida.

Em declarações à Agência ECCLESIA, o sacerdote, secretário da Comissão Episcopal da Pastoral Social e Mobilidade Humana, explica que estas dimensões “não podem ser só desejos vagos” mas têm de ter “tradução no ornamento concreto de cada país” e nas questões que alicerçam as relações entre os vários países da Europa.

“Esperamos muito, vamos ver o que é que se consegue realizar, já que a questão é de crise. Se uma situação de crise dificulta ou pode dificultar alguma liberdade de reflexão, a verdade é que é mais que premente quando são mais de 90 milhões de europeus que estão em risco de pobreza e isso não nos pode deixar indiferentes”, desenvolveu o padre José Manuel Pereira de Almeida.

Na Cimeira Social do Porto vai estar em debate o plano de ação, proposto pela Comissão Europeia em março, que tem três grandes metas, que se baseiam nos 20 princípios do Pilar Europeu dos Direitos Sociais, até 2030: Retirar pelo menos 15 milhões de cidadãos da pobreza e da exclusão social, ter pelo menos 78% da população da UE empregada até 2030 e, pelo menos, 60% dos trabalhadores participam anualmente em ações de formação.

13.4.21

Rede Anti-Pobreza insiste numa estratégia nacional para a pobreza

Por Notícias ao Minuto

A coordenadora nacional da Rede Europeia Anti-Pobreza, Sandra Araújo, insistiu hoje na importância de existir uma estratégia nacional que olhe para as causas da pobreza e que promova políticas capazes de resolver o problema.

Numa nota escrita enviada à agência Lusa a propósito do estudo sobre a pobreza, promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, Sandra Araújo destaca que este é um importante instrumento para melhorar a compreensão sobre a pobreza e apoiar os esforços de sensibilização.

"Importante porque nos traça esse retrato com dados quantitativos, não é, na realidade, uma surpresa o importante papel dos baixos salários e do funcionamento do mercado de trabalho na produção e na reprodução da pobreza", sublinha.

Para a coordenadora nacional da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN na sigla em inglês), este tipo de estudo é importante para desmistificar algumas ideias sobre as causas da pobreza em Portugal, que muitas vezes criam estereótipos negativos e a ideia errónea de que a culpa da situação de pobreza é dos pobres.

"E é também por isso que insistimos na importância de termos uma estratégia nacional que olhe para as causas da pobreza e que promova políticas capazes de resolver este problema. A intervenção no combate à pobreza não pode ser apenas uma intervenção junto da população em situação de pobreza. Tem de ser também um desígnio e uma mudança social", destacou.

Sandra Araújo lembra que Portugal é o 8.º país da União Europeia com maior nível de desigualdade.

"Basta olhar para o valor do rendimento de base mensal mediano, ou seja, o valor que separa metade dos trabalhadores com maiores e menores rendimentos. Os dados mais recentes (...), referentes a 2018, indicavam que 50% dos trabalhadores por conta de outrem tinha uma remuneração mensal de base igual ou inferior a 690Euro e um ganho mensal máximo de 854,80Euro", disse, sublinhando que estes são valores brutos.

Esses valores, segundo Sandra Araújo, são ainda mais baixos se considerados os trabalhadores com baixos níveis de escolaridade, que em 2018 constituíam mais de 40% dos trabalhadores por conta de outrem.

"Em 2018, em média os trabalhadores com apenas o ensino básico tinham uma remuneração mensal de 738,4Euro e metade recebia como remuneração mensal no máximo de 620Euro mensais (brutos). Mesmo se considerarmos apenas os trabalhadores com ensino básico que trabalham na empresa há entre 10 a 14 anos, metade tinha uma remuneração máxima de 640,3Euro e os que trabalhavam entre 15 a 19 anos tinham uma remuneração máxima de 653Euro", salientou.

A coordenadora da Rede Europeia Anti-Pobreza destacou também que aqueles dados bem como o salário mínimo nacional, que em 2019, era de 600 euros e abrangia mais de um quarto dos trabalhadores assalariados, dão uma dimensão real do fenómeno dos trabalhadores pobres.

"De facto, um trabalhador que viva sozinho, com esses níveis salariais está estatisticamente acima do limiar de pobreza. No entanto, tem as suas condições e qualidade de vida condicionadas com os atuais custos de vida, nomeadamente os custos com habitação. Se tiveram um filho e não tiverem outro adulto a contribuir financeiramente para o orçamento do agregado, estão em risco de pobreza", disse.

De acordo com Sandra Araújo, com estes baixos rendimentos, mesmo que com uma carreira contributiva que permita ter acesso à proteção social, qualquer quebra de rendimentos tem um impacto muito importante, levando a que a doença, o desemprego ou a reforma impliquem muitas vezes a pobreza.

"Viver com estes rendimentos é de facto viver no fio da navalha", afirmou.

O estudo "Pobreza em Portugal -- Trajetos e Quotidianos", promovido pela Fundação Francisco Manuel dos Santos, indica que um quinto da população portuguesa é pobre e a maior parte das pessoas em situação de pobreza trabalha, sendo que a maioria dos trabalhadores nessa condição tem vínculos laborais sem termo.

O estudo identificou "quatro perfis de pobreza em Portugal, que são uma novidade: os reformados (27,5%), os precários (26,6%), os desempregados (13%) e os trabalhadores (32,9%)".

A análise conclui que um terço dos pobres são trabalhadores. Juntando-lhes os precários, percebe-se que mais de metade das pessoas em situação de pobreza trabalha, o que significa que "ter um emprego seguro não é suficiente para sair de uma situação de pobreza", ressalva o documento.

24.3.21

REDE EUROPEIA PEDE AO GOVERNO CORAGEM POLÍTICA E MAIS AMBIÇÃO NO COMBATE À POBREZA

Tvi24

A crise sanitária transformou-se "uma profunda crise social e económica e veio alterar e expor as vulnerabilidades e fragilidades do nosso sistema económico e social. Desigualdades que já existiam e que agora estão mais exposta", alerta o organismo

A Rede Europeia Anti-Pobreza pede mais ambição ao Governo português nas metas de combate à pobreza até 2030 e “coragem política” para implementar uma estratégia nacional que atenue as causas e não funcione apenas como paliativo.

O futuro próximo irá ser revelador de muita coisa. Nós temos muita expectativa em relação à estratégia nacional e em relação à Cimeira Social que o Governo está a organizar no âmbito da Presidência portuguesa [do Conselho] da União Europeia. Esperamos que seja, de facto, uma oportunidade para os Estados-membros assumirem aqui um compromisso político forte relativamente às metas do plano de ação para a implementação do Pilar [Europeu dos Direitos Sociais]”, disse à agência Lusa a coordenadora nacional da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN na sigla em inglês), Sandra Araújo.

O momento da presidência portuguesa não deve ser desaproveitado pelo Governo, defendeu a responsável, que considera “absolutamente imprescindível” que o país o aproveite.

“Achamos que era absolutamente imprescindível que Portugal pudesse dar o exemplo e colocasse uma meta ambiciosa de combate à pobreza até 2030 no âmbito da nossa estratégia nacional”, disse, classificando como “pouco ambiciosa” a meta de redução da pobreza em 15 milhões de pessoas na União Europeia até 2030, sobretudo no contexto de uma crise que a vai agudizar.





15.2.21

Amordaçados pela vergonha, há cada vez mais "novos pobres"

Fábio Monteiro, in RR

Todas as semanas, chegam novas pessoas abalroadas pela crise pandémica às ruas. Muitos ainda resistiram durante os primeiros meses, mas agora ficaram sem nada. Envergonhados, procuram ajuda, “não fazem a menor ideia como o sistema funciona” e não querem viver de “caridadezinha”, conta Natália Abrunhosa, coordenadora do Centro de Apoio ao Sem Abrigo (CASA) no Porto. Rede Europeia Anti-Pobreza admite “crescimento exponencial" da pobreza. De artistas a empregadas de limpeza e até advogados, todos caíram ou estão prestes a cair num fosso de exclusão social.

A pobreza é para 21,6% dos portugueses o mesmo que um fosso sem rede é para um equilibrista: um risco com o qual são obrigados a conviver. Ao percorrer a corda bamba, o artista sabe que uma rajada de vento mais forte pode desequilibrá-lo, porventura fazê-lo cair; e apesar da componente performativa, onde o medo pode ser disfarçado, escapar à queda nunca deixa de ser a primeira prioridade que tem em mente.

Um em cada cinco portugueses vive com esta pressão; debaixo dos pés, têm o fosso da pobreza e da exclusão social, segundo dados do Eurostat relativos a 2019, divulgados em outubro do ano passado. E se este número causa vertigens, é de sublinhar que não contabiliza ainda os efeitos do furacão chamado pandemia.

O cenário agora será muito mais crítico; há muitos “novos pobres” em Portugal que ainda não aparecem nas estatísticas. De acordo com um relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) divulgado esta semana, por causa da Covid-19 mais de 100 milhões de pessoas foram empurradas para uma situação de extrema pobreza em 2020 e 270 milhões de pessoas passam fome.

Carla, 44 anos, é divorciada e tem um filho adolescente. Perdeu o equilíbrio, tombou, está apenas agarrada por uma mão à corda. E o vórtice da pobreza não lhe é estranho. Foi apenas há alguns anos que conseguiu escapar-lhe. “Já tinha tudo certinho, contas, trabalho, etc. Foi horrível ter de ficar fechada e tudo isso… é reviver memórias antigas.” Até março de 2020, tinha dois empregos. Era ajudante numa instituição de solidariedade social e, para complementar, ainda fazia horas numa empresa de limpezas. Agora, sobrou-lhe apenas o primeiro; depende de ajudas da família para pagar a renda de casa, teve de procurar ajuda psicológica.

Numa situação igualmente sensível está também Filipe. O homem de 37 anos é solteiro e trabalhador independente. Tem formação em teatro e trabalha, em regime de part-time, numa escola profissional. A Covid-19 fê-lo tropeçar. “No início de março, tinha uma série de projetos na área artística e também na formação e tudo parou. Financeiramente houve um grande buraco, criei uma expectativa de receber ‘X’ dinheiro e tudo desaparece.” Durante o verão do ano passado, não teve qualquer rendimento. Sobrevive com meio salário das aulas.

Cidália, de 46 anos, já só tem dois dedos a segurá-la à corda. Era empregada de limpeza, maioritariamente em escritórios. Com o teletrabalho a tornar-se moda e necessidade, perdeu muitos dos seus clientes. O marido, que trabalhava como cozinheiro, também veio para casa. O único rendimento que sobrou à família, por momentos, foi o do filho mais velho. Foi necessário negociar com o senhorio a renda de casa. “Toda a bolsa de poupanças, que estávamos a conseguir ter, foi-se e ainda temos uma caução relativamente à renda para repor”.

Filipa, 28 anos, é solteira e tem dois filhos – um com dois anos e outro com 10 meses. Trabalhava como empregada de balcão numa pastelaria. Estava de licença de maternidade quando os primeiros casos do novo coronavírus foram diagnosticados no país.

Em junho, a jovem mãe contava regressar ao trabalho, mas isso já não aconteceu. “Quando contactei a entidade empregadora, fui informada que ele não tinha dinheiro para me pagar e tinha lá uma pessoa a trabalhar com ele, mas só a fazer as horas de maior afluência e que para me pagar a mim o tempo inteiro não tinha capacidade para me pagar o ordenado. E então houve supressão do posto de trabalho por carência económica.” A única razão pela qual não caiu é o subsídio de desemprego que recebe da Segurança Social.

Joana é advogada, trabalhadora independente. Tinha avenças com alguns clientes. Sempre que ia de férias, viajava para fora de país; vivia desafogadamente. “Tinha boas roupas, boa vida, bom carro.” Logo após o primeiro confinamento, entre março e maio do ano passado, foi vender roupas para arranjar algum dinheiro. Com o passar dos meses, a situação só se agravou. Não fosse a ajuda da família, estava no fosso.

O silêncio dos novos pobres

Joana (nome fictício) é amiga de Natália Abrunhosa, coordenadora do Centro de Apoio ao Sem Abrigo (CASA) no Porto. Foi ela que contou à Renascença a história da advogada. Pessoas como a Joana “não vão ter connosco [CASA], na sua grande maioria, mas algumas vão. Esta grande maioria vai tentando pedir ajuda à família”, diz. Aliás, Natália só soube da situação “desesperada” de Joana por uma amiga em comum. Porquê? “Vergonha”.

Natália é voluntária no CASA desde 2012, mas os últimos dez meses não têm qualquer comparação possível, garante. “Foi um ano absolutamente assustador.” O número de refeições servidas por semana triplicou: passou de 200 para 600. Houve uma explosão de “novos pobres”, novos rostos a pedir ajuda alimentar – e não só - que continuam a surgir semana após semana.

Os ditos “novos pobres” aparecem desorientados. Procuram ajuda e “não fazem a menor ideia como o sistema funciona”. “São pessoas novas, pessoas que até agora se foram aguentando, mas que agora, nesta segunda fase do confinamento, ficaram sem nada. Voltaram a fechar mais estabelecimentos, voltaram a despedir mais pessoas”, conta Natália.

Para ilustrar do que fala, a voluntária conta uma história: há alguns meses, foi contactada via telemóvel por “um senhor muito bem vestido”, que na fotografia aparecia de “fato e gravata”. O homem, na casa dos 40 anos, morava no centro do Porto e era comissionista para uma operadora de telecomunicações, fazia a chamada venda porta à porta. “Com a questão da pandemia, naturalmente, ninguém abre a porta a ninguém, e não é uma prioridade estar ali a falar com uma pessoa que não se conhece de lado nenhum.” E assim ficou sem emprego – tal como milhares de portugueses.

Enquanto “foi tendo uma almofadinha financeira”, o homem foi-se inscrever no Centro de Emprego, pediu ajuda na Junta de Freguesia. Mas a ajuda não chegou no imediato. “É preciso analisar, é preciso verificar a veracidade das coisas que o senhor diz. Conclusão: ele ficou, durante algum tempo, sem ter absolutamente nada em casa para comer. Foi comendo o que tinha, foi-se orientado, mas chegou a um ponto em que não tinha nada. Tinha tudo vazio.” Só aí pediu ajuda ao CASA.

O homem na história de Natália não é alguém que quer “viver da caridadezinha”, “ele quer ser independente como sempre foi”. “É uma pessoa que tinha a sua vida organizada e, de repente, nem sabe sequer se vai ter que entregar a casa onde mora. Isto é a realidade de muitos, muitos, muitos portugueses neste momento”, nota Natália.
"Crescimento exponencial"

Os sinais para futuro não são bons. A crise pandémica que começou por ter uma natureza sanitária, mas neste momento é também uma “profunda crise económica e social”, sublinha Sandra Araújo, diretora executiva da EAPN – Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal.

A taxa de desemprego no último trimestre de 2020 estava nos 7,1%, enquanto no período homólogo em 2019 era de 6,7%. Em dezembro do ano passado, mais de 402 mil portugueses estavam inscritos no IEFP, um aumento de quase 30% face ao mesmo mês em 2019.

Segundo os “Números da Pandemia”, um conjunto de indicadores estatísticos compilados pela Pordata, o “sentimento económico” em Portugal das empresas caiu de forma acentuada: da 5.ª posição em 2019 para o 20.º lugar no ano passado. Este índice, que varia entre 0 e 120, atingiu em maio de 2020 o pior registo de sempre (66,2), sendo que a anterior pior marca havia sido 76,2 em abril de 2009. Para já, estes números apontam pelo menos uma coisa: vai demorar tempo até haver uma nova onda criação de postos de trabalho.

Apesar de não conhecer o último relatório da OCDE, Sandra diz que todos os estudos que tem lido, tal como os dados que vão sendo compilados pela EAPN, traçam um cenário negro. “É de facto espectável que haja um crescimento exponencial nesta área da pobreza, da exclusão social.” As organizações que estão no terreno – como é o CASA - não trazem boas novas. “Tem havido um aumento enorme de pessoas em situação de sem-abrigo.”

No final do ano passado, a Rede Europeia Anti-Pobreza compilou em livro uma série de testemunhos de portugueses a passar dificuldades, nos quais se incluem as histórias de Carla, Filipa, Filipe e Cidália.

Uma mordaça chamada vergonha

No Ocidente, na Europa, talvez associemos mais a fome a África, às imagens do abutre e da criança subnutrida, do que àquela com que nos cruzamos muitas vezes na rua. Ou ao vizinho do prédio, o rosto que vemos diariamente, mas cujas dificuldades são imaginárias. Onze meses passados desde o começo da pandemia em Portugal, talvez se perceba melhor o sucesso de iniciativas como a Caixa Solidária.

Em março do ano passado, Nuno Botelho foi logo confrontado com a existência dos “novos pobres”. O fotojornalista, que mora em Carcavelos, estava como milhares de portugueses em casa e queria fazer algo para ajudar quem estivesse a passar dificuldades. Ainda hesitou, mas optou por agir localmente: pôs uma caixa na rua com bens alimentares e anunciou a localização nas redes sociais – uma ação que acabou por “viralizar” e dar corpo à Caixa Solidária. As regras eram simples: quem precisasse podia ir levar; quem tivesse a mais, quisesse oferecer, podia deixar.

“No início até estava um bocado coiso. Estava a pensar pôr a caixa fora daqui, porque é um bairro residencial de moradias. Pensei que não ia ter muito sucesso, que ninguém ia pegar naquilo. Enganei-me redondamente”, conta.

O fotojornalista – que já esteve 15 anos a recibos verdes – percebeu assim “a quantidade pessoas que não estão referenciadas”. E que novos ou velhos pobres, ambos estão amordaçados pela vergonha. “Pobreza envergonhada, as pessoas têm medo de pedir ajuda. Há muita gente a recibos verdes que veio para casa. A malta do cinema, dos espetáculos, do som, da luz. Foram os primeiros a ir para casa com zero”, diz.

O facto de o processo da Caixa Solidária acontecer de forma anónima, sem rostos à mistura, não passou despercebido a Nuno Botelho. Ele pôs-se no lugar dessa pessoa. Por isso, na Caixa Solidária, qualquer um pode ir buscar bens sem ter de dizer a ninguém: sou pobre. “Até porque é 24 horas por dia.”
O por fazer

A Rede Europeia Anti-Pobreza trabalha com um conceito alargado de pobreza. É uma “condição humana” que tem uma “dimensão económica”, mas que tem também outras extensões importantes, nota a diretora Sandra Araújo. O que é o caso da participação cívica. “As pessoas que estão nestas situações de grande vulnerabilidade ficam, muitas vezes, incapacitadas, não têm espaço de participação, não participam enquanto cidadãos na vida social e cívica”, nota.

Falar de pobreza não é simples. O tema surge sempre em contextos de situações limite - alguém que já está a passar fome ou já é sem-abrigo -, não nos estádios intermédios em que a qualidade de vida se vai degradando. Lino Maia, presidente da Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade (CNIS), diz que a pobreza é uma questão que “nunca foi abordada seriamente em Portugal”.

“Repentinamente em Portugal, sem ter havido uma mudança, passou-se de povo de pobres a um povo de ricos, como é considerada a União Europeia. Mas Portugal não fez essa passagem. Nós continuamos a ser um país onde de facto há muita pobreza”, explica.

Para encarar o problema, é preciso “um programa assumido”, “um desígnio nacional” que considere “além das desigualdades sociais também as desigualdades territoriais”, e que discuta a questão da “remuneração insuficiente”. “Nós temos muita gente em Portugal cujo rendimento do trabalho não é suficiente para as despesas”, avisa.

Até lá, muitos portugueses continuarão a ter o fosso da pobreza sempre debaixo dos pés.

5.11.19

Crianças são as mais afetadas pela pobreza

in Record

Cerca de 330 mil crianças estão em risco de pobreza em Portugal, sendo que o grupo etário até aos 18 anos é o mais afetado.

Os dados mais recentes do Instituto Nacional de Estatística (INE), relativos a 2017, mostram que o risco de pobreza entre as crianças e jovens até aos 18 anos era de 19%, o que, num universo de mais de 1.729.675 menores, representa perto de 330 mil crianças.

Em declarações à Lusa, o investigador e docente da Universidade do Minho, especialista em sociologia da infância, Manuel Sarmento confirmou que o setor da população entre os zero e os 18 anos é o grupo mais afetado pela pobreza em termos percentuais.

“O que significa que há mais crianças pobres do que adultos pobres ou idosos pobres”, apontou.

Uma constatação confirmada com as estatísticas do INE, que revelam que a taxa de risco de pobreza no grupo etário entre os 18 e os 64 anos era de 16,7%, enquanto na população com mais de 65 anos chegava aos 17,7%.
“As crianças continuam a ser efetivamente o grupo populacional mais afetado pela pobreza, designadamente o que se chama pobreza monetária, ou seja, que vivem em agregados familiares cujo rendimento ‘per capita’ é inferior a 60% da mediana do rendimento nacional ‘per capita’”, explicou Manuel Sarmento.

Já a professora do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG), da Universidade de Lisboa, e investigadora na área da pobreza infantil, Amélia Bastos salientou que, apesar de ter havido algumas melhorias nos últimos anos, as crianças continuam a ser um grupo “particularmente exposto à pobreza”.

“As famílias com crianças, apesar do desagravamento, são aquelas que apresentam maior risco de pobreza relativamente àquelas que não têm crianças”, referiu, acrescentando que nos últimos anos “houve uma melhoria generalizada no nível de vida, mas as crianças continuam a ser o grupo com maior incidência de pobreza monetária”.

Por outro lado, a vice-presidente da Rede Europeia Anti-Pobreza (EAPN) Portugal destacou, com base na análise feita pelo Observatório Nacional de Luta Contra a Pobreza aos dados do Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, que a população jovem entre os 15 e os 24 anos “é dos grupos mais vulneráveis às questões da pobreza e da exclusão social”.

“Para este grupo etário a vulnerabilidade à pobreza assume proporções muito superiores à média nacional. O risco de pobreza e de exclusão é de 30,3% na população entre os 15 e os 19 anos, e de 25,8% na população dos 18 aos 24 anos”, sublinhou Sandra Araújo.

A responsável da EAPN alertou que Portugal continua a ser dos países mais desiguais da Europa e chamou a atenção para as consequências ao longo do ciclo de vida destas crianças e jovens que depois serão muito mais difíceis de resolver.

“Se não houver políticas direcionadas para a primeira infância, há tendência para perpetuar ciclos geracionais de pobreza a todos os níveis”, avisou.
O professor Manuel Sarmento defendeu que “é absolutamente fundamental” uma política integrada para a infância, para todas as crianças e não só as mais pobres, notando que ainda existe uma “excessiva compartimentação do que são as políticas públicas”.

“Talvez o novo Governo pudesse criar uma estrutura interministerial, eventualmente dependente do primeiro-ministro, para articular as políticas públicas e desenvolver e promover a estratégia [nacional para os direitos da criança] que venha a ser aprovada”, sugeriu.

O investigador sublinhou, no entanto, que nunca será possível combater a pobreza nas crianças se não se combater a pobreza dos pais das crianças e defendeu uma intervenção mais articulada consoante as necessidades dos mais novos.

Apesar de concordar, a docente e investigadora Amélia Bastos entende que a solução não passa por simplesmente aumentar os rendimentos das famílias e alertou que há famílias que podem ter um rendimento médio elevado e as crianças viverem em condições de pobreza.

Por isso, recomenda que as crianças passem a contar como uma unidade estatística nas estatísticas nacionais para serem observadas as suas reais condições de vida – e não só as do agregado familiar -, perceber o que é importante para elas e o que está em falta, nomeadamente em termos de educação, saúde, alimentação e habitação.

14.1.19

"A grande pobreza em Portugal está nos reféns da dívida"

Marina Pimentel, in RR

O projeto de lei do Bloco de Esquerda para obrigar que todas as leis sejam sujeitas a uma avaliação prévia de impacto sobre a pobreza foi o tema em debate no Em Nome da Lei deste sábado.

O fundador da Cais e atual presidente do Movimento Pobreza Ilegal, defende que “a grande pobreza deste país, hoje, não é tanto a questão do sem-abrigo ou os dados que o INE lança, mas que a maioria das pessoas vive hipotecada”.

“Somos todos reféns da economia dita da dívida. Não somos educados desde o berço ao excesso e o grande problema está no excesso”, afirma Henrique Pinto no programa Em Nome da Lei.
Neste sentido, Henrique Pinto defende que “o legislador que legisla sobre pobreza e o seu combate tem de ser ele mesmo um exemplo vivo ou corpo de lei. Legislar sobre pobreza implica ser pobre, sem pobreza. Ou seja, viver despojado de tudo o que é excessivo à vida, viver sem o que não lhe faz falta, pois o excesso de uns é o que geralmente escasseia como bem essencial em quem está no limiar da pobreza ou abaixo dos mínimos de bem-estar”.
O fundador da Impossible lembra ainda que “17,3% dos portugueses estavam, em 2017, no limiar da pobreza” e que, “sem as prestações do Estado, seriam 43%”.
No centro do debate deste sábado está o projeto de lei que o Bloco de Esquerda apresentou na Assembleia da República na semana passada e que obriga todas as políticas públicas, todas as leis e normas administrativas a serem sujeitas a uma avaliação prévia de impacto sobre a pobreza.

Convidado no programa, o deputado bloquista José Soeiro reconhece que “nada garante à partida que haja resultados na erradicação da pobreza, mas, ao obrigar o legislador a avaliar o efeito que a medida terá sobre a pobreza, a questão ganha centralidade nas políticas públicas. E passa a estar sempre presente no debate público”.

“A ideia é boa”, diz o diretor-geral da Comunidade Vida e Paz. Henrique Joaquim “só teme que seja politizada e acabe por isso por ir parar à gaveta”.

O representante da Comunidade Vida e Paz refere que a instituição de solidariedade social já faz estudos de avaliação prévia de algumas duas suas práticas. Começaram pelas equipas de rua e as conclusões “obrigaram-nos a alterar o seu programa de intervenção de rua”.

“É fundamental fazer a avaliação das políticas. E dá o exemplo do Rendimento Social de Reinserção: há famílias a viverem há 10 anos de um mecanismo que é suposto ser temporário”, destaca.

Sandra Araújo, dirigente da Rede Europeia Anti-pobreza, reconhece que “Portugal continua a ter taxas [de pobreza] muito elevadas face a outros países da Europa”, mas diz que “o atual governo tem dado passos positivos que se têm refletido na redução do número de pessoas pobres ou em risco de pobreza”.

A Rede Europeia Anti-pobreza pediu no Parlamento, em outubro, que o legislador passasse a fazer uma avaliação prévia de impacto sobre a pobreza de todas as políticas e leis. Ideia que foi agora acolhida pelo Bloco de Esquerda.
O programa Em Nome da Lei é emitido aos sábados, entre as 12h00 e as 13h00, e em repetição às zero horas de domingo.

24.3.17

Beja recebe IV Congresso Nacional de Serviço Social

in Rádio Voz da Planície

O auditório do IPBeja recebe, hoje e amanhã, o IV Congresso Nacional de Serviço Social.

Subordinado ao tema “Serviço Social e Direitos Sociais no Limiar do Séc. XXI-Desafios para os/as Assistentes Sociais”, a iniciativa vai contar com a presença de cerca de três centenas de Assistentes Sociais.

Miguel Bento, membro da Comissão Organizadora do Congresso, afirma que é uma honra a iniciativa decorrer em Beja, e que, a escolha desta cidade, demonstra o reconhecimento do trabalho que o Instituto Politécnico de Beja tem desenvolvido na área do Serviço Social.

Os participantes, entre os quais se encontram alguns estrangeiros, vão debater a profissão e discutir propostas daquilo que deve ser o papel do Serviço Social, outra questão que vai estar em discussão, segundo Miguel Bento, é a criação da Ordem Profissional dos Assistentes Sociais.

Para além de um conjunto de intervenções da responsabilidade de académicos e investigadores nos domínios do Serviço Social e das Políticas Sociais, este Congresso inclui ainda um espaço destinado à participação directa dos profissionais no terreno, através da realização de sete painéis temáticos onde questões como a formação, as questões da ética e deontologia profissional ou a abertura a novas áreas profissionais, vão ser discutidas.

A Declaração de Beja, que vai traduzir o que foi produzido no evento, e apontar as linhas mestras do Serviço Social nos próximos anos em Portugal, é outro destaque do Congresso que conta com organização da APSS-Associação de Profissionais de Serviço Social, IPBeja e da delegação de Beja da EAPN-Rede Europeia Anti-Pobreza.