20.3.09

"Melhor a casa estar ocupada que vazia"

Telma Roque, in Jornal de Notícias

Irma tem 17 anos, um filho cá fora e outro a caminho. Ocupa uma casa no bairro da Ameixoeira há três anos. "Mas avisei a Gebalis!", assegura a rapariga. A ocupação de um fogo foi a solução que encontrou para evitar viver com os pais ou com os sogros. "Eu não me dou muito bem com os pais do meu marido. E ele também não se dá com os meus pais", explica.

Segundo a jovem, o apartamento nunca teve dono. E, o do lado, está emparedado à espera que seja atribuído a alguém. O conforto não é muito. O gás de garrafa soluciona o problema da comida e dos banhos. As ligações de água e a luz são clandestinas. Nada que a Gebalis não saiba.

"Não é melhor a casa estar assim ocupada do que estar vazia e ser vandalizada. Aqui, quando uma casa está sem ninguém, levam tudo. Só ficam as paredes", alerta a mãe de Irma. E a mulher vai logo avisando: "Se tirarem a minha filha de lá, eu volto a abrir a casa. Haja o que houver", afirma, acrescentando que, na tradição cigana, genros e sogras não devem partilhar o mesmo tecto. "Já viu, com o meu genro em casa tenho que andar sempre composta".

"Por que é que há tanta casa vazia e não é atribuída?, questiona outra mulher que há cinco anos mora em casa "aberta" pelo marido. "Tantos anos e a casa não está ainda em nome dele. O processo não ata nem desata", lamenta-se.

"Tentaram convencer o meu filho a "abrir" uma casa, mas eu tirei-lhe daí as ideias. Em vez disso, ele foi à Gebalis pedir um desdobramento para ele e para o filho, mas ainda não disseram nada", revela, por sua vez, Esmeralda Gonçalves, que vive nos bairros da Alta de Lisboa, paredes-meias com casas vazias, ocupadas ou emparedadas.

As casas vazias são uma tentação, mas Esmeralda Gonçalves, mulher de 75 anos, natural de Carrazeda de Ansiães, diz que gosta das "coisas às direitas".