Mariana Oliveira, in Público on-line
Manifestação organizada pelo movimento "Os Indignados Portugal" teve pouca adesão no Porto e em Lisboa.
As mãos de Ana Maria Pinto, 31 anos, vão ditando os tempos da música. Em frente à Câmara Municipal do Porto, canta-se a "Grândola, Vila Morena". Numa roda grande, de mãos dadas, os manifestantes respondem ao desafio da cantora lírica e maestrina do Coro de Intervenção do Porto. Usam a voz e o ritmo num protesto contra a austeridade. Ana Maria gesticula e tenta ordenar o grupo. Não são mais do que umas dezenas de pessoas, menos de uma centena.
Resistiram ao frio para participar na manifestação organizada pelo movimento Os Indignados Portugal, no Porto, um protesto que também se realizou este sábado em Lisboa e Portimão. Na capital, a concentração estava prevista para as 15h mas àquela hora não havia mais do que uma dezena de pessoas na Praça dos Restauradores. Junto ao obelisco comemorativo da Restauração de 1640 observavam-se dois cartazes em que se lia “Relvas vai estudar” e “Tirem-me deste filme”. Sobre o protesto em Portimão não há dados, tendo a PSP temetido informações para mais tarde.
Ana Maria Pinto, que o ano passado pôs uma vigília em frente ao Palácio de Belém a cantar o tema Acordai, de José Gomes Ferreira e Fernando Lopes-Graça, está no Porto a dar o seu apoio, acompanhada por alguns elementos do seu recém-criado coro. “Estamos aqui para fazer música e dar ao povo o que lhe pertence: a cultura e a verdade”, explica a maestrina. “Contra a falta de justiça”, completa.
Alguns não se juntaram ao grupo, que diz nada ter a ver com a organização do protesto. Usam as máscaras de marca dos Anonymous, um movimento que quer “expor não só a corrupção e criar uma imprensa totalmente livre em Portugal”. Recusam-se a falar com os jornalistas.
Isabel Proença, técnica de turismo, tem o rosto à mostra e a máscara na parte de trás da cabeça. “Não é para tapar a cara é apenas um símbolo de descontentamento”, resume. Tem 39 anos e ainda é uma trabalhadora precária. Esteve em Timor, voltou e o ano passado rumou ao Canadá. Mas foi ao engano: também falta trabalho do outro lado do Atlântico. Desde Agosto trabalha a recibos verdes. Falsos recibos verdes. “Protesto contra as medidas de austeridade injustificadas e desumanas”, refere.
Sobre a fraca mobilização, Isabel Proença tem uma explicação. “As pessoas não se associam a determinados grupos que ligam ao radicalismo”, argumenta. José Carvalho, outro manifestante, lança outras explicações. “Este protesto foi marcado e depois desmarcado, o que criou alguma confusão sobre a sua realização”, sublinha. E acrescenta: “Por outro lado as forças partidárias não ajudaram ao marcar outros eventos ao mesmo tempo no Porto como as jornadas autárquicas do Bloco de Esquerda e as do PCP”. Mas muitos estão convictos que em Fevereiro e Março os protestos terão outra adesão. Ana Maria Pinto garante que estará presente. A cantar, como sempre.