por Sónia Bento, in Sábado
Entre 2007 e 2018, o número de pobres diminuiu no nosso país, revela a Pordata. Com a pandemia, há cada vez mais pessoas a pedirem ajuda ao Banco Alimentar
"Desde a última semana de setembro vemos que há outra vez um agravamento no número de pedidos de apoio, seja porque as pessoas voltaram a ficar sem emprego, porque trabalhavam no setor da restauração, hotelaria, mais ligado ao turismo, seja porque a situação de lay-off se prolongou e muitas continuam em casa sem poder ter um salário inteiro", revela Isabel Jonet, em entrevista à Lusa, por ocasião do Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, que se assinala este sábado, 17 de outubro. A presidente do Banco Alimentar contra a Fome adiantou que a Rede de Emergência Alimentar, criada a 19 de março para dar resposta aos pedidos de ajuda na sequência da pandemia, voltou a registar um aumento de procura.
Pedidos de ajuda no Banco Alimentar
Os dados mostram que entre o final de março e abril, chegaram à volta de 350 pedidos de ajuda por dia, o que representou um acréscimo de cerca de 60 mil pessoas em relação às 380 mil apoiadas pelos 21 bancos alimentares de todo o país antes da pandemia, através de 2.600 instituições sociais. Do total de pessoas que até agora pediu ajuda através da Rede de Emergência Alimentar, 82,6% são mulheres, a maioria (77,5%) com idades entre os 31 e os 65 anos. Por outro lado, uma análise à situação socioeconómica mostra que 50,48% das pessoas que pedem ajuda estão desempregadas, mas há também quem esteja a trabalhar a tempo inteiro (12,47%) ou faça só uns biscates (10,55%).
A Pordata – base de dados estatísticos da Fundação Francisco Manuel dos Santos – reuniu um conjunto de informação sobre a pobreza em Portugal e destaca que a esmagadora maioria da população com 65 ou mais anos seria pobre sem transferências sociais (pensões de velhice e sobrevivência e outras prestações sociais, como apoios à família, educação, habitação, doença/invalidez, desemprego ou combate à exclusão social).
Menos escolaridade mais pobreza
Entre 2007 e 2018, os mais jovens são o grupo etário que apresenta a taxa de risco de pobreza mais elevada, depois de transferências sociais. Embora 2018 seja o ano com a percentagem mais baixa – 18,5% dos menores de 18 anos estavam em risco de pobreza. Cerca de um em cada três agregados familiares de um adulto com uma ou mais crianças é pobre. Outro dado indica que em todos os países da União Europeia, o risco de pobreza é mais acentuado entre indivíduos sem escolaridade ou com um nível básico de escolaridade. Em Portugal, cerca de um em cada quatro indivíduos com, no máximo, o 9º ano de escolaridade é pobre. Em 2019, atingiu-se o valor mais baixo, em 16 anos, do número de pessoas em situação de carência económica.
Em 2019, mais de 267 mil pessoas recebiam o Rendimento Social de Inserção, sendo este o valor mais baixo atribuído desde 2006. Destes, mais de metade são mulheres (51,6%) e mais de dois em cada cinco (41,2) têm menos de 25 anos. Comparando o ano de 1974 com o de 2019, e descontando o efeito da inflação, as pessoas que recebem o salário mínimo têm hoje mais €99 do que no ano do 25 de abril. E os beneficiários das pensões mínimas de velhice e invalidez do regime geral da Segurança Social recebem praticamente o mesmo.