26.3.09

Pobreza atinge mais as mulheres no Sul da Europa e os homens nos países do Norte

in Sol

A pobreza é um fenómeno de género que não atinge a Europa de forma igual: nos países do Sul é sobretudo feminina, mas no Norte são os homens os mais afectados, segundo estudos hoje publicados


"A pobreza é um fenómeno universal, mas atinge mais uns do que outros e a questão do género é importante", realça o economista José António Pereirinha, coordenador dos estudos hoje publicados pela Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género (CIG) num livro intitulado "Impacto e determinantes da pobreza no feminino".

O livro engloba um estudo que caracteriza a pobreza feminina em Portugal e um outro sobre as desigualdades de género na Europa, ambos feitos em 2007 no âmbito da Presidência Portuguesa da União Europeia.

"Há países no Sul da Europa onde a pobreza da mulher é superior à do homem, a mulher é mais afectada negativamente em relação à pobreza do que o homem, mas noutros países nem sempre é assim e, às vezes, é o contrário, como no caso dos países nórdicos, onde o homem está muitas vezes pior do que a mulher", disse José António Pereirinha.

"A questão do trabalho em 'part-time' e da vulnerabilidade em termos de tempo de trabalho, que coloca geralmente a mulher numa posição mais desfavorável do que a do homem, em Portugal resulta muito de restrições que a mulher tem, impostas pelos cuidados da vida familiar, etc., enquanto noutros países é apenas uma opção", exemplificou.

"A família é o local onde há, ainda que muitas vezes de forma escondida, desigualdades de género muito significativas e que depois se transportam para a sociedade", salientou.

"A Europa é um mosaico muito grande, não se pode falar num padrão único, embora a tese de feminização da pobreza continue a verificar-se e tenha razão de ser. A mulher tem vindo a ser mais afectada do que o homem pelo fenómeno da pobreza", destaca o estudo.

Em relação à realidade portuguesa, este trabalho compara os anos de 1995 e 2001 através de uma caracterização da pobreza baseada em critérios monetários ou de rendimento, analisando ainda cinco dimensões, como recursos económicos, saúde, educação e formação, participação social e habitação.

"Em relação à população total, as mulheres são mais atingidas pela pobreza monetária tanto em termos e incidência como de intensidade e severidade", é escrito no estudo, salientando que esta diferença diminuiu em 2001 (em que a pobreza atinge 18,5 por cento das mulheres) face a 1995 (em que 24 por cento das mulheres eram pobres).

O estudo destaca, também, que a participação das mulheres no mercado de trabalho "diminui o nível de privação" nas cinco dimensões estudadas.

O grupo feminino mais vulnerável no contexto da pobreza crónica é o das mulheres idosas isoladas, no qual "a pobreza persistente atinge mais de 1/3 das mulheres nele incluídas", revela o estudo, salientando que além das baixas reformas, porque geralmente tiveram uma vida doméstica não contributiva, estas mulheres enfrentam a solidão e um estado de saúde precário.

O estudo salienta ainda que as mulheres que coabitam enquanto casal, mas sem rendimentos individuais, são aquele grupo com "um peso mais acentuado da pobreza", em particular da "pobreza crónica ".

A duração da pobreza feminina em Portugal é também superior à da globalidade da população, já que as mulheres "têm uma menor taxa de saída e uma maior taxa de entrada" nos ciclos de pobreza.

A equipa responsável pelos estudos, coordenada por José António Pereirinha, pertence ao Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) da Universidade Técnica de Lisboa (UTL).

Lusa/SOL