Liliana Carona, in RR
Sopa, prato principal, salada e uma fruta é o que compõe a refeição. “As crianças estão a adorar, gostam da minha cozinha”, diz a cozinheira Ana Maria. A ideia partiu de Laura Costa, uma professora que também decidiu distribuir porta-a-porta um kit com atividades de desenvolvimento cognitivo.Em tempos de confinamento obrigatório e com a maioria dos pais em teletrabalho, uma professora de Vila Nova de Tazem, na Serra da Estrela, lançou uma iniciativa que permite a todas as crianças e jovens daquela localidade terem uma refeição ao mesmo preço da cantina escolar.
No restaurante “Frango da Vila”, Ana Maria acabou de servir mais um prato. Está quente e acabado de colocar num recipiente próprio o empadão de carne feito por esta cozinheira de 48 anos para as crianças e jovens em idade escolar.
“Ainda aqui tenho um bocadinho de empadão de carne e sopa de feijão com repolho. Já foi quase tudo. Desde as 9h da manhã que estou a cozinhar”, mostra, apressando-se a explicar que adequou o menu, ao palato dos mais novos.
A refeição é composta por sopa, prato principal, salada e uma fruta. A ementa teve de ser reformulada para agradar aos mais novos.
“As crianças estão a adorar, gostam da minha cozinha. Esta semana, tentei adequar a ementa às crianças, por exemplo, massa branca com costeleta, arroz de tomate com filetes, e sexta vão ser panados”, desvenda sobre a iniciativa que começou em Vila Nova de Tazem, mas já se estendeu a outras freguesias do concelho de Gouveia.
Seja qual for o prato, o preço é o de uma refeição escolar – ou seja, 1,46€ para todas as crianças e jovens em idade escolar, sem exceções.
Foi a professora de Matemática e responsável da Associação Reencontro e restaurante solidário “Frango da Vila”, de 53 anos que teve a ideia. E explica porquê: “Temos as crianças em casa, com o teletrabalho, as coisas ficam complicadas”.
“No concelho de Gouveia, a Câmara Municipal está a fornecer as refeições aos alunos dos escalões A e B, mas nós não quisemos olhar a escalões e queremos ajudar a desanuviar o ambiente em casa. Não é fácil conciliar a vida familiar com a vida profissional e os pais foram apanhados desprevenidos”, diz ainda Laura Costa.
Serafim Manuel, de 45 anos, pai de quatro filhos, começou a recorrer ao novo serviço de refeições. “Eu acho uma excelente iniciativa. Eu estou em lay-off, trabalhava numa empresa nova que abriu em Viseu e que vendia materiais de construção e assim é como se mantivesse a rotina escolar”, salienta.
Susana Matos, 42 anos e dois filhos também considera a iniciativa importante para não sair do ritmo da escola e também porque o confinamento exige uma ajuda extra.
“Normalmente, só vão aos carenciados, mas hoje em dia todos precisam de um apoio e quando eu soube, fiquei surpreendida pelo preço de uma senha”, reconhece.
“É de elogiar esta professora: faz mais do que lhe compete, interessa-se por alunos que nem são dela”, sublinha a encarregada de educação.
Elogios feitos pelos pais a uma professora que se lembrou de apoiar todas as crianças e jovens em idade escolar, com refeições, em regime de takeaway ao preço das servidas na cantina.
De momento, beneficiam do serviço 13 crianças. Aos interessados do concelho de Gouveia neste serviço, basta ligar, dar o nome da criança ou jovem, o número do cartão escolar bem como o nome do jardim de infância/escola que se encontra a frequentar.
Aconchegado o estômago, a professora decidiu ainda distribuir por mais de duas centenas de famílias, porta-a-porta, um kit com atividades de desenvolvimento cognitivo e promoção da consciência leitora, com o material necessário à concretização de diversas atividades lúdico-pedagógicas.