19.3.09

Pais invadem escola de Viseu com bastões

Natália Faria e Francisco Fonseca, in Jornal Público

Escola EB1 de Lagoa Negra, em Barcelos, vai ser acompanhada por "equipa especial". DREN volta a negar discriminação contra os ciganos


A Escola Básica 2/3 de Silgueiros, em Viseu, foi ontem invadida por cerca de 12 pessoas de origem cigana que, armadas com bastões, ameaçaram matar um aluno e acabaram por agredir uma funcionária da escola. A investida, que foi travada por agentes da GNR, veio, segundo a presidente da associação de pais, evidenciar a vulnerabilidade daquele estabelecimento de ensino.

"Estas pessoas invadiram a escola porque os portões estão sempre abertos. E, de resto, a escola não está totalmente vedada: nas traseiras, o que existe é uma rede que está sempre a ser vandalizada. Já pedimos à DREC ajuda para vedar o edifício, porque o que está em causa é a segurança dos alunos, mas, até agora, não obtivemos resposta", declarou Sónia Alves ao PÚBLICO.

À Lusa o vice-presidente daquela escola, Paulo França, confirmou que é "muito fácil" entrar no estabelecimento. "Já pedimos verbas para a vedação e para o portão, mas o argumento é sempre a falta de verbas", criticou. O mesmo responsável contou que, ao final da manhã, dois alunos de origem cigana, com 15 anos e provenientes de famílias rivais, tinham-se envolvido numa rixa. O irmão de um deles alertou os pais por telemóvel e, "cinco ou dez minutos depois, chegaram várias carrinhas com cerca de 12 pessoas armadas com cinco bastões e que começaram a procurar o aluno ferido e o que o tinha agredido, dizendo que o iam matar".

Este incidente ocorreu no mesmo dia em que o Ministério da Educação anunciou que vai integrar a Escola EB1 de Lagoa Negra, em Barcelos, nos chamados Territórios Educativos de Intervenção Prioritária (TEIP) - programa criado para as escolas inseridas em contextos desfavorecidos e com taxas elevadas de abandono e insucesso.

Alertado pelo facto de a escola ter decidido concentrar numa única turma 17 alunos ciganos com idades entre os nove e os 18 anos, e pela polémica daí decorrente, o secretário de Estado Valter Lemos anunciou ontem que vai ser criada uma equipa de acompanhamento do caso, composta por representantes da DREN e da Universidade do Minho, entre outros. A EB1 de Lagoa Negra será assim a 60.ª escola a integrar os TEIP, facto que, segundo Valter Lemos, vai permitir reforçar os recursos humanos e materiais da escola, nomeadamente com a contratação de mediadores ciganos, assistentes sociais e "outros técnicos".

Em resposta às críticas sobre discriminação racial, a directora regional, Margarida Moreira, sublinhou também ontem que aquela escola tem mais cerca de 50 miúdos ciganos em turmas regulares. Quanto ao facto de as aulas decorrerem num monobloco, lembrou que "a terem aulas nestes monoblocos, só no Norte do país, existem mais de 20 mil alunos e não são de etnia cigana".