Cátia Mateus, in Expresso
Desde fevereiro o desemprego aumentou em 81,3% dos concelhos do país. Em alguns, quase duplicouSe há área onde o impacto social e económico da pandemia de coronavírus é evidente, é no mercado de trabalho. Em Portugal, desde fevereiro — último mês sem os efeitos da covid-19 — o número de desempregados inscritos nos centros de emprego subiu cerca de 30%, de 315.562 para mais de 409 mil em agosto. Há mais de 30 concelhos do país onde o aumento do desemprego superou os durante este período e em sete agravou-se mesmo acima dos 75%. Ponte de Lima e Castro Verde lideram um ranking onde ninguém quer constar, o dos concelhos onde a pandemia gerou mais desemprego.
Desde janeiro de 2018 que o número de desempregados inscritos nos centros de emprego não era tão elevado. Depois de ter recuado em junho, o desemprego registado, medido pelo número de inscritos nos serviços do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP), está a aumentar há dois meses consecutivos. Em agosto, sinalizam os indicadores divulgados esta semana pelo IEFP, os centros de emprego contabilizavam 409.331 desempregados. São mais 0,5% do que em julho, mais 34,5% do que em Agosto de 2019 e mais 30% do que em fevereiro deste ano, antes da pandemia.
DESEMPREGO AUMENTOU EM 81,3% DOS CONCELHOS
A crise gerada pelo novo coronavírus traduziu-se num aumento do desemprego em 81,3% dos concelhos do continente, nos últimos seis meses. Em 42% (117 concelhos) o aumento do número de desempregados não foi além dos 25%. Mas há não há razões para otimismo. Há 74 concelhos (27%) que viram o desemprego agravar-se entre 25% e 50%, 12,6% (35 concelhos), onde o aumento superou os 50%, 2,5% dos quais ficando mesmo acima dos 75% face a fevereiro.
Nesta estatística não há regiões a salvo. Lisboa e Vale do Tejo responde pelo maior agravamento do desemprego registado entre fevereiro e agosto, 46%. A região Norte vem a seguir, com mais 27,1% de desempregados do que há seis meses. No centro, Alentejo e Algarve o desemprego agravou-se em 23,9%, 20,2% e 6,9%, respetivamente.
O ranking dos 30 concelhos onde o desemprego mais subiu em termos percentuais traduz, de resto, esse impacto generalizado do ‘vírus’ no mercado de trabalho. Ponte de Lima (na região Norte) é o concelho do país que registou maior aumento percentual entre fevereiro e agosto, 93,5%, seguido de Castro Verde (Alentejo), com 83,5% de aumento no número de desempregados (ver infografia). Já em termos absolutos, Lisboa e Sintra destacam-se com um aumento de 7920 desempregados (uma subida de 52,1%) e de 5449 (61,3%), respetivamente.
A análise acumulada ao fluxo de desempregados (movimento de novos inscritos ao longo do mês) mostra que desde fevereiro, os centros de emprego nacionais registaram 285.641 novas inscrições. Mais de metade (55,2%) correspondem a profissionais cujo contrato de trabalho não foi renovado, 18,4% foram despedimentos. A rescisão por mútuo acordo, permitida pelo Governo às empresas que beneficiaram do lay-off simplificado e que mereceu forte contestação por parte dos sindicatos, representa 3% dos novos inscritos, 8597 profissionais.