27.3.09

Na suavidade do bailado haverá uma forma de prevenir comportamentos anti-sociais

Ana Espada, in Jornal Público

Alunos do ensino básico das escolas de Loures foram ao teatro no âmbito do contrato local de segurança


Um teatro, 50 crianças e um protocolo de segurança local. Reunidos na sala de espectáculos do Teatro Camões, em Lisboa, alunos dos agrupamentos de escolas da Apelação, Camarate, e Sacavém, freguesias do concelho de Loures, juntamente com professores e técnicos da Companhia Nacional de Bailado (CNB), presenciaram um espectáculo, quarta-feira, que foi muito mais do que uma partilha cultural e artística: juntos, através da dança, deram um passo para prevenir comportamentos desviantes ou anti-sociais.

Parece utópico, mas para Vasco Wellenkamp, director artístico da CNB, "as crianças compreendem de imediato a concepção fantástica da dança e o registo que fica é mais forte do que quando somos adultos".

O ponteiro do relógio ainda não marcava as 15h quando a sala de espectáculos começou a encher. Os mais pequenos foram ocupando os lugares das primeiras filas, acompanhados pelos seus professores. Pouco a pouco, o cenário, visto do palco, foi-se compondo, com uma única diferença. Os bailarinos vão actuar para uma plateia composta por alunos do ensino básico.

Silêncio e suavidade

As luzes apagaram-se e o burburinho que se fazia ouvir na sala foi ficando cada vez menor. "Meninos, vai começar", advertiu uma professora. O pano do palco levantou-se, fez-se silêncio. Uma bailarina de vestido branco deliciou os mais pequenos com a sua dança coordenada e suave, aliada à mímica. A peça Coppélia conta a história do Doutor Coppélius, que cria uma boneca dançante para lhe dar vida.

Inserido no Contrato Local de Segurança de Loures, que resultou de uma parceria entre o Ministério da Administração Interna e aquele município, ao qual a CNB aderiu, o espectáculo visa o aumento do sentimento de segurança e a promoção de uma cultura de cidadania participativa. De acordo com o protocolo de adesão da CNB a este projecto, "a dança promove o poder de concentração e exige uma atitude responsável perante os outros".

Diz Vasco Wellenkamp que o projecto começou há já um mês, sendo que já tinha sido feito um espectáculo para escolas inspirado na famosa série Fame.
Wellenkamp esclareceu ainda que vão começar a ser organizados workshops ligados à temática da dança. "Estas iniciativas são uma semente, para ver como resulta, e para serem expandidas no futuro", disse.

Mara e Soraia, alunas da EB 23 Mário Sá Carneiro, confessaram, no final do bailado, que é a terceira vez, este ano lectivo, que vêm ao teatro. Para as alunas de 12 anos, um futuro profissional nas artes não faz parte dos seus planos - "queremos ser veterinárias", disseram. José Gomes, professor de Música de ambas, admitiu que este projecto "é uma mais-valia para os alunos, pois alguns não têm possibilidades de assistir a espectáculos", assegurando que as reacções por parte dos mesmos "foram muito positivas".

Para a governadora civil de Lisboa, Dalila Araújo, o Contrato Local de Segurança de Loures tem duas grandes vertentes: o policiamento de proximidade e a promoção de acções de sensibilização e de prevenção da delinquência juvenil. "A dança potencia a disciplina e a responsabilidade", afirmou, e esclareceu que estas iniciativas "não têm resultados imediatos, mas sim a longo prazo".