“A Cáritas não pode fechar, porque quanto mais o país confina, mais a Cáritas tem pessoas para apoiar”, diz diretora técnica. Em 31 anos de trabalho, não se lembra de crise assim e lamenta que se fale do RSI sem conhecer a medida.
Quase que duplicou o número de pedidos de ajuda na Cáritas Diocesana de Viseu. Em 2019, foram atendidas 5.918 pessoas e 2020 terminou com 8.046 beneficiários. Janeiro já regista 60 novos pedidos de ajuda.
A diretora técnica revela que o Rendimento Social de Inserção (RSI) é a tábua de salvação para muitas famílias e garante que a comunidade cigana não é quem ocupa a maior fatia, nem dos pedidos de ajuda nem dos beneficiários desse apoio social.
Manuela Alberto, 55 anos, dirige-se à despensa para preparar mais um cabaz. Há cada vez menos géneros para juntar. Há 31 anos que trabalha nesta instituição e não se lembra de uma crise destas dimensões.
“Já passámos por várias crises, a troika, os incêndios, mas como agora nunca vi; não se vê fim”, afirma à Renascença.
“Uma coisa temos a certeza: a Cáritas não pode fechar, porque quanto mais o país confina, mais a Cáritas tem pessoas para apoiar”, lamenta a responsável, acrescentando que “é muito preocupante o que está a acontecer agora. Parece que as pessoas não têm horizonte, porque ninguém sabe quando isto acaba”.
Nas prateleiras dos armazéns da Cáritas, vão escasseando alguns produtos. “O atum, as salsichas e leite que é sempre preciso. Nós não podemos fazer cabazes só com óleo, azeite e cereais”, diz Manuela Alberto, que acaba de atender mais um grito de socorro.
“É uma situação terrível: só com o filho, tem o plano prestacional da EDP. Ela hoje estava em pânico: ou pagava hoje ou ficava sem luz”, relata, sublinhando outro caso. “Dois pacotes de fraldas para uma família, com duas crianças, todos confinados em casa, positivos Covid-19”.
Ainda sobre a ajuda alimentar, Manuela Alberto solicitou à Cáritas nacional, 2.500 euros de “tickets”, para os beneficiários comprarem peixe e carne. “Não podem comer sempre atum e salsichas”, afirma.
Ali, na Cáritas Diocesana de Viseu, está a equipa multidisciplinar do Rendimento Social de Inserção (RSI). A também educadora social Manuela Alberto reforça que só pede ajuda na Cáritas quem precisa e que a comunidade cigana não ocupa a maior fatia desse apoio.
“Eu nunca tive ninguém que se sentasse aqui a pedir e que não precisasse. A triagem é tão fácil…”, defende a responsável, salientando o desconhecimento relativo ao apoio do RSI.
“Somos a instituição que mais trabalha com a comunidade cigana e posso dizer que eles não são uma grande fatia, nem a maioria; são uma fatia de mais ou menos 30% e o mesmo acontece com o RSI. Eles são uma fatia, mas não são a maior fatia”, esclarece.
“Agora, o que acontece é que os valores que recebem são mais elevados, tendo em conta o número de elementos do agregado familiar: normalmente, eles têm cinco filhos ou mais, mas o RSI é efetivamente a tábua de salvação para muita pobreza em Portugal”, explica ainda.
“As pessoas são rotuladas e falam da medida sem a conhecer. Uma pessoa sozinha, são 187 euros; está na rua, não tem família nem ninguém e tem de alugar um quarto, o mínimo 150 euros, como sobrevive o resto do mês?”, questiona a diretora técnica da Cáritas de Viseu.
Perante a pobreza que se estende nas mais diversas carências, da alimentação ao vestuário e não só, “lençóis polares precisam-se”, bem como “detergente para a roupa e produtos de higiene”, conclui.