26.3.09

Ensinar a cidadania às crianças

in Gina Pereira, in Jornal de Notícias

A história de... Carlota Flieg, designer e ilustradora


Tendo como ponto de partida a Convenção dos Direitos das Crianças - que faz em Novembro 20 anos - a autora criou uma história ilustrada que ensina aos mais novos os seus direitos e deveres.

Odesafio foi-lhe lançado pela directora editorial da "Edeline" - uma pequena editora fundada há seis anos em França - e Carlota Flieg, designer gráfica e ilustradora, 41 anos, aceitou de imediato. Afinal, a ideia permitia-lhe fazer o que mais gosta: desenhar, especialmente se for para crianças, usando e abusando das cores e deixando fluir a sua imaginação.

Partindo da Convenção dos Direitos da Criança - que celebra 20 anos em Novembro - a editora decidiu fazer um livro sobre cidadania, destinado ao público entre os 5 e os 10 anos. Com duas condições prévias: não poderia ser apenas (mais) uma enumeração dos direitos das crianças e a história teria também de lhes ensinar que têm deveres no dia-a-dia.

Por ter um filho de 7 anos, foi fácil para Carlota perceber o objectivo do livro. "Eles [as crianças] passam a vida a dizer 'eu posso', 'eu quero', mas nunca dizem "eu tenho que'", diz, ao JN, no seu sotaque brasileiro (de onde é natural), já bastante esbatido por 17 anos de vivência em Portugal.

A construção do livro "Gabriel direitinho" - a estreia da editora na literatura infantil - começou pela análise dos 54 artigos da Convenção e pela selecção daqueles que a autora considera "mais expressivos", como o direito ao nome, à família, à saúde e à escola. Depois, avançou para o processo de desenho (à mão e em papel), tendo feito ao todo 32 pranchas (as imagens que compõem o livro). A história só foi escrita no final, "em cima das ilustrações".

A personagem principal, o pequeno Gabriel - com o corpo em forma de coração e os braços grandes e elásticos "para abraçar o mundo" - parte numa viagem imaginária com o pai e a mãe, onde vai sendo confrontado com diferentes realidades e culturas. Todas as personagens têm cores diferentes - a ilustrar a diversidade de pessoas que existe no mundo - e há meninos de várias etnias e até um deficiente. Assuntos difíceis como a guerra, os refugiados, o trabalho infantil, a droga, o tráfico de pessoas e o divórcio são também abordados. "Fazem parte da realidade", justifica a autora.

Quanto aos deveres, Gabriel aprende que há muito que pode fazer. Desde arrumar o quarto e pôr a mesa, a separar o lixo, atravessar a rua na passadeira, dar prioridade aos mais velhos no autocarro e respeitar o meio ambiente. Carlota espera que o livro ensine muitos meninos, a começar pelo seu Gabriel lá de casa...