Joana Petiz, editoria, in DN
O primeiro sinal que denuncia que a situação está a azedar é o aparecimento de balcões de compra de ouro. Quando começamos a reparar neles, tornam-se também evidentes os pedintes à porta dos supermercados. Já não é só o do costume - que até já sabemos que agradece um bolo de vez em quando, para desenjoar da sopa que os beneméritos repetem para lhe forrar o estômago; são quatro, cinco, seis, que se encolhem já contra as paredes mais próximas, esperando-se suficientemente óbvios para merecer a caridade alheia mas invisíveis na humilhação de terem de pedir para viver.Mas há também outros agora, a quem nem se adivinham necessidades à primeira vista, mas que ao abrigo da noite marcham em busca da solidariedade de uma Igreja remota ou de organizações como a ReFood para levarem comida à mesa da família. Têm emprego, têm casa, têm uma família funcional e até tinham pequenos luxos como férias fora do país, mas veem-se de repente incapazes de pagar todas as despesas do mês e ainda ter fundos para levar do supermercado tudo aquilo de que precisam para alimentar os seus.
A Cáritas já sinalizou os "casos de pobreza" em Portugal, o "pavor" que sente às pessoas, de não conseguirem pagar a casa ou a renda. Ao Banco Alimentar Contra a Fome chegam pedidos de ajuda também das instituições cuja missão é apoiar quem precisa, porque esgotaram a capacidade de acorrer a todos os que as procuram.
Agora, é também Bruxelas que lança alertas num contexto de inflação que persiste em tempo e em força, deixando os países mais frágeis numa situação ainda mais debilitada. De acordo com a Comissão Europeia, um milhão de portugueses vive já no limite da pobreza energética e a "inflação e a debilidade da economia" podem somar-lhes mais 500 mil em breve. E os números do Pordata apontam que uma em cada quatro casas tem más condições de habitabilidade e quase metade da população precisa de apoios sociais para não ficar condenada a sobreviver com rendimentos abaixo do limiar da pobreza.