26.3.09

Daniel Bessa defende descida das taxas de juro

Pedro Vila-Chã, in Jornal de Notícias

Bancários e empresários colheram "dicas" práticas para ajudar a superar a crise em mais um encontro Millennium


Daniel Bessa levou ao 7.º encontro Millennium um exercício profissional de cariz afectivo para abordar a actual situação. Lembrou que esta crise "é pior que todas as outras, porque deflagrou no interior do sistema bancário".

Os muitos colaboradores e clientes (cerca de 600) do Millennium bcp compareceram ontem no Mosteiro de Mire de Tibães, com a esperança de registar ensinamentos e "dicas" para ultrapassar a crise. O economista Daniel Bessa colheu o lembrete de Paulo Ferreira, moderador do debate e subdirector do JN, e recuou um ano, para lembrar o arranque dos encontros Millennium, "quando as coisas já não corriam bem e havia muitas interrogações".

Mas "as crises são todas iguais e todas diferentes" e já que esta será equiparável à de 1929/30, parte-se da leitura da baixa das vendas, do escoamento, numa primeira fase ao nível da quebra na produção de bens de equipamento (máquinas), passando pelos bens de consumo duradouro (automóvel, habitação). Daniel Bessa é perscrutador atento de todos os sinais que deixem antever a retoma, mas é severo na análise, projectando para 2010 as primeiras imagens de saída da crise que devem começar pela "normalidade do crédito inter-bancário, do spread às empresas, passando pela subida do valor das acções". Até lá, segue uma visão imediatista, em que o foco deve incidir no "amanhã, porque, na pior das hipóteses, pode durar um ano e meio, ou como no Japão que durou 15 anos".

A gravidade da crise constatou-se, segundo Daniel Bessa, com a sua chegada aos bancos. Pelo incumprimento de créditos a empresas e particulares e a recessão viu-se com a subida dos spreads. "Vejo com muita dificuldade alguma intervenção pública para condicionar a banca e o preço que está a cobrar no crédito ao consumo", sentenciou Bessa. Daí a apologia da descida das taxas de juro, até porque Portugal "nunca saiu da recessão de 2001/2, enquanto os demais países tiveram um período de recuperação, como sucedeu em Espanha, o que teve efeitos nos nossos factores de produção, enquanto o Estado espanhol tem uma situação financeira confortável". Essa foi a tónica destacada por Paulo Macedo, vice-presidente do Millennium, que vê nas contas públicas equilibradas "um maior espaço para intervir na economia e fazer mais despesa pública".

Daniel Bessa apontou políticas mais activas de poupança que passam pelo pagamento de parte dos salários mais elevados sob a forma de dívida pública, como certificados de aforro ou obrigações do tesouro, com naturais benefícios fiscais para as empresas. Aconselhou as empresas a investir na força de vendas, ganhando novos mercados.